quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

Da violência

Do rio que tudo arrasta se diz que é violento.
Mas ninguém diz violentas
As margens que o comprimem

Bertold Brecht

Então, eu acho que...


Depois da eleição de Renan Calheiros para presidir o Congresso Nacional, o melhor candidato para presidir a Petrobras é o senhor Eike Batista. Ou vice-versa...

Dona Dilma falsificou o orçamento e, para acertar o balanço, acabou com a Lei de Responsabilidade Fiscal... Foi fácil: o que era déficit passou a ser superávit. E fica assim. Não foi ela, foi o governo, que, sendo pessoa jurídica de direito público interno, não tem alma... é como qualquer bucéfalo.

O Brasil não poderia estar pior: o patriotismo desapareceu, o povo encontra-se “desorgulhoso” e parece que não há homens dispostos a acabar com essa coisa que nos prende como moscas em papel de grude.

Assim como no mensalão, em que quase todos foram condenados – ou mais ou menos condenados, uma vez que os políticos condenados estão mais ou menos presos e também existem aqueles que estão mais ou menos doentes –, os artistas do petrolão também não sabem de nada, ninguém assume que comeu bola, e alguns estão até sendo homenageados, como o tal de Vaccari, tesoureiro nacional e homem da mala do PT.

Pela internet, assisti a uma entrevista em que Dona Dilma fala da Petrobras, no tempo em que era ministra de Minas e Energia: “Essa história de falar que a Petrobras é uma caixa-preta pode ter sido em 1997, 1998, até 2000. A Petrobras de hoje é uma empresa com nível de contabilidade das mais apuradas do mundo... Até porque, caso contrário, os investidores não a procurariam para investir. Investidor não investe em caixa-preta desse tipo”. Também penso assim, mas acontece que existem investidores que só investem quando têm informações privilegiadas, de fontes fidedignas, o que me parece o caso.

Falou bonito e em tom professoral a ministra, não? Ela era, nessa época, ministra de Minas e Energia e falava para os cocos, pois foi justamente nesse tempo que os ratos atacaram a queijeira... E tem mais: ela, Dona Dilma, era a presidente do Conselho de Administração da Petrobras, composto por nove membros, entre eles o notório Palocci, Jacques Wagner, Sergio Gabrielli, presidente da empresa, e gente importante como os megaempresários Fábio Barbosa, presidente do Grupo Abril, Cláudio Haddad, Gleuber Vieira, Jorge Gerdau, presidente do Grupo Gerdau, todos ganhando mais de R$ 80 mil por mês, que assentiu na compra da famosa refinaria de Pasadena, que, só ela, deu um “prejuizinho” à Petrobras de US$ 792 milhões, como atesta o Tribunal de Contas da União (TCU). Por que não ouvir esses importantes conselheiros que, supõe-se, votaram com os fundos?

De acordo com Nestor Cerveró, ex-diretor da área Internacional, o parecer sobre o assunto emitido pelo Conselho da Petrobras, presidido por Dona Dilma, foi negligente e cometeu uma “grave falha” ao aprovar a compra da referida refinaria nos Estados Unidos.

Acho que Dona Dilma é responsável, no mínimo, por tudo e torço por uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) sobre os Fundos de Pensão e o BNDES, e aí, sim, o povo vai ver e saber o que é “bom pra tosse”. 

Pouco sobra


O ditador e o prefeito,que a imprensa não vê

O prefeito, a mulher Zeidan, agora deputada,
e Lurian Silva, filha de Lula no desfile na Sapucaí
Teodoro Obiang Nguema Mbasogo, de 72 anos, ditador há 35 anos da Guiné Equatorial, o chefe de Estado há mais tempo no poder na África, e o oitavo governante mais rico do mundo, segundo a revista “Forbes”, injetou R$ 10 milhões no carnaval da Beija-Flor de Nilópolis. Aconteceu, virou manchete dos jornalões.

O enredo “Um griô (homem sábio) conta a História: um olhar sobre a África e o despontar da Guiné Equatorial. Caminhemos sobre a trilha de nossa felicidade” vai festejar um pequeno país localizado na África Ocidental, formado por duas ilhas e um pedaço estreito de continente, e habitado por escassas 700 mil pessoas. O povo país miserável de lá vai pagar, é claro, o capricho. Como aqui se paga a pré-campanha de certos candidatos.

Arregalam-se os olhos para essa monstruosidade com todos os pontos de exclamação possíveis. O caso vira destaque e a esquerdocracia, com memória curta ou aparelhada, cai de pau no ditador. A própria imprensa pisa na bola por olhar tanto para o próprio umbigo. E como não tem memória, ou a esquece quando lhe interessa, deixa fatos na poeira.

