segunda-feira, 21 de junho de 2021

O Brasil no quintal da superclasse

Em 2008 o norte americano David Rothkopf, ex-subsecretário de Relações Internacionais do governo Bill Clinton, publicou seu provocador SuperClasse – A Elite que Influencia a Vida de Milhões de Pessoas ao Redor do Mundo.

Uma década depois, revisitá-lo no cenário do Brasil de 2021 registra a má notícia, para aqueles que consideramos ricos ou poderosos no noticiário nacional, que sua influência na cena internacional não para de cair.

Nossa elite está cada vez mais alijada dos ambientes de decisão mundiais. Alguns decaindo de coadjuvantes históricos para figurantes no teatro globalizado da geopolítica e dos negócios.


Riqueza, poder e influência em escala global são os ingredientes que constituem a superclasse. Entre esses três, a influência é a medida de maior peso. Trata-se de um clube restrito no qual só é aceito quem figura entre “aqueles capazes de determinar regularmente a vida de milhões de pessoas em muitos países ao redor do mundo”.

O termo superclasse não guarda juízo de valor em relação a seus membros. Apesar de se referir aos mil bilionários que concentram uma riqueza maior que o dobro dos 2,5 bilhões de seres mais pobres do mundo, muitos desses poderosos são responsáveis por realizações que tornam nossa vida mais segura e confortável.

Quando li SuperClasse pela primeira vez, chamaram-me a atenção as estatísticas, análises e narrativas acerca do grau crescente de desigualdade social, vinculado exatamente à capacidade de os super influentes afetarem o fluxo de riqueza por meio de seu acesso aos centros de decisão pelo mundo afora.

Relendo agora o livro, por algum motivo interessei-me mais pelos aspectos comportamentais da SuperClasse. Este grupo seleto de influencers globais, dos mais diversos países e origens, se relaciona internamente com muito mais naturalidade do que convivem com seus conterrâneos menos importantes na formação do PIB mundial.

Trafegam em super iates, helicópteros e jatos executivos com configurações palacianas. Frequentam regularmente restaurantes, leilões de arte, casas de festa e endereços residenciais que fariam corar de inveja os farialimers e de constrangimento o baronato da avenida Paulista.

Conversam em escritórios exclusivos no Fórum de Davos. Discutem reservadamente temas como mudança climática, terrorismo, cidades, pandemias, bioeconomia, desigualdade, tecnologia quântica, democracia, Amazônia, oceanos, filantropia, artes, energias renováveis, esportes, startups, inteligência artificial, geopolítica, segurança etc.

Rothkopf não se refere a empresários em geral, políticos, militares, artistas, acadêmicos, executivos, servidores públicos, líderes religiosos e dirigentes de Ongs que nos parecem importantes e poderosos, mas cuja influência é limitada no espaço, no tema e no tempo.

Como diz o ditado, “se você não está no seu projeto, está no projeto de alguém”. O Brasil ficou para trás. Na falta de um projeto próprio, mergulhamos de vez no projeto dos outros. Nossas elites ainda se contentam com influência local.

Enquanto Jeff Bezos decola rumo a Marte e o chinês Ma Huanteng acumula uma fortuna pessoal de US$ 57 bilhões com mídias de internet, brasileiros tentam passar boiadas típicas do século XVIII, planejando negócios com base no esgotamento do meio ambiente e no apadrinhamento do Estado.

O atraso se repete nos demais segmentos brasileiros seja no governo, empresas, defesa ou tecnologia. Não conseguindo lugar no salão nobre do clube exclusivo da superclasse global, a elite brasileira perde as vagas que ocupava até mesmo na sua cozinha.

Terceira via, salada de egos e um tomate para a neta

Todos aqueles que odeiam um duelo nas próximas eleições presidenciais entre Jair Bolsonaro e Luiz Inácio Lula da Silva e buscam soluções novas e criativas para tirar o Brasil do inferno que está vivendo defendem uma candidatura chamada de “terceira via”. Alguém novo com novas ideias para refazer a convivência quebrada deste país. Ao mesmo tempo, até aqueles que defendem a possibilidade de uma terceira via parecem convencidos de que isso está se tornando cada vez mais difícil. Quando se pergunta o porquê dessa dificuldade, todos respondem da mesma forma: porque é uma salada de egos. Entre os cinco ou seis candidatos que já estão sendo considerados —alguns já estão descendo do trem e os que ainda podem ser acrescentados— nenhum parece capaz de competir com êxito.

Isso favoreceria Lula e Bolsonaro, os candidatos do duelo por serem também os mais conhecidos. Além disso, teria o ingrediente da torcida entre dois mitos. Ao lado deles, uma salada de egos teria pouco espaço. O Brasil é, de fato, um país com uma democracia jovem e não consolidada. É um país com mais de 50 milhões de pessoas na pobreza. Eleitores que mal ganham para comer e que buscam alguém que lhes faça, nem que seja por um curto período, o milagre de tornar a sua vida um pouco menos dura e sacrificada. Isso pode pesar mais que o resto das análises políticas e ideológicas. Sem falar que ainda se ouve dizer, principalmente de idosos, que na ditadura se vivia melhor.

