domingo, 18 de setembro de 2016

paixao

Essa bagunça que herdamos

Falando sobre a reforma da Previdência que está sendo proposta, o ministro Geddel Vieira Lima referiu-se a “essa bagunça que herdamos do governo anterior”. Um tanto injusto. Essa bagunça que herdamos vem de muito mais longe, e é uma herança multiplicada pelos herdeiros, a cada novo momento. Nem vale a pena perder tempo com sua origem nos velhos institutos de aposentadorias e pensões.

Para ficarmos só nos antecedentes próximos, podemos nos fixar na porção “carta de Papai Noel” da Constituição de 1988 que, com a boa intenção de assegurar direitos a todos, criou benefícios custosos, esquecendo que tudo tem preço e não existe almoço grátis. E não disse de onde devia vir o dinheiro. Então, para garantir as aposentadorias de quem jamais contribuíra mas não deveria ser tratado como cidadão de segunda classe, os recursos acumulados por quem vinha contribuindo há anos precisaram ser divididos com os recém-chegados, num gesto generoso e solidário, mas obrigatório e pouco claro.

Quem descontava de seu salário mensal não teve escolha e talvez nem tenha percebido de onde sairia a grana das novas e justas benesses. Não foi só isso. Também faltou clareza quando os reajustes das aposentadorias passaram a ser indexados ao salário mínimo, enquanto o que já fora recolhido não rendia o equivalente. Mais uma vez não se explicou essa aritmética ao contribuinte, e o cidadão nem notou que a conta não fechava.

Na hora de pagar, seu recolhimento crescia. Na hora de receber, em teoria tinha direito crescente. Mas o que estava guardado para um dia lhe pagar não crescia da mesma forma. Era preciso então recorrer ao fundo comum, englobando as contribuições alheias, daqueles que só receberiam depois. Ou seja: os que receberão no futuro têm cada vez menos dinheiro à disposi- ção. Vai se tirar de onde?

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Mas nem toda a bagunça que herdamos se explica apenas por novos direitos criados sem que se previsse de onde sairia o dinheiro devido. Ninguém explicou também que o sistema é diferente da aposentadoria privada, em que o sujeito tem uma conta em seu nome num banco, deposita, tem rendimento todos os meses, e pode sempre saber quanto tem. É isso o que a maioria das pessoas acha que ocorre quando desconta para o INSS, e se assusta quando constata que é muito diferente: recolheu por muito tempo, mas não há fundos suficientes para cobrir o que imagina ter “poupado”.

E o cidadão não percebe, por exemplo, que quem está se aposentando sem ter contribuído o suficiente está comendo fatias desse seu bolo. No governo tucano, houve um começo de reforma. Entre outras coisas, a ideia era exigir idade mínima de 60 anos para o homem e 55 para a mulher requerer a aposentadoria pelo INSS.

Criticando os casos precoces, na casa dos 40, Fernando Henrique declarou que propunha a reforma “para que aqueles que se locupletam da Previdência não se locupletem mais, não se aposentem com menos de 50 anos, não sejam vagabundos em um país de pobres e miseráveis”. Distorcido, virou “FHC chama aposentado de vagabundo”. Apanhou feito boi ladrão e até hoje é acusado pelo que nunca disse.

Mesmo assim, quando o projeto foi à votação no Congresso, o destaque da idade foi derrotado por um único voto. Com nome e sobrenome, dessas coisas que só acontecem no Brasil. Nelson Rodrigues talvez atribuísse ao Sobrenatural de Almeida. Na prática, o espírito da bagunça baixou no deputado Antonio Kandir, ex-ministro do Planejamento e favorável à reforma.

No momento de votar, apertou a tecla errada e, em vez de dar um “sim”, se absteve. O suficiente para o destaque não passar, embora ele sempre garantisse que apertou a tecla certa e uma pane confundiu os votos. Para conter os gastos do sistema e ganhar tempo, já que a matemática não perdoa, em 1999 instituiu-se o fator previdenciário, considerando idade do trabalhador, tempo de contribuição e expectativa de vida do segurado na data da aposentadoria conforme tabela do IBGE.

