quinta-feira, 17 de janeiro de 2019

Pensamento do Dia


China e Brasil contra o marxismo

O que existe de comum entre o governo de Xi Jinping e o de Bolsonaro?

O temor e o combate ao marxismo.

Não é brincadeira. Ou melhor, é, mas tem conteúdo.


Comecemos pela China. No ano passado, o Partido Comunista comemorou com grande cerimônia os 200 anos de nascimento de Marx. O ensino do marxismo foi exaltado e reforçado nas escolas.

Também foi exaltado o fantástico crescimento econômico da China, isso vinculado à prática do que chamam por lá de socialismo com características chinesas.

O crescimento é incontestável. Alguns números: em 1978, o PIB chinês era de US$ 150 bilhões; hoje, US$ 12,3 trilhões!

Nesse período, nada menos que 740 milhões de chineses ultrapassaram a linha da pobreza.

E não há nada acontecendo por lá que lembre os sinais da derrocada da União Soviética e dos satélites na Europa.

Mas há protestos de sociedades estudantis, grupos que se formam nas universidades. No ano passado, eram mais de 50 grupos, um deles com mais de 5 mil membros, conforme reportagem do NY Times.

São esses jovens que se consideram “marxistas radicais”. Eles acham que o atual regime chinês é coisa de “reformistas radicais”.

Tudo verdade.

A maior parte da China funciona como economia de mercado, com propriedade privada e tal, mas forte controle do Estado e ditadura do PC. Não é bem oficial, mas muitos ideólogos locais chamam isso de “socialismo de mercado”.

Mercado, pode ser, socialismo, jamais – é o que proclamam as sociedades estudantis. Protestam e agem. No ano passado, no melhor estilo leninista, um grupo tentou organizar sindicatos de trabalhadores em fábricas de Huizhou. Os operários não toparam e, mesmo assim, o governo local prendeu os subversivos e suspendeu suas contas de Internet.

A crítica que fazem ao regime é a mesma que se ouve aqui no Ocidente. Ou seja, o capitalismo produz riqueza e desenvolvimento, mas também desigualdade e concentração de renda. Eis os dados da World Wealth and Income Database, citados pelo NYT: em 1995, o 1% mais rico detinha 15% da renda nacional chinesa. Vinte anos depois, esses mais ricos levavam 30% da renda.

O que fazer?

Uma revolução marxista, respondem os estudantes.

Isso surpreendeu o governo que, até aqui, havia lidado com protestos bem diferentes.

Há 20 anos, tropas do presidente Hu Jintao literalmente massacraram os manifestantes que pediam democracia e liberdade na praça chamada de Paz Celestial. Pediam uma espécie de complemento político da economia de mercado, que seria a democracia à ocidental.

Mais recentemente, o governo se acostumou a lidar com outros tipos de manifestações, não políticas, mas ligadas ao dia-a-dia. São protestos, por exemplo, contra a poluição, problemas no transporte urbano, falta de casas etc. – até tolerados.

Agora, comunistas subversivos no país dominado pelo Partido Comunista e que tem o marxismo inscrito na Constituição?

Pensando bem, entretanto, está tudo nos conformes. Se tem um capitalismo avançado no país, é normal que surjam protestos contra a distribuição de renda, contra o aparecimento de cada vez mais milionários e bilionários. Por outro lado, sendo uma ditadura, também é de se esperar que de algum modo surjam movimentos por mais liberdade e cidadania.

Já no Brasil, não tem ditadura. Temos uma democracia, com um regime político cheio de vícios, é verdade, mas com eleições regulares e legítimas. Por outro lado, há minorias por aqui, à direita e à esquerda, que gostariam de uma ditadura, a sua ditadura. No governo Bolsonaro e no seu entorno, tem pessoas achando que está em curso uma tentativa de subversão comunista. Na oposição, tem gente achando que o grupo Bolsonaro trama para trazer de volta o regime militar.

Não vai acontecer nem uma coisa, nem outra, assim como é nula a chance de os jovens chineses conseguirem uma revolução marxista.

Mas o bate-boca no Brasil – que se manifesta em diversos assuntos – acaba deixando de lado nossa questão principal: como recuperar a capacidade de crescimento, no capitalismo e com democracia mais eficaz.

