quinta-feira, 2 de abril de 2015

O dia 12 e a memória das calçadas

Ir para as ruas gritar contra o governo faz bem à alma, mas às vezes pede-se uma coisa e leva-se outra

A rua marcou um novo encontro com a doutora Dilma para o domingo, 12 de abril. O 15 de março mostrou ao comissariado o tamanho da insatisfação popular e ele não entendeu nada. O grito geral condenava a roubalheira e recebeu um pastel de vento. Seguiram-se o “Chega de PT” e o “Fora Dilma”. Quem sai de casa num domingo para gritar na rua merece respeito, seja qual for o seu grito. Isso não elimina o fato de que uma pessoa tenha gritado por uma coisa e, tempos depois, perceba que foi feita de boba. O único instrumento para se acabar com o PT é o voto em candidatos da oposição. “Chega de PT” ou “Fora Dilma” são palavras de ordem que deságuam numa proposta de impedimento da doutora. Ele seria possível sem o apoio do PMDB de Renan Calheiros, Eduardo Cunha e Michel Temer? Nem pensar. Se esse apoio viesse, como ficariam o petrocomissário Sérgio Machado e o inolvidável Fernando Baiano?

A memória das calçadas é cruel. Quem pintou a cara de verde e amarelo em 1992 tem doces lembranças das manifestações que defenestraram Fernando Collor. Um dos líderes desse movimento era o presidente da União Nacional dos Estudantes, Lindberg Farias. Militava no PCdoB, migrou para o PT, elegeu-se prefeito de Nova Iguaçu e senador. Hoje está de cara lavada na lista do procurador-geral Rodrigo Janot, pois o “amigo Paulinho” ajudava-o a captar recursos junto a empreiteiras da Petrobras. Mandar Collor para casa podia ser uma boa ideia, mas na agenda de Lindberg, do PCdoB e do PT havia outros interesses.

E quem vestiu uma camisa amarela e saiu por aí na campanha das Diretas de 1984? A ideia era excelente, mas a aprovação da emenda constitucional que restabelecia a eleição para presidente da República era uma impossibilidade aritmética. A agenda de Tancredo Neves era outra. Boa, porém outra. Graças às pessoas que saíram de camisa amarela, Tancredo construiu a conciliação que liquidou o consulado militar.

E quem foi à Passeata dos Cem Mil, em 1968? Um pedaço da avenida gritava “o povo unido jamais será vencido” e outro dizia que “o povo armado jamais será vencido”. As agendas eram duas. Algumas centenas de pessoas que se julgavam a vanguarda da sociedade armaram-se e o povo dividido foi vencido.

Recuando-se um pouco mais, há 50 anos a esquerda foi para o Comício da Central, realizado diante do Ministério da Guerra, onde os blindados pareciam simbolizar o apoio militar ao presidente João Goulart. O gênio de Carlos Lacerda chamou a manifestação de “Comício das Lavadeiras”, pois nele só havia “tanques e trouxas”. Dias depois os tanques começaram a prender os trouxas. Em resposta ao Comício das Lavadeiras, realizou-se em São Paulo a “Marcha da Família com Deus pela Liberdade”, com um forte componente religioso. Deposto Goulart, o ministro da Guerra, general Costa e Silva, disse que “a doutrina social da revolução coincide com a doutrina social da Igreja”. Lorota. Começava ali a hostilidade da ditadura contra religiosos e seis anos depois o secretário-geral da CNBB, Dom Aloisio Lorscheider, foi detido por uma tropa do Exército. Nessa época, a esquerda divertia-se com um versinho: “Marcharam com Deus pela democracia? Agora chia... Agora chia.”

Ir pra rua é sempre uma boa ideia, mas não custa se perguntar: Pra quê? Com quem?

Elio Gaspari

Colhendo a verdade

Quem semeia mentiras colhe verdades. Por isso a queda de Dilma nas pesquisas, agora mais rejeitada do que vala negra.

Secas como a de São Paulo vão se espalhar


O economista americano Jeffrey Sachs tornou-se um nome conhecido no meio acadêmico na década de 80, quando foi aceito como professor na Universidade Harvard com apenas 28 anos, um dos mais jovens da história da instituição. Duas décadas depois, ganhou ares de celebridade ao andar pela África acompanhado da atriz Angelina Jolie, com quem fez trabalhos humanitários e estrelou um documentário produzido pela MTV.

Um dos arquitetos das Metas do Milênio, da ONU, conjunto de objetivos para redução da pobreza extrema que vão expirar em 2015, Sachs agora encabeça as Metas do Desenvolvimento Sustentável, que deverão guiar os países nos próximos 15 anos. “A ideia de desenvolvimento sustentável não deveria se basear apenas na luta contra a pobreza. Temos de incluir também a segurança ambiental e a redução da desigualdade”,

Leia mais a entrevista com Jeffrey Sachs

O diálogo entre a guilhotina e o pescoço


A redução da maioridade penal de 18 para 16 anos divide o país de alto a baixo. Como divide, também, o Congresso. De um lado, argumenta-se que a condenação de um jovem de 16 anos o levará para estabelecimentos penais onde se acumulam adultos reincidentes, curtidos na prática dos mais variados crimes.Eles contaminarão as levas de menores que deixarão de ser menores, preparando-os para a delinquência continuada. No reverso da medalha, sustenta-se que autores de crimes hediondos não podem ser acobertados pela idade, recebendo uma precária internação de no máximo três anos, ganhando a liberdade para retornar ao mundo do crime.

