quinta-feira, 7 de maio de 2015

Nem todos têm o direito de pertencer ao mundo globalizado

Enquanto macacos atrasam o plano de internet na Índia, orçado em US$ 18 bilhões (eles comem as fibras óticas…), aqui, em nosso pobre país, empresários e políticos se juntaram para comer um bom naco do nosso dinheiro confiado à Petrobras. Mas quais deles, na realidade, saíram piores? Essa resposta, leitor, você ficará me devendo.


Enquanto você se diverte com isso, reflitamos sobre o seguinte: pertencemos a um mundo globalizado, mas o que isso de fato significa? É simples: fazemos parte de um mesmo mundo, embora o tratamento nem sempre seja igual para todos. Ou estamos nele, ou, embora “vivendo” nele, estamos fora dele. Ou temos condições de nos transformarmos em consumidores, ou não temos e somos, pois, ganga pura. E ganga, você sabe, é resíduo que, de modo geral, não serve para nada.

Segundo o Banco Mundial, 4 bilhões dos 7 bilhões de seres humanos que habitam esse mundo não são consumidores e, por isso, nem sempre são visualizados. Só conhecem guerra, fome, miséria, morte. E o que fazem os que integram o grupo dos 3 bilhões para minorar isso? O que fazem, sobretudo, os ricos – uma minoria, sem dúvida, nesse grupo – para minorar isso? E o que fazem os que (mesmo não sendo ricos, como a maior parte desse enorme grupo) têm acesso, sem constrangimento, a esse mundo cheio de contradições e injustiças?

Essas preocupações tomaram conta de mim depois que li sobre o estrago que os macacos fizeram no plano de internet na Índia e depois que li Leonardo Boff e Márcio Tavares D’Amaral, o primeiro em O TEMPO, o segundo em “O Globo”. Em seu último artigo, ao se referir ao sistema capitalista, disse Boff: “Esse sistema serve bem apenas a 2 bilhões de pessoas, que se afogam no consumo suntuoso e no desperdício atroz. Ocorre que somos já mais de 7 bilhões de pessoas, das quais quase 1 bilhão vive na mais canina pobreza e miséria”.

O colunista de “O Globo” talvez tenha sido mais ameno: “O mundo é habitado por 7 bilhões de pessoas. Mas 4 bilhões de humanos estão fora desse mundo. E, parece, não entrarão se mudanças radicais não se produzirem”. Eles sobrevivem com US$ 1 ou US$ 2 por dia…

Mas essas minhas preocupações se aprofundaram mais depois que assisti no YouTube, enviado pelo meu filho Bernardo, ao filme sobre o “encantador de cavalos”. Exibido outra vez nesse último domingo, no programa do Faustão, que raramente oferece aos que o veem algum alívio ou refrigério, o espetáculo me deixou ainda mais extasiado com o que esse jovem espanhol faz com os equinos. “E eles só fazem o que fazem porque gostam do que fazem”, disse Santos Serra.

Contra eles, não há sequer um gesto de violência. Horas depois, ao insistir para conciliar o sono, obviamente prejudicado pelo que ocorre em nosso país, me perguntei, entre assombrado e perplexo: será o homem a pior das criaturas de Deus? Perguntei, mas deixei de lado esse escárnio, pois, enfim, o que Deus tem a ver com o que os humanos fizeram de si próprios?

Falei de macacos e cavalos, leitor, talvez para conter um pouco minha “indignação moral” contra o que vem acontecendo em nosso país. É difícil (ou impossível?) conservar-se alheio diante do que políticos e empresários pátrios, na mais safada e vergonhosa aliança, fizeram e fazem contra os brasileiros, sobretudo contra os mais sofridos.

Até quando continuaremos nessa derrocada moral?

Nem o Altíssimo sabe!

Acílio Lara Resende

A satanização do marqueteiro do PT

Se os órgãos de defesa do consumidor tivessem poder, o marqueteiro João Santana seria proibido de exercer a profissão pela propaganda enganosa que foi a campanha da doutora Dilma à reeleição. Noves fora isso, há um cheiro de satanização no inquérito que a Polícia Federal abriu em cima de sua empresa.

