domingo, 17 de dezembro de 2017

Paisagem brasileira

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Andreas Achenbach

A bolha petista estourou

Um em cada quatro brasileiros sobrevive abaixo da linha da pobreza, 13,4 milhões desse contingente de mais de 52 milhões na miséria absoluta. Os números da Síntese de Indicadores Sociais 2017 do IBGE são assustadores, situam o Brasil para lá do quinto mundo. E destroem o cerne do discurso petista: ao contrário do que propagam, a pobreza se agudizou.

E desta vez não vai dar para culpar o governo Michel Temer.

A bolha social, inflada no segundo mandato do presidente Lula e mais ainda por sua pupila Dilma Rousseff, estourou.

Nada que não fosse previsível com o estímulo desvairado ao consumo, desacerto nas contas, invencionices e abuso de políticas voluntaristas.

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O estudo do IBGE tem como base a métrica do Banco Mundial que estipula o limiar da pobreza à renda de U$ 5,5 por dia, R$ 18,24, R$ 387 ao mês. O valor desmascara a esperteza estatística introduzida em 2013 pelo PT, que definiu como classe média aqueles que percebiam entre R$ 291 e R$ 1.019.

Foi contabilizando famílias com ganhos nesta faixa de até R$ 1 mil que se cunhou o termo da nova classe média, patamar social a que o petismo se pavoneia de ter elevado 40 milhões de brasileiros. Boa parte deles sem nunca ter podido saborear o rótulo, com dívidas a mais e centavos a menos. Pior: hoje, mais pobres.

Outros 32 milhões, Lula garante que tirou da pobreza. Se o fez parcialmente no primeiro mandato quando reinava a bonança, sabe que os ganhos daquele período se perderam nos anos seguintes, quando abdicou aos princípios econômicos herdados de antecessor Fernando Henrique Cardoso e preservados pelo então ministro da Fazenda Antonio Palocci.

Os dados, processados por um instituto ilibado que Lula não poderá acusar de ter manipulado números para denegri-lo, derrubam as bravatas do ex.

Esbarram ainda em regiões nefrálgicas para a sua campanha: Nordeste e Norte concentram mais de 43% dos muito pobres, que, nem com o reforço do Bolsa Família escapam dos limites mínimos aferidos pelo IBGE.

Mais: segundo o estudo, 42% das crianças brasileiras de até 14 anos, nada menos do que 17,8 milhões, sobrevivem na pobreza, 28% com restrição ao acesso à escola, demonstrando a falha brutal de políticas de médio prazo.

No que diz respeito a investimentos contínuos e planejados, as condições precárias de oferta de água potável e saneamento demostram total desleixo com os mais pobres: 25% desse grupamento não têm nem banheiro em casa.

Ainda que cruel, o quadro exposto pelo IBGE só impactará a campanha presidencial se a oposição a Lula o fizer.

O ex não mudará sua fala em um milímetro. Continuará se autoproclamando protetor dos desvalidos – “que os pobres vão salvar de novo este país” – e se vangloriando de ter sido o governante que tirou o Brasil da miséria.

Dito e redito sem ser contestado. Pelo menos, até então.

Como não provocam oscilações nas bolsas de valores e no mercado, bolhas sociais dificilmente ganham os holofotes. Os governos que as provocam demoram muito mais a entrar na berlinda – isso, quando entram.

Mas os efeitos dessas bolhas podem ser até mais lancinantes.

As milhões de pessoas engambeladas pelas falsas promessas de políticos inescrupulosos jamais são indenizadas ou mediamente reparadas se o investimento falhar. Não há como repassar a opção de compra, comercializar o investimento. Até porque em quinto mundo a democracia é manca e, não raro, a Justiça é lenta e falha. Inexistem mecanismos de revisão de voto, moção de censura, recall.

Só o eleitor pode mudar o país de patamar. Para fazê-lo experimentar modelos políticos menos indigestos e índices sociais mais justos. E impedir o sucesso de quem aposta no ludibrio.

Revisitado

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Quem disse que o Natal é só mercado?
Por trás do panetone ou da castanha
está um publicitário, uma campanha,
o lucro, as estatísticas, o Estado.

