sábado, 23 de novembro de 2024
É preciso fazer um detox digital
Imagine uma doença cujos sintomas sejam ansiedade, irritabilidade, comportamentos compulsivos, dificuldade de concentração, insônia, sudorese, tremores, taquicardia. E para a qual não haja vacina ou medicamento, máscara que evite o contágio ou isolamento social que dê jeito (ao contrário: até agrava o quadro).
Pois ela existe, é pandêmica e atende por “nomofobia” (do inglês “no mobile phobia”): medo irracional de ficar sem o celular — ou sem conexão. Você pode estar infectado — e só se dará conta quando se vir privado do aparelho ou do sinal. O que fazer naqueles intermináveis 90 segundos de espera pelo elevador? Como sobreviver a 20 minutos no metrô, tendo (na ausência de um livro salvador) de entrar em contato com os próprios pensamentos?
A dependência digital se tornou um problema sério nas escolas, pelo impacto negativo na memória e na concentração, prejudicando o desempenho dos alunos (e infernizando a vida dos professores). Seguindo a tendência mundial, no Brasil vêm sendo aprovadas leis para proibir o uso de celulares, tablets e smartwatches (exceto quando necessários às atividades curriculares), seja durante as aulas, seja nos intervalos.
Mas o mau uso desses eletrônicos não se restringe ao ambiente escolar. É difícil encontrar um policial ou guarda de trânsito no Rio de Janeiro que não esteja de celular na mão, subindo a tela, teclando, completamente absorto. Talvez sirva para aliviar a tensão — mas impede a percepção de atitudes suspeitas e compromete o tempo de reação numa emergência.
Sem falar nas pessoas que assistem a vídeos, sem fones de ouvido, no transporte coletivo ou que fazem e recebem chamadas em cinemas e teatros — atrapalhando o público, o sábado, o espetáculo.
Em 1883, abismado com a falta de educação dos usuários dos bondes, Machado de Assis escreveu, na Gazeta de Notícias, uma lista de regras de comportamento. Entre elas, escarrar apenas para o lado da rua (“salvo em caso de aposta, preceito religioso ou maçônico, vocação etc., etc.”); sentar de pernas fechadas (ou pagar pelos dois lugares); ler o jornal “sem roçar as ventas dos vizinhos”; não contar dos seus negócios íntimos “sem primeiro indagar do passageiro escolhido para uma tal confidência se ele é assaz cristão e resignado”; ao dizer alguma coisa em voz alta, ter “o cuidado de não gastar mais de quinze ou vinte palavras” e por aí afora.
Seria de bom alvitre atualizar seu decálogo, adaptando-o ao uso civilizado do celular. Isso pode incluir campanhas educativas ou políticas restritivas, o estímulo ao uso de aplicativos que monitorem o tempo de tela ou, se tudo o mais falhar, a ativação do semancol — aquele santo remédio contra a ausência de bom senso.
Um detox digital viria bem a calhar. É melhor que repetir de ano, deixar o ladrão escapulir, levar uma descompostura do passageiro (ou espectador) ao lado ou ter de tratar todos os sintomas do primeiro parágrafo.
Pois ela existe, é pandêmica e atende por “nomofobia” (do inglês “no mobile phobia”): medo irracional de ficar sem o celular — ou sem conexão. Você pode estar infectado — e só se dará conta quando se vir privado do aparelho ou do sinal. O que fazer naqueles intermináveis 90 segundos de espera pelo elevador? Como sobreviver a 20 minutos no metrô, tendo (na ausência de um livro salvador) de entrar em contato com os próprios pensamentos?
A nomofobia pode estar associada ao FoMO (“fear of missing out”), o medo (igualmente irracional) de perder algo por não conseguir acompanhar em tempo real tudo o que é divulgado na internet. Vai que uma subcelebridade se separou ou fez uma tatuagem — ou, pior, se separou e removeu a tatuagem! — e você ainda não está sabendo? E se tiver nascido um panda num zoológico holandês, e você só for informado disso depois do expediente?
