sábado, 15 de agosto de 2015

Entre o Brasil e o Bananão


Estamos meio perdidos no Brasil. Como se estivéssemos no mato discutindo entre veredas que podem nos levar de novo ao campo aberto. São três saídas que nos mobilizam no curto prazo: continuidade, o impeachment ou a renúncia de Dilma Rousseff.

Muitos temem o desconhecido. Há opiniões respeitáveis contra o impeachment. Fernando Henrique o considera uma bomba atômica. Marina Silva confessou, numa entrevista, que sofreu muito por ser contra o impeachment. Sofrimento por sofrimento, ela também sofreu nas mãos do PT. O de agora vem da pressão da maioria que apoia o caminho do impeachment.

Evitar o desconhecido tem uma enorme força entre as pessoas preocupadas com os rumos do Brasil. Mas para quase todas com que falei essa própria noção de continuidade se abala com a presença de Dilma. A pergunta difícil de responder: o que será do Brasil com três anos e meio de um governo fraco, desorientado, acossado pelo maior escândalo político da história?

Não nos enganemos: o Brasil não será o mesmo, navegando sem rumo por mais três anos e meio de Dilma. Será muito pior.

A outra vereda é o impeachment. Na experiência vivida em 1992 foi possível constituir um governo de unidade em torno de Itamar Franco. Lembro-me de tê-lo entrevistado uma semana antes da queda de Collor. Ele não disse nada publicável. Mas, informalmente, sua experiência apontava para um governo de unidade destinado a transitar até as eleições.

Itamar e Temer têm temperamentos diferentes. Itamar foi ousado o bastante para encampar o Plano Real de seu ministro Fernando Henrique. Foi um momento de grande instabilidade o impeachment, mas acabou levando o Brasil a encontrar o instrumento mais estável de nossa história econômica recente.

Itamar era praticamente independente. Temer é ligado ao PMDB, que tem Eduardo Cunha e Renan Calheiros na marca do pênalti na Operação Lava Jato.

Para conduzir uma tarefa nacional, era preciso admitir que presidentes do Senado e da Câmara não podem seguir no cargo na condição de investigados no petrolão. O PMDB não pode tentar, após o fracasso do PT, controlar a Operação Lava Jato.

É sempre bom acentuar que o cenário de impeachment está previsto na Constituição. Não é um caminho ilegal, golpista e tudo isso que os defensores do governo dizem. Um dos caminhos legais é investigar a campanha de Dilma com base no depoimento do empresário Ricardo Pessoa e nas anotações de Marcelo Odebrecht. São muito fortes os indícios de caixa 2, com dinheiro de propina inclusive vinda de contas na Suíça.

A terceira vereda é a renúncia. Os que conhecem Dilma dizem que ela não renuncia. Ela mesma afirmou que suporta pressões, já passou pela ditadura. Parece que não sabe a diferença entre panelaço e pau de arara. Talvez seja sensível ao argumento da grandeza. Pode voltar contra ela, como um bumerangue, seu discurso no Maranhão: o País está acima dos projetos pessoais.

Não acredito em militantes com vontade de ferro. Isso é um mito stalinista que perpassou a luta armada no continente, feita em condições de extrema dificuldade.

Somos todos humanos. No domingo há manifestação. A maioria do povo brasileiro saberá encontrar, além desta, inúmeras formas de expressar seu descontentamento.

A quase totalidade dos analistas não a acha capaz de controlar o Congresso, onde não tem maioria. Governar com minorias? Só com muitas ideias na cabeça e gente capaz de defendê-las. Isso o governo não tem. A popularidade de Dilma cai à medida que a crise avança. Ela está próxima da unanimidade, o que talvez possa ser sentido como uma forma enviesada de grandeza: a presidente mais impopular do período democrático.

A situação do PT não é das mais confortáveis na opinião pública. Lula reclama de que não pode mais frequentar restaurantes. Diante do cerco social, líderes conhecidos reduzem seus movimentos. Os de José Dirceu se estreitaram para alguns metros de uma cela.


Tanto Dilma como seu partido, a julgar pelos discursos e programa de TV, resolveram enfrentar a maioria e ironizá-la. É uma tática suicida. A Operação Lava Jato ainda reserva ao partido algumas surpresas, com as delações premiadas em curso. Nem precisa mais de revelações bombásticas. Basta comprovar as que foram feitas e o PT pode ter o destino dos partidos italianos que desapareceram com a Operação Mãos Limpas.

Entre quase todas as visões de saída da crise o pressuposto é de que um projeto político morreu. Nossas discussões sobre saída, no fundo, convergem para essa constatação. O problema, como em muitos velórios, é o momento do enterro. Há sempre um parente vindo do sul, alguém que não conseguiu passagem, enfim, prazos diferentes.

Vivemos uma crise econômica, perdendo 100 mil empregos por mês. Logo poderemos sentir o reflexo em convulsões sociais. Pessoalmente, descarto a inércia por achar que é a pior das soluções. Mas não estou perdido sozinho.

