segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

Descanse em paz

A zica e o zika

Ainda bem que o carnaval esta chegando. Faltam poucos dias. Vai dar para se acabar na folia. Rasgar a fantasia. Ignorar os problemas. Amortecer as desilusões. E, claro, ter uma boa desculpa para continuar convivendo com abusos sem resolvê-los.

Nos dias de hoje, carnaval não é mais celebração. É simplesmente desculpa para esquecer. Esquecer que não deu certo. Que o país tem se especializado em um atoleiro de coisas ruins, desentendimentos, problemas. Enfim, esquecer que deu zica.


O desafio de esquecer que deu zica, entretanto, parece ser o zika. É este vírus que prova o perigo de desejar além das possibilidades. O país do carnaval, sempre quis estar no centro da atenção mundial. Conseguiu. Só se fala no Brasil. Ou melhor, no zika no Brasil. Ou na zica em que ele se meteu.

Saímos da irrelevância para a qual caminhávamos em marcha batida. Saída, infelizmente, pela porta errada. Não foi por falta de tempo para prevenir ou resolver o problema. O tal do mosquito é nosso conhecido. Tao conhecido que poderíamos, faz muito tempo, tê-lo controlado. A zica, portanto, não era inevitável. E o zika não precisava se espalhar.

Não vale a pena flexionar o indicador para achar o culpado. Exceto claro, se o indicador estiver apontando para o espelho. A verdade, é que o zika e a zica são resultados da capacidade do cidadão em aturar abusos. Ou seja, da incapacidade de demandar cidadania. Ou o respeito a ela.

É assim que um país inteiro assistiu deitado ou não em berço esplendido, a festival de desastres e injurias. A editoria policial invadindo o noticiário politico. A economia derrete. O emprego mingua. A lama cobre e mata a natureza. E a população sofre com o Zika. E Com a Zica.

Mas ainda bem que a gente se guarda para quando o carnaval chegar. Não é qualquer povo que consegue dançar a beira do precipício. Muitos não teriam coragem para tanta ousadia. É lugar dinâmico. Que não se abala com a calamidade. Que sempre vira a pagina. Frequentemente para trás.

Eu, pecador, confesso

A Lava-Jato começa a unir o que o mensalão havia separado – Lula e José Dirceu. Uma vez descoberta a “sofisticada organização criminosa” que tentava se apoderar da máquina administrativa do Estado, Lula foi à televisão e disse ter sido traído, sem apontar, contudo, os traidores.

Em seguida, para driblar o risco de perder a sua, entregou a cabeça de Dirceu, o mais poderoso ministro do governo.

Na semana passada, a cabeça de Lula surgiu no radar do juiz Sérgio Moro. Pouco antes de interrogar Dirceu, preso e acusado de receber propinas de lobistas envolvidos com a roubalheira na Petrobras, Moro autorizara uma nova operação da Polícia Federal, desta vez para apurar a abertura de empresas off shores e contas no exterior destinadas a ocultar crimes de corrupção.

E Lula com isso?

Era uma vez uma cooperativa do Sindicato dos Bancários de São Paulo, controlada pelo PT, que se aventurou a construir prédios de apartamentos. Não demorou a quebrar.

A pedido de Lula, então presidente da República, a construtora OAS, metida até o talo no saque à Petrobras, assumiu a construção do Condomínio Solaris na praia do Guarujá, em São Paulo.

Quem tem ou tinha ali um apartamento?

Lula citou o apartamento do Guarujá na sua declaração de bens de 2006. Dali a quatro anos, a Presidência da República confirmou que ele era, de fato, proprietário do tríplex 164-A do Condomínio Solaris.

Em dezembro de 2014, o Instituto Lula informou que Marisa Letícia, mulher de Lula, era quem possuía “uma cota do empreendimento”. Em agosto do ano passado, a assessoria de Lula revelou que era ele o dono da cota.

Com 297 m² e vista para o mar, avaliado, a preço de hoje, entre R$ 1,5 milhão e R$ 1,8 milhão, o tríplex está em nome da OAS. Reformá-lo por encomenda de Lula custou à construtora quase R$ 800 mil. E mais R$ 400 mil com mobília e eletrodomésticos.

Tudo foi acompanhado de perto por Lula e Marisa Letícia, que visitaram a obra várias vezes. Só que...

Só que Moro quer saber se o tríplex não foi o meio encontrado pela OAS para, digamos, retribuir favores prestados a ela por Lula quando governava.

