segunda-feira, 26 de maio de 2014

"Se os tubarões fossem homens"



Bertold Brecht na voz de Antonio Abujamra, no programa "Provocações".




Só dá pobre na cadeia

Cadeia é só para pobre, negro e viciado. Enfim, para quem não tem costas quentes nem uma graninha para soltar de gorjeta. É um costume brasileiro que até se estava desacostumando. Gente achava que isso era coisa do passado. O mensalão fez pensar que o país enfim estava para acabar com a desigualdade judicial. O pobre e negro passaria a dividir a cela com o colarinho branco, o ficha-suja, o mensaleiro. Falácia pura injetada na veia.
O país não mudou nada. Foi só jogo de cena. Os bandidos que mereciam estar no xilindró estão soltos na maior desfaçatez. Juiz de Supremo banca a soltura do colarinho branco da Petrobras e mantém os doleiros na prisão. Se enganou, sua excelência? Mas que engano monstruoso deixando o presumido chefão da máfia na Petrobras fora das grades! Ainda por cima, por garantia, decretou investigação sob sigilo judicial. Assim, nas sombras, sem transparência, pode ocorrer um inquérito até o fim dos tempos sem que um reles mortal saiba o que aconteceu. É o jogar para debaixo do tapete a sujeira que pode atrapalhar uma reeleição petista. Não será mera coincidência.
Outro juiz, também que já foi do partido da situação, agora solta um deputado com um prontuário de mais de 100 processos como ficha-suja. Mais um caso varrido para o espaço do silêncio. Será devido ao envolvimento maior de gente aliada?

O Brasil assiste, com a devida revolta, o poder passando a mão na cabeça dos companheiros sem a mínima vergonha. É momento de livrar a cara dos aliados comparsas, apanhados com a mão na massa, para que não se aumente ainda mais a bola de neve que possa derrubar, como em boliche, a nobre candidata. Mais uma vergonhosa posição de quem não dá a mínima para a igualdade social, que só existe mesmo da boca pra fora.

Os perigos estão à vista com este novo jeito de governar, aspirando a própria porcariada para não sujar companheiros e companheiras. Aparentar um governo de mãos limpas, com as mesmas manchadas de sangue do crime amigo, pode ser um risco à formação de um país de instabilidade. Exemplos não faltam na América Latina. A corrupção crescente com a conivência dos poderes é uma bomba relógio que um dia vai explodir e implodir todo um partido que se dizia honesto, levando de cambulhada o próprio país. 

Casario

Joaquim Albuquerque Tenreiro foi marceneiro,
projetista de mobiliário, pintor e escultor (1906/1992)

Análise de guru

“Eu colocaria a presidente Dilma no mesmo pé em que coloco o presidente da Bolívia [Evo Morales] e o governo do Equador. Eles, de alguma maneira, fazem muito do que sempre fez a direita: têm o mesmo modelo de acumulação, o mesmo modelo capitalista, o mesmo neoliberalismo, aproveitaram a mesma onda de extrativismo, com a reprimarização da economia”.
Referência de militantes de esquerda em todo o mundo, o sociólogo português Boaventura de Sousa Santos diz que há retrocessos em segmentos dos direitos humanos no Brasil e critica a presidente Dilma por demonstrar "insensibilidade social".