sábado, 29 de novembro de 2014
Que coelho sairá dessa cartola?
O mercado - esse ente tão desprezado na retórica e tão
cortejado na ação - espera para ver que espécie de coelho sairá da cartola da
presidente reeleita.
Você pode acreditar em Gilberto Carvalho e achar que Joaquim
Levy jogou fora todas as suas convicções e resolveu aderir ao “programa
histórico do PT”, mesmo que isso seja como acreditar em mula sem cabeça ou em
discos voadores pilotados por ETs.
Ou você pode acreditar que Dilma Roussef foi convencida por
alguém (quem será?) a aderir à realpolitik e curvar-se finalmente à
racionalidade econômica, e que isso significa, de certa maneira, entregar os
anéis de suas convicções para não perder os dedos com os quais se agarra ao
poder.
Há uma terceira possibilidade: você pode não acreditar em
nada disso e convencer-se, de uma vez por todas, que o único projeto realmente
consistente do grupo que está no poder é exatamente o de manter-se onde está,
custe o que custar.
Tanto isso é verdade é que “o programa histórico do PT” foi
jogado a escanteio pelo próprio Lula e trocado pela “carta ao povo brasileiro”
para que ele pudesse ganhar a eleição depois de 3 derrotas seguidas. E as
promessas da “carta” foram cumpridas à risca por Antônio Palocci e Henrique
Meirelles, o mercado ficou satisfeito, e a excitação da militância foi mantida
acesa com a retórica do confronto do “nós contra eles”, o bem contra o mal.
Volta então a política de uma no cravo (do mercado) e uma na
ferradura (da militância), que caracterizou os dois governos Lula?
Os resultados do governo Dilma foram tão desastrosos em
termos de crescimento, de gestão, de reformas estruturais, de corrupção, que
ela só conseguiu reeleger-se graças aos truques usados para manter grande parte
do eleitorado naquilo que o brilhante historiador inglês Tony Judt chamaria de
“nuvens líricas de ignorância intencional”.
Nuvens, como se sabe, mudam de forma. Quando elas se
dissipam, sobra a realidade para administrar. E Joao Santana sabe criar nuvens
líricas de ignorância de onde podem chover votos, mas depois que recebe seu
cheque, vai cuidar da vida e deixa a realidade por conta da doutora gerente.
Leia mais o artigo de Sandro Vaia
Leia mais o artigo de Sandro Vaia
'Brasil precisa taxar ricos e investir em educação'
O investimento em educação – e em especial na educação pública - é absolutamente essencial para se reduzir a desigualdade. E a taxação progressiva de rendas altas e grandes heranças pode ser uma forma de obter recursos para investir no sistema de educação pública
Thomas Piketty
Crítico-sensação do capitalismo, Piketty é autor do polêmico
best-seller O Capital no Século XXI (Editora Intrínseca) em que
defende, a partir da análise de dados inéditos de 20 países, que a desigualdade
de renda estaria voltando a aumentar no mundo após décadas em queda.
Ele diz que o próximo passo de seu projeto é estudar países
emergentes, entre eles o Brasil, e defende que a desigualdade é um dos fatores
que inibe o crescimento brasileiro.
"Se o Brasil quiser crescer no século 21 precisa
garantir que amplos grupos da população tenham acesso à educação de qualidade,
qualificação e trabalhos que pagam bem", diz.
Dilma é traidora ou sábia?
São sábios aqueles que têm a coragem de mudar de ideia. Talvez isso explique a decisão de colocar o futuro econômico do país em mãos mais ortodoxas
Os governos
passam, os partidos desaparecem, os líderes morrem, mas os países permanecem.
Tinha, portanto, razão o cartaz visto em uma das recentes manifestações de rua
de São Paulo, onde se podia ler: “Em primeiro lugar, o Brasil”.
Os órfãos da
candidata Dilma que acusavam seus adversários, Aécio Neves e Marina Silva, de
querer colocar o país nas mãos dos banqueiros e que hoje descobrem que ela
colocou a economia do país nas mãos do liberal Joaquim Levy, agora estão
desconsolados.
Já começaram
as manifestações contra sua decisão de dar uma guinada neoliberal na economia
que, claro, estava na UTI. Logo a acusarão de trair a esquerda e seu partido, o
PT.
