domingo, 4 de setembro de 2016

Dilma adeus congresso vamos sentir falta chargistas tristes

Retrato do Brasil

Foi sempre proveitoso ouvir o baiano Milton Santos. Impossível entrevistá-lo sem aprender montes com esse brasileiro detentor da honraria mais cobiçada pela nata da geografia mundial — o Prêmio Internacional Vautrin Lud, costumeiramente chamado de Nobel de uma disciplina que não tem Prêmio Nobel.

“O maior erro que a Geografia cometeu foi o de querer ser ciência, em vez de ciência e arte. Não é maravilhoso saber que o filósofo alemão Immanuel Kant foi o primeiro catedrático com diploma em Geografia?”, lembrava ele.

Formado em Direito, doutor em Geografia pela Universidade de Strasbourg e forçado ao exílio após o golpe militar de 1964, Santos rodou o mundo disseminando saber nas universidades de Toronto, Columbia, Paris, MIT, Caracas e Dar es Salaam antes de retornar ao Brasil. Jamais perdeu o costume de tratar o interlocutor de vosmecê.

Em suas aulas de pós-graduação na Universidade de São Paulo nos anos 1990, costumava acolher cada aluno egresso da Economia como se estivesse salvando um brasileiro a mais. Ensinava que valores locais produzem cidadania melhor. Ou, pelo menos, algum tipo de cidadania. “A força do consumo em moldes globais leva ao abuso da palavra ‘usuário’ como substitutivo de ‘cidadão’, inclusive na literatura acadêmica”, apontava já à época. “E no discurso político ela leva ao abuso da palavra ‘cidadão’ como sinônimo de ‘consumidor’ , acrescentava.

Do rico baú de vinhetas da vida brasileira que colecionou até morrer em 2001, Santos contava com predileção um causo ocorrido na Salvador de meados dos anos 1950.


Ilustração: Cidadania Projeto Trocando Ideias/ AIC - Associação Imagem Comunitária  Por: Chacal Silva:
O geógrafo tinha ido visitar um amigo que acabara de se mudar para um edifício recém-erguido num bairro então emergente da capital baiana. Os felizes proprietários haviam comprado as unidades na planta, e tudo fora construído de acordo com o combinado. À exceção dos elevadores.

Simplesmente faltara dinheiro para o item que daria ao prédio o obrigatório selo obrigatório de respeitabilidade esperado: a instalação de dois ascensores, um social e um de serviço. Os recursos eram suficientes para apenas um.

Diante da recusa dos condôminos em arcar com o pesado encargo adicional, foi preciso encontrar uma solução emergencial. Embora não sendo a fórmula ideal, os novos proprietários conformaram-se com o que foi possível: uma curiosíssima divisória mambembe construída no interior de um mesmo e único elevador.

Assim, de um lado da gaiola que ascendia e descendia, passaram a espremer-se, de um lado da divisória os moradores; do outro, a criadagem. Estava salva a reputação do prédio e a higienização social do espaço. Nenhum dos dois grupos abria a boca, pois a divisória não era à prova de som.

Hoje, como se sabe, leis municipais e estaduais sobre uso de elevadores sociais proíbem qualquer forma de discriminação por raça, sexo, cor, origem, condição social, idade, porte ou presença de deficiência e doença não contagiosa. Em princípio, apenas quando estiver em trajes de banho ou em serviço de obras, transportar volumes ou cargas alguém pode ser orientado a utilizar o elevador “dos fundos”.

Na prática, como também se sabe, na maioria dos condomínios brasileiros o bípede serviçal, mesmo quando desmunido de qualquer sacola, continua a dirigir-se automaticamente para o elevador de carga. Embora com a lei a seu favor, prefere não arrumar encrenca com quem faz as leis no país. A legislação de 2013 que ampliou benefícios para os trabalhadores domésticos em nada alterou o Brasil de duas portas.

Na semana da posse-relâmpago de Michel Temer, o 16º ocupante da Presidência desde os tempos da invenção do elevador com divisória, o episódio narrado por Milton Santos teve um revival que mereceria ter sido captado em vídeo.

A cena se passou num condomínio de classe alta do bairro de Botafogo, num Rio de Janeiro ainda embalado em sonhos de civilização pós-olímpica. Três senhoras de mesma faixa etária caminhavam lado a lado por um longo corredor, rumo aos elevadores que as depositariam no térreo. Duas portavam bolsas, uma levava uma sacola dobrada debaixo do braço. Conversavam.

Por mero acaso, um elevador de serviço e outro, social, estavam de prontidão quando o trio aportou. Sem que qualquer palavra fosse pronunciada, a mulher de sacola entrou no ascensor de serviço e as senhoras de bolsa se dirigiram ao social. Com igual naturalidade empregada e patroas voltaram a se reunir no desembarque e continuaram a caminhada lado a lado, talvez rumo a compras.

