Esse pouco apreço ao nosso patrimônio cultural não é de hoje. “No meu tempo”, como dizem os velhos, o ensino fazia da História uma disciplina enfadonha que se resumia a uma relação cansativa de datas e nomes que dependiam de um mecanismo de aprendizado conhecido como “decoreba”, isto é, engolir sem precisar entender e sem gostar do que logo depois se esquecia.
Visitas guiadas a museus não eram um programa das escolas. Aliás, visitar exposições ainda é um hábito que se pratica sobretudo quando se viaja ao exterior. Em 2017, mais brasileiros foram ao Louvre do que ao nosso Museu Nacional. De acordo com quem fez as contas, o repórter Rafael Barifouse, da BBC News Brasil, foram 289 mil visitantes brasileiros lá contra 192 mil aqui. E mais: o número de patrícios que visitaram o museu francês foi 50,5% superior à visitação total da instituição brasileira.
Assim como enchemos o peito para exaltar com razão o nosso patrimônio esportivo — as Copas que conquistamos, os craques que fabricamos e exportamos — poderíamos ostentar também com orgulho os tesouros culturais que só agora, que os perdemos pelo fogo, tornamos conhecidos e valorizamos.
Apesar de seus 200 anos e do acervo de 20 milhões de peças, inclusive relíquias arqueológicas como Luzia, a nossa primeira mulher, a instituição criada por D. João VI precisou virar cinzas para ter sua importância conhecida pelo público. Além do que guardava, o Palácio de São Cristóvão é, segundo o jornalista e historiador Laurentino Gomes, o local de nascimento do Brasil como Estado-nação. Para ele, o incêndio equivaleu “ao Brasil queimar sua própria certidão de nascimento”.
A triste realidade é que nossa amnésia crônica nunca chegou a ser uma preocupação nacional. É matéria preferencial para o humor. A piada crítica mais conhecida é a do excelente cronista Ivan Lessa, ele mesmo pouco lembrado, que dizia: “A cada 15 anos, o Brasil esquece os últimos 15 anos”.
E essa quase verdade é para se lamentar, não para fazer rir.