A dependência digital se tornou um problema sério nas escolas, pelo impacto negativo na memória e na concentração, prejudicando o desempenho dos alunos (e infernizando a vida dos professores). Seguindo a tendência mundial, no Brasil vêm sendo aprovadas leis para proibir o uso de celulares, tablets e smartwatches (exceto quando necessários às atividades curriculares), seja durante as aulas, seja nos intervalos.
Mas o mau uso desses eletrônicos não se restringe ao ambiente escolar. É difícil encontrar um policial ou guarda de trânsito no Rio de Janeiro que não esteja de celular na mão, subindo a tela, teclando, completamente absorto. Talvez sirva para aliviar a tensão — mas impede a percepção de atitudes suspeitas e compromete o tempo de reação numa emergência.
Sem falar nas pessoas que assistem a vídeos, sem fones de ouvido, no transporte coletivo ou que fazem e recebem chamadas em cinemas e teatros — atrapalhando o público, o sábado, o espetáculo.
Em 1883, abismado com a falta de educação dos usuários dos bondes, Machado de Assis escreveu, na Gazeta de Notícias, uma lista de regras de comportamento. Entre elas, escarrar apenas para o lado da rua (“salvo em caso de aposta, preceito religioso ou maçônico, vocação etc., etc.”); sentar de pernas fechadas (ou pagar pelos dois lugares); ler o jornal “sem roçar as ventas dos vizinhos”; não contar dos seus negócios íntimos “sem primeiro indagar do passageiro escolhido para uma tal confidência se ele é assaz cristão e resignado”; ao dizer alguma coisa em voz alta, ter “o cuidado de não gastar mais de quinze ou vinte palavras” e por aí afora.
Seria de bom alvitre atualizar seu decálogo, adaptando-o ao uso civilizado do celular. Isso pode incluir campanhas educativas ou políticas restritivas, o estímulo ao uso de aplicativos que monitorem o tempo de tela ou, se tudo o mais falhar, a ativação do semancol — aquele santo remédio contra a ausência de bom senso.
Um detox digital viria bem a calhar. É melhor que repetir de ano, deixar o ladrão escapulir, levar uma descompostura do passageiro (ou espectador) ao lado ou ter de tratar todos os sintomas do primeiro parágrafo.
Derrotar o golpismo
A prisão de quatro oficiais do Exército, entre eles um general reformado, e de um policial federal que planejaram um golpe de Estado, incluídos os assassinatos do presidente Lula, do vice Geraldo Alckmin e do ministro Alexandre de Moraes, não elimina a ameaça golpista. Certamente, a descoberta do plano e as prisões são um passo importante, mas insuficiente.
É necessário prender o general Braga Netto, candidato a vice de Bolsonaro. As investigações mostram que ele era o comandante operacional tanto do plano dos assassinatos quanto do golpe em si. Assumiria a chefia do comitê de crise a ser instaurado se o golpe vingasse. É preciso também prender o general Augusto Heleno, notório mentor golpista.
É necessário ir além: Jair Bolsonaro precisa ser preso, pois as investigações mostram não só seu conhecimento do plano do golpe, mas também sua supervisão.
O golpe não se consumou no intervalo que vai da vitória de Lula ao 8 de Janeiro unicamente pelo fato de a maioria do Alto Comando do Exército ter sido contra. Os ex-comandantes do Exército e da Aeronáutica, Freire Gomes e Carlos Baptista Júnior, em depoimento à Polícia Federal, testemunharam a participação de Bolsonaro na reunião na qual foi discutida a minuta golpista. De acordo com as investigações, na reunião dos comandantes das três forças, o então chefe da Marinha, almirante Almir Garnier, teria sinalizado apoio à intentona.
A descoberta do plano de assassinatos veio à tona na semana seguinte do atentado contra o Supremo Tribunal Federal, cometido pelo catarinense Francisco Wanderley Luiz. Mesmo que tenha sido um ato individual, não pode ser colocado fora do contexto político de toda a incitação golpista de Bolsonaro e de todos os graves incidentes, acampamentos em frente a quartéis, bloqueios de estradas e ruas, atos violentos e o 8 de Janeiro de 2023. O planejamento do golpe era a face oculta e mais perigosa de tudo o que aconteceu.