Milton Santos se definia como um “cidadão-geógrafo brasileiro” e tinha uma teoria geral do espaço humano. Por ser negro, passou a vida sendo recepcionado em inglês por tripulações aéreas brasileiras quando viajava de primeira classe.

O retrato do Brasil carimbado pela posse de Michel Temer e o lugar que cabe a cada brasileiro nos elevadores do país dariam poucas alegrias ao grande geógrafo. O medo do contágio social mudou pouco. Uma matéria-prima para a construção da nação continua em falta: cidadania. Tristes trópicos.

Dorrit Harazim

Delírio tropical

A senadora Gleisi Hoffmann sugere que o Senado seja casa de tolerância. Já o cacique Renan rebate que parece hospício. E a presidenta não percebe que está sendo condenada enquanto chefa de governo. Para além do show de horrores — o que é mais grave — perde-se a oportunidade única de enfrentar a questão de fundo do sistema de nossa representação política. Ou não seria total falha de juízo que os senadores tenham promovido “um destaque regimental no texto constitucional”?

Resultado de imagem para cultura da impunidade charge
O delírio tropical parece ter sido o fundamento sobre o qual construímos nossa cultura de impunidade e jeitinho, nosso pacto pelo fingimento de reduzir tudo a um mero pastiche “para inglês ver”, como na lei da abolição do tráfico de escravos, que retardou em 40 anos a Abolição. Quando culturas politicamente mais maduras se pautam exatamente pela premissa oposta: por ter rabo de palha, a própria condição humana de errar pelo falho juízo para discernir, é que tenho o dever cívico de dar ao outro o direito de me julgar, instaurando-se assim a cultura da mútua responsabilidade da cidadania! Fato a que se referiu Miguel Reale Júnior no seu libelo final, quando desmontou a frágil tese da chantagem de Eduardo Cunha lançada pela defesa: o país é que exigiu nas ruas o impeachment pelo estelionato eleitoral cometido pela presidente eleita na sua campanha de 2014. O problema de tentar enganar a todos a todo tempo é que nem o PT percebeu a gravíssima contradição de que se estava ali a julgar um chefe de Estado por atos típicos de chefe de governo, pois nosso presidencialismo de coalizão não separa as responsabilidades de uma e de outra função.

Nossos senadores insistiram em discutir questões de governo a partir de uma alegada objetividade da acusação que se cingia a dois crimes contra a Lei Orçamentária. Mas retornavam sempre ao bate-boca faccioso, num cenário que mais parecia a Escolinha do Professor Raimundo. Em momento algum tentaram fundamentar o debate em doutrina política séria, mas na mera disputa populista, sabendo que estavam sendo televisados.

O ponto fundamental a ser debatido é o sistema político. Há décadas são pautadas, mas nunca tramitadas, as propostas de reforma política e, no caso deste processo, se evidencia claramente um parlamentarismo de facto, embora não o seja de jure. É de se perguntar se este impeachment nada mais foi do que um recall usurpado pelo Senado, que condenou um presidente da República por crime de responsabilidade por atos típicos de chefe de governo.

Como o chefe de governo coexiste com o chefe de Estado numa só pessoa, sacrifica-se a função do chefe de Estado com a condenação do chefe de governo. Como é inviável transformar nosso presidencialismo de jure, mas não de facto, por que não mitigá-lo, delegando de vez a chefia do governo ao Congresso, num processo muito menos danoso ao país e sem carecer de uma PEC de custosa tramitação? Missão que um Temer tem condições de articular se o melhor de nossa cidadania botar a boca no trombone da mídia.

Perdemos uma grande oportunidade de um sério debate sobre os custos da (in)governabilidade do presidencialismo de coalizão que só provoca corrupção e crises. A gambiarra de um destaque regimental atropelar o texto constitucional, para além da demanda judicial que renderá, mais parece um samba do crioulo doido, o máximo “para inglês ver”.

Jorge Maranhão

O grito

Sou insistente. Afirmo que uma visão do inferno me assola ultimamente e sou suficientemente descrente para não achar que estou variando. Peço a gentileza dos nobres leitores de Sonia Zaghetto para um exercício simples, quase pueril. Uma vez lido o manifesto, entendemos perfeitamente tratar-se do fato em andamento, da Era da Mediocridade em que mergulhamos fundo e parece que temos agora a chance tênue de voltar à tona para respirar.

Por um momento, esqueçam o momento vivido – quase vinte anos de socialismo no lombo – e releiam o artigo, agora imaginando uma visão futura e trocando o socialismo batedor de carteira pelo jihadismo neo-evangélico dos fast foods da fé. O que lhes parece? Vou guardar este texto com muito carinho, para saboreá-lo de novo daqui a vinte anos. Até lá acredito que terá passado o novo reinado que tenta se instaurar por aqui. O reinado do dinheiro vivo. Da campanha bancada em espécie.

