sexta-feira, 25 de agosto de 2023

Brasil Família

 


Do que se livrou o Brasil

O País seria jogado num abismo ainda mais profundo. Sem volta num futuro próximo.

Não houve na política brasileira, nas últimas quatro décadas, um sujeito tão mau, quanto despreparado, como Bolsonaro. Chegou a hora de pagar a conta. Testemunhas de castas diversas trouxeram na semana passada fatos inquestionáveis que o comprometem judicialmente, e podem culminar em sua prisão. Dias contados para hospedar-se na Papuda. A internet, aliás, recomenda fortemente: recolham o passaporte do meliante.

Bolsonaro pode não ser burro, mas é péssimo em prognósticos. Desastroso em estratégia. Ele nunca achou que perderia a reeleição. Perdeu. Ele achou que conseguiria impedir a vitória de Lula nas urnas. Esforçou-se na ilegalidade, e não conseguiu. Ele apostou – em parte das Forças Armadas e nos seus apoiadores alucinados – que Lula, eleito, não tomaria posse. Covarde, armou a cena do golpe, e fugiu do Brasil.

Enrolado até o pescoço em várias frentes de investigação pela PF: de corrupção a golpe de estado, está por um fio. Melhor prevenir. Recolham seu passaporte, insisto.


O ex-Presidente será humilhado por denúncias de seus pares. Entre o disse-me-disse – ora, o coronel Cid vai confessar e dedurar o ex-chefe,, ora não sabe se o fará – a Policia Federal já puxou a ponta do nó. Essa semana promete novas revelações – de Frederico Wassef, escarafuncha quatro celulares. Estão apreendidos celulares de Cid e do seu pai (general da reserva), há as contas bancárias de Michele e Jair, cujo sigilo foi quebrados. E tem a investigação (avançada) sobre as joias surrupiadas pela família.

Na última sexta, na tentativa de driblar a imagem de ladrão de joias, Bolsonaro tomou uma média com pão, no boteco da esquina, comeu com a boca aberta e trouxe de volta seu cinismo doentio. O mesmo que o levou a imitar doentes com falta de ar, na pandemia, ou o que dizia “e dai? não sou coveiro”, sobre milhares de mortos em decorrência do seu negacionismo.

Bolsonaro está moribundo. Por um tempo, continuará a dar seu nome a extremistas, fascistas, negacionistas – bolsonaristas. Um engodo para quem precisa de um “mito” para venerar. Fora isso, é nada. Sobreviveu a uma facada suspeita, não sobreviverá ao golpe de sua prisão. Como a ignorância cola, já tem herdeiros a sua altura. Não vamos nos livrar desses arrivistas, atrasados, broncos. Um atende por Zema, não sabe quem foi Adélia Prado e acha que 513 dividido por 2 resulta em 613. O outro, Tarcísio, já tem uma chacina no currículo, e condena livros escolares.

No sábado, o negacionista foi às lágrimas em Goiânia, ao encontrar apoiadores. Motivos de sobra. Homem pode chorar. Não é seu caso. Vamos la, macho. Chega de mimimi. Engole esse choro.

O grande corruptor

Hoje, com a Polícia Federal e os órgãos de fiscalização lhe mordendo as canelas, Bolsonaro já pode ser tranquilamente chamado de ladrão. Os escândalos de seu governo urram exigindo processos e punições. Alguns deles: o cheque de Michelle, o esquema dos tratores, a farra dos caminhões de lixo, o contrabando de madeira, os R$ 15 milhões em leite condensado, os R$ 21 milhões no cartão corporativo, os R$ 26 milhões em kits de informática para escolas sem água, o MEC dos pastores-lobistas pagos em barras de ouro, a compra de vacinas 1.000% mais caras do que cobrado pelo fabricante, os bilhões do orçamento secreto. Além da apropriação das joias sauditas e a passagem delas nos cobres como se fossem dele. Nunca um ladrãozinho tão barato custou tanto ao país.


Não era assim no começo do mandato. Suspeitas abundavam, mas, mesmo com as rachadinhas, dele e dos filhos, e o gigantesco patrimônio imobiliário com salários de deputado, era difícil enquadrar Bolsonaro como corrupto. As provas fugiam pelo ralo. O que desde o primeiro dia me pareceu óbvio foi o seu papel como corruptor —e esta coluna foi das primeiras a chamá-lo assim.

Bolsonaro conseguiu supercorromper os já nada virginais Executivo, Legislativo e Judiciário. Corrompeu também os serviços de inteligência, investigação e segurança, como a Abin, a PF, a PRF, as PMs, e de controle financeiro, como o Coaf. E a PGR, cujo titular, Augusto Aras, o elegeu como "o maior símbolo de combate à corrupção em 520 anos de Brasil". Mas Aras disse isso em 2020 —hoje, sob nova administração, deve ter mudado de ideia.