Só que isso já não resolve mais e qualquer pessoa com um mínimo de sensatez sabe disso. Se não for feita a reforma da Previdência, o país quebra. Já devia ter sido feita há muito tempo. O exemplo da Grécia está aí, bem vivo diante de todos. E nem esqueçamos fraude e áreas afins: aparelhamento e quadrilhas como vem revelando a operação Greenfield nos fundos de pensão. Ou desvio nos empréstimos consignados aos aposentados.

Crimes praticados por quem finge defender “os velhinhos”. Temos mesmo de dar um jeito na bagunça que herdamos. Só em parte, do governo anterior. Também a herdamos da incompetência numérica geral. E de oposições anteriores. E do Sobrenatural de Almeida, que em nossa história não se limitou a remover Tancredo Neves no dia da posse, após 21 anos de governo militar, e entregar a Presidência a quem meses antes era um prócer do partido que apoiava os generais.

A bagunça que herdamos vem de longe. Não é urgente ver quem legou. A questão toda é saber se queremos dar jeito nela ou, irresponsáveis, vamos continuar de olhos fechados para a matemática.

Rastros do crime

Corruptores e corruptos não registram seus negócios em cartório, não emitem recibos. Tentam não deixar vestígios. Buscam o crime perfeito. Mas quando as investigações de delitos se aproximam dos que se consideram incomuns e, portanto, autorizados a surfar acima da lei, não raro eles tropeçam em suas próprias pegadas. Tornam-se vítimas de seu auto-endeusamento.

Foi assim com Fernando Collor de Mello, cassado em 1992, com José Dirceu, o “chefe da quadrilha”, e com os demais da trupe do Mensalão. Tem sido assim com os acusados e condenados no âmbito da Lava-Jato. É assim com ex-presidente Lula.

Denunciado por corrupção ativa e passiva, tendo como objetos o tríplex do Guarujá e a guarda de bens paga pela empreiteira OAS, Lula foi apontado como “comandante máximo da organização criminosa” pelos promotores da Lava-Jato. Isso exposto em uma peça de 149 páginas que detalha os meandros – conhecidos, mas ainda assim chocantes – da institucionalização da corrupção sob a batuta de Lula.

Lula, é claro, reagiu. Trocou a verve e a indignação de “jararaca” pelo tom emocional e o choro, mais apropriados para o papel de vítima. Mas, como não rebateu as acusações e muito menos se dispôs a responder perguntas de jornalistas, não conseguiu remover nem uma lasquinha da lama agarrada a seus pés.

Insistiu que não há provas contra ele e que o tríplex do Guarujá não é de sua propriedade. 

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Nada falou sobre a milionária troca de favores entre ele e empreiteiros, sobre a compra de partidos políticos com percentuais afanados nas operações da Petrobras, sobre o suborno de políticos no Congresso Nacional, sobre o financiamento de campanhas do PT e de partidos aliados. Nada.

Não tinha mesmo o que dizer diante do exposto pelos procuradores da força-tarefa na contextualização da denúncia. Argumentar que não sabia? Que as dezenas de depoimentos e delações de pessoas diferentes sobre os mesmos fatos não passam de coincidência?

A saída, jurídica e política, é dizer sempre que tudo -- dos bilhões roubados aos pequenos favores -- faz parte de uma grande conspiração contra o metalúrgico que veio da pobreza, penalizado pela “elite conservadora” por sua obra no combate à miséria.

Lula trata os procuradores da Lava-Jato de “meninos”, não de forma agressiva como a deposta Dilma Rousseff chamava os desafetos de querido ou querida, mas como quem, piedoso, diz que eles não sabem o que fazem.

Uma santa Madre Teresa que se considera um Tiradentes esquartejado em praça pública. Um JK perseguido por Amaral Neto, um Jesus Cristo. Coisa para ocupar juntas de psiquiatras, animar mestrados e doutoramentos.

O Fiat Elba prata, placa FA 1208, estopim do impeachment de Collor, enrolado com milhões da Operação Uruguai, não estava no nome dele. O apartamento 164-A do Condomínio Solaris, na Avenida Gal. Monteiro de Barros, 638, Guarujá, SP, também não está no nome de Lula.