Estamos todos no mesmo impasse. O PT e o governo afirmam que cassar o mandato de Dilma levará o País ao caos.

Domingo, as pessoas saem às ruas para dizer o que querem. Os políticos costumam fingir de mortos, esperando passar o calor das manifestações. Acho muito difícil marcá-las com tanta antecedência, pois movimentos sociais têm fluxo e refluxo e um nível de espontaneidade. Mas novas formas de protesto surgirão.

Não creio que o Brasil vá se curvar a um esquema criminoso por medo ou apenas delicadeza. Alguns adversários apanharam muito do PT e, agora, dão a outra face. Há muita elegância e beleza nesse gesto de Cristo. Mas, como lembra um personagem de Beckett, naquela época se crucificava depressa. Ou o Brasil encontra energia e forma de se livrar de um sistema de dominação criminoso ou amargará anos de atraso e desânimo.

De qualquer forma, estaremos juntos. E, de certa forma, separados. A nacionalidade não é uma segunda pele. Bolsões criativos podem surgir aqui e ali, mesmo vivendo num país medíocre e assustado, um Bananão, como dizia Ivan Lessa.

Ninguém no sofá no dia 16!


Quem optar pelo sofá da sala em vez de participar da manifestação do próximo domingo, 16 de agosto, estará escolhendo sofrer a história em vez de contribuir para um futuro melhor.

Inúmeras articulações vêm ocorrendo em Brasília. Um dia a presidente convidou para jantar em comemoração ao Dia do Advogado altas personalidades do mundo jurídico e dos tribunais superiores, inclusive do STF (três compareceram!). Vêm-me à mente que o 11 de agosto é tradicionalmente conhecido como "Dia do pendura", um antigo costume pelo qual estudantes de Direito iam aos restaurantes e mandavam pendurar a conta. Qual a conta que se pretendeu pendurar no jantar do dia 11? No dia seguinte, Lula se reuniu com Temer, Sarney, Renan Calheiros e lideranças do PMDB no intuito de "enfrentar a crise". Enfrentar a crise, para esse específico grupo, significa conseguir que tudo fique como está, que é exatamente como tudo não pode ficar. Na sequência, a presidente foi distribuir benefícios no Nordeste. E, ontem, reuniu-se com lideranças dos movimentos sociais. Foi durante esse ato que ela ouviu, sentada e calada, o presidente da CUT chamar seu exército às armas. 

Que armas?

As forças do conformismo interesseiro se movimentam nos bastidores. Suas preocupações com a situação nacional não são perceptíveis a olho nu.
Vivêssemos sob as mesmas regras adotadas nas democracias estáveis, o governo já teria caído em novembro do ano passado quando se tornaram evidentes as mentiras e mistificações da campanha eleitoral. A suposta "legitimidade" do mandato presidencial é fruto de embustes que fizeram de bobo o eleitor.

As mesmas forças políticas que hoje chamam impeachment de golpe forçaram a renúncia de Collor, que deixou o cargo no dia 29 de dezembro de 1992. Menos de quatro meses depois, em 21 de abril de 1993, por determinação das disposições transitórias da Constituição de 1988, ocorreu o plebiscito sobre sistema e forma de governo. Jamais esquecerei a figura do militante ator Milton Gonçalves, na telinha da tevê, durante a campanha sobre o tema, afirmando que "No presidencialismo, você põe, você tira". Era uma gigantesca inversão da realidade. É no parlamentarismo que se pode tirar o mau governante. O que ocorrera com Collor fora uma quase inacreditável exceção à regra. Mas era uma exceção ainda bem presente na memória das pessoas. Mentindo, fizeram o eleitor de bobo. Pois é, também, graças àquela fraude publicitária de 1993 que Dilma está amarrada ao cargo com uma aprovação de apenas 7% que só lhe proporciona vaia e panelaço.

Aqueles que recusam a legitimidade ao impeachment como um processo constitucional, também recusaram legitimidade, poucos anos passados, ao que aconteceu nos impeachments de Manuel Zelaya em Honduras e de D. Fernando Lugo no Paraguai. Anseiam por parlamentos comprados, submissos, abastardados. Devem avaliar de modo muito positivo os legislativos de Cuba, Venezuela, Equador, Bolívia, Argentina, dos quais jamais se ouve falar porque aceitam a focinheira que lhes impõem os respectivos governos.
Não podemos deixar que convençam ou vençam. Munidos do que lhes falta - respeito à ordem, amor à paz, civilidade e compromisso com o bem do Brasil e de seu povo - vamos todos às ruas neste domingo!


O dia de amanhã

Ninguém sabe o dia de amanhã, ensinaram-me desde menina. Até hoje eu não tinha vivido um tempo em que esse bordão fosse tão verdadeiro.

A manifestação de amanhã contra o governo do PT está sendo convocada em todo o país pelas redes sociais e, como sabemos, na rede há de tudo.