Impulsionada pelo Brasil, extrema pobreza na América Latina tem pior índice em dez anos

Quando se percorre a zona leste de Santiago do Chile, cheia de altos e modernos arranha-céus de até 300 metros de altura, num bairro conhecido como Sanhattan – uma alusão a Manhattan –, parece difícil entender que no mesmo país haja 8% da população que reside em uma moradia sem água potável nem privada. A tendência veio crescendo nos últimos cinco anos, e hoje mais de 1,4 milhão de chilenos sobrevivem nestas condições. A precarização de alguns dos serviços básicos está diretamente ligada à pobreza extrema, que, segundo o relatório Panorama Social 2018, da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL, um órgão da ONU), apresentado nesta terça-feira, 15, em Santiago, alcançou seus mais altos índices da última década na região. Embora a taxa geral de pobreza medida pela renda tenha se mantido estável, ligeiramente acima de 30%, e a desigualdade de rendimentos tenha diminuído fortemente desde 2000, 1 em cada 10 latino-americanos vive atualmente na pobreza extrema (10,2%), a cifra mais alta em uma década.
Marco Henrique, de 40 anos, conserta o barraco onde
vive há 15 anos, num morro de Viña del Mar (Chile)
Em 2002 havia 57 milhões de pessoas em situação de miséria na América Latina, cifra que subiu para 62 milhões em 2017 e que tornou a engordar em mais um milhão no ano passado, chegando a 63 milhões de latino-americanos em 2018, segundo a projeção da CEPAL. “Ainda que a região tenha obtido avanços importantes entre a década passada e meados da atual, desde 2015 foram registrados retrocessos, particularmente em termos de pobreza extrema”, alertou Alicia Bárcena, responsável pelo braço das Nações Unidas para o desenvolvimento econômico na região, ao mesmo tempo em que fazia um apelo por políticas públicas complementares de proteção social, inclusão trabalhista e redistribuição de renda.

O aumento da pobreza extrema da América Latina se explica, em boa medida, pela má evolução do Brasil, disparadamente o país mais populoso da região, que entre 2015 e 2017 viu a pobreza extrema saltar de 4% para 5,5% da sua população. “Embora em muitos países tenham ocorrido reduções ou estancamento da pobreza extrema [Paraguai, Colômbia, Costa Rica, Panamá, Chile e Equador], na hora de analisar a situação conjunta da região impacta o que acontece em países com muita população, como o Brasil”, explicou Xavier Mancero, chefe de estatísticas da CEPAL, nesta terça-feira na capital chilena.

O relatório, que aborda a discrepância generalizada entre os dados nacionais e os do próprio organismo – que fixa seus próprios critérios para unificar a informação –, não pôde nem sequer analisar as cifras da Venezuela, uma das economias que registraram pior evolução nos últimos anos: “Desde 2015 não temos dados desse país”, observou Bárcena. A nula credibilidade dos dados fornecidos pelo Governo de Nicolás Maduro torna impossível que essa agência da ONU possa oferecer uma cifra certeira mediante o filtro estatístico aplicado a todas as nações latino-americanas e caribenhas.

Melhores notícias vêm pelo lado da desigualdade de renda, um dos grandes calcanhares-de-aquiles da América Latina e Caribe, a região mais díspar do mundo, que abriga algumas das maiores fortunas do planeta e também milhões de pessoas em condições de fragilidade extrema. A disparidade de renda entre os lares e as pessoas se reduziu “apreciavelmente” na região desde o começo da década de 2000: nos 18 países da América Latina analisados, a média simples dos índices de Gini, o indicador mais utilizado globalmente, caiu de 0,543 em 2002 para 0,466 no ano passado (o índice zero significa igualdade absoluta). Entretanto, o ritmo de redução se desacelerou nos anos recentes: enquanto entre 2002 e 2008 a diminuição anual média da desigualdade foi de 1,3%, entre 2008 e 2014 o ritmo baixou para 0,8%, e entre 2014 e 2017 para 0,3%.

Colômbia, El Salvador e Paraguai mostraram grandes reduções de sua desigualdade por renda no período total analisado, enquanto outros, como Honduras e a República Dominicana, sofreram deteriorações. Apesar dessa melhora, a ainda forte diferença de renda entre os latino-americanos continua “travando o desenvolvimento” e sendo uma “barreira” para a erradicação da pobreza, a ampliação da cidadania e a própria governabilidade democrática. “Há uma grande lacuna por fechar em relação aos países desenvolvidos”, salientou a secretária-executiva da CEPAL.

Os indicadores, destacam os técnicos do organismo da ONU, “confirmam um panorama com interrogantes para uma região que enfrenta desafios de grande magnitude quanto à inclusão social e trabalhista de sua população, e na qual persistem profundas desigualdades, especialmente frente ao atual contexto econômico [com um crescimento que tende ao enfraquecimento tanto no bloco desenvolvido como no emergente] e as transformações em curso no mundo do trabalho”. Há turbulências adiante, e a América Latina tem que se preparar para um cenário marcado pela incerteza.
Salário de 40% dos trabalhadores está abaixo do mínimo legal

O trabalho continua a ser o caminho mais rápido para superar a carestia, mas o mercado de trabalho de diferentes países da região ainda se caracteriza pela oferta insuficiente de empregos e por lacunas "significativas" na qualidade desses empregos, no acesso à proteção social e na renda do trabalho", que em uma alta proporção é inferior ao salário mínimo legal [um esmagador 40% do total de trabalhadores latino-americanos, especialmente jovens, idosos e mulheres, de acordo com os últimos registros] e que é necessário para superar a pobreza e alcançar níveis adequados de bem-estar, por isso uma proporção significativa de pessoas empregadas trabalha por muitas horas".

