sexta-feira, 14 de abril de 2017

Sal na moleirinha

Mais de R$ 450 milhões foram distribuídos pela Odebrecht a políticos das três esferas do governo, aponta levantamento do jornal “O Estado de São Paulo”. Um número capaz de escandalizar qualquer cidadão decente. Não aqui, no país da superlativa corrupção, onde Marcelo Odebrecht fala de quantias assombrosas como se mencionasse troco de picolé. Não na terra em que muitos denunciados continuam a desfrutar do apoio incondicional de sua legião de fanáticos.

O conteúdo dos depoimentos de Marcelo Odebrecht e seu pai é igual à morte anunciada de um parente: intuímos o que vai ocorrer e acreditamos estar preparados, mas, na hora que acontece de verdade, sobrevém o baque doloroso. A realidade nos arrasa. O fato concreto nos atordoa. Quanto mais se lê, ouve ou assiste ao vídeo dos depoimentos dos empresários, mais se intensifica o sentimento de indignação entre os que ainda mantêm vivo o respeito à ética no Brasil.

Esse monstruoso montante de dinheiro encharcado do nosso sangue é, sim, responsabilidade de políticos e empresários corruptos. Mas também se deve a todos os que escolheram a cegueira de apoiá-los, apesar da montanha de denúncias se avolumar há meses, anos e até décadas.

Nossa nação é hoje um organismo que geme em praça pública. Suas vísceras estão expostas e o mau cheiro se espalha, denunciando a moléstia que o consome. Possibilidade de cura existe, mas será longa e trabalhosa. O início dela passa – além da punição exemplar dos corruptos – obrigatoriamente pelo fim do apoio anacrônico a quem está envolvido no esquema que há décadas afunda a Nação no lodo das indignidades. Já passa da hora de libertar as mentes da prisão ideológica. Ela é indigna de um brasileiro com sangue nas veias e senso moral desenvolvido. Todo cidadão consciente deveria tomar para si a tarefa de legar ao ostracismo cada um dos ligados ao esquema sórdido. E ir além: pressionar por mudanças capazes de evitar que se repita esse festival de horrores.

Mas para isso, é necessária uma revolução silenciosa e interna. O Congresso precisa deixar de ser espelho do ethos dominante no país. Basta desse caráter macunaímico, que chama a malandragem de molejo, diverte-se em passar a perna nos descuidados e, à primeira chance, também se lambuza na corrupção.

A Nação cansada não merece ouvir aplausos a explicações inconsistentes e comentários populistas. Nem ver gente que figura na lista da Interpol rir-se como se nada devesse. O que são Odebrechts e os políticos integrantes da lista de Fachin? Apenas as figuras mais conhecidas e representantes máximos desse exército de brasileiros que, repito, vende a alma em troca de dinheiro sujo.

Nada mudará enquanto famosos e anônimos não forem sufocados pela conduta geral que reprova a adesão ao crime. E por leis/punições cada vez mais severas. É preciso condenar condutas abjetas. É necessário desprezar a criminalidade, em vez de torná-la objeto de veneração.

É como dizem por aí: o problema não está na loucura de D. Quixote, mas em Sancho Pança, que o apóia e acompanha, de olho no cargo de governador da ilha. Na obra-prima de Cervantes, Sancho Pança aos poucos abre mão de sua visão realista para embarcar nos delírios de D. Quixote. Por isso, o escritor o define como “homem de bem, mas de pouco sal na moleirinha”. O Brasil só sai dessa lama se houver mais sal em algumas moleirinhas.

A metástase da corrupção em Brasília

Brasília derrete. Notória e agora escancarada a podridão naquelas paragens. A repulsa e mesmo o nojo que essa forma de fazer política provocam na população são inclassificáveis. Deputados, senadores, ministros e governantes, todos juntos, misturados num bolo fecal de roubos em série, como uma infestação de moscas a rondar sujeira. O sindicato do crime instaurado pelo PT em 13 anos de poder frutificou e se arraigou de tal maneira na Capital Federal que envolveu praticamente todos os atores numa grande fuzarca. Cambada de aloprados! Lula, o comandante supremo – como bem classificou a força-tarefa da Lava Jato – falava lá atrás, nos tempos idílicos de uma candidatura que se dizia contra tudo que está aí, que existiriam 300 picaretas comandando o Congresso. Hoje, sabe-se, são muito mais. Dentro e fora da casa parlamentar. E o autor da frase está prestes a ser condenado pelo mesmo crime, com requintes diabólicos, dignos de um Maquiavel focado em praticar o mal. Cuidado com o que ele diz e faz! Inúmeros depoimentos demonstram cabalmente que “a alma mais honesta que existe” – como o petista se autoproclamava – recebeu propina em dinheiro vivo, maquinou esquemas de desvios e de corrupção a torto e a direito e não se furtou de aproveitar as benesses do cargo para locupletar a família – filhos, irmãos & Cia. O odor putrefato das negociatas exala para cada lado. Todos se lambuzaram no melado nojento do caixa dois, das conveniências financeiras de venda, compra e troca de favores, nos mensalões, petrolões, num contubérnio onde o menos safado não passaria incólume em listas, mesmo preliminares, de transgressões e afrontas à lei. É ladroagem em profusão. E quem perdeu foi cada um de nós, que devemos aprender, da maneira mais dolorosa, com essa experiência, para nunca mais repeti-la.


