domingo, 1 de junho de 2025

Pensamento do Dia

 


Os 'especialistas'


Há, atualmente, dois tipos muito diferentes de especialistas em questões políticas. De um lado, os políticos práticos de todos os partidos; do outro, os peritos, principalmente funcionários públicos, mas também economistas, financistas, cientistas, médicos, etc. Cada grupo possui um género de habilidade. A do político consiste em adivinhar quem pode ser induzido a pensar em favor do seu partido; a habilidade do perito consiste em calcular o que é realmente vantajoso contanto que possa convencer o povo.

A habilidade específica do político consiste em saber que paixões pode com maior facilidade despertar e como evitar , quando despertas , que sejam nocivas a ele próprio e seus aliados.

Bertrand Russell

Direita mentiu sobre liberdade de expressão

A liberdade de expressão está sob ataque nos Estados Unidos. Trump está destruindo a autonomia universitária, prendendo estudantes por suas opiniões políticas e ameaçando recusar visto de entrada no país para quem criticar seu governo em redes sociais.

A culpa dessa ofensiva autoritária é de quem ficou do lado dos Elon Musks desse mundo, contra os Alexandres de Moraes desse mundo, dizendo que defendia a liberdade de expressão.

Se você fez escândalo quando as contas golpistas em redes sociais foram suspensas em 2022, lamento, foi você quem prendeu os jovens estudantes americanos pró-Palestina. Se você deu razão aos bolsonaristas contra Alexandre de Moraes, você declarou guerra a Harvard. Se você disse que Elon Musk tinha razão contra o STF brasileiro, ou se opôs aos "fact-checkers", você é pessoalmente responsável pelo estabelecimento de censura política na concessão de vistos americanos.


Lá, como aqui, a questão sempre foi simples: há movimentos poderosos que buscam destruir a democracia. O bolsonarismo aqui, o trumpismo lá. Quando as instituições democráticas reagiram, você ficou do lado de quem?

Do ponto de vista prático, é só isso que interessa, filho. Você achar que agiu por princípio não importa, seu apego à performance "acima da polarização" não importa. Se você ficou com Jair, Musk ou Trump, você trabalhou pelo autoritarismo de Trump e por coisas infinitamente mais violentas que teriam acontecido no Brasil se o golpe de Bolsonaro tivesse sido bem-sucedido.

Você o fez brincando de jogar "liberdade de expressão" no modo "easy", como se jogava 30 anos atrás, antes da emergência de movimentos autoritários de massa com penetração institucional fortíssima e capacidade real de ameaçar a democracia.

Alguns anos atrás, participei de um debate sobre Alexandre de Moraes com Glenn Greenwald, colunista desta Folha. Como advogado, Greenwald, que é judeu, defendeu os direitos de um militante neonazista. A pergunta que Glenn nunca me respondeu é a seguinte: até que mês de 1933 ele ainda defenderia os direitos dos nazistas se estivesse em Berlim? E se os "stakes" não fossem só o risco de um idiota ofender gente no Twitter, mas o risco de vitória de um movimento poderoso que destruiria a democracia?

Vale conferir o que estão fazendo os críticos do STF diante da ofensiva liberticida trumpista.

Na semana passada o deputado Nikolas Ferreira deu seu apoio à censura trumpista contra alunos que querem estudar nas universidades americanas ("comunistinhas de meia-tigela"). Google e Meta, as "vítimas" da regulação, participaram do seminário de comunicação do Partido Liberal, a principal organização autoritária brasileira, e ouviram de Jair Bolsonaro que "estão do lado certo". O próprio governo Trump, culpado dos crimes listados no primeiro parágrafo, ameaça punir o STF brasileiro pela defesa da democracia. Musk fazia parte do governo Trump até a semana passada.

O exemplo americano mostra que a defesa da liberdade de expressão pela extrema direita de Musk, Bolsonaro e Trump era estelionato. Se você caiu nessa, fica a dica: da próxima vez que te chamarem para defender o direito de marchar, não custa nada abrir a janela e checar se os fascistas estão marchando sobre Roma.

A gaiola dourada da emigração

O ano era 2013. As salas de cinema encheram-se como poucas vezes para ver um filme português. Numa das cenas de A Gaiola Dourada, Rita Blanco, a porteira portuguesa em Paris, que está pela primeira vez num hotel, começa a fazer a cama antes de sair do quarto. A atitude é o reflexo de anos de pobreza e subserviência. Aquela mulher não sabe como comportar-se num ambiente em é suposto não ser a serviçal, mas ser servida. O efeito é cómico. Mas, como qualquer boa caricatura, contém em si uma verdade dolorosa, que nos revela e expõe.