Não sei como será o dia de amanhã. Sei como gostaria que fosse. Manifestar oposição a um governo é legítimo. Sem violência nem incitação à violência porque de brutalidade não precisamos, é o que está sobrando em nosso país. Nada fora da lei, já que é contra os desmandos de toda ordem que se está protestando e não faz sentido recorrer aos métodos daqueles contra quem se protesta. Se para o PT os fins justificam os meios, em uma manifestação de oposição os meios deveriam espelhar os fins.

Diversa há de ser porque os 76% que desaprovam o governo não são todos iguais. O denominador comum de quem vai sair às ruas é o repúdio ao que se poderia chamar o “sistema PT”: a pilhagem da maior empresa do país, o aparelhamento sistemático do Estado, “como nunca antes nesse país” a corrupção como instrumento de governo e domesticação do Congresso, a formação de quadrilha com empresas corruptas e corruptoras. Militantes e dirigentes arrogando-se em únicos amigos e servidores do povo, colocando-se acima do bem e do mal, descendo assim aos subterrâneos onde o pixuleco se fez lei, permitindo o enriquecimento ilícito de alguns supostos “heróis”.

Os mitos do partido puro, diferente e melhor do que todos os outros ruíram, um a um. Sobrou um rei nu que, num último subterfúgio, talvez busque esconderijo em algum ministério abandonado. Decadência trágica de um projeto portador de tanta esperança e que se deteriorou pela sede de poder e pela ganância, equivalente tupiniquim do “socialismo real” que, em todo canto, cedo ou tarde se desfez em frangalhos, deixando atrás de si terra arrasada.

Por mais forte e justificada que seja a indignação com esse estado de coisas, a sociedade não pode resvalar para o desrespeito às instituições tão a gosto dos pescadores de águas turvas, esses que não têm e nunca tiveram nenhum apreço pela democracia. O ódio, de onde quer que venha, é um veneno letal para quem odeia.

O país não está partido ao meio como se apregoa. A desaprovação do governo é tão ampla que fala por si e desmente a lógica da divisão. Os milhares que protestam nas ruas são a ponta de um iceberg feito de milhões que, dentro de si, partilham o sentimento de revolta. Para esses, a questão que realmente importa é como reconstruir a terra arrasada.

O Brasil tem recursos para se reconstruir. Quem quer viver num país decente tem aliados sólidos nos juízes e procuradores que estão desfazendo esta trama sinistra de arbítrio e corrupção.

Na Petrobras, milhares de funcionários estão empenhados num esforço imenso para soerguer uma empresa símbolo, da qual eles e todos os brasileiros se orgulham. Tantos mais haverá em outras empresas estatais, bancos públicos, fundos de pensão, possíveis vítimas de idêntica pilhagem. São recursos humanos de alto valor.

A mídia que resistiu às tentativas de controle e continua a alimentar o debate de ideias e a exercer seu legítimo dever de informar sobre os passos de qualquer governo é mais um precioso ativo nessa reconstrução.


O quadro se complica quando o olhar se volta para Brasília, onde políticos e partidos viciados no cambalacho são muito mais parte do problema do que da solução. Frente aos desatinos do Congresso Nacional, onde interesses pessoais desabridamente se sobrepõem ao interesse público, pergunta-se onde estão os parlamentares — espalhados em vários partidos — que têm sentido de responsabilidade e espirito público? O momento também é propício para o surgimento de novas lideranças que, como células-tronco, vivifiquem esse tecido morto que são seus partidos de ficção.

É impossível prever como a crise institucional vai evoluir. Qualquer que venha a ser o desdobramento da crise, a legalidade deve ser respeitada e os rituais previstos na Constituição obedecidos.

A manifestação de amanhã não será um ponto de chegada e sim um momento forte em um processo que amadurece. Talvez seja mais acidentado e lento do que se desejaria, mas é irrefreável: o fortalecimento na sociedade brasileira da decisão de resgatar, por todos os meios legais, o Estado brasileiro de um sequestro que as investigações da Lava-Jato tornam cada dia mais claro e comprovado. O que não se fará apenas em uma bela tarde de domingo.

É o que se pode saber hoje sobre o dia de amanhã.

O rabo de Gramsci

O Brasil que sobrou é Gramsci mordendo o próprio rabo. O certo virou errado e o errado virou certo. O “senso comum está organicamente superado” e já ninguém diz coisa com coisa. Mas se tudo começou como uma conspiração racional para demolir a base cultural da “democracia burguesa” e substituí-la pela “hegemonia do discurso ideológico da classe trabalhadora”, o local de destino – o “paraíso socialista” – desapareceu de cena depois que a primeira parte da obra estava pronta. A meio do caminho “O Muro” caiu, o sonho acabou, o “intelectual coletivo” vendeu-se ao capitalismo pistoleiro e os “intelectuais orgânicos” que realmente serviam uma causa morreram de overdose ou de vergonha. Os que sobraram são as criaturas de Gramsci; a segunda geração que pensa, sim, pelo avesso, mas já involuntariamente, sem saber exatamente por quê ou para quê.

Foi-se o que haveria de ser; já não ha para onde voltar. E nesse grande “Nada”, a corrupção é que tornou-se “orgânica”; instrumento por excelência de “reprodução da hegemonia da nova classe dominante”.

