Enquanto você se diverte com isso, reflitamos sobre o seguinte: pertencemos a um mundo globalizado, mas o que isso de fato significa? É simples: fazemos parte de um mesmo mundo, embora o tratamento nem sempre seja igual para todos. Ou estamos nele, ou, embora “vivendo” nele, estamos fora dele. Ou temos condições de nos transformarmos em consumidores, ou não temos e somos, pois, ganga pura. E ganga, você sabe, é resíduo que, de modo geral, não serve para nada.
Segundo o Banco Mundial, 4 bilhões dos 7 bilhões de seres humanos que habitam esse mundo não são consumidores e, por isso, nem sempre são visualizados. Só conhecem guerra, fome, miséria, morte. E o que fazem os que integram o grupo dos 3 bilhões para minorar isso? O que fazem, sobretudo, os ricos – uma minoria, sem dúvida, nesse grupo – para minorar isso? E o que fazem os que (mesmo não sendo ricos, como a maior parte desse enorme grupo) têm acesso, sem constrangimento, a esse mundo cheio de contradições e injustiças?
Essas preocupações tomaram conta de mim depois que li sobre o estrago que os macacos fizeram no plano de internet na Índia e depois que li Leonardo Boff e Márcio Tavares D’Amaral, o primeiro em O TEMPO, o segundo em “O Globo”. Em seu último artigo, ao se referir ao sistema capitalista, disse Boff: “Esse sistema serve bem apenas a 2 bilhões de pessoas, que se afogam no consumo suntuoso e no desperdício atroz. Ocorre que somos já mais de 7 bilhões de pessoas, das quais quase 1 bilhão vive na mais canina pobreza e miséria”.
O colunista de “O Globo” talvez tenha sido mais ameno: “O mundo é habitado por 7 bilhões de pessoas. Mas 4 bilhões de humanos estão fora desse mundo. E, parece, não entrarão se mudanças radicais não se produzirem”. Eles sobrevivem com US$ 1 ou US$ 2 por dia…
Mas essas minhas preocupações se aprofundaram mais depois que assisti no YouTube, enviado pelo meu filho Bernardo, ao filme sobre o “encantador de cavalos”. Exibido outra vez nesse último domingo, no programa do Faustão, que raramente oferece aos que o veem algum alívio ou refrigério, o espetáculo me deixou ainda mais extasiado com o que esse jovem espanhol faz com os equinos. “E eles só fazem o que fazem porque gostam do que fazem”, disse Santos Serra.
Contra eles, não há sequer um gesto de violência. Horas depois, ao insistir para conciliar o sono, obviamente prejudicado pelo que ocorre em nosso país, me perguntei, entre assombrado e perplexo: será o homem a pior das criaturas de Deus? Perguntei, mas deixei de lado esse escárnio, pois, enfim, o que Deus tem a ver com o que os humanos fizeram de si próprios?
Falei de macacos e cavalos, leitor, talvez para conter um pouco minha “indignação moral” contra o que vem acontecendo em nosso país. É difícil (ou impossível?) conservar-se alheio diante do que políticos e empresários pátrios, na mais safada e vergonhosa aliança, fizeram e fazem contra os brasileiros, sobretudo contra os mais sofridos.
Até quando continuaremos nessa derrocada moral?
Nem o Altíssimo sabe!
Acílio Lara Resende