Entre os que rejeitam Lula e Bolsonaro o fazem menos por motivos ideológicos do que pessoais, dizendo como eles e suas famílias enriqueceram. Pergunte às pessoas humildes, que no Brasil são maioria, as diferenças entre os políticos dos 35 partidos do Congresso.



Elas estão interessadas em seus problemas de subsistência, como pagar a luz ou o gás, ou como enfrentar a inflação. Dias atrás um trabalhador me pediu para explicar quanto é um milhão, porque ouvia na televisão que os políticos roubavam milhões e não conseguia entender quanto era. Expliquei-lhe dizendo quantos anos ele teria de trabalhar com seu salário-base para ganhar um milhão. Tudo isso? Não queria acreditar.

Como explicar a essas pessoas o que é a terceira via e quais são as vantagens da democracia? Se falo com elas sobre a liberdade de imprensa e de expressão, imediatamente me dizem que os jornais mentem. E se eu acrescento que Bolsonaro é um golpista que gostaria de fechar o Supremo Tribunal Federal e o Congresso, me dizem que faz bem porque não servem para nada.


O que entendem de Bolsonaro é que deixou muita gente morrer ao rir da pandemia e não comprar a vacina a tempo, ou que sua família também é corrupta. E isso poderia custar-lhe a reeleição porque o quase meio milhão de mortes é uma dor que chega direto ao coração dos mais pobres que, além disso, são os que mais morrem. E sobre Lula dizem que ajudou os pobres, que puderam comprar eletrodomésticos e seus filhos foram estudar na universidade, mas também que se corrompeu.

Assim tão simples? Sim. Que não se iludam os que suspiram por uma terceira via para derrubar Bolsonaro ou Lula. Eles podem ser amados ou odiados, mas continuam sendo para a grande maioria dois Davis bíblicos capazes de ganhar batalhas.

Desprezar a sabedoria popular acumulada por duras experiências e desilusões políticas é o caminho para que até mesmo os maiores especialistas em política se equivoquem em suas análises. A realidade é aquela que está intimamente ligada à vida, ao de cada dia, àquele que sofre discriminação, violência, pobreza e desemprego. E são milhões.

Essas pessoas não sabem o que é um milhão, mas sabem melhor do que os ricos quanto vale uma passagem de metrô, um quilo de arroz ou um botijão de gás. Não sabem quanto vale a fruta porque dizem que é melhor nem olhá-la pois está muito cara. É um luxo. Dias atrás, uma trabalhadora me disse que de vez em quando compra “um tomate” para a neta de quatro anos, que é louca por eles. Compra um porque, diz, “estão muito caros”.

Para esses milhões de trabalhadores é mais importante poder continuar comprando um tomate para a neta do que as divagações sobre a terceira ou quarta via, se é que sabem o que é. Não seria mau que os candidatos conversassem mais com esses milhões de trabalhadores, mas depois de terem se informado a quanto estão os tomates, a passagem de ônibus ou a gasolina.

A democracia, como um conceito etéreo e pouco concreto, para esses milhões de brasileiros pode vir depois porque, em muitos aspectos, não sentem que tenham acesso a ela. Adianta reclamar de uma polícia violenta em seu bairro? Para muitos ricos, que têm toda a educação conceitual do mundo, deliberadamente não lhes importa quão democrata um candidato é porque só querem saber quem lhes traria mais dinheiro ou preservaria seus privilégios. No caso dos mais pobres, muitas vezes não lhes sobra tempo para pensar, apenas para sobreviver, eles e seus filhos. Eles têm outros problemas mais urgentes. Como não lhes dar razão?

Tente sempre ser feliz

Na minha juventude de movimento estudantil, Daniel Ortega era um jovem revolucionário da Nicarágua, país caribenho vítima da longa e cruel ditadura entreguista de Anastasio Somoza. Membro da Frente Sandinista de Libertação Nacional, Ortega era um de nossos heróis, guerreiros que lutavam pela libertação da América Latina. Como o mito histórico Augusto Cesar Sandino, morto nos anos 1930, na luta contra a ocupação americana da Nicarágua. Ou como Fidel Castro, cuja vitória da revolução cubana se dera no final da década de 50, num dia de Ano Novo que comemoramos nas ruas, triunfante Reveillon anti-colonial. Hoje, Daniel Ortega é o chefe de um governo de violência e crimes, que elimina seus adversários políticos ou impede que se manifestem, seja de que natureza for a oposição. Dos herdeiros de Violeta Chamorro, sua parceira contra Somoza, a combatentes sandinistas de esquerda.