Só que para escapar da encrenca, Lula passou a dizer agora que o apartamento jamais foi dele. Marisa Letícia é que teria comprado uma cota do condomínio por R$ 47 mil. Depois, desistiu do negócio e recebeu seu dinheiro de volta.

Ainda sujeita a retoques ou a mudanças bruscas de direção, fica assim a mais recente versão dos Silva para o que aconteceu com o tríplex 164-A: a OAS desembolsou porque quis cerca de R$ 1,2 milhão para reformar e equipar um apartamento que poderia vir a interessar ao casal Lula.

Marisa Letícia chegou a receber as chaves do imóvel e a participar de reunião de condomínio. Aí pensou melhor e renunciou à compra.

Não foi só a OAS que mimou os Silva.

O clã tem um sítio em Atibaia, interior de São Paulo, com 173 mil m², o equivalente a 24 campos de futebol. Registrado em nome de dois sócios de Fábio Luís da Silva, o Lulinha, o sítio foi reformado pela Odebrecht que gastou, ali, meio milhão de reais.

Moro quer saber se a gentileza feita pela construtora nada tem a ver com o que ela faturou na Petrobras.

Dirceu confessou a Moro o que o advogado dele chamou de “pecados”. Para não confessar os seus, Lula é capaz de entregar a mulher e os filhos à Justiça.

A banda podre

Sabem o que é nojento, o que é asqueroso, o que é abjeto? É ver que a maior quadrilha que já se apoderou da coisa pública mentindo, manietando, achacando e ameaçando começou enganando suas hordas de eleitores feitos de otários neste país. Da Bancoop à presidência de uma república de bananas, nada escapou da sanha pilantra dessa gente rameira, que vinha com a cartilha marxista debaixo do braço a brandir uma “justiça achada no lixo” mas que, na verdade, alimentavam mesmo é os seus sonhos pequeno-burgueses dos anos setenta, capitalizando a coisa com o capital alheio, como bem cunhou Reinaldo Azevedo.

A constatação de mais essa vigarice não é minha; é dos antagonistas. Mas salta aos olhos que esses canalhas “odeiam a classe média”, mas querem reproduzir sem o menor pudor os sonhos de consumo barato de todo rato que sobe na vida: em São Paulo, é ter “um apartamento no Guarujá e um sítio em Ibiúna ou adjacências”.
elvis

Me desculpem, amigos, mais isto é coisa de pobre. Milionário, mas pobre. Gente que pensa com a cabeça ancorada no século passado, como bem demonstrou a defesa inflamada da cartilha pilantra do socialismo, essa coisa idiota parida antes dos emergentes e muito antes do mundo digital, que escancara pra todo mundo ver do que é feito um pilantra dessa “catchiguria”.

Lulão e sua gangue foram desmascarados. Não vejo nas tevês aparelhadas até a medula, no jornal cheio de moscas ─ que finalmente teve de capitular e falar a verdade entalada em nove de cada dez brasileiros ─ algum “cientista político, antropólogo ou economista” a explicar, em sonoro e pusilânime bolivarianês, o significado estético de toda esse arquétipo carcamano. Parece que a casa caiu mesmo.

Não há o que justifique o que é roubo, apropriação indevida, desvio de dinheiro público e o apadrinhamento na qual vivia o séquito dos lula da silva e toda a sua quadrilha. Como chefe da seita picareta que dirigia, da camorra que pilotava, do bando que se lambuzava com o nosso dinheiro, lulão e suas malas de procedência duvidosa finalmente boiaram na lama pútrida que nos governa todos esses anos. Pois eu quero saber hoje como se sente um petralha, destes que queimam a VEJA em universidades públicas e saem em passeata por algum “benefício” ─ como andar de ônibus de graça às custas dos partidecos comunistas que abraçam a causa para subir na vida.

Não se enganem, bando de otários com bandeirinhas vermelhas enfiadas na cueca. Por trás de mais essa gratuidade, mais essa “bolsa-miséria”, mais esse mutirão de catarata, enconde-se a real natureza do socialismo; subir na vida com dinheiro dos outros, na lei do menor esforço. Quem não entendeu o significado do que está sendo denunciado pela imprensa hoje merece mesmo ficar levando bomba de gás lacrimogênio nos cornos, para ver se deixa de ser idiota. O tal de Vagner, aquele que “pegaria em armas” para defender essa mamulenga e seu séquito de pilantras pendurados nas tetas públicas, também tem o seu apartamento conseguido às custas dos otários.

