domingo, 23 de agosto de 2015

O governo Dilma e a síndrome de Estocolmo

Há alguns meses, uma dupla de vagabundos me encostou uma pistola na barriga e exigiu a chave do carro. Ainda sob o impacto do acontecido, fomos, minha mulher e eu, à delegacia mais próxima relatar a ocorrência. Era o que se impunha fazer naquele momento e esperávamos, ademais, que a notificação urgente possibilitasse - quem sabe? - recuperar o que nos haviam roubado. Mas isso não aconteceu.

Estou convicto de que tivemos um comportamento normal. É o que se faz em tais circunstâncias. Reage-se indo à polícia. Espera-se que os criminosos sejam apanhados. Exige-se que as quadrilhas sejam trancafiadas.

Basico

Diante do que acabo de descrever, impõem-se inquietante questão: por que, diabos, quando na condição de cidadãos que veem o país ir à gaita, tantos se recusam a admitir que estão sendo roubados? Por que, após serem ludibriados com mentiras, muitos se mantêm defendendo os mentirosos? Que síndrome de Estocolmo (1) social e economicamente sinistra é essa que ainda sai às ruas, assina colunas de jornais, esgrima comentários no rádio e na tevê e se entrincheira nas redes sociais para defender o governo? Agem como vítimas que, após o dano sofrido, saem conversando amavelmente, abraçadas com quem as prejudicou - "Bye, bye, voltem sempre!". (1) Essa síndrome designa o vínculo emocional com os sequestradores, desenvolvida pelos sequestrados durante um roubo a banco na capital da Suécia em 1973.

Recebi, ontem um levantamento segundo o qual, somando-se os filiados ao Partido dos Trabalhadores com os militantes do MST, Via Campesina, MTST, UNE e ONGs financiadas pelo governo federal, acrescidos dos blogueiros, MAVs pagos pelo partido e titulares de cargos de confiança, chega-se a umas 15 milhões de pessoas, ou seja a 7% do eleitorado. E esse seria, portanto, o piso da aprovação ao governo.

No entanto, os números parecem um pouco inflados. Há gente que não se enquadra em qualquer dessas categorias e se conta entre os tais 7%. Quando milhões saem às ruas em centenas de cidades do país, expressando a natural indignação de quem se percebe roubado, ludibriado e vítima de estelionato eleitoral, os protetores do governo tratam de desqualificar suas admiráveis manifestações. Afirmam que são mobilizações exclusivas da classe média, como se um governo que fez mais da metade dos votos e em poucos meses cai para 7% de aprovação, não tivesse perdido apoio de todas as classes sociais.

Nestes dias, o petismo busca salvação no andar mais elevado dos poderes de Estado, reunindo homens da estirpe de Lula, Sarney, Renan, Jucá, Barbalho. Janta com ministros do STF! Encontra-se secreta e casualmente com Lewandowsky na cidade do Porto. Usa e abusa dos nossos recursos, aumentando os gastos com a publicidade oficial para domar a mídia e distribuindo favores aos currais eleitorais do Norte e do Nordeste.

E tem buscado, inutilmente, arregimentar apoios, também, no andar térreo, convocando os "exércitos" de Stédile (MST) e de Vagner Freitas (CUT). Que fiasco! Para cada cem manifestantes do dia 16, o governo conseguiu, no dia 20, transportar e colocar nas ruas uns 4 ou 5 gatos pingados, que se moviam em visível constrangimento e com a animação de velório de monge budista. Não é humano, não é natural, não é normal, aplaudir corrupção, inflação, desemprego, carestia, recessão e incompetência. Quando isso acontece, ou há interesses em jogo, ou é síndrome de Estocolmo.

Percival Puggina

Final à vista

 Às vezes, me perguntam se vivo de literatura. A resposta é sim -se, durante o mês, eu for chamado a dar palestras, ministrar um curso de biografia, coordenar um ciclo de debates ou ganhar um prêmio literário. Enfim, se conseguir me virar fora da página impressa. Já quando me perguntam se vivo de direitos autorais, a resposta é não, e vale para 90% dos escritores nacionais, exceto uma meia dúzia e alguns autores de livros para jovens e de autoajuda. Claro que todas essas atividades -palestras, cursos, debates, prêmios- exigem que o sujeito pratique ou tenha praticado alguma literatura.