Senhores brasileiros, saibam de antemão que, especialmente na era petista, – está provado e reiterado –, se institucionalizou e tomou força a corrupção como política de Estado. Quem não entrasse na corriola era sacrificado. Representantes venais, em nome de eleitores ingênuos e com o apadrinhamento de caciques mal-intencionados, avançaram sobre a máquina pública, não encontrando limites ou freio. O aparelhamento estatal para saquear os cofres virou regra. Fez parte da rotina. Teve método e hierarquia definidos. Eis o saldo do populismo barato instaurado pelos que diziam representar o povo em causas justas.

Mentira! Simples assim. Eles irrigaram as contas da patota e saíram com o discurso de vítimas de golpe. As gravações, relatórios processuais e documentos provam. Nunca mais acredite nessa propaganda enganosa. Foi usada em várias ocasiões para furtar os seus sonhos e sofrida poupança. Cínicos, os assaltantes da riqueza nacional negam até a morte. Como num jogral ensaiado, logo após a divulgação da lista de envolvidos, a qualquer um que se perguntasse sobre a sua participação no esquema, vinha a resposta padrão: “Não foi comigo”, seguidas de epítetos como “as contribuições a minha campanha eram absolutamente legais”, “desconheço”, “não sei de nada disso”, “são inverdades”, “sempre atuei na legalidade”. Ilegal, com certeza, é a ilusão publicitária que esses arrivistas buscaram transmitir à população nos últimos tempos. Nojentas agremiações deram guarida à gatunagem sistêmica. Estava afinal certo o parlamentar, misto de menestrel oficial, Romero Jucá, quando disse que todos participaram da suruba. Desqualificados agora correm atrás de salvar o próprio pescoço. Sumiram de Brasília, que arde em chamas. Não mostram o mínimo de respeito ou de comiseração para com o eleitor, brasileiros que na maioria dos casos sofrem as chagas de um desemprego lancinante e de estruturas públicas entregues à falência. Tome-se o caso emblemático do estado do Rio de Janeiro, onde o ex-governador, já preso, Sergio Cabral, pintou e bordou. Comparsa de primeira hora do chefe de quadrilha, Lula, ele foi pego nas mais variadas circunstâncias de desfalques às finanças públicas.

Como afirmou o procurador Eduardo El Hage, que se disse impressionado com a voracidade dos desvios, Cabral “roubou em todas as áreas”. Ladrão contumaz, como diversos outros, que daqui para frente terão contas a acertar com a Justiça, graças à determinação dos agentes da Lava Jato. O vexame político não encontrou rédeas, mas a perseguição aos bandidos também não. Pelo bem da democracia.

Imagem do Dia

Peneda do Gerês (Portugal)

População é quem está pagando a conta da corrupção generalizada

Os atores do processo de corrupção desencadeada no país deixaram a conta para ser paga pela população. Ninguém pense que o enorme volume de dinheiro envolvido na tempestade foi pago por qualquer uma das partes que agora contestam sua atuação e sua presença no teatro das operações. Se uma empresa como a Odebrecht, por exemplo, pagou propina, claro que a diferença do custo não saiu do bolso dela. Ela aumentou os preços dos contratos, daí surgindo o superfaturamento consequência lógica da operação.

Verifica-se assim, com base no princípio de que não existe débito sem crédito e vice-versa, a existência de um débito cada vez mais acumulado no tempo. Como se os participantes de um jantar, na hora da saída deixassem a conta para nós todos. Foi o que aconteceu. Nós todos, no caso, representamos a população brasileira.

Enquanto com a exibição dos vídeos os principais delatores se discute quem está falando a verdade ou a mentira, a nação é debitada em seus recursos financeiros, os quais, não fosse o assalto praticado, teriam destinação produtiva. O que piora o panorama dramático que está sendo descortinado pelas emissoras de televisão e jornais é que a corrupção é algo profundamente improdutivo. O país está pagando a conta que não constrói nada e só beneficia um grupo de desonestos.

Começaram as afirmações da Odebrecht e as negativas dos acusados, apontados como recolhedores e recebedores das propinas gigantescas fundamentais à trapaça. Esse confronto vai marcar uma etapa decisiva do processo, porque evidentemente os que fizeram transferência de recurso saberão dizer como esta foi realizada. Sobretudo porque, segundo a Odebrecht, cada mochila poderia conter até 3 milhões de reais.

Como os pagamentos parcelados foram em escalas muito maiores deduzimos que foram feitos depósitos bancários dentro e fora do país. Os depositantes portanto, para sustentar suas versões, devem estar de posse dos respectivos recibos.

