domingo, 3 de maio de 2015

Melhor chorar juntos do que rir sozinhos

A emblemática história da minha planta doente de solidão, que dedico aos professores do Paraná, vítimas da brutal violência policial

Em meio a tanto desencanto e cisão política, vou contar a vocês a história emblemática de uma planta do meu pequeno jardim que só começou a crescer e dar flores 10 anos depois de plantada. Descobri, finalmente, que ela sofria de solidão. E sua solidão me levou a pensar naquela das grandes e blindadas cidades de cimento.

Dedico a história a meus pais, Guillermo e Josefa, professores rurais na época da ditadura militar franquista na Espanha. Com eles – a quem devo ter conseguido sair da pobreza material e intelectual porque me ensinaram a amar a leitura e a escrita – , quero abraçar os professores brasileiros vítimas da brutal violência policial, ainda mais grave por ocorrer em um país e em um regime de democracia e de liberdade de expressão, algo de que meus pais não puderam desfrutar.

Na minha infância, por exemplo, meu pai foi punido pelo regime da ditadura porque nós, alunos, filhos de camponeses quase todos analfabetos, “fazíamos perguntas demais” quando deixávamos sua escola. E nas ditaduras se obedece, não se discute nem se questiona.

Minha planta é uma ixora vermelha que vivia triste. Não crescia nem florescia. Cada vez que eu a regava me irritava com ela porque parecia ser uma dessas crianças que têm medo de se tornar adultas.

Cada vez que uma planta minha morre, tenho como costume substituí-la por outra. Não suporto plantas secas. Me entristecem. Assim como também não consigo arrancá-las enquanto perceba nelas um pequeno sinal de vida. Respeito-as, mesmo que não cresçam nem floresçam. Isso também aprendi com meus pais, que às vezes, em vez de usar a escola, nos davam aulas no meio do campo, entre trigais, pomares e córregos. Ali, aos cinco anos, já sabíamos o que era uma metamorfose.

 Minha ixora não queria crescer, mas continuava viva. Por isso não a arrancava. Até que uma manhã percebi que algo havia mudado nela: suas flores começavam a despontar ao lado de brotos de folhas novas. Foi tudo muito rápido. Não entendi sua metamorfose e procurava, curioso, uma explicação.

Samuel, que me ajuda a manter meu pequeno jardim e que, há 10 anos, plantou aquela ixora que não crescia e que eu não o deixava arrancar, me deu uma luz.

Ele me lembrou que ao lado dela tínhamos acabado de plantar, uma semana antes, quatro mudas da mesma espécie daquela que se negava a crescer, para substituir vários hibiscos que tinham morrido, vítimas de uma praga de pulgões. “Pode ser que agora ela sinta que tem companhia e por isso começou a crescer”, disse-me Samuel, com seu conhecimento vegetal adquirido depois de ter trabalhado anos em uma grande fazenda.

Temos inúmeros estudos, desde a Antiguidade, sobre as vantagens e desvantagens da solidão, mas o certo é que as crianças, antes de serem contagiadas pela filosofia, adoram ter companhia. Odeiam a solidão. E isso os pais em casa e os professores nas salas de aula sabem muito bem.

Sabemos muito pouco sobre o que pulsa em nosso interior e sabemos menos ainda do que se aninha no coração e na mente dos animais. Tratamos deles como iguais com uma ponta de orgulho ao nos sentirmos mais inteligentes que eles, apesar de às vezes nos assaltar a dúvida de que os verdadeiros animais, neste sentido pejorativo que aplicamos, sejamos nós mesmos, com nossa carga de violência gratuita e nossa capacidade de criar genocídios. Há quem tenha qualificado como animais os policiais que, dias atrás, feriram mais de 200 professores em Curitiba.

Quantas vezes sentimos a tentação de exclamar: “Prefiro eles às pessoas!”, referindo-nos a nossos animais mais próximos.

E as plantas? Faz muito pouco tempo que se começou a estudar cientificamente o que elas sentem. Estuda-se se é verdade que reagem a tudo o que nos agrada ou nos perturba, como o barulho, o silêncio, a música, a palavra, a violência e a solidão. Somos três cosmos: humanos, animais e plantas ainda sem se conhecerem totalmente. Será que somos mesmo tão diferentes?


Nada nunca poderá substituir o olhar amoroso, o estímulo para aprender e o esforço pela superação, como oferecem os professores de carne e osso

Ao escrever para meu punhado de leitores a pequena história da minha ixora doente de solidão, me senti, de repente, transportado a essas colmeias humanas das grandes cidades, onde as pessoas, blindadas em paredes de cimento, alarmes e seguranças, têm medo de conversar com aqueles que passam a seu lado na rua, ao vê-los como potenciais assaltantes, sobretudo se são negros ou pardos.