O movimento golpista continua politicamente ativo e se concentra em quatro temas prioritários para convencer a opinião pública. O primeiro consiste na naturalização do 8 de Janeiro. Para os bolsonaristas golpistas, tudo não passaria de uma invasão e depredação de prédios públicos, a exemplo do que alguns movimentos sociais teriam feito no passado. O objetivo é descaracterizar o caráter golpista dos acontecimentos, reduzindo-os a um mero protesto político. Essa tese precisa ser combatida e desmascarada, mostrando as inconsistências das comparações e a evidência da violência praticada naquele fatídico dia.
Articulados com a tentativa de naturalização do 8 de Janeiro, os golpistas brandem a tese da anistia. Se tudo não passaria de um protesto político, o STF estaria a cometer uma arbitrariedade ao condenar os invasores e depredadores a duras penas. Com o atentado contra a Corte e a descoberta do plano de assassinatos, é necessário enterrar a proposta de anistia. Se a ação combativa não for feita, a tese poderá ganhar novo fôlego adiante.
O terceiro movimento consiste em minimizar o atentado contra o STF. Ele teria sido levado a efeito por um indivíduo isolado e psicologicamente desequilibrado. Seus artefatos não passariam de fogos de artifício.
O quarto movimento visa manter o STF sob fogo cerrado, tanto nas redes, com a proposta de impeachment de ministros, quanto no Congresso, com projetos que limitariam seu poder. Propõem até a possibilidade de anulação de decisões pelo Legislativo.
Essa trama é de natureza golpista. Precisam ser denunciados, desmascarados e combatidos. Precisam ser enfrentados no Congresso, nas redes e nas ruas. Este é o caminho político para derrotar o bolsonarismo e o golpismo.
O outro caminho consiste na via judicial. É certo que o STF se tornou, desde ainda o governo Bolsonaro, o bastião de combate ao golpismo e de defesa do Estado de Direito. Não por acaso é o centro dos ataques golpistas. Mas os ministros do Supremo precisam ter clareza de que a sua tarefa não será concluída se os principais líderes, planejadores e financiadores do golpismo não forem julgados e condenados com penas mais duras do que aquelas imputadas aos invasores e depredadores das sedes dos Três Poderes.
Caso a punição de Bolsonaro e dos oficiais das Forças Armadas envolvidos nos atos golpistas não seja condizente com a gravidade dos atos, as portas para futuras aventuras golpistas permanecerão abertas. Militares das três forças e policiais de todas as corporações precisam entender que o fato de portarem armas não os coloca acima das leis e da Constituição. Seu dever é servir ao povo e à sociedade.
É necessário prender o general Braga Netto, candidato a vice de Bolsonaro. As investigações mostram que ele era o comandante operacional tanto do plano dos assassinatos quanto do golpe em si. Assumiria a chefia do comitê de crise a ser instaurado se o golpe vingasse. É preciso também prender o general Augusto Heleno, notório mentor golpista.
É necessário ir além: Jair Bolsonaro precisa ser preso, pois as investigações mostram não só seu conhecimento do plano do golpe, mas também sua supervisão.
O golpe não se consumou no intervalo que vai da vitória de Lula ao 8 de Janeiro unicamente pelo fato de a maioria do Alto Comando do Exército ter sido contra. Os ex-comandantes do Exército e da Aeronáutica, Freire Gomes e Carlos Baptista Júnior, em depoimento à Polícia Federal, testemunharam a participação de Bolsonaro na reunião na qual foi discutida a minuta golpista. De acordo com as investigações, na reunião dos comandantes das três forças, o então chefe da Marinha, almirante Almir Garnier, teria sinalizado apoio à intentona.
A descoberta do plano de assassinatos veio à tona na semana seguinte do atentado contra o Supremo Tribunal Federal, cometido pelo catarinense Francisco Wanderley Luiz. Mesmo que tenha sido um ato individual, não pode ser colocado fora do contexto político de toda a incitação golpista de Bolsonaro e de todos os graves incidentes, acampamentos em frente a quartéis, bloqueios de estradas e ruas, atos violentos e o 8 de Janeiro de 2023. O planejamento do golpe era a face oculta e mais perigosa de tudo o que aconteceu.