Outro sinal da disfuncionalidade do mercado de trabalho na região: um em cada cinco trabalhadores latino-americanos tem renda do trabalho abaixo da linha de pobreza de seu país, cifra que chega a 35% no caso da população rural. Tudo isso apesar de longas jornadas diárias, em muitas ocasiões acima do prescrito na lei.

O flagelo da informalidade continua sendo, ano após ano, a marca registrada do mercado de trabalho da América Latina e do Caribe. Quais as consequências para os trabalhadores ficar de fora dos canais formais de contratação? A CEPAL é clara: falta de acesso à cobertura previdenciária na saúde e nas aposentadorias, a dias de trabalho definidos – incluindo descanso semanal e férias anuais remuneradas – ao seguro-desemprego, por acidente e doenças ocupacionais, bem como à proteção de maternidade e paternidade. Ficam, portanto, com a pior parte. E não parece haver uma mudança de tendência em favor da formalização de seus empregos: "As transformações no mundo do trabalho associadas à revolução tecnológica podem aumentar ainda mais a proporção de trabalhadores nesta situação", sentencia o estudo, em referência implícita a plataformas digitais que favoreceram o trabalho por conta própria.

Apesar de uma desaceleração no último ano analisado, 2016, os gastos sociais mantiveram a tendência de alta, passando em pouco menos de duas décadas de 8,5% do PIB para 11,2%. Em termos per capita, essa fatia praticamente dobrou entre 2002 e 2016, até beirar 900 dólares (3.400 reais). "Devemos reconhecer que os países fizeram avanços muito importantes para aumentar os gastos sociais", disse a chefa da CEPAL. Proteção social, educação e saúde continuam a ser os três principais destinos deste tipo de despesa. Por países, Chile e Uruguai são os que aportam mais recursos por pessoa para políticas sociais (2.387 e 2.251 dólares, respectivamente), seguidos por Brasil (1.631), Argentina (1.469) e Costa Rica (1.176). Por outro lado, a região centro-americana e a Bolívia estão muito aquém: El Salvador e o país andino alcançam uma média anual de 310 dólares, e a Guatemala, Nicarágua e Honduras estão abaixo dos 220 dólares.

Apesar do "importante avanço" da região no capítulo sobre gastos sociais, os técnicos do órgão supranacional destacam os "grandes desafios do financiamento das políticas sociais", especialmente nos países com maiores índices de pobreza. Além disso, observam, "os níveis de gastos ainda são muito menores do que os dos países desenvolvidos". "Diante de um contexto econômico fraco", concluiu Bárcena, "é imperativo desenvolver simultaneamente políticas de inclusão social e trabalhista. A política social não pode deixar ninguém para trás".

O que falta para salvar a pátria

Não há quem no serviço público brasileiro não tenha sido tocado ao menos pela corrupção institucionalizada, aquela que oficialmente não é tida como o que é porque a lei é o seu instrumento de ação. Nem mesmo os militares passaram incólumes por essas três décadas de elevação da cultura do privilégio à força em torno da qual tudo o mais gravita no país oficial desde a Constituição de 88. Mas se havia qualquer duvida sobre o valor da reserva moral que lhes restou ela acabou com os fatos que se seguiram ao primeiro embate de 2019 entre Brasília e o Brasil.

Como acontece sempre na formação de qualquer governo a “área econômica” é a única que chega ao dia da posse com todas as suas referências fincadas exclusivamente no pais real. Brasília, de onde, com as regras eleitorais vigentes, obrigatoriamente sai o núcleo dos grupos que se substituem no poder, não sente o Brasil. Lá os salários sobem e as carreiras progridem por decurso de prazo tão certo quanto que o sol nascerá amanhã. Nunca aconteceu com seus familiares, nunca aconteceu com seus amigos, nunca aconteceu com seus colegas de trabalho, nunca aconteceu com eles próprios: a figura do “andar para traz” simplesmente não existe no modelo cognitivo do típico cortesão de Brasília nem como exercício abstrato de antecipação de uma possibilidade, simplesmente porque essa possibilidade não existe.


Não é de surpreender, portanto, que para todos quantos a cada nova conta a ser paga corresponde um novo “auxílio” arrancado ao favelão nacional o “modelo de capitalização” na Previdência – que em português plebeu quer dizer pagar por aquilo que se vai consumir – pareça uma inominável maldade. Essa relação, para eles, nunca foi obrigatória.