Se nossos heróis do passado revolucionário fazem desse jeito, de que jeito vamos nós fazermos para permanecermos fiéis a nossas ideias? 
Talvez só a união, até mesmo dos contrários, garanta a sobrevivência de nossas ideias.

O mundo foi tomado por uma onda fascista que nem sei,eles se empenham em encerrar a liberdade, como um mel que adocica bocas, num pote de abelhas carnívoras.




Vamos fazer como fez Israel, se unindo contra um poder de 12 anos,exercido por falcatruas, sem consultas e com chicote nas mãos, nem que para isso misturemos par e ímpar na mesma mão.

Vamos tentar acreditar na doçura retroativa de Joe Biden, na confiança que nos dá sua vice linda, cheia de pureza esperta, na possibilidade, mesmo que longínqua, de ele estar dizendo a verdade e que a verdade hoje seja uma metafísica distinta dos axiomas literários que sempre defendemos, acima de tudo se escritos do cárcere ou na certeza do raciocínio dialético. O único que reconhecemos, porque lemos muito sobre tudoe é sobretudo o que mais se parece com o jeito humano original de pensar, sei lá desde quando, li isso em algum lugar de respeito.

Quero agora que meu país se pareça com um equilibrado e reto Canadá ou com a Nova Zelandia, onde não morreu quase ninguém de Covid 19, porque eles tomaram providências desde cedo, quando ainda não havia morrido ninguém. Ou quase ninguém, não sei.

Estamos sozinhos no mundo, nem velhos esquerdistas se defendem mais e,se defendem, escondem das multidões, ninguém quer virar gargalhada do resto.

Fecho os livros e a sabedoria deles arranco por enquanto da lembrança.

Vamos chamar os centristas e mesmo uma certa, fina e culta direita para defendermos com todos o direito de sermos livres e pensarmos do jeito que melhor acharmos por bem, como se nossas vozes fossem uma só, mesmo que tão dissonantes, porque o mundo será sempre um só, se livre.

Quando não tem mais saída, é preciso tentar sempre do que temos e está aí, para não sermos obrigados a fracassar sempre, por nada. “Tente”, me dizia sempre Lucy Barreto, minha querida, rigorosa e imaginosa produtora de “Bye Bye Brasil”, única a quem devo esse filme, que me fazia experimentar dentro do que havia a nosso alcance.

Tente. Tente sempre. Ao menos, ser menos sofredor. Tente sofrer menos para que a vida não lhe seja necessariamente  um desastre. Quem me lê, sabe o quanto já me decepcionei com Lula. Não acho que ele fosse de roubar, mas está na cara que fez que não via. Talvez não estivesse de acordo, mas deixou Dilma fazer toda a besteirada que fez. E, o que é pior, conhecendo a peça a escolheu para lhe suceder. Minha implicância se agravou com o discurso de ódio, logo que saiu da absurda prisão. Mas agora não. Desde que começou a visitar todo tipo de líder para discutir o Brasil e quem vai tomar conta dele, Lula tem se comportado como o líder que esperávamos, sabendo exigir o indispensável ou abrir mão de exigência tola. Dá até vontade de sorrir para a sucessão e que 22 chegue logo. 

Paisagem brasileira

 


Muito além de 500 mil mortes

Imagine se toda a população de uma cidade como Florianópolis desaparecesse em pouco mais de um ano. Segundo estimativa do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a capital de Santa Catarina tem 508 mil habitantes —pouco mais do que os 500 mil mortos por causa da covid-19 em todo o país em 15 meses.

O Brasil é o segundo país a ultrapassar a marca de meio milhão de mortes —os Estados Unidos alcançaram este número em fevereiro. A contagem impressiona (veja mais abaixo).

Em meio ao luto —hoje, são cerca de 2 mil mortes por dia, em média—, nosso país também enfrenta os efeitos colaterais da pandemia do coronavírus, como o aprofundamento da desigualdade social.

Nunca tantos brasileiros estiveram na extrema pobreza —de acordo com o Ministério da Cidadania, 14,5 milhões de famílias estão em situação de miséria (com renda per capita de até R$ 89 mensais). Há ainda 2,8 milhões de famílias vivendo em pobreza (com renda entre R$ 90 e R$ 178 per capita mensais).

Com 14,8 milhões de pessoas sem trabalho, a taxa de desemprego bateu recorde e os mais afetados foram os mais pobres.

Mesmo com a criação de novas vagas e com o aumento do PIB, a renda média domiciliar caiu 10%, na comparação entre os primeiros trimestres de 2021 e 2020. Foi o quarto trimestre seguido de queda.

Para o Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas, o começo deste ano pode ser considerado "o pior ponto da crise social".