O carro de Collor apareceu como sendo de Roseane, primeira-dama à época. O tríplex já foi, não foi, foi de novo e não foi mais uma vez da mulher de Lula, Marisa Letícia. Depois, voltou a ser da OAS, única unidade que a empreiteira não colocou à venda mesmo após uma reforma de luxo, com cozinha similar à do sítio de Atibaia (provável alvo de outra denúncia), que só tem pertences de Lula e Marisa, mas que o ex garante que não é seu.

Sem registro em cartório e recibo, a corrupção vem à tona no detalhe. Na troca de favores de pequena monta, naquele mimo para agradar o chefe ou, melhor ainda, a mulher dele. Seja na aquisição de um carro zero, na reforma de apartamento, na compra de cozinhas modulares e até mesmo de pedalinhos baratinhos.

Trocados perto dos bilhões afanados. Mas é exatamente aqui, na satisfação de pequenos luxos, que os que se consideram intocáveis se esborracham. O Lula que agora chora sabe bem disso.

Lula perdeu o controle

É uma das histórias mais conhecidas do folclore universal, foi até filmada por Walt Disney, com Mickey Mouse no papel principal. Cansado de limpar a casa, apelou para um feiticeiro, que lhe providenciou uma vassoura mágica que arrumava tudo. Lamentavelmente, ele esqueceu a fórmula mágica que fazia a vassoura parar de trabalhar. Resultado: a vassoura não apenas limpou a casa, mas a destruiu, levando em seus destroços o aprendiz de feiticeiro.

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A história não é tão fantástica assim: o caso de Lula é uma versão amplificada do mesmo drama. Achando que o país estava desarrumado e sujo, invocou o feiticeiro, que lhe deu a vassoura mágica para arrumar o Brasil. Teve inicial sucesso, mas não aprendeu a dominar a vassoura, criando um partido (PT) e seus derivados, como a CUT, a militância das ruas e outros apetrechos que julgava mágicos.

Sem saber ou sem querer imobilizar a vassoura que criou, está vendo agora a feitiçaria fazer os estragos que estamos sofrendo, com a corrupção desvairada e um Brasil mais sujo do que antes.

Ele próprio, não sabendo como deter a feitiçaria, está ameaçado de ser varrido, dividindo a prisão com os aprendizes mais importantes que o ajudaram. Não lhe adianta acusar as elites, o imperialismo e os golpes que alega estar sofrendo.

Na sua primeira investida rumo ao poder, era um líder respeitável e pobre. Levado pelo seu primeiro secretário de imprensa, o elegante Ricardo Kotscho, cheguei a comprar uma camisa do PT para ajudar a sua eleição. Apesar da minha modesta contribuição, ele não se elegeu (votei em Brizola) e deixou de vender camisas, inaugurando uma corrupção que não soube parar e que agora o atinge pessoalmente. A pobre e solitária camisa, que lhe comprei e nunca vesti, não pode concorrer com o mensalão, o petrolão e a Lava Jato.

O Captain! My Captain!

Resultado de imagem para lula rei do bolsa famíliachargeLamentavelmente, no Brasil o voto não é ideológico, as pessoas não votam partidariamente e você tem uma parte da sociedade, pelo alto grau de empobrecimento, conduzida a pensar pelo estômago e não pela cabeça. É por isso que se distribui tanta cesta básica (…) é uma peça de troca em época de eleição
Luiz Inácio Lula da Silva, 2000

Interligada à falta de perspectivas, a asfixia financeira jamais falhou em justificar nosso mau humor. E não sofremos apenas com o desarranjo econômico, diga-se, também a crise moral no seio político foi decisiva para azedar o dia a dia.

Pois, ainda assim, mesmo com tantos desgostos, desde a última quinta-feira tornou-se impossível resistir aos encantos de 2016. Não bastasse o alvissareiro processo de impeachment, finalmente o brasileiro deparou-se com a derrocada de seu maior algoz.

Levará um bom tempo para que análises impermeáveis ao marketing ideológico ganhem espaço, isto é certo, porém não cabe relativizar a extraordinária intersecção de condições favoráveis desperdiçada por Luíz Inácio.

Ao contrário de Michel Temer, desde já acossado por uma oposição figadal, Lula teve índices de popularidade avassaladores e ventos econômicos convenientes, um duo sonhado por líderes em qualquer época, mas falhou crassa e indiscutivelmente na hora de conduzir ou pelo menos de encaminhar o país para um amadurecimento institucional.

