terça-feira, 25 de novembro de 2014
Faltam pontes para governo do PT mudar métodos
Em outubro, os discursos dos candidatos não estiveram à
altura do que o povo gritou em junho de 2013. Os eleitores não encontraram nas
urnas os desejos de mudanças que pediram nas ruas. É como se houvesse um
divórcio entre a vontade dos pés caminhando e as pontas dos dedos votando. A
campanha, especialmente no segundo turno, foi sobre o passado de cada
candidato, não sobre o futuro que eles ofereciam ao país. Os discursos e as
publicidades eram de louvação aos próprios candidatos ou de críticas e
difamações sobre os opositores.
Uma das ilusões da democracia é que o povo escolhe seus
dirigentes. Na verdade, o povo vota entre candidatos apresentados por seus
partidos. Não é difícil perceber que, por isso, muitos escolheram Dilma com
medo de Aécio, e muitos votaram em Aécio porque não queriam a continuidade de
Dilma. A opção estava em continuar com os mesmos dirigentes ou quebrar os
vícios dos últimos dez anos mudando os quadros no poder. E isso faria
diferença, mesmo sem significar mudança estrutural, porque uma das qualidades
da democracia é o constante recomeço do casamento entre os novos eleitos com os
eleitores, a cada quatro anos.
Depois de anos de corrupção, esgotamento das ginásticas
econômicas e desmoralização da contabilidade criativa, insuficiência das
medidas sociais, caos e descrédito na prática política e da volta da inflação,
o novo governo Dilma começa velho, como um casamento em crise. Junte-se a isso
a necessidade de enfrentar a herança maldita – que seu governo criou e sua
campanha escondeu –, tomando medidas que até dias antes acusava os opositores
de planejar contra os interesses do povo e do país, e o resultado é um governo
que se inicia sob desconfiança. Desta vez, a democracia não conseguiu fazer a
tradicional lua de mel posterior às eleições para troca de governo.
Esta é a realidade com a qual o Brasil vai ter de conviver
pelos próximos quatro anos, porque pior do que um governo sob desconfiança
seria o rompimento com um governo constitucionalmente estabelecido. Por isso, é
necessário o diálogo que a eleita propôs, mas para o qual a presidente ainda
não fez qualquer gesto.
Os desgastes do processo eleitoral – irresponsavelmente manobrado
por marqueteiros desejosos dos votos no dia da eleição, independentemente das
consequências para o futuro do país – exigem pontes, que não foram usadas no
primeiro mandato e foram destruídas no período eleitoral.
O Congresso Nacional, dividido em dezenas de minúsculos
clubes eleitorais, viciados em acordos barganhados, objetivando o poder pelo
poder, comprando ou vendendo apoio para o imediato, sem compromissos para mudar
o futuro, não construiu pontes com as ruas. E o novo governo começa cansado,
sem pontes nem terreno onde construí-las, passando a ideia de não querer mudar
seus propósitos nem sua prática, e falando em diálogo como uma promessa
atrasada de campanha.
Cinismo e reação tardia
A Polícia Federal, independente e eficiente, não é um departamento subordinado aos interesses, caprichos e ordens da doutora Dilma Rousseff
Em primeiro lugar, amigo leitor, o governo não está apurando
nada. Ao contrário. Está sendo investigado. O juiz federal Sergio Moro não é um
contínuo do Palácio do Planalto. É representante de outro poder da República.
A Polícia Federal, independente e eficiente, não é um
departamento subordinado aos interesses, caprichos e ordens da doutora Dilma
Rousseff. O pronunciamento da presidente da República só pode ter duas
explicações: cinismo ou preocupante desligamento da realidade.
A Operação Lava-Jato vai compondo um quadro de corrupção que
arranhou gravemente a história, a saúde financeira, a marca e o futuro de um
ícone do Brasil: a Petrobrás. A atual
presidente da República não é uma espectadora passiva da tragédia. O escândalo
permeou os mandatos de Lula e estourou com força no atual governo. Dilma foi ministra
de Minas e Energia, chefe da Casa Civil e presidente do Conselho de
Administração da Petrobrás no governo Lula. A presidente da República,
conhecida por seu perfil centralizador e autoritário, não pode fazer de conta
de que está em outro planeta. Ela está, queira ou não, no olho do furacão.
