E desta vez não vai dar para culpar o governo Michel Temer.
A bolha social, inflada no segundo mandato do presidente Lula e mais ainda por sua pupila Dilma Rousseff, estourou.
Nada que não fosse previsível com o estímulo desvairado ao consumo, desacerto nas contas, invencionices e abuso de políticas voluntaristas.
O estudo do IBGE tem como base a métrica do Banco Mundial que estipula o limiar da pobreza à renda de U$ 5,5 por dia, R$ 18,24, R$ 387 ao mês. O valor desmascara a esperteza estatística introduzida em 2013 pelo PT, que definiu como classe média aqueles que percebiam entre R$ 291 e R$ 1.019.
Foi contabilizando famílias com ganhos nesta faixa de até R$ 1 mil que se cunhou o termo da nova classe média, patamar social a que o petismo se pavoneia de ter elevado 40 milhões de brasileiros. Boa parte deles sem nunca ter podido saborear o rótulo, com dívidas a mais e centavos a menos. Pior: hoje, mais pobres.
Outros 32 milhões, Lula garante que tirou da pobreza. Se o fez parcialmente no primeiro mandato quando reinava a bonança, sabe que os ganhos daquele período se perderam nos anos seguintes, quando abdicou aos princípios econômicos herdados de antecessor Fernando Henrique Cardoso e preservados pelo então ministro da Fazenda Antonio Palocci.
Os dados, processados por um instituto ilibado que Lula não poderá acusar de ter manipulado números para denegri-lo, derrubam as bravatas do ex.
Esbarram ainda em regiões nefrálgicas para a sua campanha: Nordeste e Norte concentram mais de 43% dos muito pobres, que, nem com o reforço do Bolsa Família escapam dos limites mínimos aferidos pelo IBGE.
Mais: segundo o estudo, 42% das crianças brasileiras de até 14 anos, nada menos do que 17,8 milhões, sobrevivem na pobreza, 28% com restrição ao acesso à escola, demonstrando a falha brutal de políticas de médio prazo.
No que diz respeito a investimentos contínuos e planejados, as condições precárias de oferta de água potável e saneamento demostram total desleixo com os mais pobres: 25% desse grupamento não têm nem banheiro em casa.
Ainda que cruel, o quadro exposto pelo IBGE só impactará a campanha presidencial se a oposição a Lula o fizer.
O ex não mudará sua fala em um milímetro. Continuará se autoproclamando protetor dos desvalidos – “que os pobres vão salvar de novo este país” – e se vangloriando de ter sido o governante que tirou o Brasil da miséria.
Dito e redito sem ser contestado. Pelo menos, até então.
Como não provocam oscilações nas bolsas de valores e no mercado, bolhas sociais dificilmente ganham os holofotes. Os governos que as provocam demoram muito mais a entrar na berlinda – isso, quando entram.
Mas os efeitos dessas bolhas podem ser até mais lancinantes.
As milhões de pessoas engambeladas pelas falsas promessas de políticos inescrupulosos jamais são indenizadas ou mediamente reparadas se o investimento falhar. Não há como repassar a opção de compra, comercializar o investimento. Até porque em quinto mundo a democracia é manca e, não raro, a Justiça é lenta e falha. Inexistem mecanismos de revisão de voto, moção de censura, recall.
Só o eleitor pode mudar o país de patamar. Para fazê-lo experimentar modelos políticos menos indigestos e índices sociais mais justos. E impedir o sucesso de quem aposta no ludibrio.
Nenhum comentário:
Postar um comentário