É certo. Mas o espírito arraigado
mais dura que o presente que se ganha,
mais lembra que um peru, que uma champanha
a alguém com mais futuro que passado.

Pois ela, a criancinha, é quem segura
o tempo, em seu efêmero momento,
salvando algo de júbilo ou ternura.

Esqueça-se o comércio! Ainda tento
rever cada Natal, cada gravura
em meio a tanto adulto rabugento...
Glauco Mattoso

As marcas do ano

Os japoneses escolheram um ideograma para definir o ano de 2017: um símbolo gráfico que significa Norte, uma alusão aos coreanos que frequentemente lançam seus foguetes no mar do Japão. Com um inimigo externo desvairado como Kim Jong-un é mais fácil achar um símbolo. Trabalhando com o alfabeto, uma revista norte-americana optou pela palavra feminismo, referência ao furacão de denúncias de assédio sexual que sacudiu Hollywood e se desloca a cem quilômetros por hora rumo à Casa Branca.

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Tentei encontrar algo que simbolizasse o ano no Brasil. Pensei na tornozeleira eletrônica, pois este ano estivemos de novo sob o impacto da Operação Lava-Jato. Mas ponderei: as tornozeleiras representam os empresários que já estão saindo da cadeia. Os políticos com foro privilegiado ainda nem chegaram. Pensei num pé com a tornozeleira, outro com uma asinha. Seria difícil, embora o símbolo Yin Yang da filosofia chinesa talvez desse conta dessas energias opostas.

Deixando o território da política e olhando apenas o Brasil, soubemos que, em 15 anos, matou-se mais no Brasil do que na Síria em guerra, mais que em toda a América do Sul, mais do que em toda a Europa.

Há dez minutos que escrevo. Alguém deve ter sido assassinado do primeiro parágrafo até aqui. É a média nesse princípio de século. Nesse momento acho que a imagem da morte é uma forte competidora. Vivemos uma guerra visceral, matadores e mortos compartilham o mesmo país, às vezes o mesmo bairro ou a mesma cama.

Mas também deixaria de fora o turbilhão de vida que fervilha no Brasil, gente como a professora de Janaúba, em Minas Gerais, Helley Abreu Batista, que morreu para salvar crianças.

Desisto de achar um ideograma ou mesmo uma palavra para tudo o que se passou. Prefiro dar umas férias à política e escrever essa crônica como antigamente: falando de pessoas e coisas simples. Esta semana, por exemplo, conheci um Papai Noel em Gramado. Tadeu Salvador é o seu nome. Ele é profissional na Aldeia de Papai Noel, um complexo turístico sobre o Natal, aberto durante todo o ano. Salvador vendia automóveis usados e sofreu três AVCs. Mudou de profissão e está muito bem. Naquela atmosfera onde as árvores vieram da Europa e há praças simulando nevadas, Salvador faz uma discreta concessão à sua condição terrena: um ventilador branco, marca Mondial.

Já que cheguei ao ventilador, gostaria de tratar de alguns objetos com que tentei me entender este ano. Chave, óculos e caneta estão perdidos para o diálogo. Formam uma organização criminosa que não só desaparece em conjunto, como usa armadilhas para me confundir. Se procuro os óculos aparece apenas a chave, ou a caneta, embora esta tenda a sumir para sempre.

Em 2018, buscarei diálogo mais próximo com dois recém chegados à minha vida: o crachá no trabalho e o cartão eletrônico que abre a porta do quarto do hotel. O crachá falhou algumas vezes, talvez porque não tenha visto a data da renovação. Sempre me deixava em dúvida: vai ou não vai. Depois que ele caiu no mar, na Ilha de Algodoal, nunca mais falhou. O barqueiro estava com medo de uma tempestade e voltou rápido ao continente. Jogou a mochila na areia, e uma onda a inundou. Pelo menos aprendi que, se o crachá falar, é hora de levá-lo para umas férias na praia.

Os cartões eletrônicos dos hotéis são o desafio. Chego do trabalho tão cansado que nem sei se deixo as bolsas do equipamento ou sento na cama, ou faço os dois ao mesmo tempo. E a porta não abre.