AUTO_claudio

Não tenho mais esperanças com o Brasil. Nenhuma. Foram fatiadas numa cerimônia bronca, fingida e dissimulada para fazer-nos pensar que ganhamos, mas não levamos. Para nos tungar e iludir. Falei agora mesmo em privado com amigos que também estão sitiados em casa, com receio das manifestações superfaturadas que o “impixi” vem causando. São a senha de alinhamento dos broncolóides que, descendo das árvores e perdendo o rabo, se julgam no direito de apedrejar os dissidentes, com a conivência tácita e explícita de quem deveria zelar pela lei, pela ordem e pela justiça.

Não há no horizonte qualquer suspiro dessa maturidade demandada pela nobre articulista. Pelo contrário. O que vejo – e poucos estão vendo – é uma desfaçatez ainda maior liderando as pesquisas de opinião, inaugurando um período ainda mais nefasto de crendices e pilantragens regadas a fartas doses de dinheiro público novamente desviados para finalidades estranhas.

Sabem o que é incrível? Ainda com o “copo de prástico” onde meteram o espumante que abriram para comemorar o enterro da morta-viva do Planalto, ninguém está levando a serio a ameaça que paira em nossa frente, bem diante dos nossos olhos mal abertos. Aqui estou eu de novo, margem de erro de novo absolutismo, tentando convencer a maioria das pessoas do óbvio ululante. O que aparece aí na frente tem chifres, é vermelho, cheira a enxofre mas não tem uma estrelinha na cueca. Este é diferente. Este tem uma pombinha dentro.

Dilma apequenou-se

A Dilma não entendeu até agora que não foram só as pedalas responsáveis pelo seu expurgo da presidência. O que a derrubou na verdade foi a sua incompetência para exercer o cargo e a avassaladora corrupção no seu governo. Essa coisa de conspiração, golpe e oportunismo do vice é balela. Ela procura pretextos que lhes parecem convincentes para justificar a sua inaptidão para governar.

O que o Brasil poderia esperar de uma pessoa que falsificou o próprio currículo para se qualificar? Nada. Essa notícia apareceu durante a primeira eleição e ela para se justificar culpou os redatores da campanha pelo equívoco. Ora, nenhum assessor de bom senso vai rechear o currículo de um candidato se não for autorizado. Se ela foi capaz de adulterar o próprio histórico da sua vida acadêmica, certamente o pais não poderia esperar dela atos honestos na presidência da república.

A mania de não se responsabilizar por suas ações também se caracterizou quando ela negou a própria assinatura na compra da refinaria de Pasadena que lesou os cofres da Petrobrás em 1 bilhão de dólares. Denunciada, logo tentou se justificar com o argumento de que teria sido enganada pelos diretores da Petrobrás antes que o escândalo ferisse de morte o seu mandato. Não adiantou. Ao depor na delação premiada, Nestor Cerveró, assegurou ao juiz Sérgio Moro que a Dilma sabia o que estava assinando. Portanto, ela, então presidente do Conselho da Petrobrás, foi de fato quem autorizou a compra da geringonça.

Essas falhas de caráter da ex-presidente foram ficando mais evidentes durante os dois mandatos. Agora, no segundo, quando esteve frente à frente com os senadores para se defender das pedaladas, as mentiras saiam da sua boca com a leveza das verdades. Sustentou durante todo o depoimento que não cometeu nenhum crime fiscal, quando todas os indícios apontavam ter sido ela a autora da manipulação dos empréstimos aos bancos oficiais. Chegou a insinuar que os seus amigos gaúchos no Banco Central teriam sido os responsáveis pelas pedaladas, tentando terceirizar seus atos irresponsáveis.

A ex-presidente que se esforçava para parecer uma pessoa valente, de caráter inquebrantável e determinada, uma mulher guerreira, dona do seu nariz, não passava de um objeto manipulável à frente do governo. Quando tinha que decidir sobre os assuntos mais delicados da nação viajava para São Paulo para se aconselhar com Lula, o cara que de fato governava o país pela terceira vez. Não dava um passo sem pedir orientação ao antecessor. E quando tentou agir sozinha, teve que recuar para não contrariar o parceiro. Nos últimos meses de governo foi repreendida até mesmo pelo fundamentalista Rui Falcão, presidente do PT, quando tentava se assanhar para mexer no ministério escolhido pelo partido.

Antes de ser afastada da presidência, submeteu-se ao vexame de nomear Lula ministro na Casa civil para evitar a sua prisão. Por isso está sendo processada por tentar obstruir o trabalho da justiça. Não escondeu do país a sua submissão a cúpula do PT mesmo sabendo que estaria colocando à prova a sua capacidade de gerenciar o país. Nessa altura, mostrava-se dominada e a reboque do partido. Usou de um truque sórdido e reprovável para salvar a pele de Lula que estava na bica de ser preso. Naquele momento, diante daquele ato extravagante, o Brasil já estava ingovernável com os movimentos sociais nas ruas pedindo sua cabeça.