Chegou a hora verdade para governantes e políticos. A
sociedade está cansada da empulhação. Os culpados pela esbórnia com dinheiro
público, independentemente da posição que ocupem na cadeia corruptora, devem
ser exemplarmente punidos. E isso não significa, nem de longe, ruptura do
processo democrático, golpismo ou incitamento à radicalização.
Paúra no 'clube' dos políticos
Em pane, os políticos desse nefasto clube, acostumados a
criar as regras, espreitam da várzea. Fazem de conta que não são os donos da
primeira divisão. Dilma, inclusive.
Ainda que pelo avesso, Dilma Rousseff acertou uma. Depois da
prisão de alguns dos donos do dinheiro – grandes empreiteiros que pagaram
propinas a operadores da Petrobras –, o Brasil definitivamente não será o
mesmo.
Embora não façam cessar a corrupção, as grades têm o poder
de inibi-la e de ampliar a delação. Mais ainda depois da síndrome da bailarina,
referência a Kátia Rabello, do Banco Rural, que, assim como os demais
empresários condenados no mensalão, continua na cadeia enquanto os políticos,
exceto o delator, cumprem suas penas no aconchego do lar.
Rompida a crença do silêncio como garantia de proteção,
corruptos e corruptores perderam o constrangimento de dedurar. Falam, entregam
provas, devolvem dinheiro roubado. Algo - é verdade, Dilma - nunca antes visto
neste país.
A delação atemoriza, apavora. A paúra é geral.
Quanto mais a Polícia Federal, o Ministério Público e a
Justiça Federal do Paraná desvendam segredos do “clube” dos empreiteiros, mais
o “clube” dos políticos arrepia. Afinal, um clube não existe sem o outro. E
vice-versa.
Fala-se de 60 ou 70 políticos do PT, PMDB e PP.
Nominalmente, já se aponta para o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto
(SP). Mas ninguém arrisca um palpite de
até onde isso vai.
Teme-se, em especial, pelos VIPs. Assim como nem todos os
empreiteiros participariam da elite do “clube”, entre os políticos não é
diferente. Há poder de mando, hierarquia. Maiores e menores beneficiários de
cada centavo desviado. Seja para o projeto político, seja para o próprio bolso.
Maná para a máfia
Num país em que, em plena seca, chove bilhões dos cofres
públicos como maná em propinas e pagamentos ao comissariado, estamos caindo na
rotina de aceitar a corrupção como regra, não como exceção, por mero enfado.
Com todos os esforços policiais e jurídicos das instituições,
ainda há muito blábláblá com que se tenta blindar os poderosos envolvidos. Há
batalhões de aliados, a bom preço, dispostos a por a mão no fogo e a cabeça a
prêmio para defender os bandidos do alto escalão.
Farsas não faltam. A penalização dos condenados políticos
com uma peninha vergonhosa, que mostra bem a cara brasileira de se defender os
poderosos a qualquer custo. Os mensaleiros conseguiram abater das penas “tempo
de trabalho e tempo de estudo” na cadeia, o que não acontece com os meros
mortais com penas ainda menores, e agora até estão viajando pelo país como
qualquer cidadão de ficha zerada.
Se a famosa soprano Montserrat Caballé, de 81 anos, foi
condenada a pagar de 508 mil euros, quase R$ 1,5 milhão, por sonegação em
imposto de 2010, e o ex-primeiro-ministro de Portugal, José Sócrates, foi
detido para depor e deve ser condenado por corrupção, há uma grande festa na
bandidagem brasileira. As figuras de proa, com grande blindagem, pairam como
ninfas no lago da impunidade.
Ninguém consegue que Luís Inácio Lula da Silva, como
qualquer cidadão, seja encontrado e intimado para depor sobre o caso do
Mensalão, como também João Vaccari Neto, tesoureiro do PT, não vai para o
xadrez mesmo denunciado criminalmente pelo Ministério Público por um rombo de
R$ 100 milhões na Bancoop, sem contar que está envolvido até o pescoço por
falcatruas também no Petrolão, área hidrelétrica e fundos de pensão.
Se no passado, os bandidos nos filmes de Hollywood sempre se
refugiavam no Brasil, agora nem precisam vir mais, porque os nativos já dão
conta do recado e tomam todos os postos da elite. Vivem como nababos,
festejados mesmo nos jornalões, protagonizando festas e viagens hollywoodianas
sem precisar temer a Justiça, cega, surda e muda, quando não conivente.
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