terça-feira, 17 de outubro de 2023
Netanyahu faz com os palestinos o que o nazismo fez com os judeus
O governo de extrema direita do primeiro-ministro de Israel, Benjamin “Bibi” Netanyahu, acossado por denúncias de corrupção e pelo fracasso de dispor do mais poderoso exército do Oriente Médio que não soube defender seu país, mandou que os palestinos da Faixa de Gaza, moradores do Norte, se transferissem para o Sul do enclave. Do contrário, seriam bombardeados.
Dada a ordem, iniciado o êxodo, continuou bombardeando os que decidiram permanecer no Norte e passou a bombardear os que caminhavam para o Sul. E nenhum dos mais de 60 países que já anunciaram apoio a Israel disse nada até agora. Alguns limitaram-se a recomendar que respeitasse as regras de guerra estabelecidas pela Convenção de Genebra e pediram uma trégua.
O governo de “Bibi” não está nem aí para as tais regras que país algum respeita ao enfrentar um inimigo; quanto ao pedido de trégua, recusou-o. Nem por isso o chanceler da Alemanha, a maior economia da Europa, deixará de desembarcar, hoje, em Tel Aviv para reafirmar apoio a Israel. Nem por isso o presidente americano, Joe Biden, deixará de o fazer amanhã com o mesmo objetivo.
A última guerra justa travada pelos europeus foi contra a Alemanha de Hitler, que matou 6,5 milhões de judeus, ciganos e outras minorias. Devedores dos Estados Unidos, que os salvaram do nazismo, lutaram em todas as guerras que os americanos deflagraram ou se envolveram desde então. Foi assim, por exemplo, no Vietnã, nos anos 1960, no Afeganistão e no Iraque.
No Vietnã, os Estados Unidos foram à guerra a pretexto de impedir que o comunismo se apossasse do país. Acabaram derrotados depois de quase destruírem e queimarem o Vietnã inteiro com bombas incendiárias. Armaram os talibãs no Afeganistão para que enfrentassem os russos. Invadiram o Afeganistão, o país mais miserável do mundo, a pretexto de combater o terror.
Sabiam que eram sauditas os 14 terroristas que sequestraram quatro aviões e jogaram dois deles contra as Torres Gêmeas de Nova Iorque em setembro de 2021. Mas a Arábia Saudita é um dos maiores produtores de petróleo do planeta, do qual os Estados Unidos dependem. E o Afeganistão… Bem, o Afeganistão tem petróleo, mas é um país essencialmente agrícola.
Os Estados Unidos saíram do Afeganistão derrotados. Invadiram o Iraque a pretexto de derrubar a ditadura de Sadam Hussein, que dava abrigo aos terroristas do 11 de setembro e acumulava armas de destruição em massa. Não dava abrigo. Não acumulava armas de destruição em massa, como ficou provado. Sadam foi capturado e morto. Mais tarde, os Estados Unidos abandonaram o Iraque.
Nos últimos 14 anos, Israel bateu com o Hamas quatro vezes. Em duas delas, 2009 e 2014, Israel invadiu Gaza por terra. Morreram milhares de civis palestinos e centenas de israelenses. Há 9 anos, não havia nenhum israelense refém do Hamas; há 14 anos, só um. Hoje, existem de 200 a 250 reféns. O Hamas jamais esteve tão forte. Por que Israel o dizimará desta vez?
O que o governo Netanyahu faz em Gaza com os palestinos é a mesma coisa que o nazismo fez com os judeus. Gaza é um campo de concentração onde vivem 2,3 milhões de pessoas em petição de miséria, cercadas por um muro erguido por Israel, que dependem de Israel para comer, beber água, tomar banho, curar suas doenças e se locomover. Então, Israel decidiu privá-las de todas essas coisas.
Quer dizer: privá-las de viver.
Dada a ordem, iniciado o êxodo, continuou bombardeando os que decidiram permanecer no Norte e passou a bombardear os que caminhavam para o Sul. E nenhum dos mais de 60 países que já anunciaram apoio a Israel disse nada até agora. Alguns limitaram-se a recomendar que respeitasse as regras de guerra estabelecidas pela Convenção de Genebra e pediram uma trégua.