Todas as vezes que tentou se proteger em momentos de crise evocou a sua história de luta contra a ditadura como se ela, sozinha, tivesse enfrentado os militares. Ao ser inquirida, ouviu de alguns senadores que não estava sendo julgada pelo seu passado, mas tão somente pelo seu presente. E que os mais de 50 milhões de votos, segundo o senador Ricardo Ferraço, não lhes serviam como salvo conduto para ela destroçar a economia e acobertar os maiores escândalos de corrupção do país.

As ações da Dilma e os seus atos de fraqueza à frente da presidência só serviram para mostrar ao povo brasileiro que a sua principal representante, eleita para proteger e defender a nação, não passava de uma marionete submissa a um grupo que se organizou para se perpetuar no poder sangrando os cofres públicos.

A tão propalada valentia da ex-presidente espalhada por seus áulicos, na verdade, servia para esconder a fraqueza e a fragilidade do caráter de uma presidente que deixou o poder sem exercê-lo porque, de fato, nunca governou com autonomia.

Tempos de expressão superlativa

Os estilos da galinha e da pata servem para comparar protagonistas da política. A primeira põe um ovo pequenino, mas cacareja e todo mundo vê, enquanto a segunda põe um ovo maior e ninguém nota. O ovo da pata, segundo os nutricionistas, é mais completo que o da galinha, mas é este que gera atenção, intenção, desejo e ação – a fór­mula AIDA – para estimular seu consumo. E o êxito se deve porque a fêmea do galo sabe alardear seu produto, cumprindo rigorosamente o preceito maquiavélico: “o vulgo só julga aquilo que vê.”


Para compreender como o cacarejo adquiriu importância central em tempos de campanha eleitoral, é oportuno lembrar as tintas que desenham nossa iden­tidade. Os estudiosos do ethos nacional costumam apontar, entre os valores que o plasmam, a falta de precisão, a adjetivação excessiva, o individualismo, a propensão ao exagero. Somos um povo de lingua­gem destemperada e de pensar fluido, indeterminado, misterioso. Por isso o Brasil passeia na gangorra, ora sendo o “melhor dos melhores”, ora figurando no pior dos mundos. Ainda como pano de fundo para a verborragia, o País manteve, apesar da dimensão continental, a uni­dade linguística, o que facilita a capilarização de ideias e robustece a matriz do pensamento. Sob essa configuração, tem sido fácil aos nossos governantes pôr um aditivo no verbo e exagerar o tamanho de seus esforços. Por isso, em relação aos feitos administrativos, a verda­de acaba bem antes do final dos relatos.

O cacarejo da glória

Antes mesmo de divisarmos as primeiras pontes que nos con­duziram ao Estado-Midiático da era moderna, nossos mandatários, com muito cacarejo, acrescentavam palmos de altura ao seu tama­nho, elevando as benesses dos governos e a grandeza das Nações. Basta olhar para os contornos do Estado Novo, emoldurados pelas cores do Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP) getulista. Mergulhamos nas águas do Brasil potência, sob a onisciente comu­nicação do ciclo militar. Resgatamos os albores democráticos, a par­tir de 1986, com o governo Sarney, ouvindo mais uma vez cacarejos que vendiam as glórias de planos econômicos.

Foi um marco: toda a Imprensa aclamava aquilo que deveria ser o fim definitivo do flagelo da inflação, o Plano Cruzado. As donas de casa se autoproclamavam fiscais do Sarney e corriam aos supermercados para vigiar os preços congelados. Os empresários se viram acuados.

Mas economistas sérios e apartidários alertavam para aquele voo de galinha, pois congelamento de preço de bens, serviços e taxa de câmbio nunca foi remédio eficaz contra a inflação.

Resumo da ópera: passada a eleição daquele ano, com preços congelados, a coligação governista PMDB-PFL conseguiu 77% das cadeiras do Congresso Nacional. Em seguida a inflação rompeu os diques da represa e explodiu. Foi um dos maiores estelionatos eleitorais da história e o povo pagou caro, com inflação de mais de 50% ao mês.

Falácias assim acabaram frustrando a população. Perplexos, assistimos depois ao marketing exacerbado do furacão Collor – vendido como “Caçador de Marajás”. O confisco da poupança ficou escondida do cacarejo. Os brasileiros tomaram um susto. Entramos depois na era palanqueira de Luiz Inácio, que durou dois mandatos. O gogó deu o tom geral até desembocarmos nos tempos de atropelo linguístico da presidente Dilma. Que foi apresentada à população como gerente de alta qualidade. A expressão, em todo o ciclo petista, dividiu o país ao meio: nós e eles. Esse foi o bordão repetido à exaustão.

