Uma década depois, revisitá-lo no cenário do Brasil de 2021 registra a má notícia, para aqueles que consideramos ricos ou poderosos no noticiário nacional, que sua influência na cena internacional não para de cair.
Nossa elite está cada vez mais alijada dos ambientes de decisão mundiais. Alguns decaindo de coadjuvantes históricos para figurantes no teatro globalizado da geopolítica e dos negócios.
Riqueza, poder e influência em escala global são os ingredientes que constituem a superclasse. Entre esses três, a influência é a medida de maior peso. Trata-se de um clube restrito no qual só é aceito quem figura entre “aqueles capazes de determinar regularmente a vida de milhões de pessoas em muitos países ao redor do mundo”.
O termo superclasse não guarda juízo de valor em relação a seus membros. Apesar de se referir aos mil bilionários que concentram uma riqueza maior que o dobro dos 2,5 bilhões de seres mais pobres do mundo, muitos desses poderosos são responsáveis por realizações que tornam nossa vida mais segura e confortável.
Quando li SuperClasse pela primeira vez, chamaram-me a atenção as estatísticas, análises e narrativas acerca do grau crescente de desigualdade social, vinculado exatamente à capacidade de os super influentes afetarem o fluxo de riqueza por meio de seu acesso aos centros de decisão pelo mundo afora.
Relendo agora o livro, por algum motivo interessei-me mais pelos aspectos comportamentais da SuperClasse. Este grupo seleto de influencers globais, dos mais diversos países e origens, se relaciona internamente com muito mais naturalidade do que convivem com seus conterrâneos menos importantes na formação do PIB mundial.
Trafegam em super iates, helicópteros e jatos executivos com configurações palacianas. Frequentam regularmente restaurantes, leilões de arte, casas de festa e endereços residenciais que fariam corar de inveja os farialimers e de constrangimento o baronato da avenida Paulista.
Conversam em escritórios exclusivos no Fórum de Davos. Discutem reservadamente temas como mudança climática, terrorismo, cidades, pandemias, bioeconomia, desigualdade, tecnologia quântica, democracia, Amazônia, oceanos, filantropia, artes, energias renováveis, esportes, startups, inteligência artificial, geopolítica, segurança etc.
Rothkopf não se refere a empresários em geral, políticos, militares, artistas, acadêmicos, executivos, servidores públicos, líderes religiosos e dirigentes de Ongs que nos parecem importantes e poderosos, mas cuja influência é limitada no espaço, no tema e no tempo.
Como diz o ditado, “se você não está no seu projeto, está no projeto de alguém”. O Brasil ficou para trás. Na falta de um projeto próprio, mergulhamos de vez no projeto dos outros. Nossas elites ainda se contentam com influência local.
Enquanto Jeff Bezos decola rumo a Marte e o chinês Ma Huanteng acumula uma fortuna pessoal de US$ 57 bilhões com mídias de internet, brasileiros tentam passar boiadas típicas do século XVIII, planejando negócios com base no esgotamento do meio ambiente e no apadrinhamento do Estado.
O atraso se repete nos demais segmentos brasileiros seja no governo, empresas, defesa ou tecnologia. Não conseguindo lugar no salão nobre do clube exclusivo da superclasse global, a elite brasileira perde as vagas que ocupava até mesmo na sua cozinha.