Não sei se em Porto Velho ou Boa Vista, lembro-me do cartão que falhava todo dia, duas vezes em algumas ocasiões.

Em Gramado o cartão falhou. Fui à portaria e disse ao recepcionista: o cartão falhou.

— Qual o número do seu quarto?

— 1478.

— Desculpe, mas não existe esse quarto.

Tentei uma nova combinação:

— 4178.

— Ah, aí sim — disse ele.

Pedi desculpas pelo erro. Estava acostumado com pousadas, onde o quarto tem dois dígitos, ou hotéis de três dígitos, mas quatro dígitos, para mim, são mais que o número de um brevíssimo quarto de hotel: é uma senha.

Por falar em senhas, talvez escreva um dia sobre como invadiram nossas vidas. Suspeito que tenham relações com a Orcrim formada pelos óculos, chave e caneta. Mas não tenho provas.

Espero encontrar alguém como Papai Noel no ano que vem. Preciso, de vez em quando, de uma pausa para as pessoas e as pequenas coisas da vida.

Em 2017, o Brasil conseguiu ser, simultaneamente, tão intenso e tão vazio que chegamos a saudar sua passagem. A esperança é de que o ano que entra seja melhor, ou, pelo menos, ruim de uma forma diferente.

O diabo e a política

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Sempre que leio os jornais, lembro uma historinha que nem sei mais quem me contou. Naquela aldeia, todos roubavam de todos, matava-se, fornicava-se, jurava-se em falso, todos caluniavam todos. Horrorizado com os baixos costumes, o frade da aldeia resolveu dar o fora, pegou as sandálias, o bordão e se mandou.

Pouco adiante, já fora dos muros da aldeia, encontrou o Diabo encostado numa árvore, chapéu de palha cobrindo seus chifres. Tomava água de coco por um canudinho, na mais completa sombra e água fresca desde que se revoltara contra o Senhor, no início dos tempos.

O frade ficou admirado e interpelou o Diabo:

- O que está fazendo aí nesta boa vida? Eu sempre pensei que você estaria lá na aldeia, infernizando a vida dos outros. Tudo de ruim que anda por lá era obra sua - assim eu pensava até agora. Vejo que estava enganado. Você não quer nada com o trabalho. Além de Diabo, você é um vagabundo!

Sem pressa, acabando de tomar o seu coco pelo canudinho, o Diabo olhou para o frade com pena:

- Para quê? Trabalho desde o início dos tempos para desgraçar os homens e confesso que ando cansado. Mas não tinha outro jeito. Obrigação é obrigação, sempre procurei dar conta do recado. Mas agora, lá na aldeia, o pessoal resolveu se politizar. É partido pra lá, partido pra cá, todos têm razão, denúncias, inquéritos, invocam a ética, a transparência, é um pega-pra-capar generalizado, eu estava sobrando, não precisavam mais de mim para serem o que são, viverem no inferno em que vivem.

Jogou o coco fora e botou um charuto na boca. Não precisou de fósforo, bastou dar uma baforada e de suas entranhas saiu o fogo que acendeu o charuto:

- Tem sido assim em todas as aldeias. Quando entra a política eu dou o fora, não precisam mais de mim.

Carlos Heitor Cony

Gente fora do mapa

Da série:"A vida como não deveria ser" Fotografia da reportagem do Okatu Exeption  www.mesquita.blog.br www.facebook.com/ mesquitafanpage

O vício

Os seres humanos são movidos por convicções e princípios, bem mais que por números. Para contabilizar números, é mais prudente primeiramente estabelecer princípios sólidos e concordar com o respeito a eles. Em seguida, os resultados aparecem como consequência. Num acordo sem respeito, com partes fraudando as condições, as relações se deterioram até o fracasso encerrar ciclos de aparente sucesso.

Podemos lembrar, como um pacto coletivo, o enfrentamento do tabagismo, que levou a erradicar um milenar vício, estupidamente nocivo, mas dominante.

