Para a ponta de cima da pirâmide a nossa desordem
regulatória, o pandemônio tributário e a ratoeira trabalhista foram, aos
poucos, se transformando em sólidas barreiras de “proteção do know-how
nacional” contra concorrentes incômodos. Os nossos “grandes tycoons” dos
setores mais competitivos da economia globalizada com costas quentes no BNDES –
que são o pouco que sobrevive da indústria nacional – passaram a adorar esse
nosso labirinto. Esses “excepcionalismos” corporativo-burocráticos que matam as
empresas, os negócios e os empregos da massa ignara dos “sem-bancada no
Congresso” aqui da planície, condenados a competir de peito aberto com as
chinas da vida, transformam os mega-empresários do nosso “capitalismo de
compadrio” nos “intérpretes” que qualquer estrangeiro treinado apenas na
competência, na lógica do mercado e no bom senso precisa obrigatoriamente ter
para poder operar direta ou indiretamente no ou com este Brasil onde não valem
as leis universais.
Em entrevista gostando da Dilma para a Folha de S.
Paulo de 6 de julho passado, Rubens Ometto, da Cosan, dizia isso com todas
as letras:“Somos brasileiros, fazemos a diferença porque sabemos como
proceder, lutamos pelos nossos direitos politica e economicamente (…) para
defender minhas empresas no Executivo e no Legislativo (sic). Claro
que não se pode fazer certas coisas que acontecem por ai (especialmente
nesses tempos de Lava-Jato) mas eles (os estrangeiros) precisam
de alguém que more no Brasil“…
Logo abaixo dessa pontinha da pirâmide comem soltos os
cínicos da especulação, para quem para cima ou para baixo pouco importa, o que
interessa é o tamanho das oscilações, e se empanturram os banqueiros que
recolhem os mortos e feridos e, a peso de ouro, costuram novos frankensteins
para o mundo dos mortos-vivos do empreendedorismo brasileiro enquanto nos sugam
pela interposta pessoa do estado estroina a quem não interessa o tamanho do
juro a ser pago, tudo que é necessário é que o dinheiro não pare de fluir.
Já para a grande massa descrente dos da base da pirâmide,
aceitar a velha e surrada isca corporativista de sempre quando a conta chega e
a miséria aperta parece, ao fim de cinco séculos sem mudanças, a única maneira
realista de salvar-se quem puder salvar-se da parte que for possível do
sacrifício a ser imposto aos demais, ainda que a custa de ficar devendo à
máfia.
Entre o suborno do “direito especial” a não pagar inteira a
sua parte da conta oferecido pelo político de plantão e a sangria sistemática
dos empregadores cabalada pelos advogados “trabalhóstas” que dividem o produto
do roubo para assaltar quem foi louco bastante para oferecer empregos no país
que Getúlio Vargas condenou à danação eterna com seu apelo sibilino – “Seja
canalha que a Justiça do Trabalho garante” – muito pouca coisa da moral e do
orgulho nacionais restam em pé.
É de cima desses escombros que Lula apela pelo pior em cada
um de nós, com o seu deletério: “Eu sou; mas quem não é”?
São estes – fora a multidão dos dispensados da corrida do
merecimento que o PT multiplicou em metástese em cada célula do estado,
habitantes daquele mundo encantado do Planalto Central onde as marés são
eternamente montantes, os salários sobem 78% em plena crise e os empregos nunca
desaparecem – os interessados em que nada mude nesse brasilzão de sempre.