Das duas uma: falhou quando abraçou e aperfeiçoou as políticas assistencialistas iniciadas no governo de Fernando Henrique Cardoso, mesmo considerando-as nocivas ao processo eleitoral e portanto à democracia, ou depois, ao abusar do cinismo e instrumentalizá-las de olho nas urnas.

Falhou também em 2005 ao não encampar o ajuste fiscal desenhado e apoiado pela dupla de ministros Antônio Palocci e Paulo Bernardo - Fazenda e Planejamento - que pretendiam limitar os gastos do Estado e assim frear o crescimento da duvida pública.

Acabou prevalecendo o argumento da então titular na Casa Civil, uma certa Dilma Rousseff, de que o plano apresentado era “rudimentar”, Palocci perdeu sustentabilidade política com os escândalos de corrupção em Ribeirão Preto e logo em seguida teve inicio a era Mantega.

E falhou, acima de tudo, igualmente logo em seu primeiro mandato, ao não defender uma profunda reforma política, fundamental para desembaraçar vícios de gestão e combater a corrupção endêmica que desde sempre nos assola.

Na verdade, e este ponto há tempos não merece o benefício da dúvida, o eterno metalúrgico, líder sindical, presidente eleito e reeleito, com cacife político para eleger e reeleger alguém que jamais havia disputado uma eleição sequer, desde o inicio só pensou em si mesmo.

Muito provavelmente, nem ao enriquecer uma miríade de patifes e seus familiares Lula pensou em alguém que não fosse Luíz Inácio. No maior escândalo de corrupção em nossa história, muito bem destrinchado pelo procurador Deltan Dallagnol, tanto os parceiros quanto os adversários políticos, dos eleitores à claque sindicalista, todos não passam de peões.

Até Jesus Cristo virou coadjuvante, em seu mais recente discurso temperado com lágrimas de crocodilo, mas não faltou a sutil auto-deferência ao exaltar políticos “por mais ladrões que sejam”.

Certos, ainda que por vias tortas, estavam os esquerdistas que se afastaram quando foi divulgada a célebre Carta aos Brasileiros. Lula, ali, não exatamente dava sinais de que trairia uma causa, e sim de que ela teria nome e sobrenome.

Imagem do Dia

Green River, no Texas (|EUA)

Ócio de Dilma custará mais de R$ 1 milhão ao ano

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Apesar de ter sido colocada para fora do governo pelo Congresso, a ex-presidente Dilma vai custar aos cofres públicos, por ano, até morrer, cerca de 1 milhão de reais. Ele tem direito ainda a oito funcionários, com salários mensais entre R$ 2.200,00 a R$ 11 mil. Tem direito também a dois automóveis padrão carrão e poderá trocar os veículos a cada cinco anos. Tudo por conta dos impostos dos contribuintes.
Decreto de Itamar Franco previa 6 servidores para cada ex-presidente, mas Lula adicionou outros dois, com os salários de R$11 mil cada.
Entre saques cash e gasolina, quatro assessores dos atuais ex-presidentes gastaram R$ 32,5 mil com cartões corporativos, este ano.
Somente em salário direto na conta, Dilma recebeu mais de R$ 2 milhões durante os 65 meses no cargo, até sofrer impeachment.
A situação da desempregada Dilma é bem melhor que a dos 12 milhões de brasileiros que seu governo legou ao País.
Cláudio Humberto

Um pouco de alegria

O flagelo do crime institucionalizado

A sociedade brasileira vem assistindo nos últimos anos, talvez ainda sem entender bem suas reais dimensões, o surgimento e o fortalecimento de mais uma praga – quase – endêmica do nosso país; digo “quase” pois alguns países africanos também a experimentam. Trata-se do que podemos denominar de “Crime Institucionalizado”.

Tal fenômeno, que adquiriu contornos marcantes, que o diferenciam conceitualmente do crime organizado convencional, merece urgente atenção não apenas das autoridades policiais, do ministério público e do judiciário, mas, sobretudo, da imprensa e da sociedade como um todo, pois seu fortalecimento e sedimentação tem a capacidade de minar de forma devastadora as possibilidades de desenvolvimento nacional.