O ex-presidente Lula não pratica literatura. Praticou a presidência de um país. E, desde que passou o cargo, o mundo tem se atropelado para saber como ele fez, qual o seu segredo e com que fórmulas mágicas pegou um país quebrado, segundo diz, e o tornou essa potência em que vivemos. Faz isso em palestras de 50 minutos em países da África, do Oriente Médio e da América do Norte, e não chega para os convites.

Sua empresa de palestras, sabe-se agora, arrecadou R$ 27 milhões nos últimos quatro anos. São R$ 6,75 milhões por ano. Quantas palestras serão necessárias para render esse cachê? E haverá assunto para tanta palestra? R$ 10 milhões desse dinheiro vieram dos empreiteiros que estão sendo investigadas pelos assaltos à Petrobras. De tanto ouvi-las, já não deviam saber as palestras de cor?

Sorte de Lula não ser escritor. E olhe que sua vida é uma fabulosa obra de ficção -uma saga com a qual nem as de Jorge Amado, Erico Verissimo e Guimarães Rosa se comparam. Contém intrigas, mentiras, traições, morte, dinheiro, lances de chanchada, reviravoltas -o protagonista aparenta ser uma coisa e se revela outra. E, como toda ficção, boa parte dela é verdade.

Nem toda ficção tem final feliz. Aliás, a melhor é a que não tem.
Ruy Castro

A denúncia de Gabrilli no plenário


A deputada Mara Gabrilli (PSDB-SP), estava no bar do hotel onde Angela Merkel foi tomar uma saideira depois de jantar com Dilma.
“Ela chegou de repente e, muito simples, cumprimentou a todos do pub. Contei para ela que eu era a primeira deputada tetraplégica do país. Ela ficou interessada e, num gesto bonitinho, estendeu a mão para me cumprimentar”, contou a deputada.

Joaquim Silvério dos Reis perdeu o posto

Depois de reinar incólume por por mais de 200 anos como o maior traidor do país, apesar de controvérsias, enfim Silvério dos Reis pode descansar em paz e definitivamente será esquecida a pecha sobre o seu cadáver.

O posto, e parece definitivo, de grande traidor na História do Brasil agora será ocupado por Luiz Inácio Lula da Silva, conhecido há muito como Flagelo de Garanhuns. Para quem quis ser o Pai da Pátria, entrar nas páginas como herói, libertador do povo, um deus, é o rebaixamento definitivo para o que sempre foi: traíra.

Nunca antes neste país um gesto de traição foi tão explícito.

Depois de enganar boa parte do país com suas consecutivas mentiras, inventar-se como um Criador, Lula vai aos poucos assumindo sua verdadeira personalidade de fariseu.

— Se o Zé gosta tanto do PT, por que não ajuda e se desfilia? A frase foi de um petista, mas leva a assinatura do chefe.

Tentar convencer o ex-ministro José Dirceu, preso na Operação Lava-Jato, a se desfiliar do PT, para reduzir o desgaste do partido e do governo por eventual condenação no Petrolão, mostra o caráter de quem por oito anos governou o país.

Não é surpresa que quem vendeu a alma ao diabo e aos empresários e banqueiros agora peça a morte do companheiro para poder sobreviver a mais uma aventura eleitoreira.

Pior do que Silvério dos Reis, Lula chuta como cachorro morto quem com ele batalhou na fundação do PT, foi o poderoso chefe da Casa Civil e articulador do aparelhamento governamental para que pudesse reinar incólume sobre os súditos. Nem aos míseros tesoureiros petistas ou outros políticos, como Zé Genoíno, outro nome histórico do partido, se pediu tanto como o suicídio histórico, para que ele, o Grande Lula, possa escapar das grades e voltar vitorioso e heroico em 2018.

Pode-se condenar e criticar Zé Dirceu, mas nunca se poderá chutar pra rua como um meliante aquele que foi para o partido o Guerreiro do Povo Brasileiro. Que seja condenado por crimes, mas não execrado dentro do partido como joguete para salvar a pele de Lula Traíra.  