A aberração de Mbasogo teve antecedente que não mereceu uma linha. Também graças ao petróleo, como o ditador, no ano passado, Quaquá, prefeito de Maricá e presidente regional do PT, patrocinou a Grande Rio com quase a mesma quantia. Ainda por cima distribuiu fartamente material de encarte carnavalesco, muito bem feito e caro, além de CDs com o samba enredo, para todo o município.

Foi um derrame de dinheiro de um município arrasado sem água, sem saneamento, com hospital conhecido como "Hotel da Morte", covil do comissariado petista fluminense. Apesar da situação precária do município, nenhum jornalista, naquele Carnaval, divulgou a farra brasileira e petista.

Será que acham ser Teodoro Obiang pior do que o gonçalense Quaquá, que explora um município brasileiro para manter no poder a mulher e companheiros? O patrocínio da Grande Rio foi a grande jogada para promover a candidatura da mulher à Alerj e ninguém deu um pio. Os coleguinhas também vacilam quando protegem a petecracia.

O mais estarrecedor é que essa mesma rede de comunicação tão pronta a criticar a doação do ditador da Guiné Equatorial desde 2012 silencia sobre o descaso no município, em todos os seus meios. Incrivelmente é que há um silêncio desde que a Prefeitura contratou uma das maiores empresas de marketing do país. Estranho?

Uma caçada de porcos


Naquela noite, tive um sonho.
Sonhei que o Brasil estava sendo comido por uma gigantesca vara de porcos do mato e que eles, conversando entre si, diziam (confirmando Lima Barreto) que a nossa carne tinha a forma e o gosto de um presunto.
Meio século e pouco depois, vejo que cometi uma transgressão matando demais e descobri ter tido um sonho premonitório. Pois o que é essa imensa corrupção governamental senão um incesto? Um abominável autocanibalismo?
Leia mais o artigo de Roberto DaMatta 

PT, 35 anos, um pesadelo


O mundo está desabando sobre a cabeça dos petistas, com os níveis de aprovação da presidente indo para o ralo. Mesmo assim Lula faz cara de paisagem

Três décadas e meia após sua fundação, o Partido dos Trabalhadores, que prometia sonhos e veio a luz para “ser diferente de tudo o que está aí”, passou a entregar pesadelos.

Aquele militante que vendia estrelinhas, distribuía panfletos na rua e gritava “Lula lá” evaporou-se. Foi substituído por uma massa amorfa e acrítica. Ou foi cooptado, usufruindo hoje das delícias do poder.

O sonho transformador deu nisso. Em doze anos no Planalto, o PT agarrou-se à máquina do Estado. Tornou-se uma força retrógrada que tudo faz, e fará, para não perder seus privilégios.

A democracia interna deu lugar a um sistema caudilhesco de poder.

Até aqui estamos apenas diante de um processo de envelhecimento precoce de quem se pretendia diferente. E é hoje um partido pobre de ideias e com as piores práticas possíveis, que se alimenta do patrimonialismo e do clientelismo.

O processo de transmutação do Partido dos Trabalhadores foi muito maior do que isto.

Institucionalizou a corrupção, comprou partidos e parlamentares e se apropriou do patrimônio dos brasileiros. Deu uma interpretação própria ao mote “o petróleo é nosso”.

Para se perpetuar no poder, os petistas promoveram o maior estelionato eleitoral do país. Como se vivessem num mundo de conto de fadas, fizeram vistas grossas para a tempestade que se formava. Resultado: jogaram o país numa gigantesca crise política, moral e econômica.

Coletivizaram o pesadelo. A inflação invadiu o lar dos brasileiros que já começam a sofrer as consequências da “quimioterapia” aplicada pelo novo ministro da Fazenda, escalado para tentar consertar os danos causados nos governos Lula e Dilma.

A crise da Petrobras está longe - e põe distância nisso - de chegar ao fundo do poço.

O mundo está desabando sobre a cabeça dos petistas, com os níveis de aprovação da presidente indo para o ralo. Mesmo assim Lula faz cara de paisagem, puxa a orelha dos outros e produz novas pérolas, como dizer que, na dúvida, deve se confiar no “companheiro Vacari”. Ou afirmar que o xis do problema foi a transformação do PT “em um partido igual aos demais”.

São as manjadas táticas do líder petista que procura sempre nivelar todos por baixo. Não, os outros partidos não são iguais ao PT. Não consta, por exemplo, que a Rede de Marina Silva, o PSB de Eduardo Campos ou o PSDB de Aécio Neves, Mário Covas, FHC, Geraldo Alckmin ou José Serra tenham feito da roubalheira um método de governo.

E generais petistas de dez estrelas oferecem soluções mágicas. Proliferam teorias conspiratórias. De seu blog de legalidade duvidosa, José Dirceu prega a formação de uma frente para “defender a Petrobrás” e combater o “centrão” que estaria se formando no parlamento. E Tarso Genro repete a tese da “refundação do PT”.

Como diz o pensador italiano Giordano Bruno: “Que ingenuidade pedir a quem tem poder para mudar o poder”.