Vale dizer, grosso modo, que o “Crime Institucionalizado” estaria para o crime organizado assim como a motocicleta está para o velocípede. Ao contrário do crime organizado, agora neste contexto rebaixado à delinquência juvenil, o “Crime Institucionalizado” não lança mão de atividades escancaradamente ilegais, como o tráfico de drogas, de armas, a prostituição, o jogo ilegal e etc.

Este novo e poderoso flagelo utiliza-se apenas da plataforma oficial, dos governos das três esferas, do estamento público, dos ministérios da república, da política partidária e das regras eleitorais para prospectar e desviar fortunas do erário público. Todo o seu faturamento tem origem nos contratos de serviços e obras, nas concorrências públicas, nos repasses para programas de governo, principalmente para ongs e oscips.

Trata-se, desta feita, de atividade infinitamente mais lucrativa e segura do que qualquer negócio ilegal convencional colocado em prática por organizações tipo máfia.

Em suma, enquanto o crime organizado viceja aproveitando-se da letargia e da omissão de alguns homens públicos, o “Crime Institucionalizado” é fruto da própria ação estruturada e pensada de um grupo de homens e mulheres que comandam determinado setor, empresa ou unidade do poder público.

Outra diferença marcante é que, enquanto o crime organizado coopta, ou, quando muito, infiltra um agente aqui e acolá, na polícia ou numa determinada repartição, o “Crime Institucionalizado” indica e nomeia, com a devida publicação em diários oficiais, dezenas de autoridades que servem aos seus propósitos tanto na empreitada criminosa propriamente dita, como na tomada de medidas garantidoras da impunidade do grupo e da salvaguarda do butim, nos três poderes da república.

Mais um nuance importante é que o “Crime Institucionalizado”, com seus exércitos de nomeados em cargos e funções estratégicas, com vista a garantir alguns aspectos vitais da atividade, isto é, para institucionalizar a própria moenda criminosa, estaria, desgraçadamente, lançando mão da elaboração e promulgação de normas administrativas, e até de leis, que facilitem sua consecução. Eles têm a faca, o queijo e, é claro, a boca faminta, ao seu inteiro dispor.

Na última década o “Crime Institucionalizado” vitaminou-se tremendamente, aproveitando-se dos seguidos recordes de arrecadação tributária. Com o ingresso de dezenas de milhões de pessoas na classe média e o consequente aumento do consumo, os cofres públicos abarrotaram-se de dinheiro.

São exatamente essas divisas, oriundas do alquebrado contribuinte brasileiro, que vem alimentando o “Crime Institucionalizado”.

Uma de suas consequências práticas mais nefastas é a existência de centenas de concorrências públicas viciadas pelas fraudes do “Crime Institucionalizado” – há quem diga, inclusive, ser difícil encontrar, nos dias de hoje, uma única licitação que não seja “arrumada”.

Contudo, ainda mais desoladora é a possibilidade da existência de grandes e vultosos projetos sendo aprovados com o único e exclusivo intento de desviar verbas públicas. É de fato o pior dos mundos, onde a corrupção estaria no nascedouro das iniciativas. Não seria mais o caso do estádio de futebol superfaturado, mas o caso do estádio de futebol que nem deveria ter sido construído, isto é, a corrupção de raiz. Não é, como dizem por aí, “o malfeito”, mas o que nem deveria ter sido feito.

Esta situação tem saída, por mais difícil e desfavorável que possa parecer. E a solução passa necessariamente pela total e completa blindagem política de todos os órgãos que compõem a persecução criminal, sem prejuízos de outras medidas de proteção às instituições do estado brasileiro, mormente as agências controladoras, nas três esferas políticas.

O quadro aponta para a necessidade da edificação de uma estrutura policial, altamente preparada e fortalecida, que faça frente a tais dragões, e com capacidade de investigar aqueles que nomearam seus próprios chefes.

Jorge Pontes, delegado federal e ex-diretor da Interpol no Brasil

O lucrativo negócio de exportação de trabalhadores na Coreia do Norte

Por causa das sanções que a comunidade internacional tem imposto contra seu programa nuclear, a lista de produtos que a Coreia do Norte pode exportar é limitada.