Nesse ano de 2013, segundo os dados do Instituto Nacional de Estatística, saíram do País 128.108 portugueses. Os anos de chumbo da austeridade pesavam-nos nos ombros. Muitos tiveram de procurar trabalho fora para fazer face a dívidas ou, simplesmente, porque as profissões para que foram formados não lhes garantiam por cá trabalho estável e bem pago. Muitos eram enfermeiros ou professores. Mas também havia os que iam para trabalhar num armazém ou numa caixa de supermercado. Lembro-me de que foi exatamente esse o trabalho que a mãe de uma amiga teve de aceitar quando, já passados os 50 anos, a crise a apanhou de frente e a obrigou a pegar nas malas e ir para Londres.

Conheço várias histórias pouco glamourosas desses anos de emigração. Como a de um casal que chegou a Londres com 20 euros no bolso e teve de viver num quarto partilhado, num susto constante perante a possibilidade de ficarem sem as poucas coisas que tinham levado. Começaram a servir às mesas e a trabalhar em eventos e foram subindo numa economia que lhes parecia mais aberta à ascensão social do que este país pequenino em que quase todos os empregos se arranjam à força de se ser amigo ou primo de alguém.


Nesses anos de aperto, eu trabalhava como jornalista, com um salário magro, que não me permitia o luxo de viver sem a ajuda dos pais para pagar uma renda que na altura já era insuportável, mesmo para quem, como eu, estava bem acima do miserável salário mínimo nacional da época.

Muitos dos colegas que comigo andaram no ciclo e no secundário pegaram nas malas e saíram, alguns deles com bolsas de doutoramento. Outros, como eu, foram-se aguentando por cá, em trabalhos mal pagos, à custa de terem uma rede de apoio familiar, suportando os cortes que a troika impôs.

Isto não aconteceu sequer há 20 anos. Hoje, os adolescentes começam a pensar nos países em que querem estudar ou trabalhar, ainda antes de acabarem o liceu. A emigração passou a ser vista como uma “fuga de cérebros”. Ficar é quase sinónimo de falhanço. Nas famílias da elite passou a ser de bom tom dizer que se tem um filho em Londres e outro em Xangai. E os meninos são educados em Inglês, enquanto os pais olham para as listas de universidades estrangeiras e pensam para onde será melhor enviar os petizes para lhes garantir um futuro dourado.

Aquela porteira que a Rita Blanco encarnou era, em 2013, uma memória caricatural, desenhada para provocar o riso em portugueses que continuavam a ser emigrantes, mas se viam já acima dos comportamentos serviçais de uma geração de gente que fugiu à miséria, passando a fronteira a salto.

A verdadeira gaiola dourada não é a das personagens desse filme. É aquela em que vivem as gerações atuais, que têm na vantagem da mobilidade global a prisão de procurarem um futuro longe das suas famílias e referências. Talvez isso não lhes pareça pesado, porque a sociedade é cada vez mais individualista e as referências estão cada vez mais atomizadas e descaracterizadas como um lounge de aeroporto. Mas não deixa de ser uma prisão, que os condenará a uma vida de párias afetivos, perdidos num Inglês que, por mais que o falem, nunca será a Língua Mãe, longe da sensação de rede e pertença.

Estes são os que hoje partem. Mas como são os que daqui fugiram – e fugir é o verbo certo – nas décadas de 70 ou 80? Como são as porteiras e os pedreiros, que começaram por viver em bairros de barracas nos arredores de Paris? Aqueles que em miúda me habituei a ver em agosto chegar à aldeia dos meus avós, falando um francês ostensivo, chegados nos Mercedes estacionados à porta de casas tipo maison, também elas tão ostensivas e extravagantes quanto era necessário para afastar o fantasma da pobreza?

Não tenho dados nem estudos sobre aquilo em que se terão transformado, porque eles são uma espécie de ângulo morto da História. Quando muito aparecem nas reportagens antes dos jogos da Seleção. Eles não nos interessam, porque não casam bem com a narrativa dos mais qualificados de sempre, que saem para empregos de sonho, empreendedores e sofisticados, que temos a miragem de atrair com baixas de impostos, mas que não voltarão nunca, a não ser talvez para umas férias ocasionais na Comporta, porque foram programados para outros voos e, lá está, têm poucas referências que lhes deem a fome do regresso.

Vi há pouco um programa num canal francês em que alguém dizia que os emigrantes portugueses em França eram como salmão. Tinham o instinto de voltar sempre a casa. Estes novos emigrantes são peixes de aquacultura.

Quanto aos que partiram há décadas, dizia, não tenho estudos nem dados, mas intuo que estejam hoje mais franceses ou suíços do que nunca. Olhando com susto a vaga de imigração, feita de gente de peles mais escuras e religiões diferentes. Repetindo o preconceito de que foram vítimas, sem ver nisso qualquer contradição. Afinal, eles, sim, eram trabalhadores. Os outros não. Os outros nunca são como nós. E é por isso que são outros.