Até levantaram
a cabeça aqueles que preferem ver na manobra da nova Presidente de colocar um
banqueiro para liderar a economia como uma forma de “mudar e deixar tudo como
está”. Assim, Dilma teria colocado Levy como ministro da Fazenda para
catequizá-lo, ou seja, para convertê-lo ao petismo, e não para regenerar o
barco econômico que ameaçava afundar o país em uma recessão severa e que os
investidores locais e estrangeiros perdessem a confiança.
Os políticos
devem sempre ser criticado e vigiados pelos meios de comunicação e pela
oposição, porque está em sua natureza a tentação de abusar do poder e de
colocar seus interesses pessoais ou do partido acima do bem da nação. Da mesma
forma, devem receber, no entanto, uma margem de confiança ao reconhecerem
explícita ou implicitamente um erro na sua gestão, e têm a coragem de mudar o
rumo do navio.
Dilma, com a
decisão que acaba de tomar, a de colocar o presente e o futuro imediato
econômico do país em mãos mais ortodoxas e neoliberais do que exigia a esquerda
de seu partido, provou que desta vez ouviu aquele grito da rua: “Em primeiro
lugar, o Brasil”.
Há, dentro de
suas tropas e dos que se sentem órfãos da campanha eleitoral contra a direita,
pessoas que começam a falar de traição à causa e da admissão, pelo menos de
forma implícita, que a política econômica de seu primeiro mandato havia
fracassado.
Traição ou
sabedoria? “Sapient est mutare consilium”, diziam os filósofos latinos, ou
seja, são sábios aqueles que têm a coragem de mudar de ideia. É o caso de
Dilma, que teria tido o bom senso de entender que, pelo bem do Brasil,
precisava de mudar de rumo para salvar o navio que começava a afundar?
Petrolão pode pegar até 100 políticos
Temendo serem flagrados na Operação Lava Jato, congressistas já procuram escritórios de advocacia para prepararem suas defesas
Em abril, logo após surgirem as primeiras informações do
esquema de corrupção da Petrobras e dois dos cabeças do grupo presos começarem
a falar com a polícia, havia políticos que alardeavam aos quatro ventos de que
o Congresso brasileiro iria abaixo com as denúncias. No ato do dia do trabalho,
promovido pela Força Sindical em 1º de maio, em São Paulo, alguns desses
políticos diziam que ao menos três dezenas de congressistas estariam envolvidos
nos atos de corrupção. Até então quase nenhum nome de investigados pela
Operação Lava Jato havia vindo à tona.
Em outubro, a grita comum do período eleitoral era de que
mais de 70 deputados e senadores seriam implicados na rede de corrupção da
petroleira. De cima de um caminhão-palanque em um ato pró-Aécio Neves, na
capital paulista, o deputado federal Paulo Pereira da Silva (que preside o
partido Solidariedade) foi categórico: “Esse governo não vai se sustentar. Tem
entre 70 e 100 deputados envolvidos com o petrolão”.
A expectativa dele e dos outros de seus colegas está próxima
de se concretizar. O escândalo de desvios de ao menos 10 bilhões de reais que
parecia grudar apenas nos partidos governistas, porém, é mais amplo. Conforme
oito líderes partidários ouvidos pelo EL PAÍS nesta semana, as principais
legendas brasileiras se preparam para uma enxurrada de críticas por terem seus
correligionários envolvidos nas denúncias e, pior, de batalhas nos tribunais.
Falando sob a condição de não terem seus nomes divulgados,
esses dirigentes de partidos estimam que entre 60 e 100 congressistas, a
maioria deles deputados e ex-deputados, estejam em vias de serem investigados
pela ligação com a quadrilha que tomou conta da maior companhia brasileira
entre 2004 e 2012, entre os governos petistas de Lula da Silva e Dilma
Rousseff. “Não tem como fugir. Vai sobrar para todo mundo. Pelo que temos visto
será uma carnificina”, disse um dirigente partidário.
Conforme os representantes partidários, alguns parlamentares
já começaram a consultar advogados sobre o passo a passo de um processo
jurídico e de como se livrar da prisão. Dois escritórios de São Paulo, um de
Minas e um do Rio confirmaram, sem dar nomes, que foram sondados por
congressistas nas últimas três semanas.
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