Até a década de 80, fumar era aplaudido, tolerado em locais públicos e em qualquer circunstância. Isso desmoronou quando uma cruzada entrou em campo e fez do tabagismo o que ele é, um adversário. Em dez anos de persistente enfrentamento, fumar passou a ser brega, muito raro, até gerar estranheza.

O hábito desapareceu, ao menos aqui, no Brasil. Apercebe-se de que era inexplicável o extermínio de milhões de tabagistas por doenças nas vias respiratórias – uma das maiores causas de morte na humanidade e de gastos públicos com saúde.

Ninguém tomaria veneno sabendo do risco de morrer, mas os descuidos éticos dos líderes de uma nação permitiram que o vício inexplicável matasse mais que todas as guerras já combatidas. O inconsciente coletivo pode, como nesse caso, conduzir à morte quando as referências de um grupo se aliam no sentido contrário ao bem da população.

O fenômeno de rejeição, partindo de cima, das políticas públicas aplicada à realidade, tocou a consciência dos indivíduos e levou à cessão de práticas nefastas. Vence sem dar um soco, uma parada “impossível”.


Um único país no planeta, entre os mais pobres de recursos financeiros, mas desmesuradamente rico de princípios filosóficos, o Butão, proibiu a comercialização de cigarro desde épocas imemoráveis. Um país regido para ser um Shangrilá, inserido numa esfera em que a corrida dos números não ofusca o sentido moral.

Embora não tenha muita diferença entre o vício de fumar e a prática da corrupção, que inclui ínfimas vantagens até o desmonte do erário, ainda não se instalou um combate comunitário e coordenado. A corrupção, a mais antiga das transgressões, desde quando a serpente comprou Eva com uma maçã, destrói o fluxo natural da economia.

Como o leito de um rio obstruído por desmoronamentos e avalanches ao longo de seu percurso, o fluxo normal da correnteza se desvia. Inunda as matas ciliares arrastando-as em seus redemoinhos. As águas varrem o que de mais belo e proveitoso a natureza produz. Destrói casas, pontes, levando colheitas e vidas humanas. A corrupção provoca isso.

Trata-se de uma atitude com consequências incontroláveis, absolutamente contrárias ao bem comum, embora a percepção fique ofuscada por resultados imediatos que não consideram as catástrofes ao longo do vale e até chegar ao mar. A desgraça cresce progressivamente impregnando o que toca.

Quando a corrupção se insinua na base de uma pirâmide, com a leniência do vértice, apodrece o funcionamento harmônico do sistema, mas é muito pior e mais rápido quando de cima escorre pelas encostas determinando inexoravelmente a corrosão do conjunto todo.

Os profissionais da economia mundial fecharam os olhos, mantiveram os números como medidor de sucesso, sem considerar os meios impróprios. O balanço exclusivamente financeiro é efêmero, e não durável. Os países de economia mais sólida, mesmo não sendo os maiores, são os que melhor qualidade de vida dispensam – socialmente comprometidos, intolerantes com a malversação.

O resultado não pode desconsiderar os princípios e meios adotados. Os seres humanos, como peixes que vivem melhor em águas limpas, não progridem numa sociedade turbada e intoxicada pela falta de ética.

Os governantes hipócritas possuem uma extraordinária capacidade de fazer parecer legal a indigência moral. Podem se safar temporariamente, mas serão condenados pela história e já pelos contemporâneos mais lúcidos e atentos.

O Brasil não crescerá e não se estabilizará enquanto princípios não forem adotados em larga escala, e pelos seus líderes. O espetáculo a que se assiste cotidianamente comprova que, como tabagistas inveterados, caminhamos para a doença, o desajuste de nossas funções e a morte precoce.

Os sentimentos de recuperação moral pervadem as massas, mas não afloram com a veemência necessária para a mudança radical. Ao mesmo tempo em que criticam, sentindo instintivamente a “coisa” errada, espelham-se no sucesso efêmero de líderes que adotam a corrupção como profissão.

O ano de 2018 poderá ser um momento de mudar um pouco, de escolher alguns líderes que pelo exemplo possam abrir a visão das massas.

Ação, já!

