Não precisa muita coisa para ser chamado de doutor. Basta um terno. Um pouquinho de atitude de superioridade, quase arrogância, ajuda também. Estudar é opcional. Do lado positivo, a gente pelo menos sabe o que fazer para ser chamado de doutor.
Menos claros estão outras categorias profissionais ou honorárias com um número aparentemente muito grande (e crescente) de pessoas. Todos os dias a gente ouve dos juristas. Ou dos intelectuais.
Não é claro o que são eles. Para que servem. Nem quais os requisitos para os títulos. É possível até que sejam títulos autoconcedidos. Simples assim. Nada surpreendente em terra de herdeiros ou de pedintes.
E a confusão não se restringe apenas a títulos. Desde sempre se fala em governabilidade. Sem que muita pouca energia tenha sido dedicada a calcular ou pelo menos explicar os riscos da tal governabilidade. Até hoje, não sabemos direito o que diabo governabilidade quer dizer.
Assistimos atônitos a infinita maldade insolente. Não há quem negue. Tudo parece misturado na mesma lama. Gostamos do absurdo. E para alimenta-lo, precisamos de conceitos duvidosos.
Talvez seja por que o conceito de governabilidade permita que um punhado de pessoas (sempre doutores, frequentemente juristas, e as vezes intelectuais) decidam, sem contestação, o que é melhor para cada cidadão.
Pela governabilidade, desrespeita-se a inteligência (a nossa, pelo menos). Afronta-se a razão. E justifica-se qualquer coisa. Inclusive o preço. No país onde tudo é diferente, a gente prefere a agonia sem fim, ao enfrentamento de suas causas.
Falta-nos coragem. A cada encruzilhada, cedemos ao argumento da governabilidade. Previsivelmente. Mesmo que resulte na dilapidação e não degradação de tudo a nossa volta. O engodo da governabilidade justifica parasitas. Aceita o imperdoável. Perdoa o inaceitável.
Até o dia em que tudo será, de fato, ingovernável.