quarta-feira, 24 de maio de 2023

Pensamento do Dia

 

 Izquierdo

Opinar não é conhecer

Ser iletrado é condição triste,
mas ser iletrado ressabiado,
de baba envenenada, em riste,
é pior do que ser só iletrado.

O raivoso tem só opiniões,
que dispara sem fundamento.
O fundamento pressupõe serões
de muito estudo e algum tormento:

só assim, valem as opiniões,
que melhor vivem sem ressentimento.
Contudo, os iletrados pimpões

dão pouca atenção ao conhecimento:
preferem eles opinar à toa,
propondo lixo que se amontoa!
Eugénio Lisboa 

Silêncio da cumplicidade


O silêncio das autoridades, dos patrocinadores, de parte da imprensa, dos outros clubes, das organizações de futebol na Europa e da Liga Espanhola é um silêncio conivente com o racismo
Silvio de Almeida, ministro dos Direitos Humanos

O Brasil na contramão

A vida política é um assunto que interessa cada vez menos aos brasileiros, se levarmos em conta os tópicos de maior interesse que circulam no ambiente das redes sociais. Por mais que na aparência estejamos vivendo na mais ardente polarização, tudo leva a crer que estes sentimentos estão confinados a uma certa elite e que a grande massa da população se mantém em plácida indiferença. Não por desinteresse ou ignorância, mas pela consciência de que o interesse pela política se tornou entre nós uma ocupação inútil.


Todos nos cansamos de repetir que o Brasil recebeu da natureza a maior dotação de recursos naturais que se possa desejar, mas infelizmente temos perdido ultimamente todas as oportunidades para nos desenvolver, prosperar e assegurar boas condições de vida para toda a população. A razão deste fracasso só pode estar no mal funcionamento das instituições do Estado. Um excelente livro de dois autores americanos, Daron Acemoglu e James Robinson, cujo título é” O corredor estreito”, investigando o destino da liberdade e do progresso na história do mundo, mostra que o Estado só funciona no interesse das maiorias quando a ele se contrapõe ou se articula uma sociedade civil ativa e resoluta. Na ausência desta o Estado fica a serviço das elites e se torna um instrumento de opressão e de miséria. Talvez seja este, de um certo modo, o caso do Brasil.

O Fundo Monetário Internacional passou a elaborar desde o ano de 1980 uma série que registra a participação dos países na economia global. Esta série nos conta uma história muito triste. No seu início, em 1980, o PIB do Brasil correspondia a 4% da economia do mundo. Neste mesmo ano, a economia chinesa representava cerca de 2,3% e a da Índia, 2,5%. Ou seja, a economia brasileira correspondia a quase a soma das economias da Índia e da China somadas. Passados pouco mais de quarenta anos a economia do Brasil representa apenas 2,3% da economia global, encolhendo quase pela metade sua participação relativa. Enquanto isto a Índia hoje representa mais de 8% da renda do mundo e a China quase 18%. Podemos dizer que perdemos um Brasil nesta caminhada enquanto outros povos multiplicaram sua renda e seu padrão de vida. Como estaríamos hoje se o nosso crescimento não tivesse se interrompido?

Com exceção da produção agrícola e da geração de energias renováveis, todos os índices brasileiros tem recuado nas comparações internacionais. A renda média dos brasileiros representa hoje apenas 25% da renda dos países avançados e nos últimos anos tem caído em vez de aumentar. Diante de tudo isto qual é a atitude dos governos e das instituições do Estado? Continuam funcionando como se nada disto existisse ou como se não tivessem nada a ver com isto.

Ao ver os Tribunais julgando, as casas do Parlamento deliberando e o Governo atuando, pode parecer a alguém mais distraído que o país vive a mais completa normalidade, pois o que se passa do outro lado dos muros do Poder tornou-se invisível para eles. O Estado brasileiro vive apenas para si mesmo, sem nenhuma noção de propósito ou sentido de finalidade.

O mundo mudou em quase todas as suas dimensões fundamentais. O século XXI acelerou tendências e está transformando a vida e a economia de um modo vertiginoso. Nossas instituições infelizmente estão velhas e incapazes de agir no mundo novo. A história nos ensina que só onde as sociedades são ativas e controlam as instituições do Estado as nações podem ser livres e prósperas. Para despertarem do alheamento as nações precisam de lideres esclarecidos e contemporâneos do futuro. Não é o que tivemos há pouco e não é o que temos agora.

As perguntas que ficam no ar são: para aonde estamos indo? O que será de nós daqui a quarenta anos? Vamos continuar regredindo em relação ao mundo ou vamos recuperar o tempo perdido? Uma coisa é certa: o mundo não vai parar de andar para nos esperar. A se julgar pelo estado de nossas instituições e sua resistência em se reformar por si próprias, as respostas não podem ser animadoras.