A Bancoop tem cara de igreja neo-pentecostal, não é mesmo? Lá foi cimentada a barragem de rejeitos humanos que moldaram o PT e sua banda. O problema é que era muita lama para acomodar em pouca iniciativa privada.

Um dia, a coisa toda viria abaixo. Veio.

O patético fim de Lula


Onde quer que eu esteja, na rua ou à porta de um bar ou restaurante, quando saio pra fumar, as pessoas se aproximam e quase sempre fazem a mesma observação, em tom de desalento: “Esse negócio do Lula não vai dar em nada outra vez, né?” Os mais otimistas arriscam: “Acho que desta vez ele não escapa, né?” Nesse caso, não é necessário dizer o nome. Todo mundo sabe quem é “ele”.

Pois é… Ainda que Lula e seus advogados consigam encontrar uma explicação que possa ser abrigada pela lei para o imbróglio do tríplex no Guarujá, sobrou como a hipótese mais benigna para o “homem mais honesto do mundo” a versão de um político no qual ninguém mais confia.

E não deixa de ser irônico, já observei aqui, que o Lula que transitou e transita ainda em tão altas esferas tenha encontrado sua Waterloo num apartamento relativamente modesto, dada a fortuna que ele já amealhou. Só em palestras, como se sabe, faturou R$ 27 milhões.

A desconfiança dos brasileiros é justificada. Incrivelmente, Lula passou incólume pelo mensalão. Na sequência, veio o escândalo dos aloprados, com pessoas de sua inteira confiança metidas na lama. E nada! Agora, o petrolão. Delações premiadas o colocam no centro do escândalo envolvendo o grupo Schahin, o empréstimo de um dinheiro para o PT e um contrato bilionário para a operação de um navio-sonda da Petrobras. E nada de o Ministério Público pedir ao menos a abertura de inquérito.

No caso do apartamento, Lula só é formalmente investigado pelo Ministério Público Estadual. Na fase Triplo X da Lava-Jato, a cobertura que seria sua está entre os alvos, mas, para todos os efeitos, não se está apurando nada sobre o petista. A esta altura, a situação é de tal sorte ridícula que pouco importa saber se Janot prevarica ou está sendo tático. A lei e as evidências não podem abrigar comportamentos ambíguos. Não há nenhuma razão inteligível para Lula não ser um alvo de investigação da Lava-Jato.

De todo modo, o fim!

Nem os adversários mais ferozes de Lula imaginavam que seu fim seria tão patético. Quando eu era menino, para citar o apóstolo Paulo, e trotskista, pensava como menino e via no sindicalista um contrarrevolucionário com um pé da demagogia.

No meu delírio infanto-juvenil, eu o enxergava como um elemento que atrasava a revolução. Quando deixei de ser menino, identifiquei no ex-sindicalista a peça de propaganda de um partido político com vocação totalitária, que instrumentalizava a imagem do operário para impor goela abaixo da sociedade um projeto de poder que não podia ser devidamente compreendido pelo povo.

Vejo a situação de Lula hoje, perseguido por imóveis mal explicados; flagrado em proximidade incômoda, para dizer pouco, com empreiteiras investigadas; a bater no peito e a brandir uma honestidade que, atendendo a suas tendências megalômanas, tem de ser a “maior do mundo”… Não deixa de ser melancólico.

Ou por outra: as duas leituras que tive de Lula, em tempos distintos, não deixavam de ser generosas, não é mesmo? Uma e outra, ainda que negativas pra ele, emprestavam-lhe o papel de um agente político. Ainda que não fosse do agrado do garoto de extrema-esquerda ou do adulto liberal, eu o inscrevia como personagem da história.

A justa indagação que hoje está nas ruas o coloca num lugar rebaixado, bem aquém da minha hostilidade generosa: as pessoas querem saber se Lula vai pagar por aquilo que consideram seus crimes de político comum, vulgar, que se organiza para se locupletar e se dar bem. É a Justiça que vai dar a palavra final a respeito. O que a gente pode dizer com certeza é que as narrativas a que o petista tem de recorrer para explicar o inexplicável já viraram motivo de chacota nacional.

