quarta-feira, 29 de abril de 2015

Tudo o que o Brasil não precisa é de governantes com medo

Dilma tem uma dívida com a sociedade, e enquanto não saldá-la e pedir perdão por ela não poderá se permitir pedir paciência às pessoas
genildo

Equivoca-se quem aconselhou a presidenta Dilma a não falar em rede nacional no 1º. de Maio, Dia do Trabalhador, a exemplo do que ela vinha fazendo todos os anos. Trata-se de uma decisão que não combina com sua biografia de lutadora contra a ditadura e que, além disso, humilha os trabalhadores num momento que, mais do que em outras vezes, eles precisam, sim, ser protegidos contra o medo de perder suas conquistas.

Se há uma coisa da qual não necessita o Brasil de hoje, desencantado e preocupado com seu presente e seu futuro, é de ver seus governantes fugirem das vaias. Precisa vê-los firmes, seguros, capazes de enfrentar o protesto e de dar a cara a tapa.

Como mulher e como alguém que não recuou nas suas convicções juvenis na época em que militava nos grupos da guerrilha armada e enfrentou a prisão e a tortura, Dilma não deveria temer o ruído das vaias.

Se poucos meses depois de iniciado seu primeiro mandato, como primeira mulher à frente do país, ela teve a coragem de colocar oito ministros na rua, inclusive alguns herdados de seu tutor, o ex-presidente Lula, e foi aplaudida e elogiada como a uma presidenta com mais coragem que os homens na luta contra a corrupção, hoje não pode nem deve aparecer por medo de ser contestada.

No último Dia da Mulher, quando seu discurso ao país foi recebido com panelaços, aquela resposta foi mais a suas palavras do que à sua pessoa, que continua sendo tratada com respeito. Equivocou-se quem a aconselhou na ocasião a “pedir paciência” para uma sociedade irritada com o Governo por causa sua política econômica, considerada errada, e pela elevação do nível de corrupção política, da mesma forma como se equivocam agora aqueles que tentam escondê-la.

Dilma tem uma dívida com a sociedade, e enquanto não saldá-la e pedir perdão por ela não poderá se permitir pedir paciência às pessoas. Essa dívida é com os 54 milhões que lhe deram seu voto e sua confiança nas urnas depois de ela lhes pintar um país cor de rosa, sem crise econômica, e seus opositores como os verdugos que se propunham entregar a o país e suas conquistas sociais nas mãos dos ricos e dos banqueiros.

Enquanto a presidenta não reconhecer não que mentiu aos eleitores, como muitos pensam, mas que simplesmente errou e que hoje está se esforçando para reparar seus equívocos passados, esse medo de ser vaiada continuará sendo real.

No Brasil, governantes e políticos podem se atemorizar com a hipótese de reconhecer seus possíveis erros e tranquilizar os cidadãos de que estão dispostos a repará-los e a melhorar as coisas.

Não é assim, por exemplo, nos Estados Unidos, o país mais rico e poderoso do mundo, onde parece natural que o presidente Obama vá à televisão pedir desculpas por algum de seus erros táticos, seja na economia, no aspecto social ou até na política externa. Essa admissão de culpa não só não o diminui como também o fortalece.

O que o Brasil menos necessita hoje é ver seus governantes fugindo amedrontados de serem contestados por uma sociedade cada vez mais exigente, que aceita menos do que antes ser enganada.

Não é só Dilma, aliás, que hoje é vaiada em público. Seu vice, Michel Temer, acaba de ser vaiado em São Paulo, e o presidente do Congresso, Eduardo Cunha, é vaiado aonde quer que vá. E vaiado foi, dias atrás, Geraldo Alckmin, governador do mais populoso e mais rico Estado do país.

Cretinice à solta!