Pelo que se sabe, ele se tornou suspeito de lavar dinheiro para o PT. O primeiro lance dessa lavagem estaria no fato de ter trazido para o Brasil o equivalente a R$ 33 milhões ganhos na marquetagem da campanha do presidente José Eduardo dos Santos em Angola.

Santana atravessou o oceano para escorregar numa casca de banana em Angola, país governado por Santos desde 1979. A filha do doutor é a mulher mais rica d'África, com uma fortuna estimada em US$ 3 bilhões. Se isso fosse pouco, em Angola estão fincadas estacas das grandes empreiteiras apanhadas na Lava-Jato.

O Conselho de Controle de Atividades Financeiras desconfiou do internamento do ervanário e comunicou o fato à Polícia Federal. Falta dizer qual é a base da desconfiança. Santana trouxe o dinheiro para o Brasil. Fez isso pela rede bancária, de acordo com as normas do Banco Central, e pagou R$ 6,29 milhões de impostos, equivalentes a 20% da transferência.

Seria coisa “atípica”, porém é lisa e benéfica. Nada a ver com os R$ 10,5 milhões pagos em 2003 pela Caixa Dois do PT ao marqueteiro Duda Mendonça e remetidos para uma conta num paraíso fiscal das Bahamas. São casos diferentes e até mesmo opostos.

A transação seria um disfarce. Em tese, as empreiteiras deram o dinheiro a Santana para cobrir os serviços que prestara no mesmo ano ao candidato petista Fernando Haddad na disputa pela prefeitura de São Paulo. Ao final da campanha, o PT lhe devia R$ 20 milhões, pagos em parcelas mensais de R$ 2 milhões. Documentada a quitação, a suspeita fica capenga.

Quem quiser continuar duvidando pode achar que a transferência do dinheiro angolano foi atípica para os próprios padrões de Santana. O dinheiro ganho em outras campanhas foi deixado em El Salvador e na Argentina. A empresa de Santana tem ainda uma filial na República Dominicana. Nenhum dos três países pode ser considerado um paraíso fiscal. Continua faltando um fiapo de prova do disfarce.

A linha que separa uma investigação de uma acusação é tênue e atravessá-la é perigoso. As diligências da Polícia Federal e do Ministério Público na Operação Lava-Jato prestaram um enorme serviço ao país e é de se esperar que façam mais. Mesmo assim, a transformação de uma suspeita num inquérito que ainda não ouviu Santana e, a esta altura, nada parece ter acrescentado à narrativa, ajuda quem joga com as pretas. Lances desse tipo tumultuam as investigações e beneficiam culpados.

Por exemplo: o policial pulando o muro da casa de João Vaccari Neto, que jamais se recusou a atender intimações policiais, ou a prorrogação da prisão de sua cunhada, confundida com a irmã. Ou ainda a afirmação de que as anotações de “PB” e “0,1” num caderno do “amigo Paulinho” indicavam o pagamento de uma propina de R$ 1 milhão ao ministro Paulo Bernardo.

Talvez “PB” fosse o Papa Bergoglio, porque Paulo Bernardo não foi denunciado pelo Ministério Público. Às vezes o que parece ser a cereja do bolo é apenas um caroço vermelho.

Dá para entender?

Quero saber quanto nos cabe da dívida, quando cada um de nós deve
Julian Barnes, in "O porco-espinho"

Este ano tem sido muito curioso e instrutivo. Toda vez que os petistas alardeiam uma "vitória" vem logo, no dia seguinte ou pouco depois, uma notícia que derruba toda a fantasia marqueteira. Bastou Lula abrir a boca para vociferar o quanto o PT fez em 12 anos de governo em "conquista de uma vida melhor para os trabalhadores" para vir o troco.

Como "quem conquistou tanto não quer e não pode andar para trás", Lula deveria explicar porque pelo terceiro ano consecutivo a Petrobras caiu no ranking mundial e agora despencou de vez com a roubalheira, patrocinada para sustento do PT, e o desastre da administração Dilma. Que conquista é essa que foi para o fundo do poço?

A Petrobras caiu do 30º para o 416º lugar entre 2 mil empresas. em ranking de empresas. No ranking de 2013, a companhia ficou em 20º lugar. Em 2012, a gigante brasileira de petróleo aparecia no 10º lugar.