Haverá quem tenha mais estudos e dados que eu para refletir sobre tudo isto. Mas quanto mais penso no assunto, mais me convenço de que toda a conversa sobre imigração não tem nada que ver com a imigração. Tem que ver com as ideias que temos sobre nós e sobre os outros. E como, estando continuamente em competição por tudo, continuamente confrontados com a escassez e a precariedade de tudo, até das relações humanas, sentimos uma segurança especial em agarrarmo-nos ao que é conhecido e atacarmos o que nos é estranho, sobretudo se sentirmos que, ainda assim, estamos numa posição de superioridade.

Tive há pouco tempo uma conversa numa rede social com uma pessoa que insistia na indignação com os subsídios que os imigrantes recebem. Foi quando desisti de contrariar a falsa ideia que tinha sobre os apoios a que essas pessoas têm direito que consegui que a conversa desatasse um nó, enquanto se ia queixando do acesso que têm essas pessoas aos serviços públicos.

Perguntei-lhe, então: “Quer saber de um apoio a imigrantes que é uma vergonha e de que ninguém fala?”. Nenhuma reação. Avancei: “Todos os anos damos uma borla de 1700 milhões de euros a residentes não habituais. Estes imigrantes ricos só pagam 20% de IRS e têm um poder de compra que fez disparar o preço da habitação”. Um coração em resposta. “Quando quiser procurar os culpados, olhe para cima. Não olhe para baixo”, insisti. E, nesse instante, alguma coisa mudou. O meu interlocutor concedeu que “a culpa não é deles”, “das pessoas que vêm procurar uma vida melhor”. A culpa, concluiu, seria de PSD e PS. E eu com isso já consigo acabar bem a conversa.

Fascismo: Economia e Ideologia

Na economia, é simples. Toda vez que as classes médias, que dependem de estabilidade financeira para sobreviver, são comprimidas, como hoje, estas classes médias, que não querem o socialismo e descrentes que estão para com a democracia, ficam propensas ao discurso de aventureiros radicais à direita, que formam o fascismo.

Assim foi na Alemanha, com a eleição do Partido Nazista em 1932, Hitler com o título de “das Führer”, “o Líder”, em 1934, e suas consequências. No acordo de Versailles após a Primeira Guerra Mundial, foram impostos à Alemanha pesados encargos financeiros de indenização de Danos de Guerra aos Aliados, que chegavam a cerca de 80% do valor de seu PIB. Em 1922, a Alemanha emitiu papel moeda sem lastro para pagar a dívida, gerando a hiperinflação. A partir daí, cai o voto no Partido Social Democrata Alemão, com a ascensão do Partido Nazista.


No Brasil, assim ocorreu com Bolsonaro, após a vertiginosa queda do PIB com Dilma Rousseff de US$ 2,6 trilhões em 2011 para US$ 1,8 trilhão em 2015, Bolsonaro chegando ao poder nas eleições de 2018. Na Argentina, o fenômeno se repete, com o PIB caindo de US$ 643 bilhões em 2017 para US$ 385 bilhões em 2019, com a eleição de Milei na sequência em 2023. E agora com Trump, nos Estados Unidos, com a corrosão da renda do Americano com Biden, com a inflação muito acima do crescimento do PIB, como consequência da Guerra da Ucrânia em 2023 e 2024; com a eleição de Trump ao final de 2024, para o exercício a partir de 2025,

Com relação à ideologia, o Fascismo tem sempre dois inimigos “a combater”, um interno e um externo, na manutenção do discurso do ódio na mobilização contínua da população. Na Alemanha Nazista, o inimigo interno eram os Judeus, que teriam retirado seus recursos financeiros da Alemanha, base econômica do antissemitismo; e o inimigo externo, o “comunismo” da Rússia, atribuindo-se ao Partido Social Democrata Alemão ser um braço dos interesses estrangeiros.

Importante se notar que a História não se repete em fatos, mas em conteúdo.

No Brasil, com Bolsonaro, o inimigo interno foi a “Classe Política”, considerada como corrupta, com Bolsonaro paradoxalmente proveniente do “Baixo Clero” no Congresso Nacional, onde aferia benefícios; e o inimigo externo atribuído ao “comunismo” da Venezuela, contra a qual se promoveu a tentativa de invasão e guerra, fracassada, no início de seu Governo, com a mobilização tácita da Colômbia e dos Estados Unidos. Na Argentina, o inimigo interno são as “Corporações Peronistas”, com Milei apregoando, durante a sua campanha, o término do Banco Central, na esperança de se nascer o “novo homem econômico Schumpeteriano”, decorrente das teorias de Adam Smith; e o inimigo externo, o “socialismo”, existente no Brasil e na Venezuela. Com Trump, o inimigo interno são os imigrantes Latinos, deportáveis paras as prisões de El Salvador; e o inimigo externo são todos os países do mundo, inclusive seus antigos parceiros como o México e o Canadá, com suas tarifas alfandegárias, sob o lema “Make America Great Again”; as tarifas alfandegárias questionadas pela Justiça Americana, na luta de Trump de impor uma nova ordem econômica, política e social contrárias aos preceitos da nação da liberdade e do mercado, que fizeram a América “Great Before”.