Dilma é a única liderança capaz de conduzir o governo neste momento, de tirar o governo dessa situação de inquietude para uma estabilidade
Edinho Silva, ministro da Comunicação

Do Dia do Trabalhador para o Dia do Empreiteiro

Triste mesmo foi a decisão da presidente Dilma de não se pronunciar por ocasião do Dia do Trabalhador, através de cadeia de rádio e televisão. Madame seguiu o conselho de pelo menos dez ministros, além do Lula. Todos entenderam que haveria reação por parte da população. No caso, mais um panelaço. Sendo assim, melhor esconder-se.

A gente pergunta o que acontecerá se a moda pegar. A presidente vai sumir a partir de agora, por medo de um bater de panelas? Governantes fujões sempre podem ser identificados, através da História, geralmente para evitar golpes e revoluções, até para salvar a própria vida. Mas para evitar uma democrática e ruidosa manifestação não há registro, pelo menos no Brasil. Vaias costumam ser rotineiras, entre nós. Haverá que conviver com expressões de descontentamento, para quem optou pela vida pública.

Tempo ainda há, no caso dois dias, para Dilma rever o vexame, apesar de já ter sido anunciado pelo ministério da Comunicação Social.

Outra indagação refere-se ao trabalhador, que, se começa a utilizar telefones celulares, só rarissimamente pode dar-se ao luxo de assinar a Internet. Assim, a mensagem que a presidente pretende divulgar pelas redes sociais não atingirá o alvo. Humilhados e ofendidos estão os milhões que vivem do salário mínimo. Também os assalariados que recebem pouco mais.

Quando se recorda estar no governo o Partido dos Trabalhadores, a conclusão é de não ser partido, muito menos dos trabalhadores.

Uma dúvida que fica refere-se aos conselheiros da omissão. Que ministros tenham sugerido à presidente ficar calada, senão justifica, explica-se: quiseram poupar-se dos respingos do panelaço. Agora, ter o Lula também se pronunciado pelo silêncio da sucessora, não dá para entender. Se não é, já foi trabalhador. Como torneiro-mecânico, quantas vezes celebrou o dia de seus companheiros? Como presidente da República, por oito anos, jamais deixou de dirigir-se à categoria. Estaria pensando em recomendar a Dilma discursar no Dia do Empreiteiro?


Questão de honra, não de humor

Uma sociedade moralmente sedentária

Li "O homem medíocre" pela primeira vez em 1999. Na época, o cetro do poder político brasileiro estava em outras mãos e a oposição de então apresentava-se como modelo das mais seráficas virtudes. Um capítulo do livro, em especial, chamou-me a atenção por parecer escrito para aquela realidade.

O autor, José Ingenieros, tratava, ali, da diferença entre a mera honestidade e a virtude, bem como da falsa honestidade daqueles que a exibem como troféu. “Em todos os tempos, a ditadura dos medíocres é inimiga do homem virtuoso. Prefere o honesto e o exibe como exemplo. Mas há nisso um erro ou mentira que cabe apontar. Honestidade não é virtude, ainda que não seja vício. A virtude se eleva sobre a moral corrente, implica uma certa aristocracia do coração, própria do talento moral. O virtuoso se empenha em busca da perfeição."

Com efeito, não fazer o mal é bem menos do que fazer todo o bem que se possa. Ser e proclamar-se honesto para consumo externo é moldar-se às expectativas da massa e isso fica muito aquém da verdadeira virtude. "Não há diferença entre o covarde que modera suas ações por medo do castigo e o cobiçoso que age em busca da recompensa", afirma o filósofo portenho enquanto sentencia sobre o homem medíocre: "Ele teme a opinião pública porque ela é a medida de todas as coisas, senhora de seus atos". Temia, filósofo Ingenieros, temia. O medíocre não mais teme a opinião pública porque a nação tolerou prostituir-se em troca de umas poucas moedas.

Não demorou muito, daquela minha leitura, para que as palavras de Ingenieros desnudassem a intimidade do novo círculo de poder que se instalara no país! Presentemente, após 12 anos disso, sempre em dose crescente, estou convencido, como nunca, de que jamais enfrentaremos de modo correto a degradação das práticas políticas brasileiras se não compreendermos o que é a virtude e como ela se expressa no plano pessoal e no plano institucional.