O governo de “Bibi” não está nem aí para as tais regras que país algum respeita ao enfrentar um inimigo; quanto ao pedido de trégua, recusou-o. Nem por isso o chanceler da Alemanha, a maior economia da Europa, deixará de desembarcar, hoje, em Tel Aviv para reafirmar apoio a Israel. Nem por isso o presidente americano, Joe Biden, deixará de o fazer amanhã com o mesmo objetivo.
A última guerra justa travada pelos europeus foi contra a Alemanha de Hitler, que matou 6,5 milhões de judeus, ciganos e outras minorias. Devedores dos Estados Unidos, que os salvaram do nazismo, lutaram em todas as guerras que os americanos deflagraram ou se envolveram desde então. Foi assim, por exemplo, no Vietnã, nos anos 1960, no Afeganistão e no Iraque.
No Vietnã, os Estados Unidos foram à guerra a pretexto de impedir que o comunismo se apossasse do país. Acabaram derrotados depois de quase destruírem e queimarem o Vietnã inteiro com bombas incendiárias. Armaram os talibãs no Afeganistão para que enfrentassem os russos. Invadiram o Afeganistão, o país mais miserável do mundo, a pretexto de combater o terror.
Sabiam que eram sauditas os 14 terroristas que sequestraram quatro aviões e jogaram dois deles contra as Torres Gêmeas de Nova Iorque em setembro de 2021. Mas a Arábia Saudita é um dos maiores produtores de petróleo do planeta, do qual os Estados Unidos dependem. E o Afeganistão… Bem, o Afeganistão tem petróleo, mas é um país essencialmente agrícola.
Os Estados Unidos saíram do Afeganistão derrotados. Invadiram o Iraque a pretexto de derrubar a ditadura de Sadam Hussein, que dava abrigo aos terroristas do 11 de setembro e acumulava armas de destruição em massa. Não dava abrigo. Não acumulava armas de destruição em massa, como ficou provado. Sadam foi capturado e morto. Mais tarde, os Estados Unidos abandonaram o Iraque.
Nos últimos 14 anos, Israel bateu com o Hamas quatro vezes. Em duas delas, 2009 e 2014, Israel invadiu Gaza por terra. Morreram milhares de civis palestinos e centenas de israelenses. Há 9 anos, não havia nenhum israelense refém do Hamas; há 14 anos, só um. Hoje, existem de 200 a 250 reféns. O Hamas jamais esteve tão forte. Por que Israel o dizimará desta vez?
O que o governo Netanyahu faz em Gaza com os palestinos é a mesma coisa que o nazismo fez com os judeus. Gaza é um campo de concentração onde vivem 2,3 milhões de pessoas em petição de miséria, cercadas por um muro erguido por Israel, que dependem de Israel para comer, beber água, tomar banho, curar suas doenças e se locomover. Então, Israel decidiu privá-las de todas essas coisas.
Quer dizer: privá-las de viver.
Em comunidade
Passemos a outra questão: o modo de tratarmos com o nosso semelhante. Como devemos agir, que preceitos ministrar? Que não derramemos sangue humano? Ao nosso semelhante devemos fazer o bem: aconselhar a não lhe fazer mal, que ridículo! Até parece que encontrar algum homem que não seja uma fera para os outros já é coisa merecedora de encômios... Vamos aconselhar a que se estenda a mão ao náufrago, se indique o caminho a quem anda perdido, se divida o pão com o esfomeado? Mas para que hei-de eu enumerar todos os atos que devemos ou não devemos praticar quando posso numa só frase resumir todos os nossos deveres para com os outros? Tudo quanto vês, este espaço em que se contém o divino e o humano, é uno, e nós não somos senão os membros de um vasto corpo. A natureza gerou-nos como uma só família, pois nos criou da mesma matéria e nos dará o mesmo destino; a natureza faz-nos sentir amor uns pelos outros, e aponta-nos a vida em sociedade. A natureza determinou tudo quanto é lícito e justo; pela própria lei da natureza, é mais terrível fazer o mal do que sofrê-lo; em obediência à natureza, as nossas mãos devem estar prontas a auxiliar quem delas necessite. Devemos ter gravado na alma, e sempre na ponta da língua, o verso famoso: “Sou homem, tudo quanto é humano me concerne!”, de Terêncio. Possuamos tudo em comunidade, uma vez que como comunidade fomos gerados. A sociedade humana assemelha-se em tudo a um arco abobadado: as pedras que, sozinhas, cairiam, sustentam-se mutuamente, e assim conseguem manter-se firmes!