Mas agora a realidade está aí nua e crua. Financiar os 30-40 anos de ócio que o brasiliense aposentado típico vem colhendo sem nunca ter plantado custou ao Brasil passar da economia que mais crescia para a economia que mais decresce no mundo hoje, mas Brasília nem percebeu. Brasília “cresce” sempre, chova ou faça sol, por “pétrea” determinação constitucional. E, na dúvida, lá vem o cala-a-boca: “a constituição não se discute, a constituição cumpre-se”.

Só que não.

Agora, à beira do precipício, até Brasília já sente a vertigem. O inchaço do funcionalismo nos 13 anos de PT transbordando em progressão geométrica para as aposentadorias na flor da idade que congelam os salários públicos no tope de cada carreira por quase meio século mergulhou essa previdência sem poupança num processo de metástese. Com quase 40% do PIB entrando, já não sobra sequer para pagar os aposentados mais os seus substitutos com o salário de entrada. E como quando falta dinheiro para pagar funcionário no Brasil é porque já faltou antes para tudo o mais – hospitais, escolas, segurança pública, infraestrutura – não ha mais como não agir.

Velhos hábitos demoram para morrer mas os embates da primeira semana de governo deram indicações animadoras da força da humildade de Jair Bolsonaro. Ele vacilou quando se calou diante do sindicalista Lewandowski infiltrado no STF. Ele vacilou quando recusou vetar o aumento dos incentivos para a Sudam e a Sudene. Ele tem vacilado diante dos “quiéquiéisso companheiro” dos amigos da vida inteira das corporações militar e política de que faz parte. Ele vacilou, até, diante do “fogo amigo” contra Paulo Guedes. Mas Paulo Guedes é um homem de contas. A transição e os primeiros dias de governo têm sido uma avalanche de números. E com números não se discute. Assim que Guedes se decidiu a dar o limite dos “bailes” que estava disposto a levar de Brasília parece ter caído a ficha e o presidente teve a nobreza de rever sua posição. Realinhou o governo inteiro à Prioridade Zero de deter a hemorragia previdenciária e o Brasil entrou em festa para deixar bem claro a fundamental importância que essa atitude teve.

Brasília pode reagir a Onix Lorenzoni mas o Brasil reage a Paulo Guedes. E se confundir essas prioridades o governo comete suicídio e nos leva junto. Não haverá segunda chance. Não há tempo. Privatizações e descomplicações liberalizantes da vida produtiva poderão acelerar o processo. Mas o que dirá se haverá ou não processo a ser acelerado é o desenho da reforma da previdência. E o lucro ou o prejuízo serão colhidos inteiros a partir do momento que esse desenho for conhecido.

Tudo isso parece se ter tornado subitamente claro para o governo. Tocados nos brios os militares, que estão longe de desfrutar os maiores entre os privilégios do Brasil com privilégios, embora vivam no que para o país real não entra nem em sonho, declaram-se dispostos a puxar a fila dos sacrifícios para dar o exemplo. É um gesto inédito na História do Brasil e absolutamente decisivo. Se confirmado, cala para todo o sempre a boca dos detratores da instituição. Já o campo do Legislativo reflete, para bem e para mal, a diversidade do país. Mas quando chamado ao sacrifício com o devido empenho, no governo Temer, prontificou-se a responder majoritariamente a favor do Brasil. Foi detido pelo golpe Janot-Joésley que abortou a votação decisiva na véspera de acontecer. Desde então, sentindo espaço, suas piores figuras voltaram a dominar a cena. Mas um novo Congresso vem aí e, no extremo, poder eleito que é, ele sempre faz o que o Brasil diz que quer que ele faça.

Falta, agora, o movimento da inefável Versailles da privilegiatura que tem sido o Poder Judiciário. Não haverá avanço na segurança publica se não houver avanço na economia. E não haverá avanço na economia se não houver avanço na Previdência. Sem ambos, não haverá pacote de leis nem articulação de forças de repressão capaz de deter a quase guerra civil contra o crime organizado que vivemos. Mas se o ministro Sérgio Moro e seus fiéis escudeiros do Ministério Publico, seguindo o exemplo dos militares, liderassem o movimento de devolução de privilégios que suas corporações ha muito devem ao Brasil, a pátria com toda a certeza estaria salva.

Brasil já vê a luz


A comunicação do governo Bolsonaro

Qual vai ser o método de comunicação do governo federal? Em meio a atropelos e contraditos, o espalhafato da campanha eleitoral vai rareando e alguns indicadores surgem no horizonte.

As “tuitadas desaforentas” sairão de fininho. O uso destemperado e randômico que o presidente brasileiro faz do Twitter - uma chanchada paródica do que em Donald Trump são latidos ameaçadores - não dará conta da tarefa de fazer governo e governados se entenderem. As manifestações de Bolsonaro no Twitter perdem credibilidade. O presidente tuíta uma sandice e os subordinados o desmentem no dia seguinte. Rotina. Um certo ar de “fez que foi e acabou não fondo” contamina a voz presidencial quando ela dá de falar por si. Não vale o escrito. O governo vai ter de encontrar outros suportes e outras instâncias se quiser conversar com a Nação.