Curiosamente, quando Lula defendeu a conquista (sic) do crédito consignado como benfeitoria para o trabalhador, a lista da Forbes aponta o Itaú Unibanco (42º) como a brasileira melhor colocada no ranking. Na sequência, estão Banco Bradesco (61º lugar), Banco do Brasil (133º lugar). Lula deve explicar porque num governo do trabalhador as empresas mais bem sucedidas são bancárias e o ralo fica com a estatal aparelhada.

Alto custo

Bofetada

O macaco foi posto numa prisão especial e interrogado. Fez contrato de delação premiada e hoje, ouvi dizer, passa o dia comendo as mais deliciosas bananas em sua casa

Mamãe me contou essa história.

E, como manda Machado de Assis, a ela acrescentei um ou dois pontos.

Um macaco roubava as bananas (“Musa paradisíaca”, como lhe chamou o sábio Lineu) de um plantador desta fruta sagrada que, de tão brasileira e antiga — corre a lenda que foi comida por Adão e Eva no Jardim do Éden —, virou gesto gostoso e ofensivo, do mesmo modo que a sua casca pode fazer escorregar o poderoso, o prepotente, o boquirroto ou o descuidado. Raro o brasileiro ou brasileira que não tenha dado uma banana ou escorregado na sua casca.

Pois bem, o vasto bananal deixou de ser produtivo porque um macaco senhor de muitas astúcias (dizem que os macacos não falam para não trabalhar) comia as bananas mais maduras e gostosas.

Na defesa do seu bananal, o homem armou sinalizadores, mas eles não funcionaram porque o ladrão era muito esperto. Um dos funcionários da “central de vigilância do bananário” chegou a duvidar da existência do símio, porque ele foi visto em duas telas ao mesmo tempo. Suspeitou-se que o macaco era uma quadrilha, mas o dono tinha certeza absoluta de que se tratava de apenas um macaco, com aquele poderoso espírito de macaco que todos conhecemos: aquela malandragem de ocupar muitos espaços ao mesmo tempo, de se passar por sério sendo bandido, de roubar dizendo que não cometeu nenhum delito.

Com o fracasso do método, o dono do bananal apelou para o sistema antigo: contratou vigias conhecedores natos de macacadas e os postou em lugares estratégicos. Os roubos diminuíram por algumas semanas, mas logo retornaram em níveis assustadores. A grande safra de bananas jamais vista no país, que iria salvar a fazenda e permitir a realização de alguns projetos redentores, teve que ser adiada.

— Como foi possível enganar esses especialistas em macaquices? — questionava o dono do bananal.

— Senhor —respondeu um heroico camponês. — O macaco viciou os vigias e eles passaram a comer juntos as bananas. Cada qual ficava com o seu cacho, com o macaco levando a maior parte.

O homem pensou e de sua cabeça saiu uma ideia. Mandou fazer um boneco de cola que, depois de devidamente vestido de empregado, foi colocado no centro do bananal e cercado de cachos das mais maduras e deliciosas bananas.

O macaco chegou perto do boneco, olhou, gesticulou macaquices e, diante de sua impassividade, perguntou:

— Boneco, posso comer uma banana?

O boneco, obviamente, nada respondeu.

O macaco coçou a cabeça e resolveu ser mais ousado. Chegou perto do boneco e fingiu pegar uma banana. O boneco permanecia imóvel.

Intrigado e, agora, um tanto indignado pela passividade do vigia, o macaco apelou para a agressividade.

— Boneco — disse. — Ou você me dá uma banana, ou eu te dou uma bofetada!

O boneco permaneceu imóvel.

—Boneco — reiterou o macaco com raiva. — Se você não me der uma banana, eu te dou uma bofetada, entendeu?

Olhou para o boneco e este continuava inerte.

Então, o macaco desferiu uma bofetada na cara do boneco e verificou que sua mão ficou colada no intrigante personagem.

— Boneco — reagiu o macaco entre o assustado e o surpreso. — Se você não soltar minha mão direita, dou-lhe uma outra bofetada com a minha mão esquerda.

O boneco continuou mudo só para levar outra bofetada e para o macaco descobrir que suas mãos estavam pregadas.

— Boneco, ou você solta as minhas mãos ou eu lhe dou uma canelada!

Como não houvesse resposta, o macaco chutou o boneco de cola com os pés e agora estava a ele preso pelas mãos e pelas pernas.