Há alguns anos, quando se discutia com disposição semelhante à de agora a conveniência e o conteúdo de uma reforma política, instalou-se na opinião pública ampla convergência quanto à indispensabilidade de ser criado preceito que impusesse a fidelidade partidária. "É preciso estabelecer a fidelidade partidária!", clamavam as vozes nas calçadas, em torno das mesas de bar, nas academias e nos salões do poder. Cansei de alertar, em sucessivos artigos, contra a falsa esperança que a nação depositava nesse instrumento de coerção. Tudo que se lia sobre o assunto passava a impressão de que a infidelidade partidária sintetizava nossos males políticos e era o coração ético de uma boa reforma. Por quê? Nunca entendi. Há coisas que se repetem sem explicação plausível.

Decorridos, já, sete anos de vigência do instituto da fidelidade partidária está demonstrado que ela em nada melhorou o padrão das relações institucionais entre o governo e o parlamento, nem a conduta dos agentes políticos nacionais.

É preciso distinguir, portanto, a virtude que se alcança por adesão voluntária a um determinado bem, da virtude intrínseca a modelos institucionais que inibem a conduta não virtuosa. A fidelidade será, sempre, um produto da vontade humana. O pérfido só renunciará a perfídia quando ela se mostrar inconveniente. O venal pode trocar de camiseta, mas só não terá preço se não houver negócio a ser feito. É por esse motivo que quando o STF proclamou a constitucionalidade da Lei da Ficha Lima, eu escrevi que estávamos trocando de fichas, ou de fraldas como diriam alguns, mas não estávamos acabando com a sujeira que, logo iria encardir outras tantas.

Por quê? Porque essa lei parece desconhecer que a corrupção tem causas em duas fragilidades, a da moralidade individual e a institucional. No plano das individualidades, só teremos pessoas virtuosas em maior número quando forem enfrentadas certas questões mais amplas, na ordem social.

Ou seja, quando:
· a virtude for socialmente reconhecida como um bem a ser buscado;
· escolas e universidades retomarem o espírito que lhes deu origem e levarem a sério sua missão de formação e informação e não cooptação;
· famílias e meios de comunicação compreenderem a relação existente entre o desvario das condutas instalado na vida pública e o estrago que vêm produzindo na formação da consciência moral e na vida privada dos indivíduos;
· o Estado deixar de ser fonte de privilégios;
· for vedada a filiação partidária dos servidores públicos;
· forem extintos os CCs na administração direta, indireta e Estatais;
· a sociedade observar com a atenção devida o método formativo e educacional das corporações militares;
· voltar a ser cultivado o amor à Pátria;
· a noção ideológica de "la pátria grande" for banida por inspirar alta traição;
· as Igrejas voltarem a reconhecer que sua missão salvadora nada tem a ver com sociedade do bem estar social, mas com sociedade comprometida com os valores que levam ao supremo Bem.

Não há virtude onde não há uma robusta adesão da vontade ao Bem. E isso não acontece por acaso. É uma busca que exige grande empenho.
Contudo, a democracia (governo de todos), não é necessariamente aristocracia (governo dos melhores). E será sempre tão sensível à demagogia quanto a aristocracia é sensível à oligarquia. Portanto, numa ordem democrática, como tanto a desejamos, é necessário estabelecer instituições que, na melhor hipótese, induzam os agentes políticos a comportamentos virtuosos ou, com expectativas mais modestas, inibam as condutas viciosas.

Ora, o modelo político brasileiro parece ter sido costurado para compor guarda-roupa de cabaré. Não há como frear a corrupção que se nutre num modelo institucional que a favorece tão eficientemente, seja na ponta das oportunidades, seja na ponta da impunidade, vale dizer, pela via das causas e pela via das consequências. Não estou falando de leis que a combatam, mas de um modelo político que a desestimule.