E cá estamos, ao fim de mais uma “temporada” do dramalhão com que o Brasil imita a arte, onde a cada capítulo os heróis viram bandidos e vice-versa, com o flagrado “dono” da Transpetro alçado de volta à condição de “interessado no Brasil” – com possíveis repercussões nessa Lava-Jato já tão cheia de figurinhas das empreiteiras e estatais e vazia dos figurões da politica para quem e graças a quem eles operam e podem operar – ao fazer-se porta-voz da “agenda” com que Dilma trata de safar-se do impeachment a que poderá levá-la esta paralisia econômica verborrágico-induzida a que chegamos.

O nó a desatar é a desarticulada dispersão do “lado de cá” depois de décadas desse trabalho de desconstrução.


Brasilia, onde não ha crise nem pressa, trabalha coesa como sempre. Tudo segue sendo decidido nos bastidores do “quem indica quem para roubar onde”; só a narrativa aqui para fora é que varia. Agora querem vender como atos politicamente orientados de um único indivíduo a enxurrada anual de pornografia remuneratória da corte. Como há uma disputa de poder entre a nova e a velha guarda de comerciantes de governabilidade, foi cunhada a expressão “pautas-bombas” para designar a fila dos aumentos auto-atribuidos do funcionalismo puxados, como é tradição, pelo do Judiciário que, neste ano de penúria, abocanhou retumbantes 78% quase no mesmo dia em que o governo “dos trabalhadores” confiscava o abono de quem ganha dois salários mínimos. No vácuo dessa “conquista” veio o escárnio da multiplicação por três do Fundo Partidário. Agora é a vez da nobreza menor, auditores da Receita à frente. As tais “pautas-bombas” não passam, portanto, da obra coletiva de parasitose de sempre que resulta na progressiva pauperização do resto do Brasil.

A relação de causa e efeito entre esses fatos — assunto “tabu” na academia e na imprensa brasileiras — quase chegou a ser afirmada recentemente. De tanto demonstrar em suas reuniões quantas gerações de brasileiros entram para a lista dos sem futuro a cada semana de atraso no que terá um dia de ser feito, o dr. Levy conseguiu levar até profissionais calejados como Michael Temer a sentir pena do Brasil. O vice-presidente “pediu água”. Até Aloizio Mercadante “pediu água”. Dilma mesmo animou-se a fazer uma tímida menção à idéia de reduzir o numero de ministérios…

A obscena montanha de gordura, afinal de contas, está onde sempre esteve e quanto mais tudo ao redor vai sendo reduzido a pele e ossos, mais escandalosamente visível ela se torna. Mas como a metástese do Estado que sufoca o país, a ser amputada se não se quiser matá-lo, corresponde à exata soma de todos quantos decidem se haverá ou não impeachment e suas cortes, a represália dos bastidores veio implacável. Tanto Dilma quanto o PT passaram, então, a negar nas mesmas frases em que a pediam a necessidade de uma “união nacional” para fazer frente “a crise tão pouca” – o tipo de tapa na cara da realidade que configura a “indução verborrágica” da paralisia econômica e da disparada do dólar – enquanto Temer e Mercadante, embora sustentando ainda a sua necessidade, davam o dito por não dito ao declinar especificar para quê a queriam.


Agora “a lista de Renan” vem, de novo, tirar a solução de onde o problema está e apaziguar os ânimos no rico condomínio dos Tres Poderes.

Aqui fora, nesse meio tempo, o Quarto Poder, cuja função já foi a de captar pleitos difusos da cidadania, formatá-los referenciado-os às melhores práticas internacionais e empurrá-los para dentro do “Sistema” na forma de campanhas por reformas, passou a ter outro tipo de preocupação depois que o comando de empresas jornalísticas e redações passou das mãos de jornalistas às de empresários e gerentes administrativos que nunca leram Gramsci.

Assim chegamos a este Brasil reduzido a dois tipos de “discursos inarticulados“: o do dinheiro e o do coração.

Nem o consumo subsidiado de “espelhinhos e missangas” de véspera de eleição, nem os impeachments das ressacas de estelionato eleitoral, se houverem, vão alterar essencialmente, porém, a desordem institucional que nos mantem na montanha russa. Instituições são tecnologias que — bons ou ruins — produzem resultados inexoráveis. E nesse campo, ha um nítido divisor de águas no mundo. De um lado estão os que distribuem mandatos como se fossem capitanias hereditárias, dão a seus detentores poderes absolutos para definir a pauta política da Nação e, com eles, a prerrogativa de transformar impunemente as vidas de seus representados num inferno. Do outro os povos que, armando-se do poder de retomar a qualquer momento os mandatos que concedem usando, entre outros, o instrumento do recall, mantêm o estrito comando da pauta política dos seus representantes e assim põem o governo a serviço do pais e o país a serviço de seu povo.

Este é o caminho.
Fernão Lara Mesquita

PS.: Este artigo foi escrito antes do irresponsavel convescote proto-terrorista promovido 5a feira no Palácio de Dilma

Inocentes!?