A defesa de Lula já vai adaptando as versões às circunstâncias. Agora admite que a família visitou o tríplex acompanhado do presidente da OAS, Léo Pinheiro, convertido, então, em corretor de imóveis. Mas não mais do que isso. Também o sítio de Atibaia, reformado pela Odebrecht e pela OAS segundo os gostos do companheiro, não lhe pertence.

Marisa, no entanto, pagou com dinheiro do próprio bolso por um barco de alumínio para ser usado no lago da propriedade. Ora, convenham, o que é que tem? É muito comum a gente comprar equipamentos para propriedades alheias, certo? Por si, isso não prova nada. Prova apenas que Marisa é generosa.

O PT diz que vai se dedicar agora à defesa de Lula. Parece que a campanha eleitoral deste ano terá como alvo a tentativa de recompor a imagem daquele que segue sendo o poderoso chefão do partido, o mandatário inconteste, o senhor absoluto da legenda. Por incrível que pareça, ele só não conhece as falcatruas da organização. Quando se trata de explicar a bandalheira, ele se torna um estranho no petismo.

Houve, sim, um tempo em que Lula posava de vítima, e milhões de pessoas de compadeciam. Esse tempo acabou. A realidade é outra. Hoje, os pessimistas dizem: “Esse negócio do Lula não vai dar em nada outra vez, né?” E os otimistas: “Acho que desta vez ele não escapa, né?”

Notem que são avaliações distintas que, no entanto, têm um diagnóstico comum.

Lula está acabado.

Reformas e reformas sempre contra o trabalhador

Em 1963, ao recuperar seus poderes de presidente da República, João Goulart desenvolveu intensa campanha pelas reformas de base, interrompida por sua deposição pelos militares. Naqueles idos, estimulado pelas esquerdas, era pelo que a maioria do país clamava: participação dos empregados no lucro das empresas, salário-família, estatização das indústrias ligadas ao desenvolvimento, reforma agrária com a extinção dos latifúndios, voto do analfabeto e dos subalternos das forças armadas, fim do ensino privado, limitação da remessa de lucros e outras iniciativas de caráter socializante. Nos meios de comunicação só se falava das reformas, que as elites engoliam, mesmo já conspirando contra o governo.

O vento mudou de rumo, as reformas foram para o espaço, conquistas sociais estabelecidas desde os tempos de Getúlio Vargas acabaram revogadas, como a estabilidade no emprego.
Pois não é que volta-se a cogitar das reformas? Só que de cabeça para baixo. Ao contrário, apesar de o rótulo permanecer. As elites querem completar sua obra, extinguindo o que sobrou do desmonte, ironicamente com o silêncio e até com apoio das massas. Ou de seus ditos representantes.

Vão reformar a Previdência Social, mas para reduzir pensões e aposentadorias, sob o argumento de que dão prejuízo. Aplicam o raciocínio de que tudo deve dar lucro e também vão revogar a indexação salarial, expediente adotado pelos governos militares para o povo não morrer de forme, ou seja, os salários vinham sendo corrigidos de acordo com a inflação. Não será mais assim. Pior para o assalariado. Também anunciam a flexibilização dos direitos do trabalhador, que significa poder o empregador ditar as regras de trabalho sem obrigações. Atuará de acordo com o mercado, podendo suprimir indenizações e pagando o que bem entender.

Convenhamos, existem reformas e reformas. Vivemos o período das maldades reformistas. E sob a égide de um governo pretensamente do Partido dos Trabalhadores, agora empenhado em aumentar e criar novos impostos, como se administração pública não se assemelhasse ao sistema dos vasos comunicantes que aprendíamos nas primeiras aulas de física. Se a Previdência Social dá prejuízo – e não dá – o Imposto de Renda dá lucro
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Vazio geral