O recado de Lula decreta sua própria condenação como o grande traidor e, pior ainda, o mais covarde dos brasileiros. Hoje desfrutando das regalias do poder econômico e político, se caga de voltar à prisão. É uma figura patética de um ex-líder se borrando, pedindo mortos para atapetar sua liberdade.

Partido ou profissão?

Amparados por ônibus, lanches e quem sabe um mísero jabá, os companheiros foram às ruas, quinta-feira. Entregaram-se às mesmas práticas de sempre: muito barulho, gestos de ginastas aposentados e cartazes ousados. A gente fica pensando se o PT é um partido ou é uma profissão…
Carlos Chagas

Desmando legalizados


Consta que, na reunião com aliados, logo depois de a manifestação popular tomar conta das ruas, a presidAnta Dilma Roussef (PT) afirmou:

“O Brasil tem alguma coisa em torno de 200 milhões de habitantes. Portanto, vamos considerar que dois milhões estavam ontem nas ruas. Isso significa que os cerca de 198 milhões que ficaram em casa estão me apoiando.” O pensamento de sua excelência é completamente enviesado.

A mulher mais despreparada de que se tem notícia nesta República de picaretas e calhordas só sairá da cadeira presidencial se o Palácio for invadido e ela se vir arrancada do assento. É inacreditável o descaso de nossas figuras públicas com o povo que os sustentam. Despreparada, inculta, semialfabetizada, e seriamente suspeita de ter o cérebro danificado, Dilma Roussef é a mesma que deu conselhos à chanceler alemã, Angela Merkel, sobre a melhor maneira de conduzir a economia de sua nação.

Enquanto isso, o ex-presidente FHC, amavelmente chamado “Boca de Tuba”, aquele que quando era senador pavão transformou seu gabinete numa espécie de motel, já descobriu que o seu partido de salafrários deve pegar carona definitiva na onda popular e tentar se instalar novamente no poder para que a roubalheira continue a mesma. Boca de Tuba é aquele que comprou a reeleição presidencial, lembram?

A literatura existente sobre os assaltos praticados pelo PSDB no governo FHC faria sua ex-excelência meter a viola no saco e a língua no baú, não fosse também um desqualificado moral que não se preza e age como canalha. Quem começou a maior parte da bandalheira que hoje presenciamos foi Boca de Tuba com o seu PSDB. Basta pensar no tal “Foro Especial” e nos cartões corporativos, para início de conversa.

As quadrilhas que nos governam não enxergam um palmo adiante do nariz e só ouvem o tilintar de moedas. O país se encontra inteiramente desmontado e basta apenas ouvir parte do noticiário do dia, com os programas anunciando o fim do mundo e mostrando que o mais recomendado é não abrir a porta nem colocar o pé na rua. O desespero que faz parte do cotidiano das pessoas é relegado a segundo plano. Ele não é percebido nos tapetes macios por onde transitam assaltantes dos cofres públicos.

Mesmo na Rede Globo de Televisão, que transformou o Brasil num bordel de quinta categoria, já se abre espaço para denunciar misérias e absurdos inacreditáveis, nos intervalos de programação pornográfica que forjou gerações de párias desacreditados. A banalização de desmandos e maus costumes vêm sendo solidificados há anos pela Rede Globo de Televisão e as emissoras que a copiam.

Mas isso, os que detêm o poder de mando na emissora não se preocupam em considerar, porque têm certeza de que mais adiante é só pedir desculpas a um monte de anestesiados, como fizeram no episódio referente ao regime ditatorial (1964-85) que alegremente estimularam e apoiaram.
Regime que certamente terá de voltar, mais cedo ou mais tarde, porque ninguém vai conseguir colocar este país novamente nos eixos sem disciplina e sem uma tropa bem organizada.

A questão é saber se vai dar certo, porque, da última vez, não deu! O Brasil precisa, antes de tudo, de educação, e a primeira providência é mudar a grade de programação das emissoras de televisão, pois ninguém conseguirá governar com tanta pornografia e infâmia.