Há anos, um sociólogo italiano me disse que para nos sentirmos sem angústias e não sofrermos de solidão deveríamos conhecer, pelo menos pessoalmente e para podermos cumprimentar em nosso bairro, umas 300 pessoas.

Com quantas conversa, sorri, dá bom dia ou para na rua ou no ônibus para trocar quatro palavras o cidadão das grandes cidades cada dia mais sitiadas?

Essa angústia da solidão que assombra o homem moderno é paradoxalmente menos sentida nas favelas e nas periferias pobres das cidades que cercam a solidão dos urbanos ricos. Nelas existe violência e pobreza, mas não solidão, porque a dureza da vida os torna mais solidários e mais próximos.

Eles sabem misturar suas lágrimas. Chorar juntos é sempre melhor do que rir sozinhos.

Minha planta, com companhia, ressuscitou. Talvez por isso nós, urbanos, doentes como ela de solidão física, precisemos nos agarrar tanto ao mundo virtual para nos sentirmos menos sozinhos.

Esse mundo virtual também está transformando nossas crianças e revolucionando o ensino. E ninguém será capaz de deter os avanços da ciência e da tecnologia.

No entanto, nada nunca poderá substituir o olhar amoroso, o estímulo para aprender e o esforço pela superação, como oferecem os professores de carne e osso.

Em seus momentos de solidão e angústia, um menino ou uma menina nunca poderão ser abraçados e consolados por um tablete ou um iPhone, nem derramar sobre eles as suas lágrimas. Isso só a dedicação e a confiança cúmplice e amorosa de um professor ou professora são capazes de fazer.

Eles – quase sempre injustamente mal remunerados, como também eram meus pais – merecem nosso carinho e admiração. Uma coisa é certa: sem eles, menos ou mais competentes, seríamos todos muito piores do que somos. Eles ainda são nossos anjos insubstituíveis.

Vermelho x Verde-amarelo


No espectro partidário, a cor vermelha é associada ao PT e aos satélites que o circundam: CUT, MST, MTS etc. Com um destaque: a estrela vermelha de cinco pontas é o carro chefe da estética petista. Maior símbolo do comunismo, seu significado abriga a representação dos dedos do trabalhador e, ainda, os cinco continentes do mundo que “poderiam” ser avermelhados. Marx e Engels usavam a estrela vermelha como símbolo do comunismo, enquanto a então União Soviética a adotou, ao lado da foice e do martelo, como representação do partido comunista.

Fundado em 1980, o PT repudiou, no primeiro momento, a social democracia e sua cor, considerando-a inepta para vencer o “capitalismo imperialista”. Lula esbanjava carisma e podia se dar ao luxo de dizer qualquer coisa, mesmo maltratando a língua portuguesa. Ganhava manchetes e açodava adversários. O Partido dos Trabalhadores passou bom tempo, mesmo após a queda do Muro de Berlim e o desmoronamento do edifício comunista, cultivando a velha utopia, até aceitar, não sem resistências internas, a realidade imposta por novos paradigmas.

O mundo deu uma guinada ideológica, integrando escopos do reformismo democrático, do realismo econômico e dos avanços do capitalismo. Sob esse pano de fundo, o PT produziu, em junho de 2002, a “Carta ao Povo Brasileiro”, peça-chave para a vitória de Lula, pavimentando, assim, sua entrada no território social democrata.

O documento foi decisivo no processo de descarte de dogmas que não resistiram aos ventos da modernidade. A revolução marxista permanece viva apenas no campo da literatura. O socialismo utópico evaporou-se nos ares da abstração. As ideologias cederam lugar aos ismos da atualidade: pragmatismo, capitalismo (mesmo sob um Estado controlador), liberalismo social, democracia direta. Os modelos alternativos, de economias assentadas na solidariedade, deram lugar a programas reformistas, voltados para atender a demandas pontuais e urgentes. As autonomias nacionais passam a se impregnar de ares globalizados. O crescimento desordenado e a qualquer preço é, hoje, balizado por metas de inflação. Os programas de privatização, tão combatidos pelo PT, hoje integram sua pauta de prioridades.

O nacionalismo, bandeira recorrente na América Latina, abriu espaço para ingresso de capitais internacionais. Gastos a fundo perdido são, agora, regrados por normas de responsabilidade fiscal.