República dos conchavos

Depois de uma semana de conchavos de gabinete, com o objetivo de banir da pauta a hipótese de impeachment, o país real vai às ruas neste domingo para dar o seu parecer – que, todos sabem, é o inverso do acertado em Brasília.

A semana, que terminou com a Operação Pixuleco 2 – que aproxima mais a campanha de Dilma das propinas do Petrolão -, foi ruim também para a economia. O Brasil desceu mais um degrau na avaliação de risco das agências internacionais.

Está literalmente à beira do abismo. Falta dinheiro para tudo, menos, é claro, para manifestações remuneradas dos “movimentos sociais” pró-governo. A Marcha das Margaridas – a facção feminina do MST - foi bancada com dinheiro público, da Caixa Econômica e do BNDES, numa ilegalidade flagrante.

Nem o fato de o BNDES estar prestes a sentar no banco dos réus intimidou o governo, que pretendeu exibir a marcha como demonstração de que também tem apoio popular, ainda que nutrido a sanduíches e cachês – o Bolsa Manifestação.

O BNDES deve incluir, a partir de agora, em suas finalidades estatutárias, a cláusula “socorro presidencial”.

Não foi a única ilegalidade. Ao tempo em que a Câmara dos Deputados aprovava a lei antiterror, o presidente da CUT, Vagner Freitas, convocava seus aliados a ir às ruas, “entrincheirados, com armas na mão, combater a burguesia”. Falou do “nosso exército”, que obviamente não é o da Constituição. Ficou explicado por que a CUT se opõe à lei antiterror. Age em causa própria.

Uma ilegalidade dentro da outra: uma passeata bancada com dinheiro público e uma incitação à guerra civil, às vésperas de uma manifestação popular que promete sacudir o país no domingo. O mais espantoso é que a conclamação criminosa de Freitas se deu diante da presidente da República, que nenhum espanto exibiu.

Aliás, espanto é uma palavra que parece banida do glossário político. Os últimos depoimentos e delações obtidos pela Justiça, dentro da Operação Lava-Jato, deixam claro que a reeleição de Lula, em 2006, e as duas eleições de Dilma foram sustentadas com dinheiro sujo, circunstância em que a lei cassa os eleitos.

Como não é possível cassar retroativamente, cassa-se ao menos no presente. A Lava-Jato é a negação da frase presidencial – repetida à exaustão – de que foi eleita de maneira legítima. Ainda que o tivesse sido, isso não a livraria do ajuste com a Justiça, como não livrou Collor, em 1992 – e olhe que Collor não carregava consigo a suspeita de urnas eleitorais fraudadas.

A acusação de que impeachment é golpe não se sustenta, por ter previsão constitucional, como já foi exaustivamente esclarecido. O PT, aliás, desde a redemocratização, pediu o impeachment de todos os presidentes da República: Sarney, Collor, Itamar e Fernando Henrique. Só obteve o de um – Collor -, de quem se tornou aliado incondicional.

Hoje, os mesmos argumentos aplicados a Collor aplicam-se a Dilma, numa escala infinitamente maior.

Como não é possível disfarçar o estrago, o governo decidiu partir para os conchavos. Enquanto a presidente detiver a caneta e o Diário Oficial, tem poder – e, enquanto o tiver, tem meios de atrair apoio, sobretudo no denso campo da fisiologia.

Conseguiu atrair o presidente do Senado, Renan Calheiros, de quem, na semana anterior, era inimiga, e, a partir daí, aproximou-o do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, supondo matar assim dois coelhos com uma só cajadada: reconduzir Janot (que promete derrubar Eduardo Cunha) e preservar Renan das investigações do Petrolão.

Getúlio Vargas dizia que não ter inimigos que não pudesse converter em amigos – e vice-versa. Esse legado foi historicamente absorvido pelo PT e posto em prática no curso da semana.

A ausência de oposição fez com que uma presidência que tem apenas 7% de apoio da população conseguisse passar a ideia de que já superou ameaças a seu mandato e de que a manifestação de amanhã será um fracasso. A conferir.

O problema é que os conchavos não se restringem ao governo. Prosperam igualmente na oposição. O governador Geraldo Alckmin quer Dilma sangrando até 2018, quando espera ter firmado as bases de sua candidatura presidencial.

O senador José Serra quer a ascensão de Michel Temer, que o faria ministro da Fazenda, permitindo que reeditasse a performance de FHC com Itamar Franco. Serra faria seu Plano Real e postularia a sucessão em 2018.

Já Aécio Neves, beneficiário do recall da eleição passada, quer a cassação da chapa presidencial e convocação de novas eleições. Dilma explora o conflito e diz que eles não pensam no Brasil, mas em si próprios. Dilma, claro, pensa no Brasil – tanto que recorreu a Renan Calheiros para apresentar uma Agenda Brasil, um amontoado de propostas, a maioria já conhecidas e nenhuma discutida com a população. Não é proposta: é propaganda.