Um calvário de amarguras

O cacarejo atingiu o clímax. O Brasil foi elevado à máxima potência em matéria de igualdade social, assistencialismo, redenção dos marginalizados, progresso material, enfim, o país nunca foi tão feliz. Mas quando o discurso ultrapassa os limites do bom senso, vira um bumerangue. Onde está a grandeza do ciclo petista? Os 30 milhões que teriam ascendido ao meio da pirâmide estão descendo para a base. O rombo de 170 bilhões nas contas públicas mostra a desorganização do sistema petista de governar. Os 12 milhões de desempregados vivem um calvário de amarguras. A inflação alta consome os parcos recursos das margens carentes. Felizmente, o modelo petista de governar chega ao fim. A era Michel Temer se inicia. Um novo modelo de governar se abre. Temer quer inaugurar o presidencialismo mitigado, um governo compartilhado com o Congresso Nacional.

Vamos aguardar. A título de curiosidade, lembremo-nos de Temístocles, o altivo ateniense, não era de cacarejar. Convidado para tocar cítara numa festa, o general declinou: “Não sei música, o que sei é fazer de uma pequena vila uma grande cidade.” Regra geral, nossos governantes das três esferas federativas, afinando o tom com o maior dos tocadores, não hesitam em aceitar convites para mane­jar cítara, clarineta ou trombone. Abandonam o foco. Grande parte prefere trombetear no marketing que fazer de suas cidades e Estados territórios desenvolvidos e civilizados. O momento de cantar loas a si mesmo é este dos tempos eleitorais. Promessas mirabolantes são trombeteadas na mídia eleitoral. Exageros se multiplicam. Municípios passam a ter todos os seus problemas equacionados: educação de alta qualidade, transportes coletivos modernos, rápidos e confortáveis, sistemas de saúde salvadores.

Muitos se banham na fonte das grandes ideias. Esquecem-se do ensinamento de Gogol: “Não é por culpa do espelho que as pessoas têm uma cara errada.” É a ruína que o mo­delo pirotécnico de prometer coisas oferece ao Brasil.

Não se questiona a necessidade de candidatos e governantes comunicarem aos seus públicos ações e diretrizes de seus governos. Mas é seu dever comprovar a viabilidade de suas promessas, o que exige comunicação séria, livre de firulas. A mensagem deve ser apropriada. O que é mensagem apropriada? Na seara dos candidatos, é o acerto de boas propostas. O que é desapropriado? O uso da mentira, das versões fantasiosas, dos verbos populistas, enfim, da expressão superlativa: somos os maiores, os melhores, os mais qualificados, os mais adequados ao município. O Brasil carece enterrar a venda de ilusões, as mentiras, o engodo.

Imagem do Dia

Fantastic Concept Art by Daniel Dociu
Daniel Dociu 

De si sobre si

No século IV a. C. começou oficialmente a filosofia, para o pensamento e para a vida. Nos seus últimos cursos no Collège de France, Foucault formulou a hipótese de que o grande mandamento socrático fundador não tenha sido o famoso “conhece-te a ti mesmo”, mas um menos festejado “cuida de ti’’. Pois só quem cuida de si pode vir a se conhecer. E quem não cuida de si, como haverá de cuidar da cidade? — Uma pergunta a um só tempo ética, psicológica e política. Assim, colada na vida, longe dos sistemas fechados, autossuficientes, teria nascido a filosofia.

Depois bifurcou. A questão do conhecimento predominou sobre a do cuidado, e a filosofia foi se tornando um sistema de conhecimento da verdade. O sujeito tem direito natural à verdade. Ela se esconde. A filosofia a procura. Às vezes a encontra. Esse é o feito dos grandes sistemas, Platão, Aristóteles, Descartes, Kant. Essa filosofia veio a predominar sobre aquela outra, mais modesta, do cuidado de si. Para marcar a diferença, Foucault reservou o nome “filosofia” para a vontade de sistema. E (espantosamente para quem o vinha lendo até seus prodigiosos três últimos anos de vida e pensamento) deu à outra o nome de “espiritualidade”. — Olhando o nosso tempo devagar, com olho crítico mas amoroso, parece que é da espiritualidade que andamos supernecessitados. De voltarmos a perguntar a nós mesmos, e uns aos outros: “Estamos cuidando de nós?”. Porque parece que não.

O cultivo do cuidado, do trabalho de si sobre si, como desde cedo o chamaram, ficou nas mãos das “escolas menores”. Aquelas que um dia, aqui, selecionei para o meu segundo time. Agora penso se esse não foi um erro estratégico. Talvez andemos mais precisados dos estoicos, epicuristas, cínicos e céticos do que dos grandes formuladores de sistemas. Os sistemas talvez nos roubem hoje o ar, que ficou pouco e sujo. Quem sabe esse sufocamento seja o sentido do ‘fim da filosofia’ que os pós-modernos gostam de proclamar. Não sei. Se for, erraram o alvo de novo. Porque lá do passado os filósofos ‘menores’ não deixaram de olhar para nós. Tornaram-se atuais. E precisamos deles.