Sob essa moldura, emerge o paradoxo: o PT, erguido sob a bandeira vermelha e ostentando a estrela de cinco pontas- comercializada em suas lojinhas como broches e abotoaduras -, continua a pregar a luta de classes e a fomentar a divisão do Brasil. Os espaços são por ele marcados: “Nós e Eles”. Paramentado com as vestes da modernidade e circulando para cima e para baixo em avançados meios de transportes (vale lembrar José Mujica, ex-presidente do Uruguai dirigindo um velho fusca azul em seu sítio nos arredores de Montevidéu), Lula continua a disparar sua metralhadora verbal contra as elites, ameaçando colocar o “exército de Stédile” nas ruas para defender o “socialismo do PT”. Qual é a estratégia de Luiz Inácio? Dar estocadas, na crença de que a melhor defesa é o ataque.

Nesse ponto, vale fazer a indagação das ruas? Qual é a do Lula? Exibe disposição e cuidado com a saúde, mostrando os músculos numa academia de esportes; dá dicas para a presidente Dilma; mantém-se afastado da polêmica em torno do maior escândalo ocorrido no país, cujo epicentro envolve o partido da estrela vermelha; faz reuniões com as cúpulas partidárias e, amiúde, jorra os pronomes: “nós e eles”. Urge reconhecer os benefícios que o ex-metalúrgico, na condição de presidente da República, fez ao país, com o amplo programa de redistribuição de renda, cujo resultado foi a inserção de 30 milhões de brasileiros na classe C. Mas o colchão social do lulismo não pode encobrir a maldade que o ex-presidente perpetra ao continuar instigando a animosidade social.

Até parece que ele se esforça para forjar um appartheid. O ódio destilado contra os petistas e os impropérios que estes expressam contra adversários têm muito a ver com o dicionário de Lula. A estética urbana se veste da cor verde-amarelo para enfrentar os grupos que ostentam a cor vermelha. A querela cromática se estende por todas as regiões e as inevitáveis associações agitam os sistemas cognitivos. De um lado, uma cor conotando “a revolução socialista”, às vezes sob o império da desordem e da devastação de patrimônios; de outro lado, outra cor apontando para o civismo pátrio.

O instinto de Lula, é o que se infere, já não é tão apurado. Será que ele não enxerga o crescimento da onda contra o PT e seu cromatismo? Alimentar a polaridade entre petistas e os outros é apressar o declínio de um partido que foi criado para resgatar a esperança. Lula, lá? Difícil imaginar Lula voltando ao Planalto Central. Lula, cá, no seu sítio Los Fubangos, comendo coelho, é algo mais provável. "Não cruzarás o mesmo rio duas vezes, porque outras são as águas que correm; nem o rio é o mesmo rio, nem o homem é o mesmo homem”, diz Heráclito de Éfeso.

O último a sair


Desde os longínquos anos oitenta do século passado, quando perigava do Lula ganhar as eleições presidenciais, a direita brasileira ameaça deixar o país. Segundo apregoava o então presidente da Fiesp, Mario Amato, em caso de uma vitória petista, 800 mil empresários picariam a mula: "O último a sair, por favor, apague a luz do aeroporto", teria dito.

Neste segundo mandato de Dilma Rousseff, o projeto da diá$pora voltou com tudo. Pelo que leio e ouço por aí, tem mais rico brasileiro se mudando pra Miami, hoje, do que turista japonês tirando foto da Mona Lisa no Louvre.

Acho curioso. Se alguém deveria estar contente com o estado das coisas, é a direita. Os índices de aprovação da presidente são os mais baixos da história, o Congresso quer rever o Estatuto do Desarmamento e diminuir a maioridade penal, já disse que não vai tocar no tema do aborto e tenta retroceder nas conquistas LGBT, Bolsonaro & Feliciano fazem mais sucesso do que Chitãozinho & Xororó e a PM que desce o sarrafo em professores e mata criança com tiro de fuzil é aplaudida em passeatas "ordeiras" e "pacíficas". Se eu fosse de direita, não estaria pensando em fugir pra Miami, mas em construir uma Disney lá pros lados de Barueri.

Quem tem motivo para se arrastar por aí chutando tampinha e rosnando pra lua somos nós, companheiros, que colamos o adesivo "oPTei" em nossos Chevettes, lá por 1987, nós que cantamos o "Lula Lá" como se fosse um "Abre-te, Sésamo!" para Shangri-La, achando que o PT iria levar pão, poesia, matemática e tomografia para cada brasileiro. Que tristeza: apostamos num partido fundado por Sérgio Buarque de Holanda e Chico Mendes para fazer "dessa vergonha, uma nação", como cantou Caetano Veloso, e, hoje, nossa expectativa mais otimista são alguns quilômetros de ciclovia.

É preciso reagir, meus caros. É preciso tirar da direita as rédeas da história. É preciso dar um passo à frente e dizer: péra lá, não são vocês que vão embora, com seus jacarezinhos no peito e Rolex no pulso, somos nós, com nossas pochetes na cintura e barbas por fazer! Chega de tentar tirar o gigante adormecido do seu berço esplêndido. (Aliás, um gigante de 500 anos que ainda dorme em berço, já era para termos nos tocado, tem algum problema bem sério). Chega de querer construir um país do zero: nos mudemos, de mala e cuia, para um que já esteja pronto.