Como? Adotando procedimentos e preceitos comuns nas Forças Armadas. Libertando a administração pública dos arreios partidários, por exemplo. Ao entregar para o aparelhamento partidário a imensa máquina da administração (que a mais elementar prudência aconselharia afastar das ambições eleitorais), o Brasil amarra cachorro com linguiça e dá operosidades e dimensões de serraria industrial ao velho e solitário "toco".

"É politicamente inviável fazer isso no Brasil", estará pensando o leitor destas linhas em coro com a grande maioria dos que, entre nós, exercitam poder político. Eu sei, eu sei. Não sou ingênuo. Está tudo errado, mas não se mexe. As coisas são assim, por aqui.

Do mesmo modo como a fusão do Governo (necessariamente partidário e transitório) com a Administração (necessariamente técnica e neutra porque permanente no tempo) cria problemas e distorções de conduta, a fusão do Governo com o Estado (que, por ser de todos, não pode ter partido) faz coisa ainda pior no plano da política interna e externa. Desde a proclamação da República, todo governante trata de aparelhar o Estado e exercer influência sobre suas estruturas.

Por fim, quero lembrar que o relativismo moral veio para acabar com a moral. O novo totalitarismo elegeu como adversário os valores do Ocidente. Multidões, sem o perceber, tornaram-se moralmente sedentárias. Abandonaram os exercícios que moldam a consciência e fortalecem a vontade. Ao fim e ao cabo, em vez de uma sociedade onde os indivíduos orientam suas vidas segundo os conceitos que têm, constituímos uma sociedade onde os indivíduos conformam seus princípios e seus valores à vida que levam.

Gestão temerária


Avesso à fiscalização e alérgico à crítica, Gabrielli estabeleceu na Petrobras um novo paradigma administrativo: perdas diárias de R$ 17,4 milhões, em seis anos e sete meses

É recorde: R$ 17,4 milhões em perdas por dia, ou R$ 726,4 mil por hora, durante seis anos e sete meses seguidos.

Essa é a herança administrativa deixada por José Sérgio Gabrielli depois de 2.370 dias no comando da Petrobras.

Na semana passada, a companhia informou que seu patrimônio encolheu em R$ 47,4 bilhões, por desvalorização de ativos e cancelamento de projetos considerados inviáveis há pelo menos meia dúzia de anos.

Desse total, R$ 41,2 bilhões têm origem em iniciativas danosas ao patrimônio da estatal anunciadas na gestão de Gabrielli (a conta não inclui o custo do repasse da corrupção).

De cada real registrado como perda no balanço da empresa, 87 centavos correspondem a prejuízos produzidos sob a presidência de Gabrielli.

Puro desastre gerencial. O buraco cavado nas finanças da Petrobras é maior que a soma das vendas realizadas pelas redes de supermercados Carrefour e Walmart em 2013. Equivale à receita anual conjunta de três montadoras de veículos, a General Motors, a Mercedes Benz e a Honda. E supera em 15% o exuberante lucro somado do Bradesco e do Itaú no ano passado.

Ao aterrissar na diretoria financeira da Petrobras, na quinta-feira 22 de janeiro de 2003, Gabrielli tinha 53 anos e portava duas credenciais: professor de Economia e militante do Partido dos Trabalhadores na Bahia. Sua escolha ocorrera durante a montagem do governo Lula, quando atuou no mapeamento de cargos disponíveis em empresas e bancos públicos.

A companhia havia sido entregue ao ex-senador José Eduardo Dutra, geólogo, antigo dirigente da CUT que acabara de ser derrotado na disputa pelo governo de Sergipe. Dutra marcara data para sair, porque sonhava com o Senado na eleição seguinte (ele perdeu em 2006, de novo). No páreo da sucessão despontou Ildo Sauer, diretor de Gás e Energia, logo defenestrado pela ministra e presidente do conselho Dilma Rousseff. Em julho de 2005, Lula nomeou Gabrielli.