E assim vamos nós, buraco abaixo.

O que seu dinheiro tem a ver com a crise climática

Quando o assunto é finanças pessoais, a questão climática é um ponto cego para muitas pessoas. Decisões sobre ações individuais nessa seara têm peso menor quando comparado a temas como alimentação, viagens ou compras.

No entanto, em termos de redução de pegada de carbono pessoal, trocar o plano de previdência privada convencional por um sustentável pode ser 20 vezes mais eficaz do que o impacto combinado de parar de viajar em voos comerciais, tornar-se vegetariano ou trocar de fornecedor de energia, de acordo com uma análise do movimento britânico Make My Money Matter ("Faça com que meu dinheiro importe").

Estima-se que os 60 maiores bancos do mundo tenham empenhado 705 bilhões de dólares (R$ 3,9 trilhões) na indústria de combustíveis fósseis em 2023, e 6,9 trilhões de dólares desde que o Acordo Climático de Paris foi firmado em 2015.

Grande parte disso financia planos de expansão que vão contra os inequívocos alertas climáticos da ciência.


"Todos nós temos grandes quantias de dinheiro que contribuem para isso de várias maneiras, muitas vezes sem o nosso conhecimento", diz Adam McGibbon, estrategista de campanha da organização americana de pesquisa Oil Change International. Esse dinheiro pode ser na forma de contas correntes, pensões ou apólices de seguro que são reinvestidas na indústria de combustíveis fósseis.

Especialistas, contudo, destacam a dificuldade em quantificar com precisão a contribuição das finanças pessoais para o financiamento de combustíveis fósseis, devido à complexidade dos sistemas financeiros e a circunstâncias individuais.

Isso porque, em grande parte, é pelo lado corporativo – e não pelo varejo, onde o dinheiro de clientes individuais é mantido – que os bancos geralmente emprestam dinheiro ou subscrevem títulos para empresas com projetos de combustíveis fósseis. Quem diz isso é Quentin Aubineau, analista de políticas do BankTrack, uma ONG internacional que monitora as atividades financeiras de bancos comerciais.

No entanto, McGibbon ressalta que os bancos ainda usam nosso dinheiro para expandir seus negócios, gerar mais receita e atrair investidores. Ele pontua que nossas economias poderiam, no mínimo, ser "usadas para inflar o balanço de um banco, o que os permite atender clientes corporativos" vinculados aos combustíveis fósseis.

Quando se trata de investimentos, algumas finanças pessoais vão diretamente para a indústria de combustíveis fósseis através de ações ou títulos, afirma Carmen Nuzzo, diretora executiva do Transition Pathway Initiative Centre no Reino Unido, que pesquisa os avanços feitos pelo mundo financeiro e corporativo rumo a uma economia de baixo carbono.

"Isso inclui investimentos em empresas de petróleo e gás, que têm se mostrado muito atraentes e lucrativas nos últimos anos [...] assim como investimentos em outras empresas que dependem fortemente de combustíveis fósseis para sua produção ou prestação de serviços, como a siderurgia ou a aviação", diz Nuzzo.

Muitas pessoas também financiarão combustíveis fósseis por meio de economias que vão para fundos de pensão que investem em empresas dos setores com maior emissão de gases de efeito estufa e de carbono. As pensões geralmente são mantidas e controladas pelos Estados, empregadores ou empresas privadas.

"Você contribui para um fundo de pensão, esse dinheiro é investido em seu nome e parte dele pode acabar indo para empresas que garantem que você viva sua aposentadoria em um mundo instável e difícil", explica McGibbon.

Estudos recentes estimam que, em um mundo com aquecimento global de 4 ºC, uma pessoa poderá se tornar 40% mais pobre e os retornos dos fundos de pensão nos Estados Unidos e Canadá poderão cair até 50% até 2040, devido à exposição dos ativos a eventos climáticos extremos.

Os fundos de pensão estão entre os maiores investidores mundiais em combustíveis fósseis, com cerca de 46 trilhões de dólares investidos no setor e detendo 30% de suas ações, de acordo com a Climate Safe Pensions, uma campanha de desinvestimento com sede nos EUA e Canadá. Esses fundos também estão entre os principais financiadores da expansão dos combustíveis fósseis na África.

Em 2023, o grupo alemão de jornalismo investigativo Correctiv revelou que fundos de pensão em 10 dos 16 estados federais da Alemanha investiram em atividades relacionadas a combustíveis fósseis.

Embora os bancos verdes nem sempre ofereçam as condições mais favoráveis, há um apetite cada vez maior entre pessoas preocupadas com o clima por alternativas financeiras sustentáveis, aponta Katrin Ganswindt, pesquisadora financeira da ONG alemã Urgewald.

Entre o crescente grupo de bancos verdes, estão aqueles que se comprometem a parar de emprestar para empresas de combustíveis fósseis e investir em atividades favoráveis ao clima.