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A esperança, ao contrário do medo, não pode ser nunca uma emoção passiva. Exige movimento, gente em ação. Até agora as pessoas sempre sonharam com a possibilidade de uma vida melhor. De repente pararam
Tariq Ali, "Medo de espelhos"

Lula lá

Luiz Inácio Soltinho da Silva vai enfim se ver com a Justiça. O maior e mais querido ladrão brasileiro será julgado em segunda instância ao raiar de 2018. Confirmada a sua condenação por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, será preso.

Absurdo. Todo mundo sabe que roubar o povo não é pecado se você é coitado profissional, e seus métodos são aprovados por cantores da MPB. Outro dia mesmo, Tiririca subiu à tribuna para fazer seu primeiro e último discurso como deputado — comovendo o Brasil ao declarar sua vergonha dos políticos corruptos e defender Lula. Certas formulações éticas só um palhaço é capaz de fazer.

Nenhum texto alternativo automático disponível.

Até o mosqueteiro Dartagnol Foratemer abandonou seu PowerPoint para catar voto em sarau de subcelebridade petista, que ninguém é de ferro. Aquela floresta de crimes palacianos montados por Lula e Dilma, que levou o país à maior crise de sua história, ficou para trás. A antiga Lava-Jato, que obrigava o jovem investigador a andar atrás dos incontáveis delinquentes do bando, dava um trabalhão — fora ser xingado todo dia de golpista, fascista, androide etc. pelos colegas mais cultos do Tiririca.

Foi só deixar Lula e sua gangue em paz para a histeria virar carinho, nos melhores endereços da Vieira Souto. É a Lava-Jato gourmet — mais prática e limpinha, que você leva para qualquer convescote que o companheiro Molon te chamar. Numa emergência, dá até para fazer justiça pelo Twitter. São as maravilhas da modernidade.

Se a Independência do Brasil foi proclamada no grito, a inocência do filho dele também pode ser. Foi assim que Lula apareceu semana passada na porta do Comperj para um comício em defesa da Petrobras, aquela que ele estuprou. Para quem não está ligando o nome à pessoa (se há algo inteiramente fora de moda é ligar nomes a pessoas, e a seus respectivos crimes), Comperj é o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro, um dos centros da roubalheira petista descobertos pela operação Lava-Jato (na versão velha, que dava um trabalhão e era coisa de golpista).

A desinibição dessa alma honesta é mais do que compreensível. Se você estupra a Petrobras e continua sendo mimado por supostos expoentes da cultura nacional (e por boa parte da opinião pública), você é no mínimo um bom selvagem. Vai fundo, companheiro. Como diria Maluf, estupra mas não mata. E se por acaso matar, como você matou o futuro de pelo menos uma geração com seu assalto sem precedentes aos cofres públicos, pede desculpas pelo mau jeito, como você fez no mensalão, e vai em frente sem perder a ternura.

Como prender um homem desses? O Brasil não pode tolerar tal nível de perseguição contra esse mito da fofura selvagem, esse bibelô da esquerda imaginária, que rouba dos pobres para dar aos defensores dos pobres.

O que será da lenda progressista? E os shows heroicos em defesa dos movimentos revolucionários de aluguel? O que vão fazer da vida essas simpáticas almas penadas e seu desbunde de resultados? Logo agora, com os cafetões da bondade no auge, emplacando qualquer lixo que se pareça com defesa de minoria oprimida, vocês querem prender o papa da alta prostituição ideológica?

Não passarão! A revolta já foi marcada por José Dirceu — solto, podre de rico e sambando no pé — para o dia 24 de janeiro. O fabuloso caixa da revolução, montado ao longo de 13 anos com o suor do seu rosto, caro leitor, será derramado na já lendária resistência democrática da porrada. Os bravos candidatos ao Prêmio Joesley de Jornalismo divulgarão lindas imagens de pneus em chamas noticiando as “manifestações contra a prisão de um líder popular”. Mandela sumirá na poeira da História, Jesus Cristo talvez se mantenha numa nota de rodapé.