A Petrobras começara a concentrar gastos em plataformas, navios e sondas de perfuração, em contratos controlados por diretores indicados pelo PT e pelo PMDB. O novo presidente multiplicou dívidas com projetos em série, como as refinarias de Pernambuco, Ceará, Maranhão e o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro.

Com um estilo personalista (referia-se à empresa usando o pronome “eu”), Gabrielli alinhou a publicidade da estatal à propaganda do partido, exibindo-se na televisão com a estrela-símbolo do partido na lapela do paletó.

Alérgico à crítica, reagia com agressividade aos jornalistas que iam à Petrobras em busca de explicações sobre a partilha da estatal entre aliados do governo: “Você não é bem-vindo aqui.” Avesso à fiscalização, fez do sigilo uma rotina. Gracejou do Tribunal de Contas que lhe pediu as memórias dos custos de duas plataformas, enviando ao TCU uma montanha de papel — planilhas Excel impressas.

Metade da sua diretoria está no alvo de investigações por corrupção e lavagem de dinheiro no Brasil, nos EUA, na Holanda e na Suíça. Na semana passada, virou recordista em prejuízos na administração pública: sob o seu comando, as perdas patrimoniais cresceram à média de R$ 12,1 mil por minuto durante seis anos e sete meses. Estabeleceu um novo paradigma em gestão temerária.

José Casado

Maricá resolve (?) questão indígena

Dançando com as ratazanas políticas
Desde o início do primeiro mandato, em 2009, o governo petista de Maricá tentava resolver um problema crucial para o município em direitos humanos e turismo: não havia índios em Maricá. Impensável que em local de tanta importância histórica nacional não houvesse unzinho a quem o governo pudesse servir em defesa de seus direitos e ainda lucrar em propaganda como atração turística.

O insigne sociólogo Quaquá, em estando prefeito, como era de se esperar, encontrou a "solucionática" para o problema com a expulsão de um grupo indígena de Camboinhas, nas proximidades. Importaram-se os indígenas com toda a pompa devida no cumprimento petista de mais um caso de direitos humanos. Com os índios, também se criava um polo turístico! Como se tratar gente como atração, em local improvisado, para inglês ver, não fosse um descaso com os próprios direitos humanos.

Há seis anos, depois de peregrinar por um cantinho aqui e outro acolá, o grupo foi instalado numa área do Parque Estadual da Serra da Tiririca, onde no fim de semana houve uma festança com dinheiro público para saudar o prefeito e a mulher, agora deputada estadual. Foi uma avant-premiére para a grande festa que Quaquá pretende promover no próximo ano com representantes de todas as tribos brasileiras, quiçá internacionais, em um novo espaço. Afinal, nas palavras oficiais "a presença indígena enriquece o município (sic)".

Mas seria muito pouco enriquecimento para a tão brilhante inteligência do presidente do PT fluminense. Apesar de já contar a aldeia com ocas, Casa de Reza e um módulo educacional com isolamento térmico-acústico e ar-condicionado - instalação única no ensino municipal -, Quaquá ainda amplia o desenvolvimento indígena na região. Disposto a dar exemplo ao país, onde ainda muito se briga por questões de terras indígenas, o insigne sociólogo mais uma vez sai na frente na solução dos problemas nacionais. Maricá vai comprar uma grande área para abrigar a aldeia e continuar a incentivar o turismo indígena. É a primazia de um projeto único no país em que índio virou sinônimo de atração e suporte eleitoreiro. Não mais ganha bugigangas e espelhinhos, mas terras compradas (que beneficiados seriam?) com o dinheiro público.