Para onde vamos? Pra Miami? Evidente que não. Vamos para outra cidade onde a língua também é o espanhol, mas num país cujo governo é –verdadeiramente– de esquerda, a maconha é liberada, o vinho é de primeira, a carne é estupenda e o maior defeito, ao que parece, é fazer fronteira com o Brasil. Estou falando, claro, do Uruguai.

Se o Haddad perseverar e o MP parar de encher o saco, talvez consigamos ir de bicicleta até o porto de Santos, de onde seguiremos, em comboio, de pedalinho, rumo ao Éden cisplatino. Às margens do Prata, fundaremos a nova Colônia Cecília, requereremos nacionalidade uruguaia, e, ao recebê-la, sob o radioso sol de nossa alviceleste bandeira, brindaremos com tannat, simultaneamente, duas tão sonhadas conquistas: um país justo e a Copa de 50.

O último a sair, por favor, acenda o baseado.

Antonio Prata

Afinal, CNBB, quem põe em risco a ordem democrática?

Não há nenhum indício de algum ato que possa justificar qualquer denúncia contra a presidente da República
D. Damasceno, então presidente da CNBB, e cardeal arcebispo de Aparecida (SP), 12/03/2015
   Existem normas, regras, para um pedido oficial de impeachment. Creio que não chegamos a esse nível
D. Leonardo, secretário geral da CNBB, 12/03/2015

"A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB, reunida em sua 53ª Assembleia Geral, em Aparecida-SP, no período de 15 a 24 de abril de 2015, avaliou, com apreensão, a realidade brasileira, marcada pela profunda e prolongada crise que ameaça as conquistas, a partir da Constituição Cidadã de 1988, e coloca em risco a ordem democrática do País." Palavras iniciais da Nota da CNBB Sobre o Momento Nacional, divulgada no encerramento da Assembleia.

Já mencionei que, como leigo, não tenho dever de acolhimento ou reverência às posições políticas dos senhores bispos. Nas democracias, a política é terreno de contraditórios, antagonismos, diversidade de opiniões. Quem assume posição política não pode, após ser imprudente, erguer o báculo cobrando dos fieis prudência e zelo pela autoridade religiosa que não soube preservar. A CNBB entrou no jogo e foi falar com Dilma. Espontaneamente, disse não ver motivo para impeachment. Certificou à mídia não existir "nenhum indício de algum ato" que possa justificar denúncia contra a presidente (uma certeza que não é compartilhada por muitos no mundo jurídico, por muitos mais no mundo político e por 63% dos brasileiros).

Tais afirmações podem e devem ser contestadas. O que as motiva pode e deve ser objeto de reflexão. Mormente se, no momento seguinte, a CNBB desencadeia campanha de apoio ao projeto de reforma política do PT.

Após tantas adesões, ora veladas ora explícitas à pauta petista, a questão que proponho à reflexão dos leitores, é a seguinte: quem ou o que estaria pondo em risco, na opinião da CNBB, a ordem democrática no Brasil? Formulo a pergunta porque essa conversa sinuosa, melíflua, esse dizer sem ter dito, esse verdadeiro arremedo de nota oficial, pode ser ofensivo se dirigido aos milhões de brasileiros que saíram às ruas pedindo impeachment e exigindo das instituições, civicamente, que cumpram seu dever. E é um primor de circunlóquio, em relação ao alvo para onde deveria apontar: a pessoa da presidente e seu envergonhado governo, enclausurado nas próprias trampolinagens contábeis, mentiras, irresponsabilidades, más companhias e péssimos exemplos, seus black blocs, os exércitos de Stédile, e os incendiários divisionismos de Lula. Afirmar, como D. Damasceno, que "os ânimos se exacerbaram durante a campanha política de 2014" e que "a tensão continua" é dar um torcicolo nos acontecimentos. É fazer coro ao PT quando denuncia um suposto "terceiro turno". É uma pirueta retórica sobre a tensão política que se instalou no país. A vítima, aqui, senhores, é a nação, indignada mas ordeira, que não precisaria estar passando pela crise moral, econômica, fiscal, política, de credibilidade e de inteligência com cujas consequências se defronta. Tudo sob um governo que terceirizou suas atividades essenciais porque não as sabe cumprir.

Percival Puggina 
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O Outono do PT

Temos que reconhecer: chegamos ao fim de uma era. O PT vive seu outono. Melhor voltar para o pátio da fábrica onde nasceu e de onde nunca deveria ter saído.