As vítimas da covid no Brasil são, segundo a Central de Informações do Registro Civil (Arpen):

* 56% homens e 44% mulheres

* 50,3% brancos; 28,4% pardos; 6,5% pretos; 0,9% amarelos; 0,2% indígenas (e 13,7% de raça ignorada)

* 70,4 % com idade entre 60 e 90 anos; 27,9%, entre 30 e 59 anos; 1,7% com menos de 29 anos

Por causa da vacinação, algumas mudanças começaram a ocorrer nestes registros —no começo deste mês, pela primeira vez, as mortes de pessoas com menos de 60 anos por covid superaram a de idosos.

Mas a pandemia nunca atingiu da mesma forma os diferentes grupos sociais. Os primeiros casos no Brasil foram de pacientes que viajaram para o exterior. Rapidamente, a doença se espalhou também entre os mais pobres.

Em junho do ano passado, a mortalidade de internados por covid em UTIs de hospitais públicos era o dobro da registrada nas unidades privadas (38,5% contra 19,5%). Hoje, a taxa é de 53,7% nas UTIs públicas e 30,2% nas particulares. Para a sanitarista Bernadete Perez, números como esses mostram o "abismo" entre as classes sociais no que se refere ao acesso a serviços de saúde.

No dia a dia do trabalho, a vulnerabilidade das classes mais baixas também é exposta. Enquanto muitos escritórios adotaram o home office e os funcionários podem trabalhar de casa, profissionais com remuneração mais baixa, mas que exercem atividades essenciais, como motoristas de ônibus e caixas de supermercado, permaneceram trabalhando fora e não entraram nos grupos prioritários de vacinação.

A pandemia impactou as pessoas em maior situação de vulnerabilidade, como a população em situação de rua, que teve maior exposição e menor capacidade de proteção. Eles têm menor acesso à testagem, a serviços, a leitos de UTI e menor possibilidade de proteção individual e coletiva.

Bernadete Perez, sanitarista e vice-presidente da Associação Brasileira de Saúde Coletiva

Rachadinha da morte

O presidente Bolsonaro idealizou a sua mais ousada e infame rachadinha: dividir o país entre cloroquina e vacina. A rachadinha do negacionismo é a aposta que gerou resultado: meio milhão de mortos. Até agora
Renan Calheiros, (MDB-AL), senador relator da CPI da Covid

Nossos 500 mil

Você se lembra se em algum momento da sua vida você usou a expressão "500 mil" para alguma coisa. Quando foi que meio milhão fez algum sentido na sua vida? (Se é que um dia isso aconteceu).

Um número tão grande quanto abstrato...

500 mil. 500 vezes mil, 5 mil vezes 100, 50 mil vezes dez, 500 mil vezes um.

E aí, chegamos ao átomo da questão. Por 500 mil vezes, uma pessoa morreu. Um indivíduo, como eu e você. Um ser humano que tinha sua própria historia, sua própria forma de estar no mundo, sua família, seus amores e dissabores.

Muitos dirão que pessoas morrem todos os dias, no mundo inteiro. E essa é a mais pura verdade. Na realidade, a morte é a única certeza que todos nós temos, e ainda que seja possível morrer de formas distintas – a depender da crença, da cor da pele e da situação sócio-econômica da pessoa em jogo –, é possível afirmar que na humanidade nada é mais democrático do que a morte, mesmo ela sendo tão plural.


No Brasil, 2020 foi o ano mais letal dos últimos tempos. Um pouco mais de 1,4 milhão de pessoas morreram, muitas delas de doenças já conhecidas, como as cardíacas, o câncer, as doenças respiratórias, o derrame cerebral, o diabetes.

Mas os números mostram que no ano de 2020 houve um crescimento de 8,6% nas mortes no Brasil. Percentual este que tem nome e sobrenome: covid-19. Quando ainda tínhamos um pouco menos de 200 mil mortos, a pandemia do novo Coronavírus foi responsável não só por compor o ano de maior letalidade no Brasil, mas também por aumentar significativamente o percentual de mortes de um ano para outro.

Até então, a média do crescimento do número de mortes girava em torno de 1,8%. Esse percentual mais do que quadruplicou. Uma característica que deve se agravar neste ano, já que entre janeiro e abril de 2021, a covid matou mais gente do que no ano anterior – que vale repetir, foi o de maior mortandade em terras brasileiras.

E na sua conta própria, a covid ceifou 500 mil vidas no Brasil. Uma história que ainda não acabou. E, o pior, que está longe de acabar. 500 mil vidas que foram interrompidas na decisão desesperada de ficar em casa; no vazio gelado das UTIs; no medo da solidão; no olhar exausto e repleto de compaixão de médicos e enfermeiros; no peito arfando, pedindo ar, pedindo sopro, pedindo vida. 500 mil mortes. 500 mil pessoas. Mas nem na pandemia, o morrer deixa de ser plural. O vírus é o mesmo, mas mata de formas diferentes.