Lula mandou Dilma circular o país – e ela o está obedecendo, reeditando alguns dos momentos mais patéticos da campanha. Só que agora já não engana ninguém. Por isso, fala apenas para plateias amestradas, como as Margaridas, no temor de que as panelas voltem a repicar. Amanhã, com as manifestações, teremos a dimensão dos efeitos desses truques antigos.

Se triunfarem, chega de intermediários: João Santana para presidente.

Perdeu, Brasil


Os fatos estão na cara de todos. A nação se transformou na fábrica de dinheiro e poder para petistas e cúmplices aliados. Se o Brasil já não era sério para Charles De Gaulle, agora mesmo é o paraíso da bandidagem política sem que sequer precisemos consultar alguma lista da Lava- Jato. 

Nem entregue ao Deus-dará, estamos. Somos milhões servindo, sob mentiras e engodos, à pistolagem político-governamental.

Com uma crise política, econômica, moral e ética, o que se vê são os arranjos imorais, que agora se fazem sob os holofotes.

Como num passe de mágica, logo depois de Michel Temer implorar "alguém" para costurar um pacto de governabilidade, eis que surge Renan Calheiros, o salvador da pátria, com um pacote prontinho debaixo do braço. Foi imediatamente alçado a "comandante" da articulação politico-econômica. De graça, sem cobrar um pixuleco? Logo "alguém" citado na lista da Lava-Jato?

Dilma até copiou o modelito do senador. Lançou velhos projetos em novo formato e com um belo papel de embrulho. Enfiou pela garganta da população que a tarifa elétrica, reduzida a bel-prazer em favor eleitoreiro, também sofrerá uma queda. Mais uma mascarada.

Numa semana cheia também não faltou jantar no Planalto. Para parlamentares e até os juízes do STF, que julgarão processos do envolvidos na Lava-Jato com foro privilegiado, como Renan. Ninguém imagine, um presidente promovendo o Jantar das Togas com a Suprema Corte diante de uma crise política. Só em democreptocacias de bananas. E mais inacreditável é o presidente do STF, Ricardo Lewandovski, reconhecidamente petista, falando em garantir "estabilidade institucional". Por mera coincidência, a bandeira de Dilma.

Com o Senado, sob a regência de Renan, e o Supremo, acolhido sob o manto negro de Lewandovsky, todos reverenciais à presidente, não resta ao cidadão nada mais do que gritar, sair às ruas, zoar ao menos nas redes. Calar, jamais.

Já se calou muito, muito se foi conivente à instalação do aparelhamento e da rede de corrupção vermelha. Não se pode mais tolerar que um governo, quando seus cidadãos sofrem com demissões, menos dinheiro no bolso, ainda gaste à tripa forra com uma marcha das Margaridas quase RF$ 900 mil de empresas estatais. Um custo a mais que será pago pelo contribuinte para que Dilma possa aparecer bem na foto. Sem contar a farra gastronômica dos jantares de chef dos últimos dias no Planalto.

É o Partido do Trambique continuando a dar rabo de arraia nas instituições, que tratam como aparelhos. Com direito a grito de guerra de petralha dentro do Planalto, casa maior da Presidência, sob o silêncio de Dilma e sua camarilha.

Quando movimentos sociais podem gritar abertamente dentro do palácio, em defesa armada da presidência, o comício da Central do Brasil, em 1964, que "atemorizou" a direita, é um acontecimento menor.

O grito proferido pelo presidente da CUT é claro: "Perdeu, Brasil!". E a presidente, que insiste em ter sido legalmente eleita, e não poderia ser de outra forma na democracia, abaixou a cabeça. Calou e consentiu a bravata da bandidagem.

Logo se romperá o círculo de giz

Na vida e na economia, existem distorções que o Lula não conseguiu evitar e que Dilma parece não querer. São falsas verdades vindas do passado, praticadas por Fernando Henrique, Fernando Collor, José Sarney e antecessores, sabe-se lá desde quem. Trata-se de um engodo, um expediente, uma vigarice criada para manter intacta a divisão entre uns poucos privilegiados e muitos sofredores. Um círculo de giz traçado pela intolerância em torno da fragilidade de todos nós.

Porque permanece o raciocínio abominável de que, no Brasil, a felicidade e o bem comum surgirão apenas com educação para todos, nada mais sendo obrigação do Estado e de seus artífices. É mentira. Vamos supor que sem exceção nossas crianças tenham acesso ao ensino básico, médio e até universitário. Estarão credenciadas para ingressar no mundo do trabalho digno e produtivo, capaz de gerar uma sociedade igualitária e feliz? Nada feito.

Porque as elites e os governos por elas formados lavam as mãos diante de tudo o mais que se desata à frente da educação, acrescentado a livre competição como seu corolário. Sentem-se desobrigados de outras contribuições, apesar da necessidade de sequência no processo iniciado com a escola. partir do diploma para todos, ainda que hoje mero sonho de noite de verão, estarão resolvidas as agruras do país? Só para os privilegiados, aqueles que pelo berço e pela riqueza nem precisariam competir.