Por onde seguirá? Os indícios estão aí. O principal deles, confirmado há poucos dias, é a decisão palaciana de não mais acabar com a EBC, a estatal responsável pela comunicação do Poder Executivo federal. Durante a campanha, em mais de uma ocasião o candidato Bolsonaro afirmou que fecharia a empresa, que não dá mais do que “traço de audiência”. Dias depois de eleito insistiu na bravata. Agora a cúpula do Planalto deixa claro, em mais uma volta atrás, que a EBC não será extinta coisa nenhuma. O general Carlos Alberto dos Santos Cruz, ministro-chefe da Secretaria de Governo, declarou oficial e publicamente que a EBC prosseguirá, embora com reformulações.

A EBC é um aparelhão. Faz a produção diária do horário do Poder Executivo no programa radiofônico A Voz do Brasil, controla canais de TV, como a TV Brasil e a NBR (dedicada à transmitir atos oficiais do governo federal), além de várias emissoras de rádio, e mantém a Agência Brasil na internet. É uma potência considerável, com aproximadamente 2 mil funcionários - e com orçamento e infraestrutura comparáveis aos de grandes empresas de comunicação comercial no Brasil. Não era crível que as fileiras do bolsonarismo, tão obcecadas por apetrechos e tecnologias de televisão, internet e rádio, fossem simplesmente jogar pela janela um equipamento desse porte. Deu a lógica.

A história por trás da EBC também ajuda a entender o futuro que ela terá. A estatal, criada no início do segundo governo Lula a partir da fusão da velha Radiobrás com a TVE do Rio de Janeiro, nasceu com a promessa de fazer uma comunicação mais pública do que governamental. O adjetivo “pública”, nesse caso, significaria algo como “menos partidário”, “menos governista”, “mais independente”. Claro, a promessa não se cumpriu. Sob os governos Lula, Dilma e Temer, o (in)fiel da balança editorial pendeu invariavelmente para os pontos de vista convenientes ao governante de turno.

A despeito das ilusões (perdidas), a EBC nunca deixou de ser um megafone de adulação de autoridades. Por isso nunca teve relevância. Vem dando “traço de audiência”. Serviu para abrigar os bajuladores, e não para fortalecer ou estimular um debate público mais livre e mais informado. Resumindo, a EBC não alcançou qualidade porque não ousou alcançar independência. Sua história é a história de um fracasso, a despeito das boas intenções (e, posso assegurar, algumas das intenções eram realmente boas, desinteressadas e direcionadas para o bem comum, sem beneficiários particulares).

Herdada agora pelo bolsonarismo, a EBC que aí está vem na medida para o estilão autoritário dos ministros. Sua cultura interna ainda guarda o DNA do governismo que vicejou na Radiobrás dos tempos da ditadura. Note bem o improvável leitor: a cultura governista é a mesma, embora os seus vetores possam ter oscilado mais para a esquerda ou mais para a direita. Lapidada ao longo de décadas para cumprir ordens, a estrutura da EBC cumprirá as ordens do novo governo e poderá, sim, ser mais eficiente do que é. Mais obediente. Sob o comando dos generais hodiernos, emulará humores de uma certa prontidão militarista, com locutores prestes a bater continência diante das câmeras.

Não subestimemos o que vem por aí. A EBC reúne todos os ingredientes para fazer as campanhas difamatórias do MBL parecerem brincadeirinha de criança. A propaganda triunfalista e patrioteira atingirá um patamar, em visibilidade e decibéis, jamais imaginado por nossa vã filosofia, por nossa proverbial paranoia e por nossa incurável mania de grandeza.

Como pano de fundo, a inspiração que anima o arranjo dos vetores da comunicação do novo governo ecoa e recicla o conservadorismo mais atroz. Note-se, entre outros indícios, a ojeriza que vem sendo incentivada contra as liberdades individuais no campo dos costumes. Notem-se as investidas contra os afetos homoafetivos. Note-se o fanatismo religioso estatizado. Note-se a cruzada contra o politicamente correto.

Pergunta: por que, em seu discurso de posse, Bolsonaro teve de falar contra o socialismo num país que nunca teve nada de socialista e contra o politicamente correto num país pautado por preconceitos selvagens? Resposta: porque ele reivindica licença para perseguir não o socialismo, mas os socialistas, e porque ele não quer ser constrangido pela agenda dos direitos humanos. O politicamente correto é a boa educação (e o marco civilizatório) que ele rejeita. Ele quer salvo-conduto para descartar a urbanidade.