O conhecimento ilumina..:
Em comum, essas escolas tiveram um axioma não explicitado, mas poderoso a mais não poder: o sujeito não tem direito à verdade; ela resulta de um trabalho de si sobre si; nesse trabalho o sujeito se transforma, faz-se diferente do que era — e a verdade vem ao seu encontro. A lida com o verdadeiro não se passa diretamente na relação da alma com as coisas do mundo, mas na da alma consigo mesma. — Essa é uma ideia cuja beleza deixamos depois escapar. Encantamo-nos com a potência das lógicas e dialéticas e descuidamos de nós mesmos, da nossa substância ética. Santo Agostinho entreviu essa dimensão da filosofia. Pascal, de um modo torturado. Nietzsche. Poucos. Mas a ideia continua aí. Podemos ainda pegá-la com nossas mãos tornadas inábeis para ela. E apressadas pelo nosso tempo hiperacelerado. Ela pede calma, serenidade e vagar. Digo que podemos reaprender essas virtudes inúteis.

O esforço fundamental dessas antigas escolas consistia em pôr-se alguém diante de si mesmo e perguntar: “Em que sou menos do que podia ser? Como posso cuidar de mim para merecer a verdade — e ser feliz?’’ Essa é, já se vê, uma questão de ordem prática. Ética. Política. Não constrói estritamente sistemas de conhecimento. Constrói vidas.

O trabalho de si sobre si tinha suas etapas e técnicas. Exigia esforço e vontade. Começava com esse exame de si, que mais tarde os cristãos chamaram “exame de consciência”. Um exame de vida. Passava por práticas de abstenção, de ascese daquilo que nos afastava de nós. Em seguida, um esforço para elevarmo-nos acima de nós mesmos. Um trabalho de transcendência. Nele, se bem executado, é que, de repente, a verdade, a que o sujeito não tinha direito originário, saltava do seu escondimento e vinha, ela, ao seu encontro. A verdade de si e do mundo. Coisa pequena, nenhuma epifania. Mas esse era o momento da felicidade.

Como a felicidade é coisa para ser dividida, esses filósofos conversavam com quem desejasse encontrar seu próprio caminho. Não doutrinavam. Escreviam cartas. Reuniam-se para trocar ideias no jardim. Cícero e Sêneca, estoicos, escreveram cartas. Marco Aurélio, imperador e filósofo, escreveu um diário. Epicuro abriu um jardim para a conversação de homens e mulheres em busca da felicidade. Lucrécio, epicurista, compôs um belíssimo poema. Por ali o pensamento corria, leve, levando em consideração as pessoas e seu esforço de viver.

Reaprenderemos, nós, os do ocaso do Ocidente, viciados em sistemas fechados e contas grandes, a escrever cartas de sabedoria, a registrar em diários nosso trabalho sobre nós mesmos? A criar poemas? A passear pelos jardins? — Não sei. Mas devíamos tentar. Antes que a noite caia. Antes que o amor acabe
Marcio Tavares D’amaral

Apoio à democracia cai na América Latina com economia fraca e corrupção

A crise econômica, os escândalos de corrupção e a insatisfação com os serviços públicos estão fazendo estragos na opinião que os latino-americanos têm da democracia, um regime que se consolidou em quase toda a região, mas cujo exercício não consegue satisfazer os cidadãos. De acordo com o Latinobarómetro – um prestigioso estudo regional que está completando 20 anose analisa 20.000 pesquisas realizadas nos 18 principais países da América Latina–, o apoio à democracia caiu novamente em 2016. O respaldo passou de 56% para 54%. E o que é mais grave, cresceu a porcentagem daqueles que respondem ser “indiferentes” se há um regime democrático ou não, passando de 20% para 23%. É o máximo de indiferentes nos 21 anos do Latinobarómetro. Em 14 dos 18 países pesquisados a popularidade dos Governos está abaixo dos 50%.

 Maentis 

O Brasil lidera o pessimismo com a democracia: o apoio a esta forma de poder diminuiu 22 pontos porcentuais no país, passando de 54% em 2015 para 32% neste ano. Numa lista de 18 países, o Brasil é o segundo país mais pessimista, à frente apenas da Guatemala (30%). O Brasil só havia atingido uma marca tão baixa em 2001, quando chegou a 30%. Foi um ano de economia fraca e do apagão nacional de energia, que tirou o humor dos brasileiros. Agora, a crise política e os escândalos de corrupção podem explicar o desânimo nacional. Esse contexto explica também outro indicador da pesquisa: o Brasil é o país com menos confiança interpessoal do continente, com meros 3%, enquanto a média do continente é de 17%. “Nunca havia sido registrado um país sem confiança interpessoal desde que esta série começou a ser medida [em 1995]. Sem dúvida, a crise política que o Brasil vive é um dos fatores que explica esse dado”, diz o relatório.