Há que se ter uma certa grandeza, mesmo no pecado (o desejo de poder é o pecado máximo de toda a política, e o PT se revelou incapaz até de pecar com elegância).
Este outono do PT não se deve apenas às manifestações contra seu governo. Essas manifestações, diferentes das patrocinadas pelo "PT e Associados", manifestações com todos os tiques de política de cabresto e mazelas sindicalistas (passeata chapa branca), trazem algo de novo para o cenário, que deixa o "PT e Associados" em pânico.

A tendência é a elevação da violência por parte da militância.

O Brasil perdeu o medo do PT e da esquerdinha pseudo. As pessoas descobriram que o mal-estar com essa turminha não é coisa de "gente do mal" (não é coisa de gente do mal, é coisa de gente bem informada), como a turminha pseudo diz, mas sim que somaram 2 + 2 e deu 4: o PT é incompetente para governar. Afundou quase tudo em que tocou, seja municipal, estadual ou federal (e a Petrobras). Mas essa morte do PT significa mais do que o fim de um partido que será esquecido em cem anos.

O fim do PT significa que o ciclo pós-ditadura se fechou.

No momento pós-ditadura, a esquerda detinha a reserva de virtude política e moral, assim como de toda a crítica política e social. Ainda que a história já tivesse provado que todos os regimes de esquerda quebram a economia (como o PT quebrou a nossa) ou destroem a democracia (como os setores mais militantes do partido gostariam de fazê-lo).

Vide o caso mais recente e mais próximo, a Venezuela: economia destruída (e com petróleo!) e democracia encerrada de uma vez por todas. Como será que nossa diplomacia, ridícula como quase tudo que o governo do PT toca, reagirá ao fato de ele, Maduro, ter se dado plenos poderes para matar e torturar em nome do socialismo?

Resta pouco espaço para o governo. A tendência é que a presidente fale apenas a portas fechadas para plateias seletas por medo de tomar mais uma panelada. Com a economia em frangalhos, fica difícil para a presidente enterrar o petrolão em consumo, como seu antecessor o fez durante o escândalo do mensalão.

Quando as pessoas estão felizes comprando é fácil fazer vista grossa à corrupção.

Quando o bolso esvazia, o saco fica cheio.

Dizer que a corrupção da Petrobras nada tem a ver com o partido
no poder é piada.

A ganância do novo rico (o PT) aqui mostra seus dentes: querendo enriquecer rápido, meteu os pés pelas mãos e com isso sacrificou a imagem de redentor que o partido tinha para grande parte da classe média. Ele ainda detém o controle de parte da população mais pobre (como a Arena no final da ditadura), mas logo perderá esse trunfo.

É verdade que ainda muitos professores, estudantes, artistas, jornalistas e intelectuais permanecem sob a esfera de influência da "estrela mentirosa". Mas isso também vai passar na hora em que muitos deles perderem o medo de serem chamados de "reacionários". Reacionário hoje é quem se fecha ao fato de que a história andou e as pessoas já não têm mais medo do PT e da sua turminha.

Infelizmente, o governo, diante da história que arromba a porta, parece um grupo de náufragos num barquinho, fugindo da traição que perpetrou, xingando a água, dizendo que as ondas são fascistas e que a tempestade é mal-intencionada.

Não, quem discorda hoje do governo federal não é gente "fascista", é gente que viu que o projeto do PT para o Brasil acabou. É gente educada, bem preparada, autônoma e que está de saco cheio do tatibitate do PT. Sem líderes significativos, sem propostas que criem a credibilidade necessária para sair da lama, a melhor coisa que o PT pode fazer é pedir licença e sair de cena.

Não acho que haja justificativa (ainda) para o impeachment, e devemos preservar as instituições. Mas a água passa debaixo da ponte. Quatro anos é tempo bastante para se afogar na vergonha. E, aí, a humildade será mesmo essencial, não?

Sim, mas o PT é pura empáfia.

Funciona a dinheiro dos outros

 
O socialismo só dura enquanto dura o dinheiro dos outros
Margareth Thatcher 

O sigilo dos petrocomissários

O repórter Fábio Fabrini revelou que a Petrobras destruiu os vídeos onde estavam gravadas as discussões de seu Conselho de Administração. Para uma empresa que está coberta por uma névoa de suspeitas, não poderia haver notícia pior. O comissariado informa que essas gravações servem como subsídio para a redação das atas e, feito esse serviço, são apagadas. Contudo, não mostra a norma que determina esse procedimento. Pelo que lá aconteceu, a Petrobras ficou numa situação em que lá tudo pode ter acontecido. Se ela andar sobre as águas dirão que não sabe nadar.