O que se projeta a partir dessa fantasia tanática - que o novo governo pronuncia e enuncia - é uma comunicação que não é politicamente correta no campo dos direitos e é politicamente regressiva e opressiva no campo dos costumes: novelas sem beijo gay, escolas sem educação sexual, adolescentes sem libido e pais de família com quatro trabucos trancados num cofre dentro do guarda-roupa. Este é um país que vai pra frente. Pátria amada. Ame-a ou deixe-a.

A EBC vai se erigir em casamata na guerra moralista da comunicação que se avizinha.

Letra 'P'

Polícia e política costumam estar próximas - e não só no dicionário 
Raul Drewnick

Bolsonaro só pode perder para si mesmo

As coisas não poderiam estar andando melhor para o presidente Jair Bolsonaro: a oposição continua paralisada; devido aos caixas vazios e à violência galopante, os governadores estaduais estão dispostos a participar de projetos importantes como a reforma da Previdência; a Câmara dos Deputados e o Senado deverão eleger presidentes simpáticos ao governo; as redes sociais são dominadas por grupos favoráveis ao presidente; e a imprensa crítica ainda não sabe como lidar com a nova liderança em Brasília.

Mas o novo governo tem um pequeno problema: falta-lhe um programa. E também um grupo de ministros que pudesse endossá-lo de forma unânime. É uma pena que Bolsonaro não tenha participado de debates com outros candidatos durante a campanha eleitoral. Ele poderia ter copiado algumas ideias sobre combate à pobreza, segurança pública, proteção ambiental e economia sustentável. Na falta de tudo isso, resta a esperança de que as estrelas de sua trupe resolvam as paradas sozinhas. E não se neutralizem mutuamente.

Há o caso do ministro da Justiça, Sergio Moro, por exemplo. Sua nomeação foi uma jogada inteligente de Bolsonaro, que a oposição – ou seja, o PT – não pode contestar. Preso numa retórica concentrada unicamente na libertação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o PT deixou a luta contra a corrupção transbordante para Bolsonaro e Moro. Para salvar Lula, o PT rejeita tanto as delações premiadas quanto a prisão em segunda instância. No campo do combate à corrupção, que já foi decisivo durante as eleições, em outubro, Moro reina imbatível.

Mas Moro também representa um perigo para Bolsonaro. Muitos dos apoiadores do presidente esperavam uma liberação geral da compra de armas. Em vez disso, Moro incluiu uma série de critérios que dificultam a obtenção de armas no decreto assinado por Bolsonaro nesta terça-feira. Além disso, o ministro contradisse o presidente, que anunciou via redes sociais que logo flexibilizaria também o porte de armas. Segundo disse Moro numa entrevista na TV pouco depois, não há planos nesse sentido.

A segunda estrela na equipe de Bolsonaro é o guru econômico Paulo Guedes. Como todos sabem, Bolsonaro não entende nada de economia. E, como todos também sabem, Guedes não entende nada de política.

Depois das contradições mútuas constantes nos primeiros dias de mandato, a ordem, por enquanto, é de silêncio coletivo. Nada deve colocar em risco a extraordinária mudança acalentada pelo governo – uma ampla reforma previdenciária. Mas os militares – que, afinal de contas, são um dos pilares do governo – dificilmente concordarão com grandes cortes em suas pensões. Se Bolsonaro ceder a eles, sua reforma perderá credibilidade. E deverá aborrecer seriamente Guedes.

Este, por sua vez, parece estar levando a melhor sobre os antiglobalistas, liderados pelo chanceler Ernesto Araújo. A aparentemente decidida permanência do Brasil no Acordo do Clima de Paris é boa para as exportações brasileiras e útil para o ambicionado acordo comercial com a União Europeia.

A presença anunciada de Bolsonaro no Fórum Econômico Mundial na cidade suíça de Davos, daqui a uma semana, também é um sinal de que Guedes – que aposta nos mercados multilaterais – se impôs sobre Araújo, que quer deixar o Brasil de fora do multilateralismo.

O resto da trupe está preocupado consigo mesmo. Há confusão no Ministério da Educação sobre livros escolares incorretos e controvérsias por parte da ministra da Família sobre quais são as cores corretas do vestuário de crianças. E muita paranoia sobre supostos comunistas.

Nada disso parece muito profissional. Até porque há muito para fazer em relação a problemas sociais urgentes. Assim, no momento, as resistências internas do governo parecem ser mais fortes do que as externas, o que significa que Bolsonaro e sua trupe só podem tropeçar em si mesmos – algo que eles até podem conseguir.
Thomas Milz

O chanceler quer apagar a história do Brasil

“Vamos ler menos The New York Times, e mais José de Alencar e Gonçalves Dias”, afirmou o chanceler do bolsonarismo, Ernesto Araújo, em seu discurso de posse. Por quê?