O que consola é que o futuro das nações não é apenas destino. É principalmente uma escolha.

A fúria cega à caça do dinheiro

Estive pensando muito na fúria cega com que os homens se atiram à caça do dinheiro. É essa a causa principal dos dramas, das injustiças, da incompreensão de nossa época. Eles esquecem o que têm de de mais humano e sacrificam o que a vida lhes oferece de melhor: as relações de criatura para criatura. De que serve construir arranha-céus se não há mais almas humanas para morar neles?

Quero que abras os olhos, Eugênio, que acordes enquanto é tempo. Peço-te que pegues a minha Bíblia que está na estante de livros, perto do rádio, leias apenas o Sermão da Montanha. Não te será difícil achar, pois a página está marcada com uma tira de papel. Os homens deviam ler e meditar esse trecho, principalmente no ponto em que Jesus nos fala dos lírios do campo, que não trabalham, nem fiam, e no entanto nem Salomão em toda a sua glória jamais se vestiu como um deles.

Está claro que não devemos tomar as parábolas de Cristo ao pé da letra e ficar deitados à espera de que tudo nos caia do céu. É indispensável trabalhar, pois um mundo de criaturas passivas seria também triste e sem beleza. Precisamos, entretanto, dar um sentido humano às nossas construções. E quando o amor ao dinheiro, ao sucesso, nos estiver deixando cegos, saibamos fazer pausas para olhar os lírios do campo e as aves do céu.

Não penses que estou fazendo o elogio do puro espírito contemplativo e da renúncia, ou acho que o povo deva viver narcotizado pela esperança da felicidade na “outra vida”. Há na terra um grande trabalho a realizar. É tarefa para seres fortes, para corações corajosos. Não podemos cruzar os braços enquanto os aproveitadores sem escrúpulos engendram os monopólios ambiciosos, as guerras e as intrigas cruéis. Temos de fazer-lhes frente. É indispensável que conquistemos este mundo, não com as armas do ódio e da violência e sim com as do amor e da persuasão. Considera a vida de Jesus. Ele foi antes de tudo um homem de ação e não um puro contemplativo.

Quando falo em conquista, quero dizer a conquista duma situação decente para todas as criaturas humanas, a conquista da paz digna, através do espírito de cooperação.

E quando falo em aceitar a vida não me refiro à aceitação resignada e passiva de todas as desigualdades e malvadezas, absurdos e misérias do mundo. Refiro-me, sim, à aceitação da luta necessária, do sofrimento que essa luta nos trará, das horas amargas a que ela forçosamente nos há de levar.
Érico Veríssimo, "Olhai os lírios do campo"

Os rolos da família Bolsonaro

Em março de 2021, quando o presidente que se elegera com o discurso de combater a corrupção estava havia quase dois anos e meio no poder, os Bolsonaros bateram um recorde. Seguindo os passos do chefe do clã, os quatro filhos de Jair enfrentavam investigações da Justiça e da Polícia Federal. As rachadinhas de Flávio estouraram no início do mandato.

Hoje, com podres irrompendo a cada instante, a impressão é que qualquer pessoa que tenha tido um contato mais próximo com a família está sob suspeição. Uma amiga da ex-primeira-dama Michelle que emprestava o cartão de crédito a ela. Na hora de pagar a fatura, sempre em dinheiro vivo, entrava em cena o faz-tudo da Presidência, um tenente-coronel que está preso. A desculpa é que Bolsonaro é pão-duro. Mas só quando o capital sai do seu bolso. No cartão corporativo, chegou a gastar R$ 55,2 mil numa única padaria um dia após o casamento de Eduardo.


Segundo a CNN Brasil, o ex-presidente acumula quase 600 processos. Seiscentos, você não leu errado. O levantamento é do partido de Bolsonaro, o PL, que monitora os casos porque cabe aos cofres da legenda custear a defesa em grande parte das ações, que vão de graves crimes eleitorais a multas por não ter usado máscara na pandemia ou capacete nas motociatas. É um custo espantoso —advogados que o digam— para manter viva a estratégia de vitimização.

Talvez com inveja do pai, que trocou os passeios de jet ski por visitas obrigatórias à PF, ou da ex-primeira-dama, que tem conquistado nos rolos do marido um protagonismo tão brilhante como joias árabes, o vereador Carlos resolveu reagir.

A semana passada trouxe novidades ao inquérito que apura o esquema de desvio de dinheiro no gabinete do filho 02. Ana Cristina Valle, ex-mulher de Jair, era a líder de um grupo de nove servidores que movimentou mais de R$ 3 milhões entre 2005 e 2018. Deus, pátria —e a família em primeiro lugar.