* Sobre a aldeia, e as condições dos indígenas, recomenda-se a reportagem de O Dia, publicada em janeiro, mas que infelizmente teve o vídeo retirado

Discutir impeachment não é golpe nem desrespeito às instituições

O impeachment é um instrumento de defesa do regime democrático. Faz parte da nossa Constituição. Sua discussão, ou até mesmo sua propositura, desde que bem fundamentada, não é nenhum golpe ou desrespeito às instituições democráticas. Ao contrário: pode até ser um dever cívico contra um governante que prevarica no seu dever.

No regime presidencialista (embora hoje, na prática, estejamos vivendo em um regime parlamentarista...), o impeachment é um ato pelo qual se destitui, por deliberação do Legislativo, o ocupante de cargo governamental que pratica crime de responsabilidade. O ex-presidente Fernando Collor de Mello foi objeto dele. Aliás, foi o primeiro da nossa história. O que enfim fortaleceu a tese defendida pela oposição – na qual, sobretudo, se destacava, na época, a bandeira do bravo PT – foi uma Elba – um veículo popular que se tornou o elo entre ele e seu tesoureiro. O remédio nem precisava ser ministrado pelo Congresso, pois, antes dele, houve a renúncia. E Collor, depois (durma-se com um barulho desses!), foi inocentado, no Supremo Tribunal Federal (STF), do crime pelo qual foi acusado. Só que, nessa altura, “Inês já era morta”...


Os petistas, numa época em que eram opositores ferrenhos, fartaram-se de falar nele. As estatísticas estão aí para quem quiser conferir: contra o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, propuseram o impeachment 14 vezes. Em compensação, contra o ex-presidente Lula, seus adversários propuseram 34; e, contra a presidente Dilma, 17. Os pedidos foram todos recusados. Em alguns deles, pela ausência de legalidade e/ou legitimidade, os motivos apresentados chegaram a ser ridículos.

A corrupção não começou com os governos do PT. Ela é “velha como a sé de Braga”, tanto no setor público quanto no privado. Mas hoje, com certeza, é muito mais grave, além de envolver muito mais dinheiro. Esse montante, absurdo, é que a torna mais intolerável ainda. O que falta, então, à propositura do duro remédio é uma prova contra a presidente. Um elo que a ligue aos malfeitores. É a prova – só ela – que definirá se haverá ou não impedimento da presidente. Logo, é bom lembrar que “prudência e caldo de galinha não fazem mal a ninguém”.

Por outro lado, defender ou falar em intervenção militar em nosso país (como lamentavelmente tem ocorrido), se não é equívoco, é má intenção. Essa defesa advém, sem nenhuma dúvida, de pequena parcela da sociedade. E isso, infelizmente, só faz crescer a preocupação dos que defendem a liberdade neste país. Pedir intervenção dos militares é desprezar o presente e dar adeus ao futuro, além de homenagear um trágico passado que, pela vontade esmagadora da maioria do povo brasileiro, exposta recentemente nas ruas de todo o país, não voltará. E não voltará, além de tudo, porque hoje os militares brasileiros estão mais do que conscientes de que essa não é mais (se é que algum dia foi) a sua função. Como disse Cora Rónai, em sua crônica em “O Globo” sobre as manifestações do dia 12 de abril, “os idiotas e desmemoriados que pedem intervenção militar estão apenas contaminando as passeatas”.

Enfim, o que tiver de ser, será. Ninguém segura mais o trabalho da Polícia Federal e do Ministério Público Federal. Está com razão, portanto, o ex-presidente Fernando Henrique quando afirma que não faz sentido um partido pedir impeachment antes de um fato concreto: “Impeachment não pode ser tese. Ou houve razão objetiva, ou não”. 

Nem só lá!

