Todos nos cansamos de repetir que o Brasil recebeu da natureza a maior dotação de recursos naturais que se possa desejar, mas infelizmente temos perdido ultimamente todas as oportunidades para nos desenvolver, prosperar e assegurar boas condições de vida para toda a população. A razão deste fracasso só pode estar no mal funcionamento das instituições do Estado. Um excelente livro de dois autores americanos, Daron Acemoglu e James Robinson, cujo título é” O corredor estreito”, investigando o destino da liberdade e do progresso na história do mundo, mostra que o Estado só funciona no interesse das maiorias quando a ele se contrapõe ou se articula uma sociedade civil ativa e resoluta. Na ausência desta o Estado fica a serviço das elites e se torna um instrumento de opressão e de miséria. Talvez seja este, de um certo modo, o caso do Brasil.
O Fundo Monetário Internacional passou a elaborar desde o ano de 1980 uma série que registra a participação dos países na economia global. Esta série nos conta uma história muito triste. No seu início, em 1980, o PIB do Brasil correspondia a 4% da economia do mundo. Neste mesmo ano, a economia chinesa representava cerca de 2,3% e a da Índia, 2,5%. Ou seja, a economia brasileira correspondia a quase a soma das economias da Índia e da China somadas. Passados pouco mais de quarenta anos a economia do Brasil representa apenas 2,3% da economia global, encolhendo quase pela metade sua participação relativa. Enquanto isto a Índia hoje representa mais de 8% da renda do mundo e a China quase 18%. Podemos dizer que perdemos um Brasil nesta caminhada enquanto outros povos multiplicaram sua renda e seu padrão de vida. Como estaríamos hoje se o nosso crescimento não tivesse se interrompido?
Com exceção da produção agrícola e da geração de energias renováveis, todos os índices brasileiros tem recuado nas comparações internacionais. A renda média dos brasileiros representa hoje apenas 25% da renda dos países avançados e nos últimos anos tem caído em vez de aumentar. Diante de tudo isto qual é a atitude dos governos e das instituições do Estado? Continuam funcionando como se nada disto existisse ou como se não tivessem nada a ver com isto.
Ao ver os Tribunais julgando, as casas do Parlamento deliberando e o Governo atuando, pode parecer a alguém mais distraído que o país vive a mais completa normalidade, pois o que se passa do outro lado dos muros do Poder tornou-se invisível para eles. O Estado brasileiro vive apenas para si mesmo, sem nenhuma noção de propósito ou sentido de finalidade.
O mundo mudou em quase todas as suas dimensões fundamentais. O século XXI acelerou tendências e está transformando a vida e a economia de um modo vertiginoso. Nossas instituições infelizmente estão velhas e incapazes de agir no mundo novo. A história nos ensina que só onde as sociedades são ativas e controlam as instituições do Estado as nações podem ser livres e prósperas. Para despertarem do alheamento as nações precisam de lideres esclarecidos e contemporâneos do futuro. Não é o que tivemos há pouco e não é o que temos agora.
As perguntas que ficam no ar são: para aonde estamos indo? O que será de nós daqui a quarenta anos? Vamos continuar regredindo em relação ao mundo ou vamos recuperar o tempo perdido? Uma coisa é certa: o mundo não vai parar de andar para nos esperar. A se julgar pelo estado de nossas instituições e sua resistência em se reformar por si próprias, as respostas não podem ser animadoras.
O que consola é que o futuro das nações não é apenas destino. É principalmente uma escolha.
Nenhum comentário:
Postar um comentário