Nada é mais grave, no entanto, do que a corrupção por Bolsonaro das Forças Armadas, com 2.500 empregos, cargos, sinecuras, uísque, picanha, Viagra, próteses penianas.

Pior: ao corromper militares para suas ideias, Bolsonaro fez das Forças Armadas uma tropa de pazuellos —como nunca em 523 anos de Brasil.

Caso das joias: o auge da baixeza e falta de classe

Ser brasileiro não é fácil e a gente já viu muito absurdo nessa vida. Mas juro: nunca imaginei ver algo tão baixo como o escândalo do momento.

Falo, claro, da suposta venda por pessoas ligadas intimamente a Jair Bolsonaro, de presentes recebidos de chefes de Estado em lojas dos Estados Unidos para "pegar” o dinheiro para "o chefe” (o ex-presidente).

Estávamos acostumados (infelizmente) com superfaturamento de obras, desvios de recursos públicos e outros horrores e não, eles não são justificáveis. São terríveis. Mas o "saldão” de presentes de chefes de estado, que está sendo investigado pela polícia, teria outros componentes adicionais: a falta de classe, de educação, a baixeza sem limites.

Para quem estava em Marte, um resumo dessa confusão que pode levar o presidente Bolsonaro à prisão.

A Polícia Federal deflagrou em 11 de agosto uma operação para apurar um esquema de vendas de presentes recebidos por Jair Bolsonaro quando ele era presidente da República. A PF vê indícios de que o ex-presidente seria o beneficiário direto das vendas, o que ele nega. De acordo com uma fonte da PF, ouvida pelo programa Fantástico, da TV Globo, no domingo (20/08) , mensagens encontradas no celular de Mauro Cid mostram que Bolsonaro sabia das negociações.

Além de ser contra a lei, convenhamos, tem coisa mais sem educação? Qualquer criança sabe que quando ganha um presente, não pode o colocar para vender na esquina. Também sabemos que não podemos, por exemplo, pegar uma joia que pertencia à nossa avó e ficou de herança para nossa tia e vender. Isso seria roubo.

No caso do esquema de vendas por parte de um ex-presidente e seus assessores, tudo seria bem pior do que um furto familiar. Afinal, nesse caso a venda é de presentes que pertencem ao Estado, que poderiam estar, por exemplo, em um museu.

A troca de presentes entre chefes de estado é um ritual da diplomacia que existe desde os primórdios. Ela simboliza gestos de simpatia, de decoro. Nunca ouvi falar de nenhum governo que tivesse vendido esse tipo de coisa. E para piorar tudo (ou melhorar, pois pelo menos o esquema foi descoberto): os integrantes da máfia da venda de presentes ainda atuavam como "Os Trapalhões” da corrupção.


Que espécie de pessoa tira uma foto de um presente que vai vender ilegalmente e não percebe que seu reflexo saiu na foto? Pois o general do exército Mauro Lourena Cid, pai de Mauro Cid, tenente coronel e ex - ajudante de ordens de Bolsonaro, conseguiu esse feito.

Mas as outras vendas também parecem filmes de sátira, num estilo "Loucademia de Corruptos".

Exemplos: um relógio de luxo da marca Rolex, que teria sido vendido nos EUA por Mauro Cid, foi recomprado por um valor mais alto pelo advogado Frederick Wassef, que representa a família Bolsonaro, depois que o Tribunal de Contas da União (TCU) determinou que o item fosse devolvido.

Algumas vendas não deram certo, como um conjunto de joias da Chopard, que foi colocado para venda em um leilão online da empresa Fortuna Actions, de Nova York, mas não foi arrematado.

O kit chegou a ser anunciado pela empresa em seu site, em um vídeo. Ou seja, eles teriam tentado vender de forma aberta, com direito a publicidade. Mais amador, impossível.

Esse kit, para piorar, teria sido levado em um voo oficial, quando Bolsonaro deixou o Brasil rumo à Flórida na antevéspera da posse do atual presidente.

Outro presente também teria sido levado nessa viagem: duas esculturas douradas: uma árvore e um barco. A árvore foi recebida por Jair Bolsonaro em uma viagem ao Bahrein.

Quando "ganhou” o presente, Bolsonaro até postou uma foto protocolar recebendo a escultura. Mas, de acordo com as investigações da PF, essas peças acabaram nas mãos de Mauro Cesar Lourena Cid, o pai de Mauro Cesar Barbosa Cid, que tentou vendê-las em lojas de compra de ouro nos Estados Unidos. A operação não teve sucesso, já que as peças, ao contrário do que eles imaginavam, não eram de ouro maciço, apenas folheadas.