Ferramentas online como o bank.green surgiram para ajudar os consumidores a comparar as credenciais ambientais de diferentes bancos.

No entanto, superar a falta de conhecimento financeiro ainda é um dos principais desafios, explicou Nuzzo.

"Nos países onde a maioria das pessoas possui uma pensão, os indivíduos não controlam onde seus ativos de pensão estão sendo investidos [...] ou podem não revisar suas opções regularmente."

Ativos como pensões que investem no longo prazo são meios eficazes para fazer uma mudança, disse Ganswindt. "Os fundos de pensão têm um grande impacto porque investem grandes somas."

A Make My Money Matter estimou que o setor previdenciário do Reino Unido teria a capacidade de investir 1,2 trilhão de euros (R$ 7,7 trilhões) em energias renováveis e soluções climáticas até 2035.

Na Holanda, fundos de pensão para funcionários públicos e professores, bem como para profissionais de saúde, removeram seus investimentos em empresas de combustíveis fósseis. No Reino Unido, os grandes planos de pensão são obrigados a reportar seus riscos climáticos.

No entanto, apesar do aumento da conscientização e das opções de financiamento verde, ainda há falta de padrões e regulamentações nesse setor, aponta Franziska Mager, pesquisadora sênior da Tax Justice Network, um grupo de defesa do Reino Unido que trabalha contra a evasão fiscal.

"Mesmo que você tenha um banco 'verde', poderá se surpreender ao descobrir onde seu dinheiro está investido – se conseguir descobrir, é claro. Isso sem falar na definição de 'sustentável' por parte dos grandes atores", afirma.

Um artigo recente de sua coautoria sobre "lavagem verde" no setor bancário conclui que a existência de práticas financeiras obscuras – incluindo o uso de jurisdições sigilosas, um tipo de paraíso fiscal – obscurece a verdadeira dimensão do financiamento de combustíveis fósseis.

Quanto aos ETFs – um tipo de fundo de investimento negociado na bolsa de valores –, Ganswindt, da Urgewald, aponta que eles podem se autointitular "verdes" mesmo que isso não signifique nada.

Mas Ganswindt afirma ter observado progressos recentes em termos de transparência, citando uma nova regulamentaço da UE sobre quais empresas podem ou não participar de fundos rotulados como verdes ou sustentáveis.

Em última análise, as finanças pessoais provavelmente representam uma pequena fração das enormes somas de financiamento de combustíveis fósseis – mas a pesquisadora diz que esse não é o sentido de ações como migrar para um banco mais verde. Trata-se de enviar uma mensagem.

"Certamente, temos algum poder como clientes, mas muito mais como cidadãos", disse McGibbon. "É ótimo mudar para um banco mais verde, ótimo mudar para um plano de previdência mais verde. Mas, em última análise, poderíamos ter muito mais poder como cidadãos, mudando a forma como votamos e exigindo que os políticos regulem o setor financeiro."

‘Temos mentes tribais e capacidades modernas. É uma combinação perigosa’

No último dia 24 de maio, completaram-se dez anos do acidente aéreo que sofremos próximo a Campo Grande (MS). O que poderia ter sido uma tragédia sem volta foi um ponto de virada. Desde então, vivemos uma jornada silenciosa de gratidão, espiritualidade e ressignificação da missão de vida. A busca por equilíbrio entre corpo e mente se tornou parte da nossa rotina, liderada com ternura e intuição por Angélica, que assumiu um papel de guia e inspiração. Foi minha esposa quem abriu espaço para a meditação se tornar um pilar em nossa convivência familiar. E, nesse caminho, nos aproximamos do pensamento de alguém que há décadas ilumina essa trilha com consistência e profundidade: Deepak Chopra.

Chopra começou sua carreira na Índia como endocrinologista, mas, em 1980, teve seu rumo alterado ao encontrar Maharishi Mahesh Yogi, o criador da Meditação Transcendental. Os dois se tornaram próximos, e, entre 1980 e 1993, Chopra acompanhou o mestre espiritual em diversas viagens, entrando em contato com grandes transformações geopolíticas e culturais. Em 1983, publicou seu primeiro livro, integrando espiritualidade, medicina alternativa e ciência ocidental. A partir daí, vieram parcerias com personalidades como Oprah Winfrey e os Beatles, e a consolidação como uma das vozes mais influentes sobre saúde, bem-estar e consciência. Nomeado pela revista Time um dos ícones do século XX, Chopra hoje é professor e palestrante em instituições como Columbia Business School, Northwestern University e Universidade da Califórnia em San Diego.