Ah, e é preciso, também, construir presídios e tratar de modificar a legislação penal, porque gatunos como Paulo Maluf, Lula da Silva, FHC e assemelhados não têm como ficar solto, oferecendo os piores exemplos às novas gerações, principalmente no que diz respeito à impunidade. Eles são a causa e princípio de nossa derrocada.

O ciclo imperfeito

Há um clima de fim de ciclo no País: o dos governos do PT e da “hegemonia” petista na política nacional. Fala-se disso na situação e na oposição e os diferentes partidos parecem convencidos de que o futuro nascerá de um movimento de superação. Gostaria de problematizar a ideia.

É melhor ver o esgotamento do ciclo petista - que é real - como parte do esgotamento de um ciclo maior, que deita raízes na redemocratização e no movimento que culminou na Constituição de 1988. Entre 1995 e os dias atuais, este ciclo ganhou força, produziu resultados importantes, chegou ao apogeu e está agora, ao que tudo indica, conhecendo sua desconstrução.

Tivemos no Brasil, durante esse período, um ciclo social-democrata imperfeito. Seu componente social-democrata associa-se à afirmação progressiva de uma grande democracia de massas, de caráter inclusivo e popular. Mas também à implantação do que se tem hoje no País de “Estado de bem-estar”, com políticas sociais importantes, reconhecimento explícito de direitos e uma orientação oficial largamente favorável à melhoria na distribuição de renda e à redução das desigualdades sociais. Associa-se tanto às políticas de estabilização monetária e responsabilização fiscal dos anos FHC quanto às políticas assistencialistas e de renda dos anos Lula; tanto ao esforço de redimensionamento e racionalização do Estado e da administração pública quanto à busca de novas formas de inserção internacional do País.

Tal ciclo, porém, não conseguiu atingir a “perfeição”, ou seja, tornar-se sustentável. Nem sequer chegou a ganhar plena coerência, a sintonizar seus termos e componentes ou a ser assimilado pela população e pela opinião pública a ponto de se converter em ideia-força, cultura política e convicção cívica.

A imperfeição do ciclo está estampada em algumas de suas características mais relevantes.

Antes de tudo, o ciclo não foi assumido como tal: jamais se fixou, na vida nacional, o reconhecimento explícito de que estávamos a conhecer, de modo tardio, uma “onda” social-democrata. A arena política não foi contagiada por essa ideia. Ora o vetor discursivo predominante se apoiou na tese de que se estava a viver a “continuidade da redemocratização”, ora que se tratava de trazer para o País o ideário “neoliberal” e ora que se iniciava entre nós uma fase de “redenção nacional”. Não se compreendeu que uma social-democracia estava em marcha.

Em decorrência, os partidos políticos e movimentos que protagonizaram o ciclo deixaram de cooperar entre si: optaram por abrir guerras e litígios uns com os outros, investindo energia irracional na disputa eleitoral. Preferiram processar suas diferenças às cegas, ou melhor, privilegiando tão somente a conquista de governos e posições de força no sistema político.

Uma terceira imperfeição deriva deste ponto. Convertidos em máquinas eleitorais, os partidos não se reproduziram de modo adequado, não funcionaram como “escolas de quadros” e não renovaram seus quadros de direção. Transmitiram assim, para o conjunto do Estado, um notável fracasso em termos de formação de lideranças e de oxigenação da elite política. Soterraram, sem pena nem glória, figuras políticas da estatura de Ulysses Guimarães, Franco Montoro, Leonel Brizola, Paulo Brossard, Miguel Arraes, Tancredo Neves, Itamar Franco, entre outros, que haviam definido o perfil da elite política que emergiu durante os anos de luta pela democracia. Mesmo lideranças como Fernando Henrique Cardoso e Lula não foram preservadas e engrandecidas da forma devida. A elite política, com isso, perdeu densidade e chega aos dias de hoje reduzida a níveis inimagináveis de ruindade e primitivismo: não há mais estadistas, os líderes nada lideram, o discurso político é tosco e grosseiro, falta cultura aos políticos.