Nas entrevistas, a pergunta feita aos participantes é: Você acredita que é possível confiar na maioria das pessoas ou que a gente nunca é suficientemente cuidadoso no trato com os demais?

O Chile é outro país que registrou uma queda significativa no apoio à democracia, passando de 65% para 54%, um recuo de 11 pontos porcentuais, seguido por Uruguai (-8 pontos porcentuais), Venezuela e Nicarágua (-7) e El Salvador (-5).

O único dado positivo da pesquisa Latinobarómetro é que não cresceram, mas diminuíram ligeiramente, os que apoiam um “regime autoritário”, que passaram de 16% para 15%.

Este é o quarto ano consecutivo que, apesar dos teóricos avanços e da chegada de novas gerações que nasceram na democracia, o apoio a esse regime não melhora. “O apoio à democracia na América Latina tem três pontos baixos nestes 21 anos que o Latinobarómetro mede esse indicador: a crise asiática em 2001, quando atingiu 48%, e em 2007 e 2016 com 54%”, explicam as conclusões. Pode-se dizer que “o paciente está em estado delicado, com algumas recaídas”, insiste a análise.

Os autores do estudo, dirigido pela chilena Marta Lagos, interrogam sobre as causas e encontram algumas nos dados analisados. “Depois de 21 anos monitorando o apoio à democracia, a situação é pior do que no início. O que aconteceu com a região, além de entrar num período de baixo ou nenhum crescimento econômico? Será que o ciclo econômico impede o avanço do processo de consolidação da democracia? Os dados sugerem algo diferente porque o apoio à democracia aumentou durante a crise do subprime em 2008 e 2009, quando a economia estava indo na direção oposta e atingiu um pico em 2010, com 61%. Só a partir de 2010 aconteceu uma queda, o que indicaria que a economia não é o único fator que influi”, apontam.

Multidões com um olho só

These 29 Clever Drawings Will Make You Question Everything Wrong With The World:

Os jovens de agora, por exemplo, sequer vislumbram um Brasil independente da esquerda, especificamente do petismo. Estão, como estiveram seus pais, à mercê de narrativas cuidadosamente enredadas na mídia, nas escolas e universidades; hoje em dia também difundidas nas redes sociais
Mario Vitor Rodrigues

A gente somos inútil

Dia desses ouvi uma piada segunda a qual, quando da Criação, nosso país teria sido privilegiado com riquezas imensas e poupado da maioria dos desastres naturais para compensar o “Zé-Povinho” que seria colocado aqui. De tão repetida, esta desagradável ironia virou verdade aceita: a culpa pelo atraso do Brasil é do “Zé-Povinho”.

Menos lembrada, porém de muito maior importância, é uma acusação terrível feita por ninguém menos que Theodore Roosevelt, o 26º presidente dos EUA: “Por detrás do Governo ostensivo acha-se um Governo invisível, que não deve fidelidade nem reconhece qualquer responsabilidade perante o povo. Destruir este Governo invisível, dissolver esta maligna aliança entre negócios corruptos e política corrupta, há que ser a primeira tarefa de Estado. Este país pertence ao povo. Seus recursos, seus negócios, suas leis, suas instituições, deveriam ser utilizadas, mantidas ou alteradas somente da maneira que melhor atendesse o interesse coletivo”.

Curiosa, esta frase. No final das contas, que “Governo invisível” é esse? Será que ele existe só lá nos Estados Unidos? Seria ele o responsável por muitas das mazelas inexplicáveis que afligem a humanidade?

gobierno-manipulador:

Como explicar, por exemplo, a opção rodoviária feita pelos brasileiros, habitantes de um país de dimensões continentais? Por conta de termos negligenciado os transportes marítimo e ferroviário, passamos as décadas a morrer aos milhares em rodovias que mais parecem matadouros. Está aí a culpa do “Zé-Povinho” ou deste tal “Governo invisível”?

Qual a explicação para o fato de dependermos tanto de exportar recursos naturais a preço de banana, para importá-los depois a peso de ouro sob a forma de produtos industrializados? Quem ganha com isso? Seria obra do “Zé-Povinho” ou do tal “Governo invisível”?

Como compreendermos o brutal processo de desindustrialização e internacionalização a que nossa economia foi submetida no século passado? Como se explica a entrega de vastos setores - os mais lucrativos, diga-se de passagem - ao capital estrangeiro? Quem lucra com isso? O “Zé-Povinho” ou este “Governo invisível” mencionado pelo ex-presidente norte-americano?