O movimento golpista continua politicamente ativo e se concentra em quatro temas prioritários para convencer a opinião pública. O primeiro consiste na naturalização do 8 de Janeiro. Para os bolsonaristas golpistas, tudo não passaria de uma invasão e depredação de prédios públicos, a exemplo do que alguns movimentos sociais teriam feito no passado. O objetivo é descaracterizar o caráter golpista dos acontecimentos, reduzindo-os a um mero protesto político. Essa tese precisa ser combatida e desmascarada, mostrando as inconsistências das comparações e a evidência da violência praticada naquele fatídico dia.
Articulados com a tentativa de naturalização do 8 de Janeiro, os golpistas brandem a tese da anistia. Se tudo não passaria de um protesto político, o STF estaria a cometer uma arbitrariedade ao condenar os invasores e depredadores a duras penas. Com o atentado contra a Corte e a descoberta do plano de assassinatos, é necessário enterrar a proposta de anistia. Se a ação combativa não for feita, a tese poderá ganhar novo fôlego adiante.
O terceiro movimento consiste em minimizar o atentado contra o STF. Ele teria sido levado a efeito por um indivíduo isolado e psicologicamente desequilibrado. Seus artefatos não passariam de fogos de artifício.
O quarto movimento visa manter o STF sob fogo cerrado, tanto nas redes, com a proposta de impeachment de ministros, quanto no Congresso, com projetos que limitariam seu poder. Propõem até a possibilidade de anulação de decisões pelo Legislativo.
Essa trama é de natureza golpista. Precisam ser denunciados, desmascarados e combatidos. Precisam ser enfrentados no Congresso, nas redes e nas ruas. Este é o caminho político para derrotar o bolsonarismo e o golpismo.
O outro caminho consiste na via judicial. É certo que o STF se tornou, desde ainda o governo Bolsonaro, o bastião de combate ao golpismo e de defesa do Estado de Direito. Não por acaso é o centro dos ataques golpistas. Mas os ministros do Supremo precisam ter clareza de que a sua tarefa não será concluída se os principais líderes, planejadores e financiadores do golpismo não forem julgados e condenados com penas mais duras do que aquelas imputadas aos invasores e depredadores das sedes dos Três Poderes.
Caso a punição de Bolsonaro e dos oficiais das Forças Armadas envolvidos nos atos golpistas não seja condizente com a gravidade dos atos, as portas para futuras aventuras golpistas permanecerão abertas. Militares das três forças e policiais de todas as corporações precisam entender que o fato de portarem armas não os coloca acima das leis e da Constituição. Seu dever é servir ao povo e à sociedade.
Militares brasileiros sempre planejaram golpes estapafúrdios, mas alguns prosperaram
Uma das justificativas utilizadas para tentar minimizar a tentativa de golpe de Estado que ocorreria no final de 2022 é dizer por aí que se tratava de um delírio de meia dúzia de militares delirantes. Que planejar conspiração não é crime e por aí vai. O raciocínio não leva em conta que os golpes bem-sucedidos na história do Brasil partiram de ações ou tresloucadas ou de arroubos não planejados. Já acusado de tramar um atentado no qual o sistema de abastecimento de água do Rio de Janeiro seria atingido, o que abreviou sua carreira militar, o ex-presidente Jair Bolsonaro foi formado nessa cultura sublevações.
Tome se o caso da decisão do general Olímpio Mourão Filho, comandante da 4ª divisão de infantaria. Aparentemente sem consultar os superiores, na noite do dia 31 de março de 1964 partiu de Juiz de Fora, Minas Gerais, em direção ao Rio de Janeiro para tomar o poder do então presidente João Goulart. Acabou precipitando uma ação longamente calculada, de expulsar Jango, mas não executada. O resultado foram 21 anos de ditadura que começou, diga-se de passagem, com o apoio de grande parte da classe média, das classes empresariais e mesmo da elite política.
Cerca de três décadas antes, um estratagema inventado pelo mesmo Mourão Filho, o Plano Cohen, que colocava o Brasil sob o risco iminente de uma insurreição comunista, foi uma das principais justificativas para Getúlio Vargas dar um autogolpe e instalar o Estado Novo, que durou oito anos. Tudo a partir de um engenho fantasioso. Getúlio, aliás, que também caiu por outro golpe, mas pelo menos para instalar uma breve democracia.
