O líder político mais poderoso do Brasil do século XXI, capaz de ganhar quatro eleições presidenciais em seguida e de se dar muitíssimo bem em praticamente tudo o que quis nos últimos anos, entrou de uma vez por todas num mato fechado. Vai sair, como sempre conseguiu até hoje? Há muito tempo o ex-presidente Lula acostumou-se a saborear o que já foi definido como uma das melhores sensações que um ser humano pode ter: a de atirarem nele e errarem o alvo. Com base no retrospecto, ele espera que sua vida continue assim — mas vivemos um momento em que estão acontecendo coisas que nunca aconteceram antes, e em que se confirma a velha máxima segundo a qual algo só é impossível até tornar-se possível.
O último exemplo a respeito é o terremoto causado pela prisão do empresário Marcelo Odebrecht, presidente da maior empreiteira de obras públicas do Brasil e empresa-símbolo das relações íntimas de Lula com os colossos do capitalismo nacional que recebem bilhões de reais em encomendas do governo. Era rigorosamente inacreditável que um homem desses pudesse ser encarcerado; nunca tinha acontecido antes, e talvez nunca mais volte a acontecer. Quem seria capaz de imaginar uma coisa dessas em nosso Brasil brasileiro? É como se tivessem prendido o papa Francisco. Mas aí está: aconteceu. Lula, de repente, percebe que não pode contar mais com o impossível.
O ex-presidente está lidando com a carga de TNT espalhada à sua volta com o mesmo sistema que utilizou em todas as suas desventuras anteriores: como ficou claro no jato de declarações que decidiu fazer nos últimos dias, ele se defende negando, simplesmente, a realidade que está na cara de todo mundo. O que vai contra os seus interesses não existe, por maiores que sejam as provas em contrário; continua convencido de que o brasileiro gosta muito mais das coisas que ele diz do que das coisas como elas realmente são. Lula, que imagina ser o líder popular ótimo e máximo, como o deus Júpiter, não pode pôr o pé na rua, com medo de ser vaiado pelo povo de seu país. Não pode dar uma entrevista livre à imprensa, com medo das perguntas que vão lhe fazer. Está mais do que provado que em seu governo, e no governo da sua sucessora, a população foi roubada pela maior onda de corrupção dos 500 anos de história do Brasil.
O tesoureiro do seu partido está num xadrez em Curitiba. Tem a companhia, ali, de empreiteiros de obras que há anos presenteiam o ex-presidente com viagens em jatinhos particulares, utilizaram seus serviços como promotor de vendas, pagaram-lhe milhões de reais em troca de palestras e mantêm com ele uma intimidade tão completa a ponto de lhe darem o amável apelido de “Brahma”. Lula é responsável direto pela invenção de Dilma Rousseff, que está a caminho de tornar-se a pior presidente que este país já teve. Advoga, em público, a favor de diversos dos mais sinistros ditadores do planeta — e por aí segue a procissão. Mas ele parte para sua defesa, mais uma vez, agindo como se tudo isso estivesse acontecendo em alguma galáxia perdida no fundo do universo. Ou, se está acontecendo aqui, o único que não tem nada a ver com a história é ele mesmo.
De quem seria a culpa, nesse caso? Eis uma questão em que o ex-presidente não se aperta; ele é um grande especialista em fuzilar feridos para salvar a si mesmo. Na sua atual ofensiva, e logo de cara, não teve o menor problema em sair acusando o governo Dilma, na esperança de misturar-se aos 65% de brasileiros que acham ruim ou péssimo o desempenho de sua criatura. A presidente, descobriu Lula, está no “volume morto” — como se ele não tivesse responsabilidade nenhuma por nada do que está dando errado. O PT, que vai tão mal quanto Dilma, foi denunciado por “pensar só em cargos” e os petistas por não fazerem “nada de graça” — como se ele não cobrasse pelos serviços que presta aos empreiteiros. Culpou o ódio cada vez maior que existe contra o partido — como se ele não fosse o produtor número 1 do rancor na política brasileira. Acusou o governo Dilma de não fazer nada, com seu “legalismo”, para combater a ação da Justiça nas investigações de corrupção — e o que queria que fosse feito? Não existe a menor ligação disso tudo com a verdade dos fatos, é óbvio. Fica apenas uma soberba sem limites, hoje transformada num vício do qual Lula parece incapaz de se livrar.