Quem grava e apaga os debates de uma reunião só age dessa forma porque está interessado em suprimir alguma coisa do conhecimento dos outros. Todos os áudios das reuniões do conselho da Petrobras poderiam ser armazenados num pen drive do tamanho de um isqueiro. O mesmo acontece com as reuniões do Copom do Banco Central, que jamais deu uma explicação convincente para sua conduta. (O seu similar americano divulga as transcrições dos áudios a cada cinco anos. Se o BC quiser, pode criar um embargo de vinte anos. O que não pode é apagar o que se diz nas suas reuniões.)

O apagão da Petrobras só servirá para ampliar o grau de suspeita que hoje envolve suas práticas, sobretudo porque lá estavam as intervenções da doutora Dilma, que presidiu o conselho da empresa. Não há uma lei que mande preservá-los, mas destruí-los ofende o senso comum.

Fica feio para a jovem democracia brasileira que funcionários do Planalto tenham registrado súmulas das audiências de Lula em seus laptops particulares ou que tratem de assuntos de Estado em endereços eletrônicos privados. O que ficou nos laptops sumiu. Sumiram também os registros de algumas reuniões gravadas. Fica feio, porque durante a ditadura o marechal Costa e Silva gravou a reunião em que se discutiu a promulgação do Ato Institucional nº 5 e preservou-se a fita. Graças a isso pode-se provar que a ata de 1968 foi editada. O famoso "às favas todos os escrúpulos" do ministro Jarbas Passarinho na ata virou "ignoro todos os escrúpulos". Durante a experiência parlamentarista de 1961 a 1963 preservaram-se as notas taquigráficas das reuniões do Conselho de Ministros.

Muitos companheiros reclamam que documentos da ditadura desapareceram. É verdade, mas não deveriam apagar a memória da democracia.

Leia mais o artigo de  Elio Gaspari

Globalização - e nós com isso?

O mundo é habitado por sete bilhões de pessoas. Mas quatro bilhões de humanos estão fora desse mundo. E, parece, não entrarão, se mudanças radicais não se produzirem. Os números não são coisa dita sem base, são informação do Banco Mundial, insuspeito de aparelhamentos e esquerdismos: quatro bilhões de pessoas vivem com entre US$ 1 e US$ 2 por dia. Entre R$ 90 e R$ 180 no bolso por mês. Estão abaixo das condições de consumo que permitam reproduzir de um dia para o outro, da mão para a boca, condições mínimas de vida animal. Da vida humana e sua dignidade nem se fala. Quatro bilhões são quatro Áfricas! Quatro Áfricas de sofrimento. É nelas que penso quando vou escrevendo essa primeira coluna aqui na página 2. Podia ter escolhido um assunto mais ameno, claro.

- É sábado. Dá um tempo.

- Mas elas estão olhando para cá. São olhos mudos. Dá para fingir que não vi?


Esse mundo assim crivado pela dor corresponde ao estágio mais refinado do capitalismo: a riqueza se imaterializou, as relações econômicas se financeirizaram, as interações entre as pessoas e entre elas e o mundo entraram na dimensão do consumo generalizado. Não só de bens e serviços. Agora comemos valores, corpos, subjetividades, pessoas. Está tudo posto como mercadoria. O mundo se fez um grande mercado. É a isso que se chama globalização.

Não é uma novidade absoluta. A Humanidade algumas vezes já se viu unificada em grandes esquemas de poder, saber e controle da vida. O império de Alexandre, o dos romanos, a Cristandade, o Império britânico foram formas de globalização. Pela guerra, o direito, a fé, o comércio. Os Estados Unidos e a Europa estão construindo a do consumo. E essa, a nossa, afeta diretamente as nossas vidas comuns, não é só a globalização da vez. Não é uma banalidade. Sem retórica, é coisa de vida e morte. Quatro bilhões de pessoas...!

Também a exclusão não é novidade. Houve os escravos na base da civilização greco-romana. Houve os servos da gleba na época do feudalismo. E a legião dos desempregados no início do capitalismo industrial. Mas os escravos podiam ser libertos. Os servos da gleba, paupérrimos, sem dúvida, eram donos do arado, às vezes do boi. E os desempregados do capitalismo do século XIX eram chamados a ocupar os postos de trabalho dos seus companheiros demitidos por reivindicarem aumentos salariais e melhores condições e trabalho. Hoje, não. A exclusão parece ser estrutural, tem jeito de irreversível. Se o passaporte para o mundo é a capacidade de consumir, quem só consome — porque é de graça — o ar que respira perdeu a viagem. O mundo globalizado não é porto. Quem está em terra come. Quem está no mar naufraga. Quatro bilhões.