Prestar atenção ao que diz o chanceler Ernesto Araújo tem sem mostrado tarefa penosa, mas fundamental para compreender como a ideologia do Governo Bolsonaro está sendo construída. O diplomata foi indicado por Olavo de Carvalho, considerado o “guru da nova direita” brasileira, desde sua casa nos Estados Unidos. Claramente, Araújo tem a pretensão de dar a base intelectual ao que o bolsonarismo chama de “nova era”. Se integrantes mais preparados do governo concordam, há dúvidas robustas para suspeitar que não. Araújo, porém, segue firme em seu propósito, publicando artigos onde consegue espaço.

O discurso de posse como novo ministro de Relações Exteriores é uma falsificação da história, com o objetivo de justificar o presente e o futuro próximo. Para fazer parecer que a estrutura parava em pé, o chanceler usou seu grego, seu latim e até mesmo seu tupi, abusou do recurso do name-dropping (ótima expressão em língua inglesa para aqueles que desfiam nomes e citações para impressionar o interlocutor), dos clássicos à cultura pop. Todos já bem mortos, para que nenhum deles pudesse contestar a citação. Nenhuma de suas escolhas é um acaso. Vale a pena se deter em cada uma delas porque, como já escrevi neste espaço, os malucos agora sapateiam no palco — e sapateiam com poder de destruição.

Ernesto Araújo é um personagem ainda obscuro para o Brasil, embora seja um diplomata de carreira do Itamaraty. Em seu discurso, ele dispôs de figuras e acontecimentos históricos, assim como artistas contemporâneos, como se eles estivessem misturados como bonecos de plástico numa prateleira, para serem usados ao gosto do freguês — e para o propósito do freguês. Arrancados de seu contexto e esvaziados de conteúdo, eles foram manipulados pelo chanceler para produzir a sua falsificação. Cada frase tem ali um objetivo.

Me detenho apenas em uma, que chamou particular atenção e foi reproduzida várias vezes na imprensa e nas redes sociais, com a qual abro esse artigo: “Vamos ler menos The New York Times, e mais José de Alencar e Gonçalves Dias”. Por quê?

Não é preciso ter inteligência acima da média para perceber que não faz nenhum sentido contrapor um dos mais importantes jornais do mundo, com edição diária, e dois escritores do romantismo brasileiro do século 19. O objetivo é exacerbar um nacionalismo que se ajoelha diante de Donald Trump, mas despreza a independência do New York Times; idolatra o WhatsApp e o Facebook de Mark Zuckerberg, mas achincalha a imprensa brasileira.


O chanceler quer menos denúncias bem apuradas e checadas contra Bolsonaro e contra os abusos do seu governo, documentados pelo Times e pelos principais jornais do mundo onde a imprensa é livre. Menos imprensa, convertida declaradamente em “inimiga pública”, por Bolsonaro e seus papagaios, porque querem falar diretamente com seus seguidores sem serem perturbados. Do contrário, teriam que responder perguntas difíceis e explicar depósitos de Queiroz na conta da primeira-dama.

Para não terem que prestar contas de seu governo ao público, é preciso destruir a credibilidade da imprensa. Sim, porque um tuíte ou um “live” no Facebook não é prestar contas, é apenas dizer o que quer, como faz a maioria, sem correr o risco de ser contestado com fatos e provas. O que os bolsonaristas querem fazer parecer democracia é apenas autoritarismo e já foi usado antes por governos totalitários, mas sem a enorme facilidade das redes sociais da internet.

A imprensa só faz sentido se fiscalizar o governo, qualquer governo. A frase do senador americano Daniel Patrick Moynihan (1927-2003) já se tornou clichê, mas ela é precisa: “Você tem direito a suas próprias opiniões, mas não a seus próprios fatos”. A luta dos bolsonaristas é para inventar seus próprios fatos, de modo que a realidade não importe nem atrapalhe seu projeto de poder.

Mas por que José de Alencar (1829-1877) e Gonçalves Dias (1823-1864), dois escritores do Brasil do século 19, que escreveram no Brasil imperial, durante o reinado de Dom Pedro II?

Essa escolha é capciosa, como todas as outras. E se refere a uma suposta identidade nacional. Alencar e Dias são expoentes do romantismo na literatura brasileira — um na prosa, o outro na poesia. Eles viveram e escreveram sua obra num momento muito particular do Brasil. O país se tornara independente de Portugal, o que significava que deixava de ser colônia dos portugueses.

Na visão dos homens daquela época (e eram majoritariamente homens, porque as mulheres, exceto raríssimas exceções, não tinham voz pública), era necessário criar uma identidade nacional. Para isso, seria preciso marcar essa identidade no campo da cultura. O Brasil deveria ter, ao mesmo tempo, uma literatura que o colocasse no mesmo patamar da Europa, que vivia a fase do romantismo, e ser ele próprio um novo que emergia após os séculos de domínio português. Gonçalves Dias e José de Alencar entregaram-se a essa tarefa. Não foram os únicos, mas tornaram-se referências do romantismo que inaugurava o que se chamou de literatura brasileira.