Seu pensamento parte de uma premissa ousada: a consciência vem antes da matéria. Para Chopra, o mundo físico é uma expressão da consciência — e não o contrário. O cérebro humano não a cria, apenas a manifesta. Para sustentar essa tese, Chopra dialoga com conceitos da física quântica, tratando a consciência como um campo em que todas as possibilidades existem até serem definidas pela observação ou escolha. A partir daí, propõe uma visão integrada do ser humano, em que corpo, mente e espírito são expressões de uma mesma origem. Nessa lógica, pensamentos e emoções não são abstratos: influenciam diretamente a saúde física e o bem-estar. Ele fala sobre a possibilidade de um estado de “saúde perfeita” —não como utopia, mas como a condição natural do ser humano quando há equilíbrio entre os aspectos físico, emocional, mental e espiritual.




Aos 78 anos, Chopra mantém uma rotina disciplinada e introspectiva. Medita três horas por dia, evita compromissos sociais e diz buscar apenas paz e presença. Observa com certa distância o personagem público que o mundo projetou sobre ele e se esforça para manter-se fiel ao essencial. Seu pensamento continua reverberando em diferentes partes do mundo —e também dentro da minha casa. Dez anos depois daquele episódio inesperado, seguimos tentando viver com mais presença, consciência e propósito. Um dia de cada vez.

Na última sexta-feira, tive a oportunidade de me reunir com Chopra no Uruguai. Na conversa, ele sustentou que a inteligência artificial não deve ser vista como uma ameaça isolada, mas como uma consequência natural da expansão da consciência humana —um novo salto evolutivo. Assim como a descoberta do fogo transformou biologicamente o cérebro humano ao possibilitar a digestão de alimentos cozidos, a IA tem o potencial de reconfigurar nossas redes neurais e modificar profundamente nosso modo de existir. Mas, para Chopra, esse salto técnico ocorre num momento em que a sociedade parece cada vez mais desconectada de sua interioridade. Ao valorizar excessivamente o exterior —o que se mostra nas redes, o que se performa—, perdemos contato com aquilo que é essencial: a fonte de toda experiência. A IA, portanto, pode ser uma ferramenta de cura e transformação ou de destruição e alienação, dependendo de como escolhemos utilizá-la. A chave, diz Chopra, está em reconectar o uso da tecnologia a uma consciência mais plena, ética e espiritual. Abaixo, compartilho trechos desse bate-papo.


Desculpe começar a conversa por um tema pessoal, mas as coisas não acontecem por acaso. Há 10 anos, eu, minha esposa e nossos filhos sofremos um acidente aéreo. Graças a Deus, todos sobrevivemos. Tivemos uma segunda chance e cada um reagiu de maneira diferente ao trauma. Minha esposa entendeu que precisava respirar. E foi assim que a meditação, a busca pelo equilíbrio e o mindfulness entraram em nossa família. Desde então, queremos democratizar essas terapias Queria saber como simplificar essa mensagem e a importância dela.

Em primeiro lugar, não tento convencer ninguém de nada. As pessoas decidem por si mesmas quando estão prontas, como você fez. Mas o entendimento mais simples é que toda experiência que temos é uma forma de sensação. Não experimentamos a realidade, e sim sensações, e então conceituamos com base nessas sensações e criamos a ideia de um corpo físico, nossa mente e nosso universo. Mas, na verdade, tudo o que experimentamos são sensações, sensações de respiração, som, paladar, olfato, visão, apenas sensações. Se você quiser resumir isso, a sigla é SIFT (Sensação, Imagem, Sentimento e Pensamento em inglês). A respiração é a sensação mais primitiva. Ela está emaranhada com todas as outras sensações. Digamos que eu esteja respirando muito rapidamente. Isso significa que estou ansioso. E, como está tudo emaranhado, se mudo a respiração, eu mudo a ansiedade. Quando você se acomoda na respiração e quando ela automaticamente se torna lenta e profunda, seus pensamentos, emoções, imaginação e todas as outras sensações se acalmam. É como falamos no ioga: nada disso é realidade. A realidade não é a sensação, mas a fonte da sensação. Está no espaço entre as diferentes percepções. Portanto, o espaço entre o pensamento, entre as emoções, entre o sentimento, o espaço entre a respiração, entre a imaginação, o espaço entre você e eu, o espaço entre este e o espaço intergaláctico é tudo um só espaço. É a fonte do que chamamos de espaço-tempo, energia, informação e matéria. Mas está além da imaginação porque não tem forma. Não tem forma, então não tem borda. Se não tem fronteira, é infinito, e, se é infinito, é sem espaço, atemporal, inimaginável, incompreensível, irredutível e fundamental. Uma vez que você está calmo, então você se pergunta: o que é a realidade? Qual é a fonte do universo? E a fonte do universo nunca será encontrada em nada que seja perceptivo ou conceitual. É a matriz da qual o universo emerge.

Mas o mundo está indo na direção oposta.

Correto.

O mundo hoje valoriza mais o exterior —aquilo que a pessoa mostra (todos são felizes no Instagram) — e menos o que de fato é, seu interior. Queria te ouvir sobre isso.