Essas pessoas têm rosto, claro. Alguns de nós se lembram das fotos da fome em Biafra. Crianças-só-pele, barrigões de ar, sobrevoadas por moscas, pequenos corpos ainda vivos porque a morte andava ocupada em outra parte. Fotos, estetização do sofrimento. Depois veio a grande fome da Etiópia. Já apareceu na televisão. E os grandes astros pop da Inglaterra compuseram uma linda canção sobre aquele horror. O show em que ela foi apresentada ainda me arrepia retroativamente. Nós somos muito bons de emoção. E aí foi Ruanda. Oitocentas mil pessoas massacradas em três meses. O terror foi tamanho que dessa vez o Ocidente se mobilizou: as empresas belgas fugiram, os europeus foram retirados sob a proteção das forças de paz da ONU, e as forças de paz da ONU caíram fora. Alguns ótimos filmes foram feitos depois, “baseados em fatos reais”. Filmes são boas coisas, nesses casos. Promovem indignação. Mas às vezes facilitam uma indignação sentada. Todas essas estetizações produzem distância. Talvez a distância entre “nós” e “eles” nunca tenha sido tão obscenamente grande. Dispomos de tecnologias de visibilidade que nos encantam com suas montanhas de imagens e tornam o mundo, o grande mundo lá fora, opaco para nós.

Quatro bilhões... Desculpem. Honestamente me entristece imaginar pessoas levantando-se das camas dos seus merecidos descansos nesse sábado de manhã, indo à porta pegar o jornal, abrindo o Segundo Caderno à procura de um refresco depois de uma semana de cansaços e encontrando, logo na virada da segunda página, a avalanche de todas as dores do mundo. O problema é que essas dores existem assombrosamente, mas não chegam perto das nossas portas. Tive de inventar essa forma de contrabando para fazê-las entrar. Só um pouquinho. Depois vamos todos tomar café, e a vida vai retomar seu ritmo. Mas se uma pequena sombra ficar, talvez o ritmo acabe um dia mudando, e a vida vá devagar ficando mais generosa. E aí terá valido a pena.

Marcio Tavares D’amaral

Lula anda para trás

Lula (Foto: Divulgação)
Não há espaço para dúvidas. Para Lula o Estado é um instrumento para que o chefe possa distribuir favores. E, pelo que diz, ele teria sido recordista nessa prática
Pose de galo de briga, tom de desafio e farta distribuição de impropérios aos seus críticos. Nada de novo. No palanque montado pela CUT no 1º de Maio, o que se viu foi mais do mesmo. Lula sendo o Lula que ele crê insuperável. Lula que, diante da elevadíssima conta que tem de si, não percebe - ou faz de conta que não vê - a mudança dos humores em relação a ele e ao PT.

Candidatíssimo, mas incapaz de vender ilusões depois de mais de uma década de sucessivos escândalos de corrupção, incompetência gerencial e desgoverno, Lula não tem saída a não ser repetir a mesma cantilena. Faz-se de vítima, se diz durão, garante que não vai abaixar a “crista”, nem o “rabo”, seja lá o que isso quer dizer.

Defende a sua pupila Dilma Rousseff por conveniência – a derrocada dela coloca em risco suas chances de sucesso em 2018. Mas fala como opositor ao governo, como se nada tivesse a ver com a ocupação do Estado pelo seu partido ou com a roubalheira deslavada. Como não fossem companheiros os condenados no mensalão e os agora envolvidos nos R$ 6 bilhões surrupiados da Petrobras. Fala como se o desacerto na economia fosse obra do acaso.

Os inimigos que Lula elege continuam os mesmos. Ao ódio à revista Veja, Lula acrescentou a semanal Época, que na última edição revela que o ex é alvo de investigação por tráfico de influência por ter beneficiado a Odebrecht em contratos externos financiados pelo BNDES, mantidos em sigilo pelo banco estatal.

Mas, diferentemente do que costumava fazer ao demonizar a mídia, desta vez Lula agrediu diretamente os jornalistas: “Peguem todos os jornalistas da Veja e da Época e enfiem um dentro do outro que não dá 10% da minha honestidade”. E insinuou que as empresas lhe devem favores - “Conheci muitos meios de comunicação falidos e ajudei porque acho que tem de ajudar”.

O tom da fala beira a chantagem, como se agora quisesse cobrar a conta.

E estendeu isso ao que chama de elite brasileira, toda ela devedora de suas benesses. “Eles deveriam agradecer a Deus, todo dia acender uma vela, pela minha passagem e da Dilma pelo governo, mas são masoquistas, gostam de sofrer”, disse, depois de revelar seu espanto de essa mesma elite temer que ele volte à Presidência.

Não há espaço para dúvidas. Para Lula o Estado é um instrumento para que o chefe possa distribuir favores. E, pelo que diz, ele teria sido recordista nessa prática.