De acordo com a PF, mensagens trocadas entre os membros do "grupo" teriam mostrado que Bolsonaro, então, não quis mais os presentes, já que eles não teriam "valor nenhum”.

O valor, Jair Bolsonaro, era de um gesto, de uma gentileza entre países. Mas essa trupe parece não saber o que é isso.

Além de desejar muito que tudo seja investigado e que a justiça seja feita, sabe em que eu penso? No constrangimento que vou sentir se (ou quando) essa notícia "ex-presidente tinha esquema de venda de presentes que recebia de chefes de Estado” passar no Tagesschau, uma espécie de Jornal Nacional da Alemanha. Em geral não sinto vergonha de nada que acontece no Brasil. Sempre penso que não foi minha culpa e pronto. Mas até minha autoestima de imigrante que tenta não ter complexo de vira-lata tem limite…

Os Bolsonaro, uma família-empresa do balacobaco

Pais não escolhem filhos. Filhos não escolhem pais. Mas Bolsonaro escolheu os dele: Flávio Bolsonaro, Carlos Bolsonaro e Eduardo Bolsonaro. E rejeitou Jair Renan Bolsonaro. Certa vez, referiu-se a Laura, sua única filha, como uma “fraquejada”.

Rogéria, a primeira mulher de Bolsonaro, é mãe dos três zeros – Flávio, Carlos e Eduardo. Ana Cristina Valle, a segunda mulher, é mãe de Jair Renan. Os quatro estão enrolados com a Justiça. Michelle, a terceira mulher, é mãe de Laura.

Se perguntarem a Michelle se Bolsonaro é um bom pai, ela certamente responderá que sim, é um ótimo pai, embora muito ocupado. Se perguntarem às outras, dirão que não, ou nada dirão. Rogéria comeu o pão que o diabo amassou nas mãos de Bolsonaro.


Separada do marido, mas com o apoio dele, elegeu-se vereadora no Rio de Janeiro. Ao tentar se reeleger, Bolsonaro escalou Flávio para derrotá-la, mas ele não topou. Então, convenceu Carlos a ser candidato, e o filho derrotou a própria mãe.

Escalada por Bolsonaro, Ana Cristina, mãe de Jair Renan, cuidou do esquema da rachadinha nos gabinetes de Flávio e de Carlos. Saiu-se bem. Mas brigou com o marido, ou ele com ela. Então foi trocada por Fabrício Queiroz. Hoje, mora na Europa.

Ana Cristina quis fazer carreira política em Brasília. Alugou (ou comprou) uma mansão e fez Jair Renan se aproximar do pai presidente. Ana Cristina recebeu doações para sua campanha. Desistiu depois. Não devolveu as doações. É mal de família.

Sem ter modelos melhores, Jair Renan mirou no pai e nos irmãos que sempre mantiveram distância dele, e começou a fazer negócios. Mandou às favas a história de escrúpulos. Escrúpulos só atrapalham. Jair Renan mudou-se para Camboriú, Santa Catarina.

Arranjou um emprego à beira mar. Planeja ser candidato a vereador. Esbalda-se em festas com tudo pago. Afinal, era o filho do presidente da República. Passou a assediar mocinhas com o apelo que lhe parecia irrecusável: “Sou filho do presidente…”. Foi.

Jair Renan foi alvo de uma operação da Polícia Civil do Distrito Federal que apura crimes de estelionato, falsificação de documentos, sonegação fiscal e lavagem de dinheiro. Ele se diz tranquilo. Nunca foi tranquilo. Já cuspiu no rosto da mãe.

O pai não saiu em defesa de Jair Renan; já saiu e sairá em defesa de Flávio, seu herdeiro político, de Carlos, o filho que mais o preocupa por sua instabilidade emocional, e de Eduardo, que substituiu como ideólogo da família o finado Olavo de Carvalho.

Flávio, ao seu modo às vezes bruto, saiu em defesa de Jair Renan:

“Pelo que eu conheço do Renan, ele não tem a menor capacidade de fazer [o que a polícia lhe atribui]. Está trabalhando. Me causa estranheza porque é uma pessoa que não tem onde cair morta e está sendo investigada por lavagem de dinheiro.”

Se o irmão não tem onde cair morto, por que Flávio, dono de uma mansão de 6 milhões de reais em Brasília, não o ajuda? Por que Carlos e Eduardo não o ajudam? Por que Bolsonaro, 17 milhões de reais mais rico com as doações via pix, não ajuda o filho?