domingo, 4 de setembro de 2016

Apoio à democracia cai na América Latina com economia fraca e corrupção

A crise econômica, os escândalos de corrupção e a insatisfação com os serviços públicos estão fazendo estragos na opinião que os latino-americanos têm da democracia, um regime que se consolidou em quase toda a região, mas cujo exercício não consegue satisfazer os cidadãos. De acordo com o Latinobarómetro – um prestigioso estudo regional que está completando 20 anose analisa 20.000 pesquisas realizadas nos 18 principais países da América Latina–, o apoio à democracia caiu novamente em 2016. O respaldo passou de 56% para 54%. E o que é mais grave, cresceu a porcentagem daqueles que respondem ser “indiferentes” se há um regime democrático ou não, passando de 20% para 23%. É o máximo de indiferentes nos 21 anos do Latinobarómetro. Em 14 dos 18 países pesquisados a popularidade dos Governos está abaixo dos 50%.

 Maentis 

O Brasil lidera o pessimismo com a democracia: o apoio a esta forma de poder diminuiu 22 pontos porcentuais no país, passando de 54% em 2015 para 32% neste ano. Numa lista de 18 países, o Brasil é o segundo país mais pessimista, à frente apenas da Guatemala (30%). O Brasil só havia atingido uma marca tão baixa em 2001, quando chegou a 30%. Foi um ano de economia fraca e do apagão nacional de energia, que tirou o humor dos brasileiros. Agora, a crise política e os escândalos de corrupção podem explicar o desânimo nacional. Esse contexto explica também outro indicador da pesquisa: o Brasil é o país com menos confiança interpessoal do continente, com meros 3%, enquanto a média do continente é de 17%. “Nunca havia sido registrado um país sem confiança interpessoal desde que esta série começou a ser medida [em 1995]. Sem dúvida, a crise política que o Brasil vive é um dos fatores que explica esse dado”, diz o relatório.

Nas entrevistas, a pergunta feita aos participantes é: Você acredita que é possível confiar na maioria das pessoas ou que a gente nunca é suficientemente cuidadoso no trato com os demais?

O Chile é outro país que registrou uma queda significativa no apoio à democracia, passando de 65% para 54%, um recuo de 11 pontos porcentuais, seguido por Uruguai (-8 pontos porcentuais), Venezuela e Nicarágua (-7) e El Salvador (-5).

O único dado positivo da pesquisa Latinobarómetro é que não cresceram, mas diminuíram ligeiramente, os que apoiam um “regime autoritário”, que passaram de 16% para 15%.

Este é o quarto ano consecutivo que, apesar dos teóricos avanços e da chegada de novas gerações que nasceram na democracia, o apoio a esse regime não melhora. “O apoio à democracia na América Latina tem três pontos baixos nestes 21 anos que o Latinobarómetro mede esse indicador: a crise asiática em 2001, quando atingiu 48%, e em 2007 e 2016 com 54%”, explicam as conclusões. Pode-se dizer que “o paciente está em estado delicado, com algumas recaídas”, insiste a análise.

Os autores do estudo, dirigido pela chilena Marta Lagos, interrogam sobre as causas e encontram algumas nos dados analisados. “Depois de 21 anos monitorando o apoio à democracia, a situação é pior do que no início. O que aconteceu com a região, além de entrar num período de baixo ou nenhum crescimento econômico? Será que o ciclo econômico impede o avanço do processo de consolidação da democracia? Os dados sugerem algo diferente porque o apoio à democracia aumentou durante a crise do subprime em 2008 e 2009, quando a economia estava indo na direção oposta e atingiu um pico em 2010, com 61%. Só a partir de 2010 aconteceu uma queda, o que indicaria que a economia não é o único fator que influi”, apontam.

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