Estamos em fevereiro e a grande expectativa nacional é que saia o resultado das escolas da Sapucaí na quarta-feira de cinzas para que o Brasil volte aos trilhos. Ou fique definitivamente fora dos trilhos, porque as opções continuam as piores. A nação evadiu-se da realidade, não cruzou a fronteira que a separa do improviso, da irresponsabilidade fiscal, do jogo político menor e inconsequente, jogado por um governo que não depõe as armas porque tem do outro lado uma oposição burra e errante, em algumas cabeças, e vendida, negociante de pequenas vantagens e agrados em outras. Uma merda de oposição, como diria com sinceridade minha mãe. Frouxa, panfletária, sem propostas e mal servida, sem uma visão articulada do Brasil, múltiplo e inteiro. Estamos perdidos e desamparados, alheios às dificuldades a cada dia mais consistentes, profundas e incontornáveis.
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Esperam-se medidas que façam a economia reagir para se estancar a demissão de assalariados e o pior, o cancelamento de vagas de trabalho pelas empresas empregadoras. Espera-se um ataque frontal à inflação que não seja pela simples elevação dos juros bancários, só admitidos no Brasil porque nossa justiça é cega, surda, muda e preguiçosa, recusando-se a decidir pela denúncia de agiotas, usurários travestidos de banqueiros que sem a menor cerimônia taxam o cheque especial e os rotativos dos cartões de crédito em 500% ao ano, numa inflação que oficialmente é de 10,5% e a taxa Selic marcada a 14,15% ao ano. Para os poucos que ainda não sabem, a taxa Selic é o percentual base para se estipular o custo do dinheiro que o Governo paga quando vai ao mercado tomar empréstimos. Aos bancos os governos pagam sorridentes, mas não sabem desses cobrar, ou saberiam mas criminosamente a esses se vendem pelas facilidades que delas desfrutam, pessoalmente. Bancos são grandes colaboradores nas campanhas e nas parcerias de conveniência.

O governo acostumou-se com o apedrejamento moral a que foi submetido nos últimos tempos; nada o afeta ou o constrange. Livre da ameaça do impeachment (perdeu-se a dimensão do que seria pior: com Dilma ou sem Dilma) o que de mais cintilante aconteceu em janeiro foi a primeira reunião do chamado “conselhão” um ajuntamento de banqueiros, industriais de São Paulo, artistas e dirigentes de entidades sindicais. Aberta a reunião pelo ministro Jacques Wagner, em seguida o primeiro orador foi o presidente do Bradesco, o senhor Luiz Carlos Trabuco, que sentenciou: “O que angustia a população brasileira neste momento é como tirar o país da recessão.” Vinda do dono do Bradesco essa constatação, comunico aos meus amigos que estou de mudança para Honolulu . Até.

Punga do bem público

Nem tem tanto tempo assim, uma das pragas brasileiras, nas grandes cidades, era o punguista. De longe mais perigoso do que o ladrão de galinha, outra modalidade que se perdeu com os anos passados. Não só por haver galinha por todo lado nos supermercados a bom preço. Também ninguém mais cria as bichinhas em casa.. Acabaram com as galinhas e os velhos quintais para criação e plantação de uma hortinha, de uns pezinhos de frutíferas. 

Tudo extinto: punguista, galinha e quintais.

Mas a modalidade de bater carteira progrediu, se modernizou, digamos que agora é viral. Não mais o punguista se embolando nos pontos de ônibus (e de lotações, outro extinto), nas ruas movimentadas.

O punguista de hoje tem crachá e mesmo diploma oficial, não vive nos subúrbios. Está mais do que bem instalado em casarão, com carro (muitos oficiais) e chofer.

Quem bate carteira nos tempos de agora está nos palácios, nos edifícios bilionários das empresas e dos bancos, sob o abrigos de sedes partidárias.

Quem está nos pontos de ônibus, hoje, tem é dos trombadinhas levarem celular, cordão. Com tanto dimenor à solta para ficar de olho atento sequer se dá conta de que quem está fazendo a punga, sugando seu bolso, está bem longe em edifício (ou palácio) com a ar condicionado.

Punguista hoje é credenciado, até mesmo empossado legalmente. A punga de ontem, pobre, para sobreviver, hoje é a punga para viver na boa, geral, institucionalizada, imune e impune.

Autoritarismo do bem

Quero dizer, se estou fadado a viver o hoje, só me resta lamentar por quem jamais teve tanta oportunidade para aprender com o passado e ainda assim se deixa levar por ensinamentos reconhecidamente falidos.
 
O pior de tudo, porém, é constatar uma tirania pré-absolvida pairando sobre nós, especialmente quando se tratam de inimigos do ideário vigente. Um rolo compressor amoral já desinibido, inequivocamente intolerante, capaz até mesmo de deturpar a democracia quando se trata de defender os seus.
Mario Vitor Rodrigues

O silêncio do Carnaval

Nesta época do ano costumo escrever sobre o carnaval, que é muito mais do que uma paixão que me vem do fundo da infância. É um patrimônio inestimável do povo brasileiro que atrai a nossos pífios aeroportos louros que querem ser mulatos, ricos que mitificam a pobreza, gente em busca de uma vida perdida em outra encarnação e que só reencarna nesse clima mágico em que tudo é permitido.