Da mesma forma, os delatores terão de identificar os locais que as importâncias onde foram entregues e qual a forma do conteúdo corruptor. Numa primeira síntese, surge a controvérsia entre Marcelo Odebrecht e o ex-ministro Guido Mantega. O primeiro dizendo que sim, pagou. O ex-titular da fazenda dizendo que não, não recebeu.

Tais confrontos vão se suceder longamente, da mesma maneira que os processos encaminhados pela Procuradoria Geral da República ao Poder Judiciário, inclusive ao Supremo Tribunal Federal. Exigir as provas é um direito dos que estão sendo acusados e também um aspecto fundamental para o curso dos processos. Mas devemos admitir a hipótese de que o Ministério Público logicamente deve estar de posse de múltiplas provas capazes de sustentar as acusações que apontam os atores de uma peça chamada corrupção sem fronteiras.

Sai Lula. Entra Luiz Inácio Odebrecht da Silva

A Suderj informa: substituição no time do PT. Sai Lula, o retirante nordestino que sobreviveu à seca e à miséria, também conhecido como “O Pai dos Pobres”, o “Messias do rio São Francisco” ou simplesmente “O Cara”, assim batizado no melhor de sua forma física pelo ex-presidente americano Barack Obama.

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Entra Luiz Inácio Odebrecht da Silva, o garoto descoberto nas greves da região do ABC paulista nos anos 80 do século passado pela maior empreiteira da América Latina, próspero negociante de sua própria fama, e que ao aderir ao chamado mundo da bola preferiu se apresentar sob a alcunha de “Metamorfose Ambulante”.

Ao fazê-lo, forneceu todas as pistas para que afinal fosse decifrado, mas isso estava muito acima da capacidade de compreensão dos seus contemporâneos. Lula, de há muito, deixara de ser apenas um nome. Fora promovido à condição de sobrenome para proteger sua numerosa família que passou a se beneficiar do seu sucesso pessoal.

A história de Luiz Inácio Odebrecht da Silva começou a ser contada quando o ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato, suspendeu o sigilo em torno das delações de executivos da empreiteira que está no centro do maior escândalo de corrupção do mundo, segundo o Departamento de Estado do governo dos Estados Unidos.

Segundo Marcelo Odebrecht, ex-presidente da empreiteira, condenado e preso em Curitiba, Lula chegou a registrar um saldo de R$ 40 milhões de reais em sua conta-propina administrada pelo ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci. Desse total, Lula sacou, no mínimo, R$ 30 milhões em dinheiro vivo de 2002 para cá.

Homem de família - embora certa vez tenha se assustado com o boato de que havia fotos suas em meio a uma farra em Manaus -, cuidou para que ela levasse a vida com razoável conforto. Para o irmão que o iníciou nas artes da política, Frei Chico, conseguiu que a Odebrecht lhe pagasse uma mesada mensal em troca de nada.

Para seu filho caçula, Luís Cláudio, que a Odebrecht financiasse seus negócios na área do futebol americano. Foi a Odebrecht, ao seu pedido, que introduziu em Angola a empresa de construção civil do seu sobrinho Taigara Rodrigues. A empresa, ali, não foi bem-sucedida. Mas Taigara ganhou o seu pago pela Odebrecht.

Conforme revelou Emílio Odebrecht, o patriarca da família com negócios em mais de 20 países, não foi Lula que pediu que a empreiteira reformasse em Atibaia o sítio onde a família costumava repousar. Foi dona Marisa, mulher dele, que morreu recentemente às turras com o marido e com medo da Lava Jato.

Mas quando Lula recebeu Emílio no Palácio do Planalto no seu penúltimo dia como presidente da República, Emílio apressou-se a dizer que a reforma do sítio ficara pronta. Chamou-o de “chefe”, por hábito. Pensou que desmanchara a surpresa que Marisa lhe reservara. Lula já sabia de tudo. Sempre soube.

Sabia também que a Odebrecht comprara um terreno para abrigar a futura sede do Instituto Lula (mais tarde Lula desistiu da ideia). E sabia que a Odebrecht tinha novos planos para ele. O principal: carregá-lo pelo mundo como conferencista capaz de lhe abrir novas portas de negócios. Pagaria por palestra o que ele cobrasse.

“Nosso objetivo inicial foi conseguir um projeto que pudesse remunerar o ex-presidente Lula, face o que ele fez durante muitos anos para o grupo. E que fosse de uma maneira lícita, transparente”, delatou Alexandrino Alencar, ex-diretor da Odebrecht. “Depois descobrimos que ele poderia nos ajudar em negócios no exterior”.

Com todas as despesas de viagens pagas pela Odebrecht, Lula passou a ganhar entre 150 mil a 200 mil dólares por palestra. Enriqueceu rápido. Só parou de fazer palestras quando a Odebrecht entrou definitivamente no radar da Lava Jato. Por gentileza, Emílio tratava-o de “chefe”. De fato, o chefe sempre foi Emílio.