Sêneca, "Cartas a Lucílio"
Sêneca, "Cartas a Lucílio"
E quando nos perguntarem por que não fizemos nada…
Amir é professor de Educação Cívica e está a dar uma segunda oportunidade a uma aluna conflituosa. O docente propõe-lhe que apresente um problema e uma solução para o mesmo. A escola fica numa cidade israelita e Lian dá um exemplo concreto de um problema: o assédio de dois rapazes árabes a uma das suas amigas. Para Lian, a solução é simples: proibir os árabes de frequentarem a mesma piscina. Amir lembra-lhe que não há outra, que talvez a solução possa passar por juntarem dinheiro para construir uma nova.
Mas Lian é irredutível: os árabes não podem frequentar a mesma piscina, aliás, não podem viver sequer no mesmo sítio. O melhor é enfiá-los em autocarros e depositá-los nos países vizinhos: Egipto, Líbano, Síria… Melhor, melhor é atirá-los ao mar, continua a rapariga que entretanto conquistou um aliado na turma, é Asir, cujo irmão foi ferido enquanto cumpria o serviço militar. No próximo ano serão eles a ir para as Forças de Defesa de Israel (IDF, na sigla inglesa).
São aqueles miúdos que, em poucos meses, terão treino militar e terão armas nas mãos, que não conseguem perceber que o que o seu governo está a fazer foi o que fizeram aos seus avós e bisavós; que, por exemplo, a Faixa de Gaza funciona como o gueto de Varsóvia, onde tudo o que entrava e saía era decidido pelos alemães, tal como hoje, tudo o que entra e sai de Gaza é decidido por Israel — esta comparação é minha, não do professor.
Ainda não terminei de ver A Lição, uma série de seis episódios que começou, na RTP2, poucos dias antes de o Hamas entrar em Israel e matar indiscriminadamente porque, desde o fim-de-semana passado, que a televisão tem estado ligada nos canais noticiosos e tudo o resto parece irrelevante. Desde que vi, pela primeira vez, os ataques do Hamas ao festival de música — onde perderam a vida mais de 260 jovens de várias nacionalidades, e desapareceram talvez mais de uma centena, que terá sido raptada e mantida em cativeiro pelo grupo terrorista —, que tenho dificuldade em dormir.
Naqueles rapazes e raparigas vejo os meus filhos, os seus companheiros e amigos. “E não nos vês na Faixa de Gaza?”, perguntaram-me os meus filhos, em diferentes momentos. Sim, respondi de imediato. Consigo ver-nos, a todos, de um lado e do outro. A sermos vítimas de um governo ditatorial que devia ter previsto e evitado o que aconteceu; e a sermos vítimas diárias desse mesmo governo, que decide se abre ou fecha a água, se liga ou desliga a luz, se podemos ou não podemos atravessar a fronteira para irmos trabalhar —; e reféns do Hamas, de um lado ou do outro da fronteira.
“É uma sorte o lugar onde nascemos”, diz com alguma constância a minha filha, que viveu dois anos fora, e cujas amigas de mestrado são de muitos cantos da Europa e do mundo. A ucraniana cuja melhor amiga era russa e deixaram de se falar quando a guerra rebentou; a russa que tenta ser amiga de todas e todas a evitam; a indiana de um estado de maioria islâmica que sofre com as leis nacionalistas de Modi — confessou ontem, numa troca de mensagens, que o que o Hamas fez só contribuiu para a demonização dos muçulmanos na Índia; a egípcia que frequentou uma das melhores universidades norte-americanas, mas tem dificuldade em arranjar visto para trabalhar na Europa por causa da sua nacionalidade; a norte-americana que antevê uma guerra civil no seu país, por isso, prefere ficar deste lado do Atlântico; a brasileira que ama a segurança da Europa, sobretudo dos países nórdicos; a colombiana…
Que sorte termos nascido em Portugal, sim, mas não confiemos na sorte. É preciso estarmos atentos. Quem votou em Netanyahu foram os israelitas; quem votou em Modi foram os indianos; quem votou em Trump foram os americanos; quem votou em Bolsonaro foram os brasileiros, etc., etc.. Há que ensinar os mais novos a compreender que há um poder que temos nas nossas mãos, há que saber ler, ver, ouvir e interpretar para usarmos correctamente esse poder, para não repetirmos erros antigos ou recentes.