Quanto a nós, que crescemos neste país de loucos, passamos o ano chorando o luto por esperanças frustradas e, de repente, quando rompe fevereiro, mudamos de assunto. Um demônio ancestral, solto nas ruas, arrasta multidões, enfeita e enfeitiça a avenida.

É graça dada aos carnavalescos acreditar na fantasia, incorporar um personagem qualquer como uma dimensão real de sua vida. É graça dada a eles a pele colorida dos arlequins que, vestida na infância, cola na alma e resiste à banalidade dos dias, espargindo purpurina sobre nossas vidas.


Este ano, no entanto, há algo de diferente no ar. É carnaval, e os blocos saem às ruas ostentando uma alegria que não rima com o sofrimento que a incerteza presente e futura está trazendo aos brasileiros. Essa alegria é tingida de amargor. Talvez porque seja carnaval me vem à memória um verso de Menotti Del Picchia em seu poema “Máscaras” que, falando de pierrôs, colombinas e arlequins, define à perfeição o trágico da incerteza: “A incerteza que esvoaça desgraça muito mais do que a própria desgraça.”

Trata-se de um pierrô apaixonado em dúvida sobre o amor da volúvel colombina. Quer a verdade, por pior que seja, porque a incerteza guarda junto com o temor do desenlace um resto de esperança e o medo de que ela seja logo desmentida. Se as incertezas que pesam sobre nós são bem mais dramáticas, nem por isso o verso perde a pertinência. As certezas, por amargas que sejam, provocam um choque de realidade, reordenam prioridades, exigem providências, redefinem o que é de fato importante na vida de cada um. A incerteza é paralisante, engana e maltrata. Instalou-se em nossas vidas como uma hóspede inesperada que acorda conosco e que, ao que tudo indica, veio para ficar.

Os brasileiros vivem aflitos desde que uma enxurrada de lama e mentira varreu o país. Não sabemos a extensão do desastre que um mau governo possa ter causado à nação. Ficou a neblina. Cresce o medo do desemprego que já atinge nove milhões de pessoas. Aumenta o custo de vida que transborda de salários congelados. Vive-se agora sem saber se, sim ou não, haverá emprego e salário no fim do mês, e a aposentadoria contratada para o fim da vida. Quem trabalhou honestamente e nada tem a ver com os desmandos de quadrilhas várias vive essas ameaças com uma revolta surda.

A moeda pode se esfarelar? Quem sabe... A sangria que roubalheira e incompetência fizeram na economia e a subtração dos recursos que pagam escolas, universidades, saúde, saneamento e segurança já são, em si, desoladoras.

Movemo-nos em um cenário de ruínas. Os hospitais do Rio fecham no momento em que chega a epidemia de zika. Piora o fantasma da doença quando o socorro é improvável. A evidência de que o montante da rapina supera de muito o que foi gasto nas bolsas família acrescenta ao butim a esperança roubada dos eleitores. O descalabro é evidente, assim como o desgoverno.

E, no entanto, viver é preciso, e vivemos, numa estranha normalidade. Os ruídos do carnaval encobrem um silêncio assustador que não está sendo ouvido. Esse silêncio pode ser um grito surdo, pode conter um potencial explosivo. Talvez algum ouvido mais atento esteja ouvindo os barulhos do futuro. Quem sabe quem ou o que se esconde nesse poço de decepção e mágoa, nesse silencio?

Há quem explique a aparente inércia da sociedade pela ausência de lideranças. E se a ideia mesma de liderança, como encarnação das esperanças em um fulano qualquer, estiver agonizando, desmoralizada como os velhos condottieri?

O tempo passa e, enquanto nos desgovernam, há uma vida para viver, de vez em quando brincando carnaval, já que algum prazer é preciso. Mas o carnaval vai passar. O ano vai recomeçar. As previsões para a economia são as mais sombrias. Para a política, esse buraco negro, sequer há previsões. O que chamamos de crise é esse feixe de incertezas sobre o que vai acontecer no Brasil e na vida de cada um. Há uma só certeza: ou estas perguntas encontram resposta ou a crise, se tornará, ela mesma, incontrolável.

O carnaval é uma gigantesca máscara que encobre o rosto desta nação alegre, colorida de paetês verdes e amarelos. O rosto trágico do Brasil.