Ambos os raciocínios estão certos e exprimem duas faces da mesma moeda: não é mantendo ou modificando o Código Penal e a Constituição que evitaremos a progressão da violência crescente. A dor da mãe que vê o filho condenado a vinte anos de cadeia equivale à dor da mãe que perdeu o filho assassinado.

Não adianta falar que no fundo de todos os males repousa a necessidade de ampliar investimentos na educação e na preparação dos moços para a vida em sociedade. Essas metas demoram e os que necessitam delas não podem esperar. Muito menos produzirá efeito construir mil presídios capazes de manter separados os mestres dos aprendizes. Eles sempre conseguirão interligar-se, dentro ou fora das grades.

Então… Então estará o país dentro de um mistério envolvido por um enigma e cercado por uma charada. O combate ao crime organizado e desorganizado constitui a única saída, mas não vem sozinho. É preciso que a sociedade, liderada pelo poder público, abra oportunidades a todos, não apenas fornecidas por um ensino de qualidade, mas pelo aproveitamento das sucessivas camadas de jovens e menos jovens num trabalho digno e compensador. Em condições de convencê-los de que o caminho do crime é o pior de todos, materialmente falando.

Como se chegará a esse resultado? Só pela ampliação dos direitos sociais e trabalhistas. Pelo estabelecimento de um regime onde os mais favorecidos paguem pela sua própria tranquilidade e prosperidade. Não vale dizer que os privilegiados cumprem suas obrigações contribuindo apenas para a formação escolar dos menos favorecidos, entregando-os depois a uma pérfida livre competição entre quantidades distintas, um diálogo entre a guilhotina e o pescoço. Este continuará a ser decepado, com 18 ou 16 anos, na cadeia ou fora da cadeia.

Ser livre

É mais difícil ser livre do que puxar a uma carroça. Isto é tão evidente que receio ofender-vos. Porque puxar uma carroça é ser puxado por ela pela razão de haver ordens para puxar, ou haver carroça para ser puxada. Ou ser mesmo um passatempo passar o tempo puxando. Mas ser livre é inventar a razão de tudo sem haver absolutamente razão nenhuma para nada. É ser senhor total de si quando se é senhoreado. É darmo-nos inteiramente sem nos darmos absolutamente nada. É ser-se o mesmo, sendo-se outro. É ser-se sem se ser. Assim, pois, tudo é complicado outra vez. É mesmo possível que sofra aqui e ali de um pouco de engasgamento. Mas só a estupidez se não engasga, ó meritíssimos, na sua forma de ser quadrúpede, como vós o deveis saber.
Vergílio Ferreira (1916 – 1996) 

A vestal dos diabos

Quando não era sequer governo nenhum, o PT adorava posar de vestal. Puro, limpo, ainda cheirando a talquinho Johnsonn. Cada integrante era um São Francisco de camisa vermelha estrelada. Ai de quem apontasse a pose como falsidade. Caíam de pau como qualquer cachorro louco. Deixavam de lado a pureza e mostravam-se o diabo que nunca deixaram de ser. É mais ou menos essa pose que o documento lançado esta semana pela direção do PT quer retomar nas paradas. Será o único partido do mundo com virtudes como os santos e santas que espalhados pelo país suam para sobreviver sob a canga petista.

Apontar virtudes num partido já é demais, e quando se sabe internacionalmente que o PT é um poço de corrupção, aí é querer canonizar o próprio diabo e colocar toda a cúpula do PT na Santa Ceia.

Lições de filósofo

Em alguns países, a corrupção se faz presente em todas as esferas do governo e nas empresas. Quando esse é o caso, é comum que a corrupção também esteja presente na vida cotidiana de muitas pessoas. Para combater a roubalheira, o papel da polícia e do sistema judiciário é central. E dessa forma que se encontram e se punem os poderosos. Por isso, juízes competentes e incorruptíveis são fundamentais. Leis que impeçam partidos políticos de tomar dinheiro público em benefício próprio também são imprescindíveis.
Quando a corrupção é praticada em larga escala, quando toma conta dos partidos políticos, do mundo dos negócios e da vida cotidiana, é, sim, um sinal de falência moral. E uma incapacidade generalizada de reconhecer e respeitar o direito das outras pessoas com quem dividimos um país.
 Michael Sandel

Governo novo de santos velhos

Quem se lembra em abril da longínqua promessa de Dilma: “Governo novo, Ideias novas”? Como o lema de Pátria Educadora, ficou rapidamente velha e não passa mais de um capacho voador pode levar rapidinho a nova tempestade, bem pior do que a que vai perdendo força.

Dilma e o PT se esqueceram que enfiaram os fantasmas nos armários, blindaram processos e nomes. Agora estão pululando e fazendo mais careta para o Brasil, esse país do esculacho.