Há também uma série de tentativas que deram errado. Como as rebeliões da Força Aérea para impedir a posse de Juscelino Kubitschek – militares envolvidos anistiados estiveram envolvidos no golpe de 1964, aliás. Houve um plano do brigadeiro João Paulo Burnier de explodir o Gasômetro, no Rio de Janeiro e colocar a culpa na oposição, no final dos anos 60. Foi impedido por militares legalistas. Imagine o tanto de esquemas que nunca chegaram ao público. “Quando um golpe “dá certo” (para os golpistas), ninguém se lembra de que ele começou com uma iniciativa ousada. Quando um golpe fracassa, a tendência é ridicularizar o plano como delirante ou inviável”, afirmou, no “X”, o professor titular de história do Brasil na UFRJ, Carlos Fico.
Talvez a nossa sorte em 2022 seja que parte do oficialato resistiu aos devaneios golpistas, assim como resistiram à pressão dos perturbados que foram para a porta dos quartéis pedir golpe de Estado até descerem à Esplanada dos Ministérios para quebrar os três poderes no dia 8 de janeiro de 2023. Pode ser que a sociedade esteja mais consciente da importância da democracia e os militares tiveram que recuar. São muitas lacunas que precisam ser esclarecidas. Mas o fato é que esse mundo de derrubadas, bombas, insubordinação e indisciplina – além da admiração pelo regime instalado em 1964 - foi o que forjou Jair Bolsonaro. Em outras palavras, foi criado em um ninho de golpistas alucinados.
Tome se o caso da decisão do general Olímpio Mourão Filho, comandante da 4ª divisão de infantaria. Aparentemente sem consultar os superiores, na noite do dia 31 de março de 1964 partiu de Juiz de Fora, Minas Gerais, em direção ao Rio de Janeiro para tomar o poder do então presidente João Goulart. Acabou precipitando uma ação longamente calculada, de expulsar Jango, mas não executada. O resultado foram 21 anos de ditadura que começou, diga-se de passagem, com o apoio de grande parte da classe média, das classes empresariais e mesmo da elite política.
Cerca de três décadas antes, um estratagema inventado pelo mesmo Mourão Filho, o Plano Cohen, que colocava o Brasil sob o risco iminente de uma insurreição comunista, foi uma das principais justificativas para Getúlio Vargas dar um autogolpe e instalar o Estado Novo, que durou oito anos. Tudo a partir de um engenho fantasioso. Getúlio, aliás, que também caiu por outro golpe, mas pelo menos para instalar uma breve democracia.
Há também uma série de tentativas que deram errado. Como as rebeliões da Força Aérea para impedir a posse de Juscelino Kubitschek – militares envolvidos anistiados estiveram envolvidos no golpe de 1964, aliás. Houve um plano do brigadeiro João Paulo Burnier de explodir o Gasômetro, no Rio de Janeiro e colocar a culpa na oposição, no final dos anos 60. Foi impedido por militares legalistas. Imagine o tanto de esquemas que nunca chegaram ao público. “Quando um golpe “dá certo” (para os golpistas), ninguém se lembra de que ele começou com uma iniciativa ousada. Quando um golpe fracassa, a tendência é ridicularizar o plano como delirante ou inviável”, afirmou, no “X”, o professor titular de história do Brasil na UFRJ, Carlos Fico.
Talvez a nossa sorte em 2022 seja que parte do oficialato resistiu aos devaneios golpistas, assim como resistiram à pressão dos perturbados que foram para a porta dos quartéis pedir golpe de Estado até descerem à Esplanada dos Ministérios para quebrar os três poderes no dia 8 de janeiro de 2023. Pode ser que a sociedade esteja mais consciente da importância da democracia e os militares tiveram que recuar. São muitas lacunas que precisam ser esclarecidas. Mas o fato é que esse mundo de derrubadas, bombas, insubordinação e indisciplina – além da admiração pelo regime instalado em 1964 - foi o que forjou Jair Bolsonaro. Em outras palavras, foi criado em um ninho de golpistas alucinados.
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