Lembro-me de nas aulas de História, no secundário, perguntarmos ao professor como é que o Holocausto tinha acontecido sem que ninguém tivesse movido uma palha. Como vamos responder aos nossos filhos quando nos fizerem exactamente a mesma pergunta: onde é que estávamos, o que fizemos quando Israel decidiu não dar alternativa a um povo e bombardeá-lo?
E voltemos ao festival de música trance. Um adolescente português, que veja os vídeos sobre o que se passou quando os militantes do Hamas invadiram o recinto, pode facilmente identificar-se com aqueles jovens que dançam, que se divertem, que são obrigados a fugir, e tomar um partido. É mais fácil imaginar-se no corpo de um jovem israelita com um ar saudável do que de um palestiniano sujo do pó das bombas que caem. Por isso, cabe-nos a nós pais, ajudá-los a compreender que aquelas crianças e jovens não são animais, como apelidam vários ministros israelitas, mas são vítimas do Hamas, assim como de Israel; que não têm como sair dali, por mais que as Nações Unidas o implorem, que Israel comporta-se exactamente do mesmo modo que o Hamas. A diferença é que o primeiro é um Estado supostamente democrático, enquanto o segundo é um grupo terrorista, que cresceu com a complacência de Israel. Também os jovens israelitas, bem como as famílias mortas e sequestradas foram vítimas de parte a parte.
É importante saber o que está a acontecer no mundo. E o mundo entra pelos telefones dos nossos filhos, sem filtro, sem que tenhamos poder sobre isso, desconhecendo se o que vêem é ou não é informação fidedigna. É importante sentarmo-nos e contextualizarmos o que se está a passar. Explicar-lhes por quanto já passou um rapaz ou uma rapariga que tenha hoje 14 anos, em Gaza; que quando nasceu já era refugiado, que sobreviveu a quatro confrontos com Israel, que quando as IDF entram naquele território matam indiscriminadamente; que o mundo ocidental não olha da mesma maneira para um palestiniano e para um israelita, quando todos deviam ser iguais, ter os mesmos direitos e deveres. É importante ensinar-lhes a ter empatia, a ser solidários, a agir.
Mas Lian é irredutível: os árabes não podem frequentar a mesma piscina, aliás, não podem viver sequer no mesmo sítio. O melhor é enfiá-los em autocarros e depositá-los nos países vizinhos: Egipto, Líbano, Síria… Melhor, melhor é atirá-los ao mar, continua a rapariga que entretanto conquistou um aliado na turma, é Asir, cujo irmão foi ferido enquanto cumpria o serviço militar. No próximo ano serão eles a ir para as Forças de Defesa de Israel (IDF, na sigla inglesa).
A sala de aula grita quase em uníssono para que se atirem os palestinianos ao mar. O professor ainda argumenta que aquela terra já estava ocupada quando eles, judeus, lá chegaram; e lembra que na Alemanha nazi, a primeira proibição a que os judeus foram sujeitos foi precisamente a frequência das piscinas. Então, não foram metidos em autocarros, mas em comboios, para morrerem. Mas nenhum dos argumentas chama os alunos à razão.
São aqueles miúdos que, em poucos meses, terão treino militar e terão armas nas mãos, que não conseguem perceber que o que o seu governo está a fazer foi o que fizeram aos seus avós e bisavós; que, por exemplo, a Faixa de Gaza funciona como o gueto de Varsóvia, onde tudo o que entrava e saía era decidido pelos alemães, tal como hoje, tudo o que entra e sai de Gaza é decidido por Israel — esta comparação é minha, não do professor.