A serviço de Emílio, ainda no seu primeiro governo, por exemplo, Lula chegou a impedir que a Petrobras comprasse ativos do Grupo Ipiranga para garantir que a Odebrecht, por meio de uma subsidiária, continuasse hegemônica no setor de combustíveis. Prejudicou a estatal. Mais tarde, a Odebrecht comprou o grupo.

Outro exemplo: em 2007, no seu segundo governo, Lula foi acionado por Emílio para resolver o problema criado pelo Ibama que se negava a dar uma licença ambiental para a construção da hidroelétrica de Santo Antônio, no rio Madeira, obra da Odebrecht. A licença não saía por conta de uma área de reprodução de bragres.

- Eu fui a ele e disse: ‘O país precisa de energia e vai ser paralisado por causa do bagre? O senhor precisa tomar uma decisão’ – delatou Emílio. Lula tomou – e a licença saiu. O episódio marcou o início do enfraquecimento de Marina Silva no cargo de Ministra do Meio Ambiente. Ela pediu demissão meses depois.

Emílio conheceu Lula nos anos 70. Na época, a Odebrecht enfrentava uma greve geral no Polo Petroquímico de Camaçari, na Bahia. “Ele (Lula) criou as condições para que eu pudesse ter uma relação diferenciada com os sindicatos”, confessou Emílio. Em Camaçari, despontou um líder sindical de nome Jaques Wagner.

“Lula pega as coisas rápido. Ele percebe aquilo que tem a ver com intuição pura. É um animal político, um animal intuitivo”, disserta Emílio, que sempre “apoiou Lula” com conselhos e dinheiro. Ajudou-o na confecção da “Carta ao Povo Brasileiro”, divulgada em 2002 para acalmar o mercado financeiro às vésperas da eleição.

Foi uma relação proveitosa para os dois enquanto durou.

Gestão Temer virou uma contagem regressiva

Faltam 20 meses e meio para que Michel Temer volte em definitivo para São Paulo. Será um suplício acompanhar cada manhã de uma presidência-tampão comandada por um político que sonhava em passar à história como um novo Itamar Franco e fica cada dia mais parecido com José Sarney. As delações da Odebrecht, que invadem os lares dos brasileiros em jorros amazônicos desde o início da semana, empurraram a gestão Temer da enfermaria direto para a UTI. Os principais operadores da política trabalham com a perspectiva de que Temer concluirá o seu mandato. Não mais por méritos, mas por absoluta falta de alternativa.

Em meio a uma atmosfera de franca promiscuidade, as autoridades erguem as mãos para o céu em agradecimento ao feridado cristão. Atônito, o governo tenta se reposicionar em cena. Por ora, Temer acalenta a fantasia de que conseguirá manter as fornalhas do Congresso acesas, para aprovar todas as propostas necessárias à retomada do crescimento econômico. Nem a equipe econômica do governo acredita nesse milagre.


O drama de Temer mudou de patamar. Isso fica evidente no instante em que o presidente se vê obrigado a exibir na internet um vídeo para se contrapor a um delator que insinua sua concordância com uma propina de US$ 40 milhões, extraída pelo PMDB de um negócio na Petrobras. Para evitar que o governo entre em coma, Temer talvez tenha que reconsiderar a decisão de manter seus ministros suspeitos nos cargos até quando der. Já deu! De resto, Temer, mãos postas, reza para que o Supremo Tribunal Federal rejeite um recurso do PSOL pedindo que o presidente da República seja incluído no rol de investigados da Lava Jato. Se você acredita em Deus, reze. Se não acredita, reze também.

Gente fora do mapa

Yang Yankang 

A lama do crime

Há um ano e meio o país assistiu aterrado às imagens do rompimento da barragem em Mariana com a lama levando tudo pela frente, destruindo e matando de gente a animais e plantas. Ficou uma devastação só. Premonitórias e didáticas as cenas de poluição seguindo rio abaixo até desembocar no mar, que meses depois ainda afeta toda população e meio ambiente. A recuperação, sabe-se, será lenta e longuíssima.

A lama mineira além de tóxica era de corrupção, de descaso com o contribuinte. Em troca de um progresso para a região tudo se era permitido, inclusive imperar sobre os homens e a natureza. Um consórcio formado pela Samarco, a Vale e a anglo-australiana BHP, de forma irresponsável, provocou o maior desastre ambiental brasileiro e do mundo. 


Não é diferente agora quando o reservatório das maracutaias políticas com a divulgação das delações da Odebrecht. A lama escorre por todo o lado, não há margens para conter a devastação, nem rio para carrear a sujeira, que se esparrama país a fora. E ainda há mais delação por vir. Eis um país atolado no assalto deliberado de seus cofres no maior crime de corrupção imaginado no mundo contra uma nação.

As dimensões do criminoso conluio governamental, num plano geral, são mais devastadores do que vaza pela mídia. O que não foi enlameado, com alto custo para limpeza e desinfetação, sofrerá consequências por muito tempo.