— Solta-me, ou te dou uma barrigada!

— Solta-me ou te dou uma cabeçada!

Apelou o macaco desesperado, a essas alturas misturado ao boneco a ponto da indistinção.

Macaco e boneco de cola passaram a noite agarrados um ao outro, dizia mamãe com sua voz maviosa olhando para cada um dos dez olhos dos seus cinco filhinhos, nos quais brilhava a luz da curiosidade.

A antiga curiosidade que acompanha a Humanidade na sua jornada para a honestidade ou para o mero roubo das bananas que ela tanto aprecia.

Dois ou três dias depois, o fazendeiro encontrou o macaco ladrão, que foi, à custa de muito trabalho, separado do boneco. Queria puni-lo com uma sova, mas as autoridades locais invocaram as leis que protegiam os animais. O macaco foi posto numa prisão especial e interrogado. Fez um contrato de delação premiada e hoje, ouvi dizer, passa o dia comendo as mais deliciosas bananas em sua bela residência no topo de uma mangueira.

Tudo o que você faz cola em você — terminava mamãe.

Roberto DaMatta 

Cadê?

Governo? Onde, onde, onde? Por Zeus, cadê?

(Diógenes de Sinope 412 a.C., 323 a.C andando pelo Brasil)

Menos, bem menos

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Não tem jeito mesmo. Dilma, o alvo dos panelaços, continua a pairar como uma deusa sobre o escândalo governamental petista de assalto aos cofres públicos a maracutaias. Em declaração sobre as manifestações durante o programa do PT, achou o barulho uma normalidade, porque "nós construímos a democracia", que está reclamando os desmandos. Menos, Dilma, bem menos.

Nem o PT, nem o deus Lula ou a faxineira Dilma construíram a democracia, sequer a brasileira, muito menos o país como fazem tudo para que se creia. É outra tacada para tentar reescrever com malandragem a história do Brasil. Mais ainda, é jogar no lixo o tanto que houve de ética e moral - hoje riscadas pela cartilha petista - nesta história para favorecer e destacar a falta de vergonha, a cafajestagem, a cretinice de Lula, Dilma e seus cúmplices.

Dilma pode se achar tudo menos criadora de alguma coisa. No máximo, pode ser comparsa. Mas nem da democracia. Quanto a colaborar com a mediocracia, nisso se concorda.

Nenhuma força prevalece sobre o conjunto

Qual a maior força nacional? O leque está aberto, mas, felizmente, não há supremacia de nenhuma, ao contrário de tempos idos e vividos, desde o Descobrimento. Não dá para afirmar com segurança quem manda no Brasil, tantos os vetores que se cruzam e se revesam nas impressões de hoje.

Será o dinheiro, com seus detentores e manipuladores, o grande motor que nos move, ou seja, o capital? Tempo houve em que essa era a resposta. Hoje não mais, apesar de sua pujança.

A grande força será o trabalho, expresso nas entidades sindicais e penduricalhos? Muito se tem tentado, com significativos avanços, até da legislação, mas da mesma forma como o capital, também não é a força preponderante.

Serão os governos, entendidos nos planos federal, estadual e municipal? De jeito nenhum, dada desmoralização crescente das estruturas de que são formados e dos personagens que os representam. Faz tempo que saíram pelo ralo o medo e o respeito que o governos exprimiam.

As religiões? Devem ser excluídas, só pelo fato de se terem multiplicado, ao contrário do que representou o Cristianismo através dos séculos. Desapareceu aquela prevalência ditada pela fé e pelo temor do fogo eterno.

Então a resposta estará nas forças armadas? Ledo engano. A última vez em que se arvoraram de ser a força definitiva, quebraram a cara e hoje se conformam em viver à margem do poder.

Juristas de alto saber e de reputação ilibada dirão estar a força nas instituições políticas, desde a Constituição e as leis até os três poderes da União, do Congresso ao Judiciário e ao Executivo. Nada mais tênue nem desfigurado neste começo de século, onde um simples bater de panelas assusta e intimida os que deveriam conduzir a nacionalidade.