Ainda não terminei de ver A Lição, uma série de seis episódios que começou, na RTP2, poucos dias antes de o Hamas entrar em Israel e matar indiscriminadamente porque, desde o fim-de-semana passado, que a televisão tem estado ligada nos canais noticiosos e tudo o resto parece irrelevante. Desde que vi, pela primeira vez, os ataques do Hamas ao festival de música — onde perderam a vida mais de 260 jovens de várias nacionalidades, e desapareceram talvez mais de uma centena, que terá sido raptada e mantida em cativeiro pelo grupo terrorista —, que tenho dificuldade em dormir.
Naqueles rapazes e raparigas vejo os meus filhos, os seus companheiros e amigos. “E não nos vês na Faixa de Gaza?”, perguntaram-me os meus filhos, em diferentes momentos. Sim, respondi de imediato. Consigo ver-nos, a todos, de um lado e do outro. A sermos vítimas de um governo ditatorial que devia ter previsto e evitado o que aconteceu; e a sermos vítimas diárias desse mesmo governo, que decide se abre ou fecha a água, se liga ou desliga a luz, se podemos ou não podemos atravessar a fronteira para irmos trabalhar —; e reféns do Hamas, de um lado ou do outro da fronteira.
“É uma sorte o lugar onde nascemos”, diz com alguma constância a minha filha, que viveu dois anos fora, e cujas amigas de mestrado são de muitos cantos da Europa e do mundo. A ucraniana cuja melhor amiga era russa e deixaram de se falar quando a guerra rebentou; a russa que tenta ser amiga de todas e todas a evitam; a indiana de um estado de maioria islâmica que sofre com as leis nacionalistas de Modi — confessou ontem, numa troca de mensagens, que o que o Hamas fez só contribuiu para a demonização dos muçulmanos na Índia; a egípcia que frequentou uma das melhores universidades norte-americanas, mas tem dificuldade em arranjar visto para trabalhar na Europa por causa da sua nacionalidade; a norte-americana que antevê uma guerra civil no seu país, por isso, prefere ficar deste lado do Atlântico; a brasileira que ama a segurança da Europa, sobretudo dos países nórdicos; a colombiana…
Que sorte termos nascido em Portugal, sim, mas não confiemos na sorte. É preciso estarmos atentos. Quem votou em Netanyahu foram os israelitas; quem votou em Modi foram os indianos; quem votou em Trump foram os americanos; quem votou em Bolsonaro foram os brasileiros, etc., etc.. Há que ensinar os mais novos a compreender que há um poder que temos nas nossas mãos, há que saber ler, ver, ouvir e interpretar para usarmos correctamente esse poder, para não repetirmos erros antigos ou recentes.
Lembro-me de nas aulas de História, no secundário, perguntarmos ao professor como é que o Holocausto tinha acontecido sem que ninguém tivesse movido uma palha. Como vamos responder aos nossos filhos quando nos fizerem exactamente a mesma pergunta: onde é que estávamos, o que fizemos quando Israel decidiu não dar alternativa a um povo e bombardeá-lo?
E voltemos ao festival de música trance. Um adolescente português, que veja os vídeos sobre o que se passou quando os militantes do Hamas invadiram o recinto, pode facilmente identificar-se com aqueles jovens que dançam, que se divertem, que são obrigados a fugir, e tomar um partido. É mais fácil imaginar-se no corpo de um jovem israelita com um ar saudável do que de um palestiniano sujo do pó das bombas que caem. Por isso, cabe-nos a nós pais, ajudá-los a compreender que aquelas crianças e jovens não são animais, como apelidam vários ministros israelitas, mas são vítimas do Hamas, assim como de Israel; que não têm como sair dali, por mais que as Nações Unidas o implorem, que Israel comporta-se exactamente do mesmo modo que o Hamas. A diferença é que o primeiro é um Estado supostamente democrático, enquanto o segundo é um grupo terrorista, que cresceu com a complacência de Israel. Também os jovens israelitas, bem como as famílias mortas e sequestradas foram vítimas de parte a parte.