O chanceler de Bolsonaro exalta um momento da história do Brasil em que as elites se empenham em criar uma identidade nacional depois de o país ter sido colônia de Portugal. Araújo parece acreditar — ou quer que acreditemos — que o governo Bolsonaro está promovendo “o renascimento político e espiritual” do Brasil, como ele escreveu em um artigo. Ou, como afirmou em seu discurso de posse: “Reconquistar o Brasil e devolver o Brasil aos brasileiros”. Araújo quer que acreditemos que tudo o que aconteceu entre a independência do Brasil, a de 1822 — e a nova independência do Brasil, a que ele acredita estar sendo liderada pelo seu chefe, em 2019 — não existiu.

O ideólogo do governo parece sugerir que esse hiato de dois séculos foi um tempo de perdição do Brasil de si mesmo. “O presidente Bolsonaro disse que nós estamos vivendo o momento de uma nova Independência. É isso que os brasileiros profundamente sentimos”, afirma Araújo, que acredita ainda que suas cordas vocais libertam a voz do povo. Bolsonaro seria então uma versão contemporânea de Dom Pedro I, com sua espada em riste para libertar o Brasil. Não mais diante do riacho Ipiranga, agora no espelho d’água do Planalto.

O chanceler acessa esse episódio em dois momentos de sua vida, como ele mesmo relata no discurso de posse: “Eu me lembro da emoção que eu senti pela primeira vez, quando era Terceiro Secretário (do Itamaraty), que subi as escadas para este terceiro andar, e vi, logo ao subir a escada, o quadro da Coroação de Dom Pedro 1º e o quadro do Grito do Ipiranga. Imediatamente, eu, que tinha 22 anos, me lembrei de quando tinha 5 anos e assisti maravilhado no cinema ao filme ‘Independência ou Morte’, com Tarcísio Meira e Glória Menezes. E pensei: então tudo isso existe, né? Tudo isso existe... e tudo isso é aqui!”.

Pois é. Em outro ponto, com a sutileza de dar alguns parágrafos de intervalo, o admirador de Dom Pedro I e de Tarcísio Meira usa um tuíte para comparar Bolsonaro à rainha Elizabeth II, da Inglaterra: “Vou dar um exemplo do que temos para ouvir. É o comentário de uma pessoa que segue a minha conta do Twitter, que diz o seguinte... li isso ontem: ‘Antes eu não entendia o amor do povo da Inglaterra pela rainha. Agora entendo. Quando temos alguém que ama seu país e seu povo e os defende, ganha amor e respeito. Não conhecíamos isso antes de Bolsonaro’”.

Em nenhum momento os indígenas são citados nominalmente no discurso de posse do ideólogo do governo de extrema direita, o que em si já diz bastante coisa. Mas uma das línguas indígenas, o tupi, se faz presente. De que modo, porém? Na Ave Maria em tupi do padre José de Anchieta, jesuíta canonizado santo pela Igreja Católica. A língua do indígena usada para catequizá-lo numa religião alienígena às suas crenças. A escolha não é um detalhe. Sem a experiência da cultura, que confere carne à língua e conteúdo às palavras, a língua nada é. Apenas casca, como casca era o indígena do romantismo do século 19.

O escritor José de Alencar é o principal expoente da prosa do que se chama “indianismo” na literatura brasileira. Em três livros — O Guarani (1857), Iracema (1865) e Ubirajara (1874) —, ele busca construir uma identidade nacional fiel aos princípios do romantismo. Como o romantismo europeu é marcado por uma ideia heroica do cavaleiro medieval, Alencar torna o indígena um cavaleiro medieval ambientado na exuberante paisagem tropical do Brasil.

O indígena, habitante nativo que vivia na terra antes do domínio europeu, seria o herói genuinamente brasileiro da nação que se declara independente da colônia. Mas com todas as qualidades atribuídas à cavalaria, na Idade Média, transplantadas para seu corpo e sua alma. A coragem, a lealdade, a generosidade, a partir de um ponto de vista que servia à manutenção do sistema feudal, e o amor cortês. Para escritores da época de José de Alencar e de Gonçalves Dias, que viviam o período pós-independência do Brasil, escrever era um ato de patriotismo. Eles teriam de dizer com sua obra o que é “ser brasileiro”. É também essa referência que o ideólogo do governo procura resgatar e enaltecer.

Os negros, corpos escravizados que moviam a economia do Brasil e serviam às suas elites, não estavam presentes como formadores de uma identidade nacional nestes romances de fundação. Se os escritores buscavam uma identidade nacional, ela era forjada dentro da matriz europeia. Como seria possível escrever em língua portuguesa, a do colonizador, sem ser colonizado na linguagem, foi uma questão crucial para a qual Alencar e outros também tentaram dar uma resposta no século 19. Mas este é um tema longo para outra conversa.