A imensa maioria necessita encontrar trabalho, daí lançar-se numa feroz disputa que leva o conjunto a arreganhar presas e acionar garras, uns contra os outros, já que o poder público e as elites desligam-se de demais preocupações com todos. Cada qual que se vire, mesmo precisando pisar no semelhante e até vangloriar-se da crueldade. Será esse o oxigênio da sobrevivência das minorias, mesmo sob a capa do cumprimento de seu dever ensejando educação para todos. São cooptados para essa distorção muitos dos que conseguiram alcançar o objetivo, ignorando haver-se tornado marionetes dos que realmente controlam a sociedade.

Continuar criando condições para os iludidos, educados e diplomados conquistarem trabalho digno e produtivo seria dever dos privilegiados, mas se assim agissem estariam sepultando seus privilégios e sua condição de feitores do processo social. Daí o artifício da livre competição.


Por certo que a capacidade e a disposição de cada indivíduo influenciam a construção de seu futuro, mas o mínimo contido no primeiro patamar, no caso a educação para todos, se viesse a ser conquistado, precisaria alçar-se ao patamar seguinte, na forma de trabalho igualmente estendido a todos. Jamais como dádiva, favor ou prêmio, mas como direito inalienável do ser humano. Mendigar um emprego, como está acontecendo, contraria a lógica e a ética. É, no entanto, a ferramenta que mantém o controle de poucos sobre muitos. Até o desemprego, hoje, serve aos interesses da minoria empenhada em preservar suas benesses.

Alegam serem essas as leis do mercado, isto é, cada um que abra seucaminho na selva intransponível da livre competição entre quantidades distintas, imposta à maioria por enquanto impotente. O problema para os donos do poder é que aumenta a cada dia o número dos injustiçados e marginalizados. Graças à educação, suprema ironia para as elites, toma-se cada vez mais consciência da necessidade de ser rompido o círculo de giz. Cedo ou tarde.

A passageira do medo

Dilma psicanalista freud esta ouvindo aplausos crise e grave

Na democracia, o poder de governo repousa sobre a legitimidade, um conceito eminentemente político, e a legalidade, um conceito político-jurídico. Dilma Rousseff perdeu a primeira, mas ainda se equilibra sobre a segunda, que só pode ser anulada pelo Congresso ou pelo Judiciário. Razões legais para o impedimento estão quase disponíveis, pela invocação oportunista das "pedaladas fiscais" ou pelo poderoso argumento da contaminação de sua campanha com recursos desviados da Petrobras. Amanhã, será testado o grau em que a aplastante rejeição à presidente se traduz na forma de mobilização popular. Contudo, mesmo se as ruas forem tão numerosas quanto no 15 de março, hipótese permeada de incerteza, ela tem uma chance nada desprezível de sobreviver. É que a elite política teme as alternativas.

"Ninguém vai tirar a legitimidade que o voto me deu", disse Dilma, imaginando a legitimidade como um atributo perene, não uma relação instável. Sua legitimidade evaporou em semanas, sob a dupla fervura do estelionato eleitoral e do escândalo do petrolão. Junto com sua popularidade, a catástrofe destroçou a base parlamentar do governo, gerando uma crise política que agrava a crise econômica herdada do mandato original. Desse caldo, não de uma conspiração malévola, nasceu a iniciativa de Michel Temer, que deu um passo à frente e se apresentou como "alguém" com a "capacidade de reunificar a todos".

Abrir a "porta Temer" seria simples e rápido, exigindo apenas uma condenação do TCU e a confirmação do Congresso (ou o atalho anestésico da renúncia). Entretanto, a solução esbarrou na ausência de um consenso político mínimo. Na interpretação corrente, e vulgar, que não deixa de captar a superfície do fenômeno, o impasse refletiu as mesquinhas disputas de poder no interior do PSDB e do PMDB. Mais embaixo, porém, encontra-se a raiz do problema: a elite política teme um governo Temer (ops!).

O paralelo entre Temer e Itamar Franco é impertinente, pois Collor já tinha trilhado a estrada inteira da maldade, enquanto Dilma cumpre apenas a etapa inicial de uma longa jornada. No fim das contas, perguntaram-se os próceres tucanos e peemedebistas, quem se atreveria a sustentar um governo carente de legitimidade eleitoral que, na moldura de uma crise econômica aprofundada pelo fracasso do ajuste fiscal, só teria a opção de fazer o mal?


Teme-se a outra alternativa, antes de tudo, porque ela é complexa. A impugnação da chapa Dilma/Temer pelo TSE não é provável, pois exigiria prova irrefutável de que a campanha foi abastecida pelos dutos da corrupção. Além disso, não seria seguida imediatamente por novas eleições, como sonha o grupo de Aécio Neves, já que os condenados teriam o direito de recorrer ao STF, num processo tão dramático quanto prolongado. Nos altos círculos da política, e também na esfera empresarial, não há muito entusiasmo por uma solução que implicaria a virtual ausência de governo durante mais de um ano.

