Dilma tem uma dívida com a sociedade, e enquanto não saldá-la e pedir perdão por ela não poderá se permitir pedir paciência às pessoas
Se há uma coisa da qual não necessita o Brasil de hoje, desencantado e preocupado com seu presente e seu futuro, é de ver seus governantes fugirem das vaias. Precisa vê-los firmes, seguros, capazes de enfrentar o protesto e de dar a cara a tapa.
Como mulher e como alguém que não recuou nas suas convicções juvenis na época em que militava nos grupos da guerrilha armada e enfrentou a prisão e a tortura, Dilma não deveria temer o ruído das vaias.
Se poucos meses depois de iniciado seu primeiro mandato, como primeira mulher à frente do país, ela teve a coragem de colocar oito ministros na rua, inclusive alguns herdados de seu tutor, o ex-presidente Lula, e foi aplaudida e elogiada como a uma presidenta com mais coragem que os homens na luta contra a corrupção, hoje não pode nem deve aparecer por medo de ser contestada.
No último Dia da Mulher, quando seu discurso ao país foi recebido com panelaços, aquela resposta foi mais a suas palavras do que à sua pessoa, que continua sendo tratada com respeito. Equivocou-se quem a aconselhou na ocasião a “pedir paciência” para uma sociedade irritada com o Governo por causa sua política econômica, considerada errada, e pela elevação do nível de corrupção política, da mesma forma como se equivocam agora aqueles que tentam escondê-la.
Dilma tem uma dívida com a sociedade, e enquanto não saldá-la e pedir perdão por ela não poderá se permitir pedir paciência às pessoas. Essa dívida é com os 54 milhões que lhe deram seu voto e sua confiança nas urnas depois de ela lhes pintar um país cor de rosa, sem crise econômica, e seus opositores como os verdugos que se propunham entregar a o país e suas conquistas sociais nas mãos dos ricos e dos banqueiros.
Enquanto a presidenta não reconhecer não que mentiu aos eleitores, como muitos pensam, mas que simplesmente errou e que hoje está se esforçando para reparar seus equívocos passados, esse medo de ser vaiada continuará sendo real.
No Brasil, governantes e políticos podem se atemorizar com a hipótese de reconhecer seus possíveis erros e tranquilizar os cidadãos de que estão dispostos a repará-los e a melhorar as coisas.
Não é assim, por exemplo, nos Estados Unidos, o país mais rico e poderoso do mundo, onde parece natural que o presidente Obama vá à televisão pedir desculpas por algum de seus erros táticos, seja na economia, no aspecto social ou até na política externa. Essa admissão de culpa não só não o diminui como também o fortalece.
O que o Brasil menos necessita hoje é ver seus governantes fugindo amedrontados de serem contestados por uma sociedade cada vez mais exigente, que aceita menos do que antes ser enganada.
Não é só Dilma, aliás, que hoje é vaiada em público. Seu vice, Michel Temer, acaba de ser vaiado em São Paulo, e o presidente do Congresso, Eduardo Cunha, é vaiado aonde quer que vá. E vaiado foi, dias atrás, Geraldo Alckmin, governador do mais populoso e mais rico Estado do país.
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