Não é pouca coisa se limpar um país tão enlameado quanto o rio Doce. Se a natureza tem seu tempo próprio para eliminar a sujeira, não pouco será desinfetar o país. O custo será altíssimo e o tempo, longo, por mais de uma geração. Otimismo nessas medidas será prejudicial e mesmo criminoso, porque prolongará a recuperação. Sem falar no tal jeitinho brasileiro, como um acordão, que camuflará a sem-vergonhice para tudo ficar como está. Em tempo real, quando o Brasil levantará a cabeça, só Deus sabe. Em menos tempo, é canalhice. 
Luiz Gadelha

A pegada humana e os riscos para a Terra

A ONU dedicou toda a semana passada a discussões sobre população no mundo e caminhos para o desenvolvimento sustentável, com ênfase no futuro demográfico e sua influência no panorama geral. Um dos destaques foi a tendência ao envelhecimento nos índices gerais da população, com variações locais que influem nos prazos, nos instrumentos de política e nas recomendações sobre a utilização desses dados no planejamento político-econômico – principalmente tendo em conta essa tendência de envelhecimento médio das populações.

Publicação recente do Instituto Humanitas Unisinos afirma que o crescimento econômico e da “pegada antrópica” (6/4) pode levar ao “colapso da economia moderna”, segundo José Diniz Alves, doutor em Demografia na Escola Nacional de Ciências Estatísticas (Ence/IBGE). Tudo associado com a evolução demográfica.

Surgido na África, o ser humano iniciou o processo de migração há 90 mil anos, mas até 10 mil anos atrás havia menos de 1 milhão de pessoas na Terra. Esse número permaneceu baixo até o início da revolução agrícola. Com o crescimento da população agrícola e o avanço das cidades, ao lado da disponibilidade de recursos naturais, por volta do ano 8.ooo a.C. chegou-se a 5 milhões; a 170 milhões no ano do nascimento de Cristo; em 1350, a 370 milhões. Na época do descobrimento do Brasil, a população mundial chegara a 450 milhões e por volta do início da Revolução Industrial, a 1 bilhão de pessoas – ou seja, levou uns 200 mil anos para chegar ali.

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Para chegar a 3 bilhões foi preciso crescer muito até 1960; também para atingir 4 bilhões em 1974, 5 bilhões em 1987, 6 bilhões em 1999, 7 bilhões em 2011. A próxima marca, dos 8 bilhões, deverá vir em 2023 ou 2024. Gráfico da ONU indica que em 2100 a população global estará, dependendo dos índices de fecundidade mundial, entre 7 bilhões e 17 bilhões de habitantes, média de 11 bilhões. Essa fecundidade mundial, que começou a baixar em 1960 (de 5,02 filhos por mulher entre 1960 e 1965 para 2,53 filhos entre 2005 e 2010), caiu pela metade em meio século. A maior redução foi na década de 1970, para 1,84 filho – o Brasil e a Índia tiveram reduções expressivas.

Na década de 1990 as reduções continuaram expressivas, à taxa de 0,45 filho por mulher. Na primeira década deste século baixaram a 0,09 filho por mulher. E a ONU continua calculando que a fecundidade média seguirá desacelerando, caindo ao longo de todo o século. A população mundial ficaria, nesse caso, em 11 bilhões em 2100; se a reposição ficar o,5 acima do nível de reposição, a população chegará a quase 17 bilhões; se ficar 0,5 abaixo, em 2100 estará com menos de 7 bilhões.

E o futuro? Já temos 7,5 bilhões de habitantes, uma pegada ecológica 64% mais alta que a biocapacidade da Terra. A concentração de dióxido de carbono na atmosfera está perto de 410 partes por milhão (o nível seguro é de 350 ppm). Aquecimento global e subida do nível dos oceanos (que ameaça diretamente 2 bilhões de pessoas que vivem a pouca distância do mar) agravam as perspectivas para as próximas décadas. Os Objetivos do Desenvolvimento do Milênio, em matéria de saúde, não foram alcançados: segundo a Organização Mundial de Saúde, cerca de 225 milhões de mulheres em idade reprodutiva continuam sem acesso a métodos contraceptivos. Já a Secretaria de Assuntos Humanitários e Emergências da ONU alerta que o mundo está sofrendo a maior crise humanitária de todos os tempos. E pede recursos urgentes para o Iêmen, o Sudão do Sul, a Nigéria e a Somália.

As projeções da ONU indicam que a redução média na população continuou e deve continuar, caindo 0,45 filho por mulher. De 2010 a 2015 caiu para 2,5 filhos por mulher no quinquênio. E segundo a Divisão de População desse organismo, as projeções são de que nos próximos anos a redução na fecundidade média da população mundial vai continuar desacelerando, até o final do século 21. Em 50 anos a taxa caiu 2,5 filhos por mulher, mas em 90 anos deve cair apenas 0,5 filho por mulher.