O que torna esses 500 mil ainda mais dilacerantes é o fato de que, mesmo se tratando de uma pandemia, um percentual desse número não precisava existir. Muitos desses 500 mil deveriam ter sido vacinados; outros tantos poderiam não ter contraído o vírus, caso tivessem condições de ficar em casa, ou consciência da importância do isolamento social, do uso da máscara, da ineficácia de tratamentos precoces. E tais constatações fazem com que tenhamos que encarar os fatos: esses 500 mil são nossos.

Esse meio milhão de pessoas mortas pela covid-19 são espelho do que é o Brasil. Não só porque são brasileiros mortos. Mas porque são brasileiros que morreram de covid no Brasil, neste Brasil. Não estamos diante apenas de uma tragédia: estamos enfrentando nossa história e nossas escolhas da pior maneira possível. E, infelizmente, mantemos esse nosso "jeitinho apaziguador" de transformar o horror em estatística.

Porém, como a própria palavra diz, a pandemia é algo que afeta "todo o povo" – essa, inclusive, é a origem grega do termo. As 500 mil pessoal mortas deixaram saudade em quantos outros milhões de pessoas? Quantas mães sem filhos? Quantos filhos sem pais? Quantas irmandades se perderam? Quantos avós se foram? E o peso disso tudo? Como continuar vivendo e acreditando num país em que 500 mil pessoas morreram numa pandemia, de uma doença para qual já existe vacina eficaz e cientificamente comprovada? Como lidar com as 500 mil mortes sabendo que serão muitas mais, ao mesmo tempo que poderiam ser tantas menos?

Uma característica que marca a existência da espécie humana é o enterramento de seus mortos. O ato em si, e toda a liturgia que o acompanha, toda a memória que ele carrega da vida que foi, do ciclo que se completa. No Brasil, a pandemia nos roubou até isso: a dignidade, a humanidade de nossas mortes. Foram despedidas caladas, atravessadas e sobrepostas por mais e mais mortes. Precisamos chorá-las, precisamos carpi-las. Por um bom tempo.

500 mil vidas. 500 mil mortes. 500 mil covas, muitas delas rasas. Afinal, qual o tamanho do nosso buraco?

Silêncio de Bolsonaro sobre os mortos por Covid-19 destoa de discursos históricos

“De todos os talentos concedidos aos homens, nenhum é tão precioso como a graça da oratória. Quem dela desfruta possui um poder mais duradouro do que o de um grande rei” – relembrada por livros como “Discursos que Mudaram a História”, a célebre pensada de Winston Churchill, primeiro-ministro britânico e líder no combate ao nazismo durante a Segunda Guerra, ecoou por toda a segunda metade do século 20 e determinou a forma como alguns presidentes passaram a se expressar em público, especialmente diante de tragédias. Incluindo-se líderes brasileiros.

Mas isso aconteceu até Bolsonaro chegar ao poder, porque que até a noite deste domingo ele ainda não se manifestara sobre os mais de 500 mil mortos por Covid-19 no país.

O silêncio do presidente da República diante desta marca —número levantado pelo consórcio de imprensa e não reconhecido oficialmente pelas autoridades do governo federal— causa forte ruído inclusive ao ser comparado com tragédias de proporções menores que comoveram o país.

Abaixo, leia o que disseram governantes que estavam no poder quando o país assistiu a quedas de aviões e incêndios, entre outras fortes lembranças de acontecimentos marcados pela morte em massa e a tristeza decorrente sentida não só pelos entes, mas por toda a população

INCÊNDIO DO CIRCO, MAIS DE 500 MORTES (1961)

“Meu deus, que tragédia, que tragédia. Não é possível. Vi o espetáculo mais triste da minha vida”, João Goulart.

QUEDA DE AVIÃO DA TAM EM SP, 99 MORTOS (1996)

“O que é importante é expressar que, realmente, todos nós, todos mesmo, sem exceção, nos sentimos constrangidos e irmanados com o sofrimento dos familiares e pensando naqueles que se foram”, Fernando Henrique Cardoso (PSDB).

ACIDENTE EM CONGONHAS, COM 199 MORTOS (2007)

“Sei que nada é igual ao sofrimento das famílias que perderam seus entes queridos no acidente. Mas quero dizer que sentimos suas perdes como se fossem nossas”, Lula da Silva (PT).

INCÊNDIO NA BOATE KISS, TEVE 242 MORTOS (2013)

“Nesse momento de tristeza, nós estamos juntos, necessariamente, e iremos superar, mantendo a tristeza”, Dilma Rousseff (PT).

ROMPIMENTO DE BARRAGEM EM MARIANA (2015)

“A ação irresponsável de empresas provocou o maior desastre ambiental na história do Brasil na grande bacia hidrográfica do rio Doce”, Dilma Rousseff (PT).

