sexta-feira, 14 de abril de 2017

Mela o jogo e embaralha novamente?

A República do Caixa Dois ficou exposta com a “Lista de Fachin”, que colocou inúmeros políticos do alto escalão sob suspeita e investigação. Nunca antes na história deste país a classe política gozou de tão pouca credibilidade. A Odebrecht, ao que tudo indica, não era bem uma empreiteira, mas um centro de distribuição de propina e recursos ilícitos para campanhas políticas. “Não se salva um, meu irmão.”

Mas, em que pesem os indícios de corrupção generalizada, cabe perguntar: a quem interessa misturar tudo e todos num grande saco podre? Que nossa política faz uso de caixa dois há anos, todos sabem. Que isso é crime e não deve ficar impune, idem. Mas daí a reduzir ao caixa dois o que fez a quadrilha petista, em conluio com a própria Odebrecht, isso é absurdo e só interessa mesmo aos próprios petistas.

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Foi Lula quem, em 2005, tentou assumir esse delito menor para livrar sua turma dos crimes maiores. O mensalão tinha estourado, um esquema de compra de deputados para o controle da máquina estatal por um só “partido”, e Lula, o “amigo” da Odebrecht, reconheceu o erro do caixa dois, o que todos faziam antes dele. Do “nunca antes” foi para o “sempre antes”, e tentou com isso blindar seu PT de acusação bem mais grave.

Por que tanta gente tem tentado misturar tudo, como se caixa dois fosse igual a um assalto à democracia?

Caixa dois, repito, é crime e deve ser punido. Não é brincadeira, subverte o conceito da democracia. Enriquecimento pessoal com contas na Suíça também é crime, e igualmente grave. Mas o PT no poder não fez “só” isso; fez muito mais! E coisa muito pior: tentou destruir a nossa democracia, levar o Brasil na direção da Venezuela, instaurar em nosso país um regime totalitário, aparelhando a máquina estatal inteira, controlando tudo. A corrupção foi o meio; o fim era mesmo o socialismo.

Com isso em mente, a questão que surge é esta: por que tanta gente tem tentado misturar tudo, como se o ato de um candidato receber recursos de campanha por fora fosse igual ao assalto direto do PT à nossa democracia? E justo numa época em que Lula parece mais perto da prisão?

Guilherme Fiuza escreveu em seu Twitter: “Companheiro Fachin honrando sua patente petista, embaralhando as cartas e tentando igualar todo mundo às vésperas da prisão de Lula. Em vão”. Será que o respeitado jornalista tem um ponto? Será que ele está certo, e que tudo isso soa estranho num momento desses?

Que nossa política está podre, isso é um fato. Que a “Lista de Fachin” explica posturas aparentemente estranhas de “opositores” do PT, pusilânimes demais porque tinham o rabo preso, isso também está evidente. Mas essa tentativa de melar o jogo e embaralhar as cartas novamente é o sonho de quem estava perdendo feio, não é mesmo? E isso bem na hora em que o PT afundava de vez, e o governo de transição tentava, ao menos, aprovar algumas reformas necessárias para impedir que o Brasil todo afunde junto. Estranho.

A reação a esse clima de podridão geral é preocupante. Alguns sonham com um salvador da Pátria, um messias que vai consertar a bagunça toda de cima para baixo, bem ao estilo paizão que o brasileiro adora, e que sempre foi nossa maior desgraça. O terreno para outro caudilho populista foi adubado. Ao mesmo tempo, como esperar alguma mudança séria vindo de dentro desse sistema corrompido?

Que dilema! Um liberal deveria estar lutando pelo fortalecimento de nossas instituições republicanas, que devem ser mais fortes do que indivíduos, e pela redução do Estado, cujo poder demasiado é o grande convite às moscas corruptas. Mas o resultado desse “melou o jogo” pode ser o oposto disso.

Por outro lado, é inaceitável ser cúmplice de uma anistia geral, da impunidade para aqueles que praticaram o crime de caixa dois ou receberam propina. Seria enfraquecer as tais instituições. Tempos perigosos à frente.

Rodrigo Constantino 

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