No caso da hipótese média da ONU, o volume total da população mundial ficará em torno de 11 bilhões de habitantes em 2100; se a taxa ficar 0,5 filho acima do nível de reposição, a população chegará a quase 17 milhões de habitantes; se ficar 0,5 filho abaixo, ficará com menos de 7 bilhões de habitantes em 2100. De qualquer forma, um número que supera a capacidade do ecossistema de sustentar essa população. Poderá talvez sobreviver, “mas em condições psiquicamente alienadas”, diz o Stockholm Resilience Centre (5/4).

Sejam quais forem os caminhos no Brasil, em todos os casos se evidenciam numerosas deficiências de políticas em todos os biomas. Talvez as mais preocupantes sejam as do bioma amazônico, onde as taxas de desmatamento voltaram a crescer no ano passado em níveis alarmantes. Não bastasse, há poucos dias o Senado aprovou a Medida Provisória 756, que põe em situação vulnerável mais de 660 mil hectares (ou 6 mil quilômetros quadrados) de unidades de conservação na Floresta Nacional do Jamanxim, já alvo de especulação imobiliária e grilagem; 305 mil hectares (equivalentes a quase duas cidades de São Paulo) são transformados em área de proteção ambiental mais branda, pois permite a regularização de terras. Outra área prejudicada é a Reserva Biológica Nascentes da Serra do Cachimbo, também no Pará: ali as reservas já ocupadas poderão ser regularizadas.

São apenas uns poucos casos, embora muito relevantes num país que deveria dar prioridade à preservação de seus biomas e de seu futuro. Mas basta olhar para o Cerrado, berço de grande parte das águas brasileiras, para ver que ali já se devastaram mais de 50% do bioma, que chegou a concentrar 5% de todas as espécies do planeta.

São urgentes e precisam ser muito rigorosas novas políticas para o território brasileiro.

Imbecilidade moral

A missão do chamado "intelectual" é, de certo modo, oposta à do político. A obra intelectual aspira, frequentemente em vão, a aclarar um pouco as coisas, enquanto a do político sói, pelo contrário, consistir em confundi-las mais do que já estavam.
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Ser da esquerda é, como ser da direita, uma das infinitas maneiras que o homem pode escolher para ser um imbecil: ambas, com efeito, são formas da hemiplegia moral 
Ortega y Gasset,

Mela o jogo e embaralha novamente?

A República do Caixa Dois ficou exposta com a “Lista de Fachin”, que colocou inúmeros políticos do alto escalão sob suspeita e investigação. Nunca antes na história deste país a classe política gozou de tão pouca credibilidade. A Odebrecht, ao que tudo indica, não era bem uma empreiteira, mas um centro de distribuição de propina e recursos ilícitos para campanhas políticas. “Não se salva um, meu irmão.”

Mas, em que pesem os indícios de corrupção generalizada, cabe perguntar: a quem interessa misturar tudo e todos num grande saco podre? Que nossa política faz uso de caixa dois há anos, todos sabem. Que isso é crime e não deve ficar impune, idem. Mas daí a reduzir ao caixa dois o que fez a quadrilha petista, em conluio com a própria Odebrecht, isso é absurdo e só interessa mesmo aos próprios petistas.

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Foi Lula quem, em 2005, tentou assumir esse delito menor para livrar sua turma dos crimes maiores. O mensalão tinha estourado, um esquema de compra de deputados para o controle da máquina estatal por um só “partido”, e Lula, o “amigo” da Odebrecht, reconheceu o erro do caixa dois, o que todos faziam antes dele. Do “nunca antes” foi para o “sempre antes”, e tentou com isso blindar seu PT de acusação bem mais grave.

Por que tanta gente tem tentado misturar tudo, como se caixa dois fosse igual a um assalto à democracia?

Caixa dois, repito, é crime e deve ser punido. Não é brincadeira, subverte o conceito da democracia. Enriquecimento pessoal com contas na Suíça também é crime, e igualmente grave. Mas o PT no poder não fez “só” isso; fez muito mais! E coisa muito pior: tentou destruir a nossa democracia, levar o Brasil na direção da Venezuela, instaurar em nosso país um regime totalitário, aparelhando a máquina estatal inteira, controlando tudo. A corrupção foi o meio; o fim era mesmo o socialismo.

Com isso em mente, a questão que surge é esta: por que tanta gente tem tentado misturar tudo, como se o ato de um candidato receber recursos de campanha por fora fosse igual ao assalto direto do PT à nossa democracia? E justo numa época em que Lula parece mais perto da prisão?

Guilherme Fiuza escreveu em seu Twitter: “Companheiro Fachin honrando sua patente petista, embaralhando as cartas e tentando igualar todo mundo às vésperas da prisão de Lula. Em vão”. Será que o respeitado jornalista tem um ponto? Será que ele está certo, e que tudo isso soa estranho num momento desses?