Enquanto isso, nas Minas Gerais do companheiro Fernando Pimentel, a Polícia Federal investiga o sumiço de alguns milhões de reais no Memorial da Anistia. Eles vão lutar contra a ditadura do século passado até o último centavo do contribuinte.

Infelizmente, o golpe de Janot com Fachin e os açougueiros biônicos falhou, e a gangue não pôde voltar a ordenhar o Tesouro Nacional. Mas dinheiro não é problema. Só a provisão para os advogados milionários das dezenas de réus da quadrilha — mais o laranjal regado pelo BNDES por mais de década — daria para tapar boa parte do rombo da Previdência. Se há um Brasil onde ninguém sofrerá por causa de aposentadoria, é o do Partido dos Trabalhadores que não trabalham.

O problema é que o resto do país está melhorando após a descupinização do Estado, com a menor taxa de juros em 30 anos, inflação em queda e PIB em recuperação. Isso é grave. Se continuar assim, o que os simpáticos palhaços da lenda irão recitar em suas turnês folclóricas? Abaixo Papai Noel? Fora Tender?

Lula está fazendo a sua parte, semeando com o talento de sempre o mau agouro e o ressentimento numa campanha presidencial fictícia. Ele inclusive anunciou que vai regular a comunicação. Faz muito bem. Carcereiro não gosta de papo furado.
Guilherme Fiuza

Pobreza aumenta no Brasil e nos EUA


Dois estudos divulgados nesta sexta-feira expõem a dimensão da pobreza tanto no Brasil quanto nos EUA.

No Brasil, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou que um quarto da população brasileira viveu abaixo da linha de pobreza no ano passado. A linha de pobreza adotada pelo Banco Mundial é de 5,5 dólares diários e 25,4% da população brasileira teve uma renda diária abaixo desse valor.
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Nova Iorque ou São Paulo?
Nos Estados Unidos, a ONU divulgou também na sexta-feira que cerca de 14% dos americanos vivem na linha de pobreza, sendo metade deles considerados "profundamente pobres" e sem nenhuma perspectiva de sair dessa situação, afirmou Philip Alston, relator especial sobre pobreza extrema e direitos humanos das Nações Unidas.

De acordo com o IBGE, cerca de 50 milhões de brasileiros vivem na linha de pobreza e têm renda familiar equivalente a 387,07 reais. O estudo indica ainda que o maior índice de pobreza se dá na Região Nordeste, onde 43,5% da população se enquadra nessa situação. O menor índice está na Região Sul: 12,3%.

Segundo a pesquisa de indicadores sociais do IBGE, o Brasil é um país profundamente desigual e essa desigualdade se dá em todos os níveis. "A situação é mais grave entre os 7,4 milhões de moradores de domicílios onde vivem mulheres pretas ou pardas sem cônjuge com filhos até 14 anos. Desses, 64% estavam abaixo dessa faixa de renda", informou.

A desigualdade de renda no país continua intrinsecamente ligada à questão da raça visto que o estudo indicou que entre os 10% da população com os menores rendimentos, 78,5% eram pretos ou mulatos. Já entre os 10% mais ricos, os pretos ou mulatos representavam apenas 24,8%.

Situação nos EUA

Durante coletiva de imprensa em Washington, o especialista da ONU Philip Alston criticou os níveis alarmantes de pobreza nos EUA, afirmando que a situação deverá piorar sob o governo do presidente Donald Trump.

Suas críticas vieram depois que ele fez um tour recentemente pelo país, visitando de acampamentos de sem-terra na Califórnia a pequenas cidades no sul dos EUA, como também a ilha de Porto Rico devastada por furacões.

Alston disse que, enquanto as estatísticas mostram que 14% dos americanos vivem na linha de pobreza, o número de pessoas que viveriam precariamente na fronteira dessa linha seria tão grande que 20% seria uma cifra mais realista.

O relatou da ONU apontou que a pobreza extrema e a desigualdade nos EUA resultam de políticas acumulados ao longo de muitos anos, mas deverão piorar com as propostas apoiadas pela administração Trump com vista à reforma fiscal e ao corte de programas de bem-estar social e cuidados de saúde.

Deutsche Welle