O mercado - esse ente tão desprezado na retórica e tão
cortejado na ação - espera para ver que espécie de coelho sairá da cartola da
presidente reeleita.
Você pode acreditar em Gilberto Carvalho e achar que Joaquim
Levy jogou fora todas as suas convicções e resolveu aderir ao “programa
histórico do PT”, mesmo que isso seja como acreditar em mula sem cabeça ou em
discos voadores pilotados por ETs.
Ou você pode acreditar que Dilma Roussef foi convencida por
alguém (quem será?) a aderir à realpolitik e curvar-se finalmente à
racionalidade econômica, e que isso significa, de certa maneira, entregar os
anéis de suas convicções para não perder os dedos com os quais se agarra ao
poder.
Há uma terceira possibilidade: você pode não acreditar em
nada disso e convencer-se, de uma vez por todas, que o único projeto realmente
consistente do grupo que está no poder é exatamente o de manter-se onde está,
custe o que custar.
Tanto isso é verdade é que “o programa histórico do PT” foi
jogado a escanteio pelo próprio Lula e trocado pela “carta ao povo brasileiro”
para que ele pudesse ganhar a eleição depois de 3 derrotas seguidas. E as
promessas da “carta” foram cumpridas à risca por Antônio Palocci e Henrique
Meirelles, o mercado ficou satisfeito, e a excitação da militância foi mantida
acesa com a retórica do confronto do “nós contra eles”, o bem contra o mal.
Volta então a política de uma no cravo (do mercado) e uma na
ferradura (da militância), que caracterizou os dois governos Lula?
Os resultados do governo Dilma foram tão desastrosos em
termos de crescimento, de gestão, de reformas estruturais, de corrupção, que
ela só conseguiu reeleger-se graças aos truques usados para manter grande parte
do eleitorado naquilo que o brilhante historiador inglês Tony Judt chamaria de
“nuvens líricas de ignorância intencional”.
Nuvens, como se sabe, mudam de forma. Quando elas se
dissipam, sobra a realidade para administrar. E Joao Santana sabe criar nuvens
líricas de ignorância de onde podem chover votos, mas depois que recebe seu
cheque, vai cuidar da vida e deixa a realidade por conta da doutora gerente.
Leia mais o artigo de Sandro Vaia
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