Apoia-se no entrelaçamento destas três “imperfeições” o fator principal da imperfeição social-democrata a que me refiro: seus partidos principais, o PSDB e o PT, mas também parte do PMDB, o PSB, o PPS, o PSol e os movimentos sociais mais fortes, como o MST, nunca conseguiram erguer um projeto claro de sociedade. Jamais responderam à questão de saber quem somos e para onde queremos ir. Em decorrência, não educaram a cidadania, não promoveram reformas estruturais profundas e não construíram uma hegemonia digna do nome, ou seja, uma cultura capaz de cimentar e dar sentido às posições de força que se conquistavam no sistema político e no aparelho de Estado. Houve muita ocupação de espaços e muito uso dos mecanismos estatais, mas poucas ideias e pouca articulação. As próprias políticas públicas mais afeitas à social-democracia - saúde, educação, previdência, renda e trabalho - ficaram soltas, sem se completar.

A globalização, a revolução tecnológica, a conectividade em rede, a individualização foram reconfigurando a sociedade, mas o sistema político permaneceu parado, digerindo suas próprias entranhas.

O resultado disso está exposto à luz do dia: a bola de neve da corrupção, a miséria intelectual da política, uma sociedade civil exasperada e mal estruturada, a demonstração cabal de que cargos e vitórias eleitorais não dão sustentação confiável aos governantes e sobretudo uma estrondosa e profunda separação entre sociedade e Estado. A crise política atual reflete isso, ainda que também possa ser lida pela chave da inoperância presidencial. O povo distanciou-se dos governos, em especial do governo federal, principal peão de um sistema presidencialista. Não convidado, ao longo dos anos, a discutir seriamente a relação com os governos, o povo optou por romper relações com eles.

Deu no que deu. O que virá pela frente é uma incógnita, mas dá para dizer que um novo ciclo já está brotando e que avançará em diálogo com a social-democracia imperfeita do ciclo que hoje se esgota. Isso pode significar que a ideia social-democrata permanecerá a disputar hegemonia na vida nacional. Se conseguirá sucesso nisso é algo a ser respondido mais à frente.

Saída à brasileira

Multiplicam-se os encontros a portas fechadas, em busca de um pacto de governabilidade que evite rupturas

Pelo jeito, vão acabar dando um jeitinho. Brasileiramente.

Nestes estranhos dias que vivemos, parece que há duas sensações aparentemente incompatíveis. Não deviam se mesclar. Mas estão em toda parte, ora opostas, ora lado a lado, ora em alternância: um certo alívio e uma certa desesperança. No lado do alívio, suspira-se um “ufa!”. Na banda da desesperança, geme-se um “ai!”

É como se o país oscilasse entre duas velhas piadas. Uma é a do sujeito que cai do octogésimo andar e, ao passar pelo vigésimo, suspira: “Até aqui tudo bem”. Outra é a dos amigos que caíram na vala de esgoto, com dejetos até o pescoço e se recomendam: “Não faz marola”.

Ufa! O pior não aconteceu, o Renan desarmou a bomba do Cunha, este foi denunciado pelo MP, o governo recuperou algum controle da situação. Parece que não estamos mais à deriva. A Agenda Brasil vem aí e vai mudar o cardápio de assuntos discutidos, sem o risco de trazer maiores novidades.

Ufa! A Moody’s rebaixou a nota do Brasil, é verdade. Mas, felizmente, não ao ponto de o país perder o grau de investimento. Nada que chegue a atrapalhar no momento — e isso é o que importa.

Ufa! Houve manifestações pelas ruas de mais de 200 cidades, em todos os estados, trouxeram até um balão inflável do Lula vestido de presidiário, mas dá para suspirar com alguma leveza, porque os números de manifestantes foram menores do que os de março.

Ufa! O governo não está mais tão sozinho e acuado. As ruas se encheram também de manifestantes de camisa vermelha. Os setores produtivos e a grande mídia dão mostras de juízo e de preocupação com a governabilidade. As novas denúncias não trouxeram surpresas.

Por outro lado, há os que se lamentam. Ai de nós! O país está desgovernado, a economia vai de mal a pior, as descobertas de roubalheira são espantosas, cada nova fase da Lava-Jato traz mais uma penca de revelações assustadoras.

A turma do alívio suspira: o pior já foi contornado. Desta vez, vai. Não chegamos ao fundo do poço. Quem sabe se lá não existe uma cama elástica? Não um alçapão, como alguns temem. Vamos dar um jeitinho.