É importante saber o que está a acontecer no mundo. E o mundo entra pelos telefones dos nossos filhos, sem filtro, sem que tenhamos poder sobre isso, desconhecendo se o que vêem é ou não é informação fidedigna. É importante sentarmo-nos e contextualizarmos o que se está a passar. Explicar-lhes por quanto já passou um rapaz ou uma rapariga que tenha hoje 14 anos, em Gaza; que quando nasceu já era refugiado, que sobreviveu a quatro confrontos com Israel, que quando as IDF entram naquele território matam indiscriminadamente; que o mundo ocidental não olha da mesma maneira para um palestiniano e para um israelita, quando todos deviam ser iguais, ter os mesmos direitos e deveres. É importante ensinar-lhes a ter empatia, a ser solidários, a agir.
Guerra lá, guerra aqui
A partir da década de 1970 o Rio cresceu em direção à Barra da Tijuca, bairro mais ou menos planejado que oferecia, além da beleza natural de praias e lagoas, o conceito publicitário da segurança em condomínios fechados e shoppings. Uma espécie de paraíso para a classe média alta. Hoje o perigo mora ao lado.
Na semana passada, a Polícia Federal apreendeu 47 fuzis e centenas de munições calibre 556 escondidos numa mansão de um condomínio de luxo, na Barra. O arsenal veio de Belo Horizonte para abastecer traficantes de drogas, milicianos e bicheiros que estão em guerra na região. O que seria uma ilha de tranquilidade se transformou em palco de assassinatos brutais –como os que vitimaram por engano três médicos num quiosque.
Quem mora na Barra e no Recreio dos Bandeirantes se acostumou a ver comboios de três veículos, de cor preta e vidros cobertos por película escura. Dentro não vão executivos nem autoridades; estão os chefes do crime organizado, responsáveis por uma estatística que iguala a Baixada de Jacarepaguá à Baixada Fluminense no imaginário da violência. O número de homicídios quase triplicou entre janeiro e agosto deste ano em relação ao mesmo período de 2022.
É a prova de que tráfico e milícia, infiltrando-se na estrutura do Estado, agem livremente. A política de segurança do governador Cláudio Castro só parece eficaz para produzir chacinas em favelas. Estima-se que haja 56 mil traficantes e milicianos no Rio, com 28 mil fuzis a seu dispor. Nos últimos cinco anos, 114 crianças foram baleadas; 32 morreram. Um sofrimento imenso das famílias que, no calor da primeira hora, afeta a população em geral. Aos poucos, a dor coletiva vai sendo esquecida ou substituída por outra.
No momento, o horror do conflito no Oriente Médio magnetiza todas as atenções, sobretudo as ideológicas. Mas nossa guerra –permanente e gradual– não dá trégua.
Na semana passada, a Polícia Federal apreendeu 47 fuzis e centenas de munições calibre 556 escondidos numa mansão de um condomínio de luxo, na Barra. O arsenal veio de Belo Horizonte para abastecer traficantes de drogas, milicianos e bicheiros que estão em guerra na região. O que seria uma ilha de tranquilidade se transformou em palco de assassinatos brutais –como os que vitimaram por engano três médicos num quiosque.
Quem mora na Barra e no Recreio dos Bandeirantes se acostumou a ver comboios de três veículos, de cor preta e vidros cobertos por película escura. Dentro não vão executivos nem autoridades; estão os chefes do crime organizado, responsáveis por uma estatística que iguala a Baixada de Jacarepaguá à Baixada Fluminense no imaginário da violência. O número de homicídios quase triplicou entre janeiro e agosto deste ano em relação ao mesmo período de 2022.
É a prova de que tráfico e milícia, infiltrando-se na estrutura do Estado, agem livremente. A política de segurança do governador Cláudio Castro só parece eficaz para produzir chacinas em favelas. Estima-se que haja 56 mil traficantes e milicianos no Rio, com 28 mil fuzis a seu dispor. Nos últimos cinco anos, 114 crianças foram baleadas; 32 morreram. Um sofrimento imenso das famílias que, no calor da primeira hora, afeta a população em geral. Aos poucos, a dor coletiva vai sendo esquecida ou substituída por outra.
No momento, o horror do conflito no Oriente Médio magnetiza todas as atenções, sobretudo as ideológicas. Mas nossa guerra –permanente e gradual– não dá trégua.
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