Sempre foi assim. Mas agora, por causa da tecnologia, chamamos de realidade virtual. Mas o que as pessoas não percebem é que seu corpo, sua mente, seu cérebro e o universo são todos realidade virtual. Não é real, o que chamamos de universo físico. Não existe tal coisa. É uma realidade virtual de sensações, imagens, sentimentos e pensamentos que são flutuações do vazio. Então, o que é chamado de forma? Você diz que seu corpo tem uma forma, certo? Mas, se você diz que eu sou meu corpo, então você tem que me dizer qual: óvulo fertilizado, embrião, bebê, criança, adulto jovem, adulto velho, até a morte. Portanto seu corpo não é um substantivo —é um verbo. A forma é impermanente, o sem forma é eterno. Então, se você entende que você é sem forma, então esta forma atual está sujeita a revisão —é uma realidade virtual. O teólogo cristão Teilhard de Chardin disse que somos seres espirituais tendo uma experiência humana. Você só sabe o que experimenta. Quando olha para o cenário fora dessa janela, isso é uma experiência humana. A árvore que você enxerga não é a mesma para um golfinho ou para um morcego ou para um pássaro que navega no ultravioleta. Tudo é uma projeção daquilo que é infinito e sem forma.

Estamos vivendo uma revolução de Inteligência Artificial que vai mudar tudo para todos. Apesar de muitos elencarem perigos e riscos, você tem um olhar positivo sobre o tema. No seu novo livro ‘Digital Dharma’, você elenca como essa tecnologia pode mudar a vida das pessoas para melhor. Pode falar sobre isso?

A IA é o repositório de tudo o que os humanos descobriram nos últimos séculos. Tem superconhecimento, e não superinteligência. Mais do que qualquer ser humano pode ter. Mais do que todos os seres humanos combinados. A IA é o passado, é o presente e é o futuro, pois pode prevê-lo estatisticamente, com base em padrões do passado. Mas a IA não é consciente. Não sente fome, não sente sexualidade, não teme a morte, não tem sede. Não há subjetividade na IA. Por isso digo que a tecnologia tem dois lados. É divina e diabólica. Se você tem uma faca, pode me matar com ela, pode cortar uma maçã e comer, ou, nas mãos de um cirurgião, pode ser um instrumento de cura. Temos um polegar opositor e andamos eretos, e isso nos liberta para criar ferramentas. Antes de qualquer outra coisa que criamos, descobrimos uma tecnologia. Chama-se fogo. Começamos a cozinhar alimentos. E, se não fizéssemos isso, o ser humano não teria o cérebro que tem hoje. Porque com o cozimento, você pode absorver micronutrientes. Nossa anatomia mudou, nosso cérebro mudou. Hoje, o que estamos vendo com a IA é mais um salto, um salto quântico, não apenas na evolução cultural e na evolução social, mas também biológica. As redes neurais humanas estão mudando, porque a IA está dando acesso a tudo isso. E, quando o cérebro muda, o corpo muda.

Você acha que o cérebro pode mudar?

A cada experiência, o cérebro muda.

Como as crianças que usam muito as telas?

Neste ponto, altera a dopamina, a serotonina.

A nossa evolução dos macacos não foi intencional —foi um desvio evolutivo. Mas nós estamos criando a IA intencionalmente. Com que propósito?

Nossa existência é um salto quântico na consciência. Esqueça a evolução darwiniana, que é muito mecanicista. Se o universo é consciência pura, e esta é a realidade virtual da consciência pura, então a transição do primata para o humano é um salto na evolução. Porque a diferença entre você, eu e o macaco é menor que 1% no DNA. Então, o que é que esse 1% mudou em você e em mim? Foi um salto. Por isso, agora, basicamente temos duas opções com a Inteligência Artificial. Uma é que podemos causar a extinção humana. Usar IA para causar guerra nuclear, envenenar a cadeia alimentar. Mas podemos usá-la para criar um mundo mais pacífico, justo, sustentável, saudável e alegre. Assim como com a faca, você pode matar uma pessoa ou curá-la. Com a IA, podemos curar o mundo ou podemos fazer com que o mundo desapareça. A escolha é nossa. Agora, a coisa mais profunda que você está dizendo é que criamos a IA. Nós não fizemos isso. Inteligência Artificial nem é a palavra certa. É inteligência humana aumentada, pois, como você sabe, é uma criação feita através de nós. Mas a coisa é mais profunda, deixe-me explicar: a diferença entre o computador, você, aquela árvore, aquela montanha, aquele oceano é apenas uma combinação diferente de zeros e uns. Então o que chamamos de universo é criado em uma oficina digital fora do espaço e do tempo, e, nessa oficina, zeros e uns em diferentes combinações estão produzindo esse universo.

Muita gente envolvida no desenvolvimento da IA acredita que estamos vivendo as últimas gerações capazes de criar algo de valor. Daqui para frente, qualquer criação que possa impactar a vida de das pessoas será feita de maneira mais rápida, melhor e mais barata pela máquina. O que o senhor acha disso?