As escavadeiras da Lava-Jato começaram a desenterrar as carcaças podres que vão empestear ainda mais o Planalto. Antônio Palloci, Zé Dirceu (o famoso “Bob”). Vaccari, o “Moch”, e agora se anuncia a exumação de Erenice Guerra, amiguinha (uma das muitas), que acompanhou a carreira de Dilma.
A presidenta está se arriscando a ficar soterrada sob velhos esqueletos. Ficará esquecida sob a avalanche de condenados.

Ajuste fiscal aumenta impostos e corta direitos

O mais que certo agravamento da situação econômica no Brasil irá elevar o volume da confusão já implantada no país por vários anos de governos ineptos, gastadores, falastrões e usuários de contabilidades criativas.
Aplicar ao mesmo tempo um ajuste fiscal e monetário, no atual contexto de recessão da economia brasileira, parece ato sem antecedentes de pleno êxito na economia mundial.

O Brasil chegou a essa precária situação graças a medíocre, enganosa e inconsequente política econômica levada a efeito nos últimos anos por Dilma e sua olímpica, subserviente e maquiadora equipe, principalmente na adoção de estímulos monetários e fiscais, o que resultou no agravamento da dívida pública e elevação da inflação, propiciando a queda do nível da atividade produtiva e culminando na atual recessão por que passa o país. Recessão com inflação (se existisse o termo em economês, seria “receflação”), o que, sem dúvida, possui características mais graves que a estagflação, ou seja, a inflação com a economia estagnada.

Nessa situação delicada e de alto risco, o ajuste se apresenta como vital para tentar recuperar a credibilidade da política fiscal e manter a inflação sob controle, de modo que o país possa preservar a esperança de voltar para a desprezada e perdida normalidade econômica, obtida no passado por meio de enormes sacrifícios da população brasileira.

Agravando a situação em que o Brasil foi atirado por teimosa e patente incompetência, a carga tributária imposta ao povo e também às empresas é descomunal para um país de economia emergente como o nosso, fato que se agrava quando consideramos a baixíssima qualidade dos serviços públicos oferecidos aos contribuintes. O brasileiro paga por serviços públicos que não recebe e, quando recebe, são de péssima qualidade.

Esse contexto resultou na atual crise de confiança e crescentes reclamações por parte dos componentes de todas as camadas sociais (trabalhadores, políticos e empresários, exceto banqueiros fora, beneficiados, à saciedade, nos últimos governos petistas) por já terem constatado que o governo federal quer aumentar a carga tributária, encolher direitos trabalhistas e amputar recursos destinados a Estados e municípios.

Tudo isso, sem que o governo federal leve a efeito o menor esforço para diminuir a obesa máquina pública e o fortemente criticado aparelhamento do Estado pelo PT. O governo dá sinais inconfundíveis que não deseja nem pretende cortar a própria carne.

Em sã consciência, não parece existir a menor dúvida que o ajuste fiscal seja necessário, pois poderá colaborar para a extinção das incertezas sobre a solvência do Brasil. Também parece medida inevitável a elevação dos juros, objetivando controlar a inflação – que representa o pior dano que um trabalhador pode sofrer em seu salário.

Por outro lado, há forte corrente de economistas que julgam que o modo mais eficaz do Brasil sair da crise em que foi colocado pelas nocivas administrações petistas, seria atrelar o ajuste no corte das despesas estatais e na adoção de medidas para efetivamente melhorar a produtividade e restaurar o ambiente de confiança nos negócios.

Essa corrente é de opinião serem necessárias as reformas trabalhista e tributária, além da adoção de um programa que torne possível a alocação de expressivos investimentos em infraestrutura, com seguras garantias e previsões de retornos que voltassem a atrair investidores nacionais e internacionais, pois está mais do que comprovado que o capital sempre migra para locais mais seguros e de melhor remuneração.

Os discursos da presidente Dilma durante a campanha eleitoral, exuberantes em parlapatices, foram lastreados em diagnóstico no qual nem mesmo ela parecia ou deveria acreditar e nas afirmações e reafirmações aos eleitores de que nada havia de errado na política econômica brasileira.

Comboios e mais comboios de lorotas, sopradas por marqueteiros apenas preocupados em faturar a grana fácil que havia chegado aos cofres do PT e sem a menor responsabilidade com o futuro do país e de seus habitantes. Foi feito o diabo na a campanha…

Decorridos poucos meses, a verdade veio à tona. E a confiança dos brasileiros na presidente da República chafurdou nas mentiras contadas durante a campanha eleitoral e no lodo da corrupção.

O futuro irá mostrar se o governo Dilma 2 – considerando a verdadeira catástrofe que foi o Dilma 1 – será capaz de agir com a eficiência que a situação requer para tirar o Brasil da posição calamitosa em que foi colocado pelos sucessivos e inconsequentes atos consumados por perdulários e fanfarrões governos petistas.

Mas o fato é que o governo Dilma 2 está a bordo de embarcação fazendo água, com tripulação em sua maior parte desqualificada e em plena tormenta, navegando em monumental e comprovado oceano de corrupção.

Celso Serra