Que nossa política está podre, isso é um fato. Que a “Lista de Fachin” explica posturas aparentemente estranhas de “opositores” do PT, pusilânimes demais porque tinham o rabo preso, isso também está evidente. Mas essa tentativa de melar o jogo e embaralhar as cartas novamente é o sonho de quem estava perdendo feio, não é mesmo? E isso bem na hora em que o PT afundava de vez, e o governo de transição tentava, ao menos, aprovar algumas reformas necessárias para impedir que o Brasil todo afunde junto. Estranho.

A reação a esse clima de podridão geral é preocupante. Alguns sonham com um salvador da Pátria, um messias que vai consertar a bagunça toda de cima para baixo, bem ao estilo paizão que o brasileiro adora, e que sempre foi nossa maior desgraça. O terreno para outro caudilho populista foi adubado. Ao mesmo tempo, como esperar alguma mudança séria vindo de dentro desse sistema corrompido?

Que dilema! Um liberal deveria estar lutando pelo fortalecimento de nossas instituições republicanas, que devem ser mais fortes do que indivíduos, e pela redução do Estado, cujo poder demasiado é o grande convite às moscas corruptas. Mas o resultado desse “melou o jogo” pode ser o oposto disso.

Por outro lado, é inaceitável ser cúmplice de uma anistia geral, da impunidade para aqueles que praticaram o crime de caixa dois ou receberam propina. Seria enfraquecer as tais instituições. Tempos perigosos à frente.

Rodrigo Constantino 

Paisagem brasileira

Oito décadas depois, a Vila de Santa Cruz foi transferida para um platô na foz do Rio João de Tiba, o atual Centro Histórico, como forma de proporcionar à população melhores condições de defesa para os frequentes ataques indígenas. Na parte alta da cidade, encontram se a Igreja de Nossa Senhora da Conceição, construída no século XVII, a Casa da Câmara e Cadeia, que abrigou a primeira Intendência do Brasil, prédio do século XVIII, e ainda as ruínas de um colégio jesuíta do século XVI.:
Santa Cruz Cabrália (Bahia)

Mentirosos contumazes

Lava Jato
Deve-se cobrar da Justiça um ritmo mais adequado às demandas da sociedade. Disso ninguém discorda. Mas é preciso compreender também que um esquema de corrupção sistêmica montado e aperfeiçoado ao longo de três décadas não se desmonta do dia para a noite. É preciso cautela para não gerar nulidades frustrantes nem dar margem a que os envolvidos aleguem cerceamento de defesa e agressão ao devido processo legal. Já vimos esse filme no processo do mensalão quando o Supremo foi acusado de funcionar como “tribunal de exceção”. Muita gente boa abraçou a tese.

A Lava Jato não tem deixado brechas nesse aspecto, como também não tem dado folga nas investigações, com a revelação praticamente semanal quando não diária de fatos novos. Os vazamentos tão criticados têm sido todos confirmados pela divulgação oficial de depoimentos, a despeito da alegação dos acusados de que são mentiras inventadas pelos delatores interessados em entregar qualquer coisa às autoridades em busca de uma redução de danos. Como se o Ministério Público, policiais federais e juízes estivessem dispostos a engolir lorotas em troca dos benefícios. Se mentirosos há, estão do outro lado do balcão.

Espanto só agora?

Sale
O que nós temos no Brasil não é um negócio de cinco anos, dez anos atrás. Nós estamos falando de 30 anos atrás. Tudo o que está acontecendo agora era um negócio institucionalizado, era uma coisa normal
Emílio Odebrecht

Novos tempos

Durante várias décadas, a Suíça foi um país marcado pela precisão de seus relógios, pela qualidade de seus chocolates, pela secular Guarda Pontifícia e pela segurança garantida pelo sistema bancário a todos aqueles com boas razões para esconder das autoridades a origem de seus patrimônios. Os relógios e os chocolates lá produzidos continuam excepcionais. Pode-se também dizer que a integridade do papa Francisco permanece garantida pela Guarda. O que vem mudando, e muito, é a imagem de um oásis para os ladravazes internacionais.

Um relatório divulgado há pouco pelo Ministério Público suíço, apresentando um balanço das atividades do órgão em 2016, revelou que a cooperação entre as autoridades daquele país e brasileiras, no âmbito da Operação Lava Jato, foi responsável pelo rastreamento e bloqueio de 1 bilhão de francos suíços – aproximadamente R$ 3,4 bilhões – em cerca de mil contas bancárias abertas naquele país com o objetivo de esconder o dinheiro desviado da Petrobrás. Desse montante, R$ 623 milhões já foram devolvidos às autoridades brasileiras.

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O avanço das investigações no Brasil e seus desdobramentos no Poder Judiciário também são lembrados no documento. Os procuradores suíços mencionam a condenação de políticos e empresários a penas severas, tanto de prisão como de multa, lembrando o acordo internacional bilionário fechado pela Odebrecht, que envolveu também as autoridades dos Estados Unidos.