E o pagamento de juros? É difícil de entender como chegamos a um ponto no qual os recursos que destinamos no orçamento de 2006 para custear a Previdência Social, a Assistência Social, a Saúde, a Educação, o Trabalho, a Reforma Agrária, a Segurança Pública, o Urbanismo, a Habitação, os Direitos da Cidadania, o Desporto e Lazer, a Cultura e até o Saneamento, somados, deram apenas R$ 317,9 bilhões - R$ 7,9 bilhões a menos do que pagamos só de juros naquele ano. Este descalabro histórico seria culpa do “Zé-Povinho” ou deste “Governo invisível”?

Curiosamente, os brasileiros pouco falam sobre tudo isso. Vivem - como de resto a maioria dos outros povos - praticamente em um estado de alienação, desinformados sobre a natureza e extensão de problemas nacionais os mais sérios. Seria isso obra do “Zé-Povinho” ou deste famoso e penumbrento “Governo invisível”?

Acorde. Olhe em volta. Perceba que estamos todos a viver em um mundo, em um país, totalmente sem lógica - que somente a existência de um “Governo invisível” pode explicar. Somos, cada um de nós, vítimas dele. Combatê-lo não importa em qual esfera for é nosso dever, sob pena de, em não muito tempo, chegarmos aos portais da eternidade cantarolando o refrão da famosa música do grupo Ultraje a Rigor: “inútil, a gente somos inútil”.

Humanidade matou 144 mil elefantes em sete anos, 30% dos que restavam

Resultado de imagem para matança de elefantes ilustração
A conservação da natureza africana é uma guerra de morte. E não é uma metáfora. Diretores de parques nacionais, como o espanhol Luis Arranz, que dirigiu o de Garamba, na República Democrática do Congo, reconhecem que armam seus guarda florestais no mercado negro. Os inimigos da fauna africana são caçadores clandestinos que empunham fuzis Kalashnikov, mas também grupos armados como os extremistas cristãos do Exército de Resistência do Senhor, em Uganda, ou os fundamentalistas islâmicos do Boko Haram, na Nigéria, que se financiam com a venda do marfim dos elefantes. Somente no Parque Nacional de Virunga, vizinho de Garamba, morreram assassinados 150 patrulheiros na última década. Os últimos, Fidèle Mulonga Mulegalega, de 25 anos, e Venant Mumbere Muvesevese, de 35, mortos a tiros em março pelas milícias Mai Mai.

A cada 15 minutos morre um elefante na África. “A vaidade, para exibir colares e pulseiras de marfim, está provocando uma demanda que faz disparar a matança de elefantes”, lamentou neste sábado Anthony Banbury, um antigo alto funcionário das Nações Unidas que agora dirige os projetos de filantropia do multimilionário Paul Allen, cofundador da Microsoft. Banbury apresentou neste sábado os resultados do esperado primeiro censo continental de elefantes, durante o Congresso Mundial da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), que se realiza até 10 de setembro em Honolulu (EUA).

Resultado de imagem para matança de elefantes ilustração
Toda oferta de marfim, incluídos os mercados nacionais legais, cria oportunidades para a lavagem do marfim ilegal sob uma aparência de legalidade
Congresso Mundial da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN)

Os números são dramáticos. A população de elefantes africanos de savana caiu 30% entre 2007 e 2014 por causa da caça clandestina e a destruição de seu habitat. O crescente declínio já chega a 8% por ano, principalmente em razão das matanças ilegais. O censo, realizado em 18 países, contou exatamente 352.271 sobreviventes. Desde 2007, portanto, a humanidade matou cerca de 144.000 elefantes. Nesse ritmo, seriam eliminados da face da Terra em pouco mais de 15 anos. O elefante da floresta, diferente do da savana e não incluído no censo, também desaparece a uma velocidade alarmante.

Há um ano o presidente norte-americano, Barack Obama, e seu homólogo chinês, Xi Jinping, anunciaram um acordo para a proibição “quase completa” da importação e exportação de marfim, com exceções como os troféus de caça esportiva devidamente documentados. A China é o grande mercado negro do marfim, considerado um símbolo de status social. “É preciso proibir também o comércio de marfim dentro dos países. Se conseguirmos que todo o comércio de marfim seja ilegal, veremos recuperações muito importantes das populações de elefantes”, declarou em Honolulu o ecologista norte-americano James Deutsch, vice-presidente da Wildlife Conservation Society.

“É preciso conseguir valorizar economicamente os elefantes vivos para que as comunidades locais ganhem dinheiro com eles e os defendam. Uma forma óbvia é o turismo, mas é preciso desenvolver outras”, afirmou Deutsch. Calcula-se que um elefante que morra de velhice gere ao longo de sua vida mais dinheiro que 76 congêneres mortos. Os caninos de cada exemplar são vendidos por cerca de 22.000 euros (cerca de 80.000 reais).