ACIDENTE COM A CHAPECOENSE, 71 MORTOS (2016)

“Eu quero, mais uma vez, lamentar o infausto acontecimento que gerou o falecimento de uma equipe de futebol e vários que a acompanhavam. Para nós, é um fato tristíssimo e a única coisa que podíamos fazer era tomar providências para dar apoio às famílias que se enlutaram neste momento”, Michel Temer (MDB).l

Como a pandemia piorou (ainda mais) a vida dos escravizados no Brasil

Quando participou da abertura da Expozebu 2021, no Primeiro de Maio, Jair Bolsonaro (sem partido) declarou: "O homem do campo é um forte, não parou na pandemia". O presidente estava certo. Parte deles não podia parar. Literalmente.

Também em maio, mês do trabalhador, mês dos 133 anos da Lei Áurea, uma operação resgatou 71 pessoas da escravidão contemporânea de uma fazenda de café, em Vila Valério, no Espírito Santo. Dessas, 65 estavam trabalhando mesmo contaminadas com a covid-19: apresentavam sintomas sem que fossem isoladas ou recebessem assistência por parte do empregador.

No momento em que o Brasil chega ao marco das 500 mil mortes em decorrência da covid-19, ainda não é possível mensurar o impacto da pandemia sobre a escravidão contemporânea.

 Casas destruídas em reintegração de posse na zona norte de SP

Se, por um lado, o tráfico de pessoas que alimenta a exploração se beneficia da vulnerabilidade social e econômica — que cresceu em todo o mundo durante os últimos 18 meses —, por outros a escravidão está diretamente relacionada ao aumento da demanda por mão de obra, ou seja, ao crescimento econômico — afetado pela pandemia.

Mas a continuidade da agropecuária, aquecida pela necessidade básica de alimentação e pelo recente boom de commodities, manteve a demanda por força de trabalho em determinadas atividades.

Da mesma forma, a construção civil também foi considerada atividade essencial e não parou. Esses setores estão entre os principais utilizadores desse tipo de mão de obra no país.

Isso significa que o trabalho de auditores fiscais, procuradores do Trabalho e da República, policiais federais e rodoviários federais, defensores públicos, entre outros envolvidos nos Grupos de Fiscalização Móvel que, desde 1995, verificam denuncias e resgatam pessoas, continuou sendo solicitado.

De acordo com o auditor fiscal do trabalho Rodrigo Carvalho, coordenador da operação que resgatou os 71 no café, o grupo havia sido aliciado no Vale do Jequitinhonha, região pobre do norte de Minas Gerais, sob promessas de boa remuneração e boas condições.

Já no local, viram que receberiam bem menos que o prometido, além de terem sido submetidos a longas jornadas e encararem descontos ilegais de transporte e alimentação. A situação de endividamento acabou configurando servidão por dívida.

Não foi o único caso de libertações e covid-19. Por exemplo, um trabalhador com a doença foi resgatado da escravidão no plantio de cana-de-açúcar nos municípios de Guará e Ituverava (SP) em abril. De acordo com os auditores fiscais que participaram da ação, ele relatou que teve febre, dores no corpo, tosse, chegando ao ponto de apresentar dificuldade para andar. Também não contou com assistência médica do patrão.

Junto com ele, foram 22 libertados em uma operação iniciada no dia 9 de abril. O grupo, que havia sido "vendido" de um empregador para outro, também foi vítima de tráfico de seres humanos, passava fome e tinha que fazer suas necessidades fisiológicas no mato.

Os trabalhadores foram aliciados em Vitória do Mearim, no Maranhão, mediante falsas promessas, como a garantia de salários de até R$ 4.200 por mês, alojamentos dignos e boas condições de serviço. Contudo, chegando ao local, verificaram que a realidade era bem diferente.

O auxílio emergencial, conforme aprovado pelo Congresso Nacional no primeiro semestre de 2020, contribuiu para manter pessoas longe da rede de tráfico para o trabalho escravo. Contudo, a sua diminuição de R$ 600/R$ 1.200 mensais para R$ 300/R$ 600 e, depois, sua interrupção em 31 de dezembro, permitiram o aumento da vulnerabilidade de famílias e, com isso, a escravização.

A Comissão Pastoral da Terra (CPT), mais importante organização da sociedade civil que atua no acolhimento de escravizados, critica o valor pago da nova etapa do auxílio emergencial (R$ 150, R$ 250 ou R$ 375 por domicílio), o que, segundo eles, não garante tranquilidade para grupos vulneráveis.

"Muitos trabalhadores gostariam de ficar em casa para se proteger da pandemia, mas não têm como. Eles têm que sair buscando qualquer serviço. Com esse auxílio mixaria que foi oferecido, não tem como sustentar a família", afirma o frei Xavier Plassat, coordenador da campanha de combate à escravidão da CPT.

O trabalho escravo no Brasil se adapta continuamente desde 13 de maio de 1888. Também se adaptou à pandemia. A ponto de o auxílio emergencial ser usado para permitir que empregadores não paguem o salário de escravizados.