Os valores bloqueados até o momento são de tal monta que surpreenderam até mesmo procuradores experientes, acostumados a conduzir investigações de crimes financeiros envolvendo espoliadores contumazes de dinheiro público, como os notórios ditadores Jean-Claude Duvalier, o “Baby Doc” – que ajudou a reduzir o Haiti à condição de nação mais miserável das Américas –, e Muamar Kadafi, o misto de ditador, terrorista e saqueador líbio, entre outros.

A colaboração entre o Ministério Público brasileiro e seu correlato suíço foi estabelecida em abril de 2014, com foco na investigação dos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro desviado da Petrobrás a fim de bancar as campanhas políticas do PT e partidos aliados, além de enriquecer ilicitamente funcionários públicos, lobistas, empresários, dirigentes partidários e apaniguados. A surpresa diante da dimensão do dinheiro desviado é compatível com a magnitude dos crimes cometidos, não apenas contra o patrimônio público, mas contra a própria essência da democracia. A indevida vantagem econômica de um grupo partidário sobre os outros, como meio de se manter no poder e garantir a manutenção do sistema criminoso, já seria suficiente para estarrecer qualquer um que preze pela saúde do regime democrático.

Em 2015, em evento na sede da Procuradoria-Geral da República (PGR), em Brasília, para celebrar um ano da operação conjunta entre autoridades brasileiras e suíças e discutir ações bilaterais para recuperação de ativos e combate à corrupção, o procurador suíço Luc Leimgruber afirmou que seu país “não admite que haja lavagem de dinheiro de ativos obtidos a partir de atividades criminosas por meio de seu sistema financeiro. Não há mais contas anônimas (na Suíça)”. Foi um passo decisivo para fechar o cerco sobre as grandes quadrilhas internacionais e fazer frente à sofisticada engenharia financeira que, em geral, dá suporte às suas atividades criminosas.

À medida que o crime organizado avança em suas estratégias delituosas, inclusive subvertendo as próprias noções de fronteira, as forças da lei precisam acompanhar esta “evolução” modernizando o arcabouço da legislação penal e tributária, formando equipes cada vez mais preparadas para este tipo de combate e, sobretudo, estabelecendo acordos de cooperação internacional como o celebrado entre Brasil e Suíça.

Ainda não é possível afirmar que fim terá a Lava Jato. Entretanto, sem o acordo estabelecido entre o Ministério Público brasileiro e o suíço, seguramente, o epílogo desta história desagradaria àqueles que, ansiosamente, esperam por justiça.

O diagnóstico é clínico?

Nos meus 42 anos de formado, foram 26 ministros da saúde.

O tempo médio no cargo foi de 14 meses, se excluirmos os interinos e os cinco ministros que ficaram três anos na função, o que dificulta a condução de uma política de Estado. O governo de plantão arrasta-se em ações transitórias.

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Se a estatística se confirmar, em breve haverá a esperada mudança no comando, pois faltam apenas dois meses para o atual ministro atingir a média histórica.

Não questiono sua probidade, função da Justiça, mas a proposta de criar um plano de saúde popular privado, impor um prontuário eletrônico sem uma profunda discussão técnica, autorizar a importação de quimioterápico desqualificando sociedades especializadas e acusando a classe médica de perdulária não lhe favorece na longevidade para comandar o maior orçamento de todos os ministérios, além de estar propondo desobediência à Constituição.

Dia 8 de abril, afirmou na Universidade de Harvard, EUA, segundo a BBC, que "80% dos exames de imagem no SUS têm resultado normal", representando "desperdícios que precisam ser controlados". Afirmou também que, “se o médico solicita muitos exames que dão resultados normais, ele não está agindo de forma correta com o sistema [...] exames de imagem (como tomografias e ultrassonografias) que não identificam problemas ou doenças sugerem que os médicos não estariam fazendo diagnósticos clínicos de forma correta e que, na rede pública, não estão atentos aos custos dos procedimentos”.

Político experiente, busca confundir o leitor, num jogo de palavras e estatísticas.

Claro que os exames devem ser utilizados quando há necessidade e não diminuem a responsabilidade de se buscar um diagnóstico a partir dos elementos clínicos. No entanto, os exames laboratoriais apoiam cerca de 70% das decisões médicas. Com gastos muito baixos comparados aos custos totais, têm grande impacto, por exemplo, na detecção das doenças cardiovasculares e do câncer.

Novas tecnologias contribuem para diagnósticos mais precisos, mas sofrem grande resistência para serem incorporadas, tanto no sistema público como no privado, aumentando a judicialização. Se houvesse uma política ativa de pesquisa clínica, eventuais excessos - pode tudo ou não pode nada - seriam mitigados, com base em respostas científicas, sem viés financeiro ou emocional.

Está em nossa Constituição, no seu artigo 196, que a “saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação”.

Há décadas a conta não fecha e o sistema vem piorando, num contínuo desrespeito à Constituição.

Qual o tratamento correto?

Não há necessidade de nenhum exame complementar para identificar essa triste imagem. Médicos sabem que o diagnóstico é clínico: ou muda-se a Constituição ou combate-se a corrupção, a mais grave doença do país.