Em Espanha, o mérito não se premia. Se premia o roubo e a falta de vergonha. Na Espanha, se premia todo o mal 
Ramón María del Valle-Inclán (1866-1936)

Roubar, só na medida certa

Para quem ainda tinha alguma dúvida sobre a honestidade do governo do PT, alguém que sabe o que está falando esclareceu o assunto: "A gente não acha que o PT inventou a corrupção, mas roubaram demais. Exageraram". É o que garante um dos principais aliados do PT, o presidente nacional do PDT, Carlos Lupi, que foi ministro do Trabalho de Lula e por indicação deste permaneceu à frente da pasta no início do primeiro mandato de Dilma, até ser forçado a demitir-se pela "faxina" que atingiu vários outros ministros sob suspeita da prática de "irregularidades". As declarações de Lupi foram gravadas durante encontro com correligionários na última quinta-feira, em São Paulo, e confirmadas ao Estado pelo próprio. Não obstante, o presidente do PT, Rui Falcão, declarou na segunda-feira que Lupi desmentiu essas declarações, alegando que "foram pinçadas" fora do contexto. E o líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), reagiu acusando Lupi de ser "boquirroto".

A declaração de Lupi, na verdade, não revela segredo nenhum, mas é alarmante pela falta de pudor que demonstra. Das palavras do ex-ministro do Trabalho a seus liderados, pode-se inferir que roubar até que pode, desde que não se roube "demais", com exagero. É mais um exemplo cínico da relativização dos valores éticos que passou a predominar ostensivamente na cena política a partir da chegada do lulopetismo ao poder.

Como não podem contestar o fato de que estão envolvidos até o pescoço no assalto aos cofres públicos, os petistas argumentam em defesa própria que seus antecessores, em governos federais e estaduais, também são alvos de acusações de corrupção. Invertem o senso comum, querem fazer crer que um erro justifica outro. Invertem também a proposta original de serem "um partido diferente", para se eximir de culpas sob o argumento de que o PT "faz apenas o que os outros também fazem". A mais recente manifestação nesse sentido coube ao ministro das Comunicações, Ricardo Berzoini, em entrevista ao Estado publicada no domingo.

Respondendo a perguntas sobre o escândalo do petrolão, Berzoini, que priva da intimidade tanto de Lula como de Dilma, insinuou que o PT é perseguido pela mídia, pela PF e pelo Ministério Público: "As notícias existem, não há invenções. Mas há, evidentemente, uma seletividade da divulgação ou uma seletividade na investigação". E acrescentou: "O curioso é que ninguém se pergunta: será que isso acontece só na Petrobrás? Será que grandes estatais estaduais de governos de outros partidos não estiveram envolvidas também nisso? Será que não cabe um paralelo entre o que aconteceu no Metrô de São Paulo, o que aconteceu no governo de Minas em anos anteriores?". Cabe, então, perguntar ainda: caso as investigações em curso venham a comprovar corrupção no Metrô de São Paulo ou no governo de Minas, isso eximirá ou diminuirá a responsabilidade do governo do PT pelo assalto de mais de R$ 6 bilhões aos cofres da Petrobrás? Definitivamente, um erro não justifica outro.

Enquanto isso, Lula continua agindo como se não tivesse nada a ver com a corrupção no governo, cuja existência chega a negar em ocasiões e ambientes propícios. Muito bem protegido em espaços blindados contra vaias e preocupado em vender saúde com exibições de halterofilismo, Lula prefere cuidar de sua escancarada ambição de voltar à Presidência da República em 2018, exercitando sua conhecida habilidade de dizer o que as pessoas querem ouvir. Falando a correligionários reunidos no 3.º Congresso de Direções Zonais do PT-SP, na sexta-feira em São Paulo, Lula reiterou o mantra de que o governo precisa se dedicar a uma "agenda positiva": "Nós temos de dizer em alto e bom som para a companheira Dilma ouvir (...) que nós precisamos começar a dizer o que nós vamos fazer neste segundo mandato". Faz sentido, já que aquilo que prometeu na campanha Dilma renegou até mesmo antes da posse.

Abusando da imodéstia, Lula proclamou em tom triunfante: "Se Dilma fracassar é o PT quem fracassa (...) e eu não vim ao mundo para fracassar". Como diria Carlos Lupi: menos, Lula!