O país é autorizado vender ao estrangeiro recursos naturais como carvão, têxteis, produtos e máquinas agrícolas.

Mas há um outro recurso abundante na Coreia do Norte que também é exportado: o seu povo.

Na mão de obra de seus cidadãos o governo de Kim Jong-un tem encontrado uma maneira de gerar divisas no exterior, num momento em que o país cada vez mais é visto como isolado economicamente.

Mas essa exportação de trabalhadores, cujos salários são em grande parte enviados de volta ao regime norte-coreano, foi qualificada como "um sistema de trabalho forçado", em que pessoas "vivem em condições deploráveis", de acordo com um relatório da ONU de 2015.

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Zhang Linhai
Nos cinco anos desde que Kim Jong-un assumiu a liderança do país, o número de trabalhadores norte-coreanos que são enviados para o exterior aumentou dramaticamente.

A ONU estima que haja entre 50 mil e 60 mil norte-coreanos nessa situação. Outras organizações estimam que esse número chegue a 100 mil.

"É muito difícil obter números definitivos sobre isso", disse Michael Glendinning, diretor da Aliança Europeia para os Direitos Humanos na Coreia do Norte (EAHRNK, na sigla em inglês), com base em Londres.

"Porque a Coreia do Norte envia trabalhadores para muitos países. Muitos deles estão lá oficialmente, mas muitos outros não têm sua condição relatada."

Segundo a ONU, 80%, deles vão para Rússia e China. Os demais vão para países como Catar, Kuwait, Omã, Emirados Árabes Unidos, Polônia, Malta, Áustria, Suíça, Alemanha, Argélia, Angola, Etiópia, Líbia, Nigéria, Tanzânia, Malásia, Mongólia e Mianmar.Image copyrightAPImage captionA ONU estima que 80% dos trabalhadores que a Coreia do Norte envia vão para Rússia e China.

Os norte-coreanos trabalham principalmente em quatro setores: agricultura, construção, indústria naval e manufatura.

A Coreia do Norte não é um membro da Organização Internacional do Trabalho (OIT), mas a maioria das outras nações que recebem os norte-coreanos é.

O EAHRNK e a Universidade de Leiden, na Holanda, estão realizando um projeto chamado "Escravos do sistema", no qual documentam a situação desses trabalhadores e os abusos a seus direitos.

O objetivo, diz Michael Glendinning, é tomar medidas legais contra as empresas que os contratam e que estão cometendo essas violações.

Os trabalhadores que foram entrevistados por grupos de direitos humanos dizem que recebem salário de US$ 150 a US$ 230 por mês, em média, mas precisam enviar "uma quantidade significativamente alta" - que chega a 90% - para o governo de seu país.

"É difícil provar que as empresas que contratam os trabalhadores sejam cúmplices do governo norte-coreano. Acreditamos que as empresas pedem vistos para os norte-coreanos por meio dos mesmos processos que se aplicam a qualquer trabalhador estrangeiro", disse Glendinning.

Em alguns casos, as empresas que os contratam pagam os salários diretamente para o governo em Pyongyang.

Saudade do tempo em que laranja era uma fruta

No Brasil, a morte era a única coisa que ainda não havia sido vulgarizada por completo. Pois acaba de entrar no rol das avacalhações. Convertida em evento paranormal, a eleição municipal de 2016 produz prestações de contas que incluem doadores mortos. “Temos mortos fazendo doação em grande quantidade”, disse o ministro Gilmar Mendes, presidente do Tribunal Superior Eleitoral. Morto que vota era coisa comum. Mas cadáver que doa dinheiro a candidato é algo inédito.
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O dinheiro de campanha está no miolo da corrupção política brasileira. Por dois motivos. Um financeiro: a verba suja funciona como anabolizante que torna a disputa desigual. Outro moral: candidato que recebe envelopes por baixo da mesa amarra o futuro de um eventual governo nos interesses de quem o financiou.

O Supremo Tribunal Federal proibiu as doações eleitorais de empresas. Essa proibição vigora pela primeira no pleito deste ano. Com a Lava Jato a pino, os candidatos deveriam fechar o caixa dois, senão por honestidade, ao menos por esperteza. Mas não é o que sucede.