Lula precisa fazer mais do que repetir a mesma missa. O fogo de Curitiba, com o correr do tempo e a coleta de provas, deveria estar cada vez mais longe dele. Está cada vez mais próximo.
O ex-presidente está lidando com a carga de TNT espalhada à sua volta com o mesmo sistema que utilizou em todas as suas desventuras anteriores: como ficou claro no jato de declarações que decidiu fazer nos últimos dias, ele se defende negando, simplesmente, a realidade que está na cara de todo mundo. O que vai contra os seus interesses não existe, por maiores que sejam as provas em contrário; continua convencido de que o brasileiro gosta muito mais das coisas que ele diz do que das coisas como elas realmente são. Lula, que imagina ser o líder popular ótimo e máximo, como o deus Júpiter, não pode pôr o pé na rua, com medo de ser vaiado pelo povo de seu país. Não pode dar uma entrevista livre à imprensa, com medo das perguntas que vão lhe fazer. Está mais do que provado que em seu governo, e no governo da sua sucessora, a população foi roubada pela maior onda de corrupção dos 500 anos de história do Brasil.
O tesoureiro do seu partido está num xadrez em Curitiba. Tem a companhia, ali, de empreiteiros de obras que há anos presenteiam o ex-presidente com viagens em jatinhos particulares, utilizaram seus serviços como promotor de vendas, pagaram-lhe milhões de reais em troca de palestras e mantêm com ele uma intimidade tão completa a ponto de lhe darem o amável apelido de “Brahma”. Lula é responsável direto pela invenção de Dilma Rousseff, que está a caminho de tornar-se a pior presidente que este país já teve. Advoga, em público, a favor de diversos dos mais sinistros ditadores do planeta — e por aí segue a procissão. Mas ele parte para sua defesa, mais uma vez, agindo como se tudo isso estivesse acontecendo em alguma galáxia perdida no fundo do universo. Ou, se está acontecendo aqui, o único que não tem nada a ver com a história é ele mesmo.
De quem seria a culpa, nesse caso? Eis uma questão em que o ex-presidente não se aperta; ele é um grande especialista em fuzilar feridos para salvar a si mesmo. Na sua atual ofensiva, e logo de cara, não teve o menor problema em sair acusando o governo Dilma, na esperança de misturar-se aos 65% de brasileiros que acham ruim ou péssimo o desempenho de sua criatura. A presidente, descobriu Lula, está no “volume morto” — como se ele não tivesse responsabilidade nenhuma por nada do que está dando errado. O PT, que vai tão mal quanto Dilma, foi denunciado por “pensar só em cargos” e os petistas por não fazerem “nada de graça” — como se ele não cobrasse pelos serviços que presta aos empreiteiros. Culpou o ódio cada vez maior que existe contra o partido — como se ele não fosse o produtor número 1 do rancor na política brasileira. Acusou o governo Dilma de não fazer nada, com seu “legalismo”, para combater a ação da Justiça nas investigações de corrupção — e o que queria que fosse feito? Não existe a menor ligação disso tudo com a verdade dos fatos, é óbvio. Fica apenas uma soberba sem limites, hoje transformada num vício do qual Lula parece incapaz de se livrar.
Lula precisa fazer mais do que repetir a mesma missa. O fogo de Curitiba, com o correr do tempo e a coleta de provas, deveria estar cada vez mais longe dele. Está cada vez mais próximo.