Para os sociólogos e até os filósofos, a grande força repousa na juventude, na perspectiva do futuro que sempre ultrapassará em qualidade aquilo que passou ou ainda persiste em frangalhos. Outro malogro, porque os moços de hoje dividem-se entre o egoísmo e a confusão. Se um dia representaram esperança, agora significam desalento, por mais cruel que pareça a conclusão. Deles nada haverá que esperar além de que envelheçam.

Alguns poetas e outro tanto de cientistas fixam-se na natureza como a força motriz do planeta, detentora dos destinos da Humanidade, capaz de iluminar e construir tanto quanto de destruir e escurecer, até entre nós como nação continental. Nem a natureza dispõe de leis em condições de permitir previsões sobre seu comportamento e o dia de amanhã. Se é fator dominante na vida de todos, pelo menos seria aconselhável que se desse a conhecer.

Sendo assim, e passando do geral para o particular, ou seja, do universo infinito para essa insignificante bolinha de carbono perdida na imensidão, e desta para nossa triste nação, qual o resultado a tirar da ausência de uma força hegemônica que dirija nossos destinos? Por sorte, nenhuma, ou melhor, todas as relacionadas acima. Será do equilíbrio de fatores como o dinheiro, o trabalho, os governos, as religiões, os militares, as instituições jurídicas, a juventude e a natureza que poderemos encontrar meios para seguir adiante. Mas com a dúvida permanente: para onde?…
Carlos Chagas

Maioridade penal e desonestidade intelectual

Procure no Google por "maioridade penal" e, em seguida, busque "imagens". Ali você verá centenas de exemplos da desonestidade intelectual que denuncio neste artigo.

"Reduzir a maioridade penal não vai acabar com a violência!", proclama o debatedor em tom veemente. Ninguém afirmou uma tolice dessas, mas o sujeito passa a detonar a frase que ele mesmo fez como se, assim, estivesse destruindo a tese da redução da maioridade penal. Um criminoso de 16 anos tem que ir para a cadeia por uma série de razões e "acabar com a violência" não é uma delas. Seja como for, essa é uma das bem conhecidas e nada honestas artimanhas empregadas em debates: atribuir à tese adversária argumentos que não foram empregados em seu favor, para dar a impressão de que ela é destruída quando tais argumentos são desmontados.

Outra artimanha é a de levar a tese adversária a um extremo jamais cogitado, tornando-a ridícula. Por exemplo: "Os que defendem a redução da maioridade penal logo estarão querendo reduzi-la novamente para 12 anos. Daqui a pouco estarão encarcerando bebês". E, assim, um rapagão de 17 anos do tamanho de um guarda-roupa, estuprador e assassino, fica parecendo tão inocente quanto uma criança de colo.

Outra, ainda, envolve a apresentação, em favor da própria tese, de um argumento competente que com ela não se relaciona. A coisa fica assim: "Nossos cárceres são verdadeiras escolas do crime, que não reeducam". Esse argumento escamoteia dois fatos importantíssimos: o de que a ressocialização é apenas uma (e sempre a mais improvável) dentre as várias causas do encarceramento de criminosos e o de que o preso não entrou para a cadeia inocente e saiu corrompido. Foi fora da cadeia que ele se desencaminhou.

Por outro lado, a pena privativa de liberdade tem várias razões. A principal, obviamente, é a de separar do convívio social o indivíduo que demonstrou ser perigoso. A segunda, por ordem de importância, é a expiação da culpa (fator que está sendo totalmente negligenciado no debate sobre o tema). Quem comete certos crimes paga por eles com a privação da liberdade. Ao sair da cadeia, dirá que já pagou sua pena, ou seja, que já acertou contas com a sociedade. A expiação da culpa é o único motivo, de resto, para que nos códigos penais do mundo inteiro as penas de prisão sejam proporcionais à gravidade dos delitos cometidos. A terceira razão da pena privativa de liberdade é o desestímulo aos crimes de maior lesividade (função de eficácia incerta, sim, mas se as penas fossem iguais a zero a criminalidade, certamente, seria muito maior). Pois é a quase impunidade assegurada pelo Estatuto da Criança e do Adolescente que tem estimulado o uso de menores para a prática de muitos crimes.

O assunto é importante, bem se vê, mas pressupõe honestidade intelectual, porque a deliberação democrática fica comprometida quando o que se pretende é vencer o debate de qualquer maneira.

Percival Puggina