Quando se trata de explicar, a gente sempre tenta. Não devia, mas tenta. A tarefa, por ingrata, quase nunca esclarece. Confunde frequentemente. Frustra sempre. Mas o fato é que existe uma obsessão nacional em fornecer explicação que dê ordem ao caos e forneça razão onde a logica não aprece faz tempo.
Quando acometidos desta compulsão, os patrícios costumam ver na ausência de informação alheia à oportunidade de embelezar a realidade. Imediatamente, atribuem aos outros a causa da desinformação. Autocritica, só a favor.
Vendem o lado de lá do equador como terra alegre, bonita, onde se plantando tudo dá. Realçam as praias, a natureza, e a hospitalidade. Neste mundo dourado, não existe lugar para reconhecer poluição, destruição, pobreza ou desmatamento.
Em rasgos de entusiasmo retórico, nossos embaixadores do gogó promovem a combinação de verde e amarelo a condição de moda de indiscutível bom gosto. E dizem que não é verdade que ali nada funciona. O segredo, dizem eles, é entender que tudo ali funciona diferentemente.
Portanto, é o caso de suspender a aplicação de leis consideradas universais fora das fronteiras do antigo país do futebol. Carece aplicar novo conjunto de regras criadas especialmente para que tema terra das palmeiras, onde gorjeia o sabiá (de maneira única, diga-se).
Nesta bizarra (re) construção da realidade, sobra imaginação, transborda pretensão, e falta contato com o mundo concreto. Tudo, claro, somente é possível, com muita vontade de acreditar e, de preferencia, evitando a qualquer custo o próprio reflexo do espelho.
Entretanto, desatino é por definição coisa efêmera. Desmorona no primeiro choque com a realidade. E, ao desfilar orgulhosamente as virtudes do país tropical abençoado por Deus, inevitavelmente vem à mesa a ausência de desastres naturais. Ali, não existem. Furacões, tufões, terremotos, nevascas, tsunamis, vulcões são coisas para lugares menos favorecidos.
Deus, afinal de contas, é (ou deveria ser) brasileiro. Reservou-nos o privilegio de viver longe de desastres naturais. E nos condenou a sofrer permanentemente com desastres artificiais auto impostos. Nos fez os únicos culpados pelas nossas aflições.