Tudo se encaminha para uma bela saída à brasileira. Multiplicam-se os encontros de políticos a portas fechadas, em busca de um pacto de governabilidade que evite rupturas. É uma boa causa: não prejudicar o ajuste. Faz-se um acordão, capricha-se na maquiagem e, como sempre, elogia-se o conchavão e se vende ao eleitorado a sensação de que tudo melhora. Brasileiro, profissão esperança.


Os governantes se apresentam como algo entre heróis e santos. Vergam mas não se envergonham. Epa, perdão, citação errada! A frase foi outra: vergam mas não quebram.

Quem pode quebrar é o país. Mas aí é um detalhe, apenas uma questão matemática, e não política, como parecem crer os que recusam números, prazos, orçamentos, responsabilidade fiscal. Ainda outro dia, um deputado da base governista, defendendo seu voto a favor da gastança, argumentava que não dá para ser diferente, porque “o ajuste não está surtindo efeito” e não melhorou a situação. Como se o ajuste fiscal já tivesse sido aprovado e tivesse tido tempo de fazer efeito... Em que país vive esse parlamentar alagoano? A resposta é clara: vive no país que o elegeu. Como elegeu todo esse Congresso e essa governanta e lhes deu incontestável legitimidade para aprontarem o que quiserem, já que representam os eleitores. Com a indispensável ajuda marqueteira.

A crise que vivemos é, em parte, a da democracia representativa. Mas sabemos todos que não há regime melhor, por mais que este tenha problemas e possa ser aprimorado. Fora dela não há salvação. Sua qualidade vai melhorar aos poucos, com a experiência e a educação. Vamos em frente, sempre aprendendo.

Foi dessa democracia que surgiu a Constituição de 1988, que deu poderes ao Ministério Público, possibilitou o julgamento do mensalão e agora fortalece um juiz como Sérgio Moro e os procuradores de sua equipe. É dessa democracia que emanam a liberdade de imprensa e o sistema de pesos e contrapesos que estabelecem os limites de cada poder. Esse conjunto é que nos garante. Por mais que nos perguntemos se o TCU vai amarelar ou se alguém vai dar ouvidos aos espiroquetas alucinados que pululam aqui e ali. Um que em passeata defende a volta do Sarney, outro que pede intervenção militar. O que ameaça com os exércitos do Stédile, outro que fala em pegar em armas — no Planalto, diante da presidente.

Mas é na força dessa democracia que devemos confiar. Não desistir do Brasil, como exortou Eduardo Campos. Mesmo com essa saída à brasileira, lembrando o personagem cômico, que dava “passinho pra frente, passinho pra trás”.

Só convém não exagerar. Depende muito do que pretendam varrer para baixo do tapete. Com ou sem trauma, o que queremos é o fim da impunidade. Quem se sente representado por Moro concorda com Aldous Huxley: os fatos não deixam de existir só por serem ignorados. E são soberanos.

Ana Maria Machado

Lei obriga presença de palhaços em hospitais infantis


O projeto social do médico americano Hunter "Patch" Adams chegou à Argentina. A ideia dele, que ficou famosa no filme protagonizado por Robin Williams em 1998, consistia em adotar métodos não convencionais para curar doenças, como usar palhaços para melhorar o bem-estar dos pacientes.

Agora, os hospitais da província de Buenos Aires, a maior da Argentina, terão de contar com palhaços nos hospitais para humanizar o tratamento com crianças doentes, de acordo com uma nova lei promulgada na última quarta-feira.

Cada serviço de terapia pediátrica deverá oferecer 'palhaços hospitalares'.

"O palhaço de hospital será aquela pessoa especialista na arte de ser palhaço e que reúna as condições e requisitos para o desenvolvimento dessa tarefa em hospitais públicos provinciais e municipais", diz a lei, que não especifica se o palhaço precisa necessariamente ser um médico.

Segundo a ONG Payamédicos, existem cerca de 2 mil profissionais realizando essas tarefas em centros médicos da Argentina e do Chile com narizes laranjas – o vermelho lembra o sangue, dizem – e roupas que se assemelham aos jalecos dos médicos.