Como candidato, Lula precisará mais do que discursos requentados na jornada que se estende até 2018. Seu partido e sua afilhada estão acuados. Outros aliados – especialmente o fiel PMDB – cultivam terrenos e asas para voos mais ousados. Economia estagnada combinada com inflação alta e empregabilidade instável pode ser fatal às suas pretensões. E ele próprio já não consegue atrair multidões, muito menos elã inebriá-las.

Ao contrário do que disse - “Sei de onde vim, sei onde estou e sei para onde eu vou” –, Lula exibe certezas incertas. Sabe de onde veio. Mas, sem compreender as demandas do país que dispensa a sua liderança até para ir às ruas, tem no máximo uma vaga noção de onde está. Muito menos sabe para onde ir. Anda para trás.

União ou caos

Charge Super 02/05
Dilma não tem apoio irrestrito nem mesmo do PT
Antes de suceder, pois apenas substituía Fernando Collor, o até então pouco conhecido Itamar Franco tomou a única decisão capaz de sustentá-lo na presidência da República e manter as instituições funcionando: reuniu os líderes de todos os partidos e disse que, sem a união de todos, o país se desmancharia. Queria uma união nacional de emergência para evitar o caos iminente, a começar pela inflação galopante, passando pelo descrédito do Poder Executivo.

Obteve o apoio geral, exceção do PT, para a formação de um ministério em condições de enfrentar os gigantescos desafios postos em suas mãos. Só o Lula ficou contra, obrigando os companheiros a saltarem de banda diante do dramático apelo. Luiz Erundina, convidada para a área social, aceitou e desligou-se do PT.

O esforço acabou dando certo, Itamar inscreveu-se como o melhor presidente da Nova República, e determinou que Fernando Henrique, meio a contragosto, encomendasse o Plano Real, que acabou com a inflação. No fundo de tudo estava a colaboração que as forças político-partidárias emprestaram ao apelo presidencial.

Deputados e senadores não eram diferentes dos atuais. Entre eles havia gente de primeiro nível, assim como vigaristas no extremo oposto, destacando-se a grande maioria silenciosa, que sem ser brilhante, percebeu a oportunidade de contribuir para um período duro, mas.

Já se escreveu ser o passado o nosso maior tesouro, pois nele encontramos as lições para construir tanto quanto para evitar. O governo Dilma só tem uma saída, perdido que está em situação muito parecida com a que Itamar encontrou. Ou toma a iniciativa de reunir as forças dispersas e conflitantes ao seu redor ou mergulha no precipício onde já começa a escorregar.

Torna-se necessário que a presidente, com o Lula à retaguarda, comece mudando tudo, depois de reunir os dirigentes de todos os partidos: um novo ministério, um programa de recuperação econômica voltado para o crescimento, não para a recessão, o combate total à corrupção, a extinção das barganhas partidárias em troca de nomeações, a convocação dos diversos setores nacionais, dos sindicatos ao empresariado, ao Judiciário, aos governadores e prefeitos, à inteligência, à universidade, às religiões e até aos militares.

Esse apelo, a exigir humildade, não arrogância, precisa ser feito diante da alternativa: ou união ou caos. A desagregação está a um passo de todos nós. Madame foi reeleita para mais quatro anos e a premissa surge clara: ou muda tudo em busca da união nacional ou não chegará ao final do ano como presidente da República.

O exemplo de Itamar Franco está à vista de todos. Pode ser seguido ou rejeitado. Depende dela.

No país da transparência, o poder mais obscuro


Em breve, a Papuda abrigará o ex-diretor do Banco do Brasil Henrique Pizzolato, mensaleiro condenado que fugiu para a Itália

Os políticos falam cada vez mais em transparência. Virou moda. E, no entanto, na medida em que o tempo passa, o poder se torna cada vez mais obscuro, pelo menos por aqui.

Suspeita-se que Lula fez tráfico de influência ao ajudar a Odebrecht a fechar milionários negócios em diversos países com financiamento do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

Ou seja: com dinheiro público.

Será difícil pegar Lula por isso. Nada é menos transparente do que o BNDES. Ele alega sigilo bancário para não revelar as condições em que faz empréstimos, principalmente quando envolve governos estrangeiros.

O comportamento do BNDES, que não é só dele, serve de exemplo para os mais simples burocratas que se recusam a dar explicações quando provocados.

O Ministério Público pediu à Subsecretaria do Sistema Penitenciário do Distrito Federal (Sesipe) informações sobre “itens de conforto diferenciado” da Penitenciária da Papuda, em Brasília.

Desconfia que ali determinados presos recebem um “tratamento privilegiado”. Em breve, a Papuda abrigará o ex-diretor do Banco do Brasil Henrique Pizzolato, mensaleiro condenado que fugiu para a Itália.

O chefe da Sesipe, João Lóssio, disse que não comentaria o assunto por “questões de segurança”.