Curar o planeta, reverter as mudanças climáticas, trazer justiça social e econômica, abundância, saúde e até felicidade. Essa escolha é nossa, não da IA, porque a IA pode ser programada para qualquer coisa, destruição ou criação. Em última análise, são basicamente algoritmos, certo? Quem programa a IA? Humanos. Agora, você tem um ponto muito importante: nossa evolução emocional e espiritual não acompanhou nossa evolução tecnológica. Ainda pensamos com mentes medievais. Temos mentes tribais e capacidades modernas. Essa é uma combinação perigosa. Então, a razão pela qual escrevi o “Digital Dharma” é como podemos usar a IA para acelerar nossa inteligência espiritual e emocional.

Há 10 anos vivíamos o momento de maior paz, calma e qualidade de vida da história, e de repente tudo degringolou… pandemia, guerras, retrocessos, autoritarismos. Você vê algum perigo no fato de a IA estar entrando no cotidiano do mundo bem neste momento confuso?

Veja, Luciano, as pessoas estão em guerra desde os tempos dos caçadores-coletores, só que era regional, sabe? Era pequeno. Desde que descobrimos arcos e flechas, estamos matando uns aos outros. Isso se tornou global por causa da informação que se espalha tão rápido. Portanto, estamos mais conscientes disso. Mas os seres humanos, psicologicamente, emocionalmente e espiritualmente, sua evolução tem sido muito lenta. Por outro lado, a tecnologia deu um salto à frente. Se não nos recuperarmos, entraremos em extinção. De acordo com a ciência atual, existem dois trilhões de galáxias. Existem 706 trilhões de estrelas. Pode haver 60 bilhões de planetas habitáveis apenas na Via Láctea. Habitável significa: como você e eu, com base no que chamam de biosfera, campos gravitacionais de ajuste fino e campos eletromagnéticos. O planeta Terra não é nem um grão de areia. Se a gente desaparecesse, a praia não notaria. Se não entendermos isso, estaremos cheios de arrogância e ego.

Temos no Brasil um dos maiores sistemas de saúde pública do mundo, que atende mais de 190 milhões de pessoas. Imaginemos que você fosse gestor desse sistema. Como transformaria o seu conhecimento em políticas públicas?

O que sabemos sobre saúde e bem-estar é que menos de 5% de todas as doenças são devidas ao que é chamado de mutações genéticas totalmente penetrantes. Totalmente penetrante significa que, uma vez que você tenha a mutação genética, isso garante a doença. Como, por exemplo, se alguém tem um gene BRCA para câncer de mama, terá câncer de mama. Mas nos próximos anos você terá algo chamado edição de genes. Você poderá recortar e colar genes da mesma forma que recorta e cola seus e-mails. Então você exclui o gene defeituoso, insere o gene saudável —e a doença é curada. Isso vai acontecer.

Vamos viver 120 anos?

Mas isso é menos de 5% das doenças. 95% é epigenético, o que significa: estilo de vida, sono, controle do estresse, exercícios, mente, coordenação corporal, emoções, relacionamentos, nutrição, suplementos nutricionais, em alguns casos, ritmos biológicos e nossa experiência de amor, compaixão, alegria e equanimidade. Isso representa 95% de todas as doenças. O que significa que podemos modelar o corpo para autorregulação e cura. Resumindo: com a tecnologia de edição de genes de RNA mensageiro e uma revolução da consciência, poderemos tornar a doença opcional. Você não vai mais morrer de uma doença. Você morrerá porque seu relógio genético se esgota.

E economicamente?

Então, economicamente, é possível.

Usar isso como uma maneira exponencial de tratar milhões de pessoas?

Sim, a maneira de começar é pela educação em saúde e bem-estar nas escolas.

Você tem alguma mensagem para deixar para os brasileiros?

Sou fascinado pelo Brasil, simplesmente porque, na verdade, sou fascinado por todos os países que estão ao redor da Amazônia. Eles têm um sentimento pela ideia de que nosso corpo é um ecossistema —um ecossistema que faz parte de um ecossistema maior. É assim para muitos dos povos indígenas, mas os brasileiros em geral são mais sintonizados com a compreensão da ecologia mais profunda da existência —de que não existimos por nós mesmos, existimos no ecossistema da vida. Sinto que os brasileiros — e, em geral, as pessoas ao redor da Amazônia e também da América Central — têm uma compreensão mais profunda da existência, não uma compreensão mecanicista. Por isso me sinto muito encorajado para aprender com as tradições xamânicas. O futuro é nos reconectarmos com nossa fonte na natureza e entendermos que nada existe por si só. Nem uma célula, nem um órgão, nem um corpo, nem uma árvore, nem uma rocha, nem uma estrela. Tudo está interligado. Precisamos nos envolver com aquilo que nunca muda —que é a fonte de toda experiência, que é sempre eterna e atemporal— e então podemos participar desse jogo com alegria.