Duas crianças de nove e dez anos e uma adolescente de 13 anos foram encontradas, junto dos pais, em condições análogas às de escravo em uma fazenda de café e eucalipto em Minas Novas (MG), região do Vale do Jequitinhonha, em fevereiro deste ano. De acordo com a fiscalização, eles passaram fome e a situação só não foi pior porque, na falta de salário, conseguiram receber o benefício.

De acordo Hélio Ferreira Magalhães, auditor fiscal do trabalho responsável pela ação, o empregador havia prometido um salário mínimo por mês ao trabalhador, mas ele recebeu entre R$ 300 e R$ 600 nos meses em que ganhou algo. Às vezes, vinha apenas uma "feira" de alimentos. A esposa e os três filhos nada recebiam.

Com a chegada da pandemia, caiu a frequência de visitas do empregador e, não raro, ficavam sem dinheiro ou alimento. Segundo a fiscalização, a família se manteve porque conseguiu acesso ao auxílio emergencial.

"Sem isso, eles teriam passado fome direto", avalia o auditor. Isso foi possível porque o patrão nunca assinou sua carteira de trabalho.

Com a interrupção do pagamento do benefício, em dezembro, a fome voltou a rondar a casa. No momento da fiscalização, havia um pouco de arroz, macarrão, sal e feijão e açúcar misturado a pó de café. Questionado sobre a razão dessa mistura, o trabalhador explicou que era para evitar que as crianças comessem o açúcar. Elas iam atrás do produto porque estavam com fome.

A relação entre o desmatamento ilegal e o trabalho escravo é bem documentado e tem sido objeto de amplas pesquisas, mostrando um duplo crime. Atividades ilegais não se importam com regras sanitárias, pelo contrário, aproveitam-se das dificuldades de fiscalização impostas pela pandemia (e das dificuldades de fiscalização impostas pelo próprio Ministério do Meio Ambiente) para florescerem.

De acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o desmatamento da Amazônia aumentou 67% em maio em relação ao mesmo mês do ano passado. Nos primeiros cinco meses de 2020, o desmatamento subiu 25% em comparação ao ano anterior: foram 2.548 quilômetros quadrados destruídos.

Não foi, portanto, surpresa auditores fiscais do trabalho e policiais federais terem resgatado 12 escravizados em atividades de derrubada da floresta amazônica às margens do rio Guariba, em Novo Aripuanã, no Amazonas, também no mês de maio.

"Havia um trabalhador ferido com corte profundo na mão em razão de acidente na frente de trabalho, sem nenhuma assistência do empregador", afirmou a auditora fiscal, Adriana Figueira, coordenadora da operação.

O grupo estava em condições degradantes, com alojamento precário, coberto com lona plástica, sem instalações sanitárias. O "gato", como é chamado o contratador de mão de obra a serviço do patrão, foi preso durante a operação por conta do aliciamento.

Dois dos resgatados, segundo os auditores fiscais, nunca tiveram nem certidão de nascimento, ou seja, não existiam para o Estado brasileiro.

Os grupos de fiscalização móvel, responsáveis por verificar denúncias e libertar trabalhadores, completaram 26 anos em maio. Eles chegaram a paralisar as atividades entre março e julho do ano passado para evitar disseminação do vírus devido ao deslocamento.

Porém, as operações continuaram através das superintendências nos estados. A fiscalização trabalhista acabou sendo considerada pelo decreto 10.282/2020 uma das atividades essenciais durante a crise da covid-19.

Enquanto os servidores públicos continuaram a cumprir seu papel, o presidente aproveitou o Primeiro de Maio para atacar uma emenda constitucional criada, em 2014, para combater o trabalho escravo contemporâneo.

Ela prevê o confisco de imóveis rurais e urbanos flagrados com esse tipo de crime. Jair Bolsonaro votou a favor da emenda quando era deputado federal em 2004.

"Quando o momento se fizer oportuno, melhor, juntamente com a [ministra da Agricultura] Tereza Cristina, que está do meu lado aqui, nós devemos sim rever a emenda constitucional 81, de 2014, que tornou vulnerável a questão da propriedade privada. É uma emenda que não foi regulamentada e com toda certeza não será regulamentada em nosso governo. Nós precisamos alterar isso que foi feito em 2014, tornando vulnerável a questão da propriedade privada", afirmou em um pronunciamento, em vídeo, para empresários do agronegócio.

Ele não conseguiria revogar, pelo menos não neste governo, a emenda. A promulgação da PEC do Trabalho Escravo, que deu origem à emenda constitucional, em 2014, repercutiu em todo o mundo como um sinal de que o Brasil não tolera escravidão contemporânea. O seu discurso foi visto, portanto, como um aceno a uma parte de sua base.