Além dos mortos, há também clientes do Bolsa Família doando recursos para candidatos. Segundo Gilmar Mendes, há miserável doando R$ 68 mil. O Brasil é mesmo um país dinâmico, não para nunca. Está constantemente sendo passado a sujo. É o país do futuro, não há dúvida. Mas às vezes dá uma saudade nostálgica daquele Brasil de outrora, um país onde laranja era apenas uma fruta cítrica.

O homem traído pela convicção

O amigo entrou no botequim, resfolegante qual um poodle de madame de Copacabana, e confessou, sem cerimônias: “Não tenho provas, mas tenho convicção de que estou sendo traído”.

Diante do meu espanto, prosseguiu, sem permitir sequer alguma filosofia de consolação. “Só pode estar me corneando, anda muito estranha, olharzão perdido no espaço como a cachorra Laika do foguete Sputinik, nem parece a mulher com quem me casei ali em Itaguaí..., dia desses”.

Depois de alguns chopes no bar Príncipe de Mônaco, o desalmado listou aqueles sinais óbvios da psicologia barata que estão distantes de decifrar questões subjetivas como a vida amorosa. “Ela não me procura mais”, contou o macho-jurubeba, um cara tão à moda antiga que ainda usa a expressão “ah, ela não me procura mais” para designar a busca pelo sexo do parceiro.

“Anda cada vez mais arrumada, deu um tapa no visual, está cheia de reuniões e horas extras na firma...” Um clichê enfileirado no outro como corda de caranguejo.
43. "They brought the golden vessels that were taken out of the temple. They drank wine, and praised the gods of gold, and of silver, of brass, of iron, of wood, and of stone. In that same hour came forth fingers of a man's hand, and wrote...upon the plaster of the wall." Daniel 5:3-5:
Acalmei um pouco o miserável. Daqueles canalhas tradicionais de batom na cueca; ele sim um fazedor contumaz de provas contra si mesmo, sempre alvo de flagrante delito ao longo dos três casamentos –“dois bem felizes, por sinal”, costuma ressalvar para todo o auditório de santos beberrões.

Menos afobado, ainda lembrou que a mulher andava toda mística, torrando uma grana na consulta de búzios, nas madames astrológicas, nos gurus espirituais... “Tudo bem, a grana é dela”, aquiesceu, “mas, pô, numa crise dessas, malandragem, dá dinheiro pra esses picaretas... Isso é homem novo na parada”.

Calma, garoto maroto e convicto. Quando você vem com as suas convicções, eu já estou com o meu fubá dialético. Calma.

O convictão insiste: “Quando a esposa se põe esotérica, já viu como é, a casa caiu”, citou ironicamente uma antiga crônica deste que vos dedografa. “No tarot dela sei que eu não passo de um arcano corneado”, disse, e ele mesmo riu da doideira que imaginou sobre o jogo das cartas.

Esqueça o que eu escrevi, brinquei com o amigo desconfiado. O amor é mais rico, meu caro, não se explica nem um esquema de Power Point e mesmo em um mapa astral ligeiro, sem essa, toma tenência. E se ela está diferente pode ser mais um alerta, fica esperto, pode ser tarde demais, com ou sem chifre. Você está parecendo o Simão Bacamarte da sua Itaguaí, lembra? O doidão do conto do Machado, o que queria trancar todo mundo, apesar d'ele mesmo, alienista, que deveria ser retirado do convívio da cidade.

“As convicções, quando obsessivas, viram provas sim senhor”, rebateu o camarada. “Está rolando um caixa 2 amoroso, um dia, breve, chego nas provas, o importante é que sou um homem convicto, só a convicção salva”.

Dali por diante ninguém freava mais a criatura. Deu um espetáculo na esquina da Miguel Lemos com a Ayres de Saldanha: “Hei de chegar lá, hei de chegar às provas materiais do adultério, seus feministas ateus de uma figa”.

No que fulerizou –do verbo fulerizar, cuja origem é a fuleragem, filosofia nordestina por excelênica–, o garçom Ceará III, num mundo todo de tantos geniais garçons cearenses:

“Nem todo corno é convicto, mas todo convicto é corno!”

Sim, amigo, a narrativa provocada pelo ciúme, o mais hiperbólico e fictício dos sentimentos, é a mãe da insanidade.

Xico Sá