Por motivos distintos, a "porta Aécio" provoca calafrios singulares em Eduardo Cunha e Renan Calheiros. Um governo eleito sobre as ruínas do atual seria compelido, pela lógica das urnas, a comprometer-se com a nossa Operação Mãos Limpas. Às voltas com as denúncias colhidas pelos procuradores da Lava Jato, os dois imaculados patriotas depositam suas esperanças no jogo da chantagem com o espectral governo lulopetista.

"Tudo que estamos fazendo tem o objetivo claro de dar condições de entrarmos no novo ciclo de crescimento", declarou Dilma no Maranhão. De fato, pelo contrário, o Planalto já não se ocupa do país, mas apenas de si mesmo: tudo que lá se faz tem o objetivo exclusivo de evitar o impeachment. Mas isso é irrelevante, pois a sobrevivência da presidente deixou de depender da sua ação ou inação. Dilma não conduz mais nada: é a passageira do medo.

O Brasil dirá nas ruas que não tem medo das ameaças da CUT

A grande mídia noticia que a senhora Dilma Rousseff está fortalecida, que a tempestade já passou, que a oposição ficou desacreditada e tudo o mais, e curiosamente há até quem acredite nessas baboseiras. Mas a realidade é muito diferente, porque os problemas da troika tropical (Planalto, PT e Instituto Lula) de forma alguma estão sendo resolvidos. Pelo contrário, vêm se agravando numa velocidade impressionante.

O que se pode dizer é que já passamos da fase da embromação, tipo eu não sabia de nada ou Dilma é uma mulher honesta, jamais se meteu com esses malfeitos, e agora estamos entrando na fase do jogo sujo, das chicanas jurídicas, das manobras de tapetão e até das ameaças concretas, como a bravata do presidente da CUT, dizendo que os movimentos sociais vão sair às ruas com armas na mão para defender o mandato de Dilma. Esse sindicalista é um imbecil. Em outras épocas, sua conclamação poderia significar um pedido claro para que os militares começassem a preparar os tanques, mas nos dias de hoje o amadurecimento da democracia brasileira afasta totalmente essa hipótese.

O desespero do presidente da CUT mostra que os problemas da troika tropical estão se agravando, seus defensores começam a escassear e a saída é tentar alguma jogada de tapetão.

No Tribunal de Contas da União, dois ministros governistas – José Múcio e Vital do Rego – já perderam a linha e se colocaram na linha de tiro, ao tentar uma manobra capaz de favorecer o Planalto.

Como se sabe, Múcio é um ex-deputado do antigo PFL que ficou amigo de Lula, enquanto Vital do Rego é ex-senador do PMDB também com grandes serviços prestados ao ex-presidente, especialmente quando presidiu no Congresso uma CPI Mista da Petrobras que não deu em nada.

A estratégia deles é passar a borracha no passado, para que as determinações contáveis do TCU sobre pedaladas e outras maquiagens fiscais só passem a valer daqui para frente, vejam como os petistas estão criativos hoje em dia.

Mas o que vai interessar mesmo será o parecer técnico dos auditores do tribunal, que vai demolir a defesa de Dilma e os argumentos da Advocacia Geral da União, tal o surrealismo das táticas do ex-ministro Guido Mantega para maquiar as contas do governo e encobrir a gravíssima crise que vinha corroendo o governo passado.

Na Justiça Eleitoral, o golpe é diferente e está sendo tentado pela ministra Maria Thereza de Assis Moura (que fez carreira de advogada, jamais foi juíza e chegou ao STJ na onda do PT). Ela é relatora da ação apresentada pelo PSDB contra a chapa Dilma/Temer. Para atender ao Planalto, a ministra audaciosamente se expôs ao achincalhe jurídico, ao arquivar liminarmente a ação e depois o recurso dos tucanos, sem sequer citar os envolvidos e formar o processo. Agiu de forma primária e antijurídica, numa manobra arriscada que qualquer aluno da Faculdade de Direito sabe que não pode prosperar.

Sua decisão foi destruída quinta-feira pelo ministro Gilmar Mendes e agora o placar já está dois a um contra Dilma/Temer, pois o ministro João Otávio de Noronha, que acumula o cargo de corregedor da Justiça Eleitoral, deu o segundo voto apoiando Mendes e há indicações de que Luiz Fux dará o terceiro. Portanto, ficará faltando apenas um voto dos outros três ministros para prosseguir o processo contra Dilma/Temer. E vai ser divertido assistir ministros do STJ querendo desbancar ministros do Supremo, se é que terão coragem de fazê-lo, arriscando-se a jogar suas biografias jurídicas na lata do lixo da História.

Como se vê, a situação de Dilma, do PT e do Instituto Lula está cada vez pior, e as perspectivas da troika tropical são tenebrosas, conforme ficará demonstrado amanhã, quando a opinião pública brasileira sair às ruas, colorindo as cidades de verde e amarela, para dizer que existem leis neste país, que na vida pública é preciso haver limites e que ninguém tem medo dos exércitos dos movimentos sociais e das armas que eles pretendem usar contra os outros brasileiros, que não se vendem por trinta dinheiros e insistem em lutar por uma vida melhor para todos, não apenas para os seguidores e cúmplices dos atuais locatários do Planalto/Alvorada.