O presidente já havia afirmado, em live na noite de 12 de novembro do ano passado, que, enquanto deputado federal, votou contra o confisco de propriedades rurais e urbanas de quem utilizou trabalho escravo. Mas os registros da Câmara dos Deputados mostram que ele votou a favor da proposta no primeiro turno, em 2004, e estava ausente no segundo, em 2012.

Mesmo sem a regulamentação, o Ministério Público do Trabalho já vem pedindo sua aplicação em casos como de empresas de vestuário no Estado de São Paulo mesmo sem a regulamentação.

Tomoya Obokata, relator especial das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão, afirmou à 45ª sessão do Conselho de Direitos Humanos da ONU que, combinado com redes de segurança fracas e um desmantelamento dos direitos trabalhistas e regulamentos de proteção social em alguns países, existe um risco agudo de que os mais pobres sejam empurrados para formas contemporâneas de escravidão.

"Os países podem ver o desmantelamento dos direitos trabalhistas como uma solução rápida à luz da crescente pressão sobre as empresas como consequência da recessão econômica global", disse Obokata. "No longo prazo, no entanto, esses mesmos Estados pagarão um alto preço por remover a proteção e a dignidade das pessoas no trabalho."

Para o Ministério Público do Trabalho, é exatamente isso o que está acontecendo.

De acordo com o procurador Italvar Medina, vice-coordenador da área responsável pelo enfrentamento ao trabalho escravo do MPT, o governo federal e setores do Congresso aproveitaram o momento para reduzir proteções e direitos dos trabalhadores.

"No início da pandemia, sob o pretexto de prever medidas trabalhistas para enfrentá-la, o governo criou a inconstitucional Medida Provisória 927, que trazia precarização das relações de trabalho e reduções de direitos que poderiam levar ao empobrecimento dos trabalhadores", explica Medina.

Ele destaca a suspensão temporária de normas de saúde e segurança do trabalhador, a tentativa de afastar a possibilidade de considerar covid-19 como doença profissional e entraves à fiscalização. Em julho de 2020, a MP caducou.

Entre os projetos de lei com impactos diretos sobre o trabalho escravo, o que traz risco mais eminente, segundo o procurador, é o PL 3.097/2020.

O PL busca alterar as regras de parcerias agrícolas, retirando o caráter obrigatório das contrapartidas do proprietário da terra com relação ao trabalhador parceiro, como fornecimento de moradia digna. O MPT divulgou nota, em 10 de junho, pedindo ao Congresso que rejeite a proposta por considera-la uma ameaça à política pública de erradicação do trabalho escravo.

O projeto permite cobranças e descontos inclusive de equipamentos de proteção. De acordo com o procurador, também deve submeter trabalhadores a dívidas crescentes em troca de serviços que hoje o dono da terra é obrigado a fornecer no contrato de parceria.

"Na prática, uma pessoa poderá usar o trabalho de outra entregando em troca apenas a permissão de usar sua terra para morar e plantar cultura de subsistência. Isso é uma servidão medieval", avalia Italvar Medina. Para ele, sua aprovação seria a legitimação da escravidão contemporânea no campo.

A Lei Áurea aboliu a escravidão formal, o que significou que o Estado brasileiro não mais reconhece que alguém seja dono de outra pessoa. Persistiram, contudo, situações que transformam pessoas em instrumentos descartáveis de trabalho, negando a elas sua liberdade e dignidade.

Desde a década de 1940, o Código Penal Brasileiro prevê a punição a esse crime. A essas formas dá-se o nome de trabalho escravo contemporâneo, escravidão contemporânea, condições análogas às de escravo.

Uma análise dos dados de fiscalização do governo federal entre 1995 e hoje aponta que há muito mais negros entre os mais de 56 mil trabalhadores libertados da escravidão contemporânea do que sua proporção na sociedade, dada à vulnerabilidade histórica desse grupo.

Os descendentes daqueles trabalhadores escravizados do final do século 19 continuam a apresentar indicadores sociais e econômicos muito abaixo dos brancos. Por exemplo, recebem menos pela mesma função de acordo com dados da ONU e do IBGE.

Ao mesmo tempo, os negros são a maioria dos mortos por covid-19 no país numa proporção maior que sua participação na população.

A questão não é genética, mas de falta de saneamento básico, insegurança alimentar, dificuldade de acesso à assistência médica, o que torna essa população mais vulnerável, pois a pobreza tem cor. Aliás, a pandemia, ao demonstrar letalidade maior entre negros e pobres, torna-se aliada da estatística de violência policial em cidades como o Rio de Janeiro.

Um estudo da Vital Strategies com a Afro-Cebrap apontou que houve um excesso de 11,5% de mortes entre os brancos, considerando o que seria esperado para 2020, enquanto o de negros foi de 25,1%.

A mesma vulnerabilidade que leva ao trabalho escravo também facilita a morte por covid-19. O que não é coincidência, mas mostra a robustez de nossa concentração de renda e desigualdade social.