A conservação da natureza africana é uma guerra de morte. E não é uma metáfora. Diretores de parques nacionais, como o espanhol Luis Arranz, que dirigiu o de Garamba, na República Democrática do Congo, reconhecem que armam seus guarda florestais no mercado negro. Os inimigos da fauna africana são caçadores clandestinos que empunham fuzis Kalashnikov, mas também grupos armados como os extremistas cristãos do Exército de Resistência do Senhor, em Uganda, ou os fundamentalistas islâmicos do Boko Haram, na Nigéria, que se financiam com a venda do marfim dos elefantes. Somente no Parque Nacional de Virunga, vizinho de Garamba, morreram assassinados 150 patrulheiros na última década. Os últimos, Fidèle Mulonga Mulegalega, de 25 anos, e Venant Mumbere Muvesevese, de 35, mortos a tiros em março pelas milícias Mai Mai.
A cada 15 minutos morre um elefante na África. “A vaidade, para exibir colares e pulseiras de marfim, está provocando uma demanda que faz disparar a matança de elefantes”, lamentou neste sábado Anthony Banbury, um antigo alto funcionário das Nações Unidas que agora dirige os projetos de filantropia do multimilionário Paul Allen, cofundador da Microsoft. Banbury apresentou neste sábado os resultados do esperado primeiro censo continental de elefantes, durante o Congresso Mundial da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), que se realiza até 10 de setembro em Honolulu (EUA).
Toda oferta de marfim, incluídos os mercados nacionais legais, cria oportunidades para a lavagem do marfim ilegal sob uma aparência de legalidadeCongresso Mundial da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN)
Há um ano o presidente norte-americano, Barack Obama, e seu homólogo chinês, Xi Jinping, anunciaram um acordo para a proibição “quase completa” da importação e exportação de marfim, com exceções como os troféus de caça esportiva devidamente documentados. A China é o grande mercado negro do marfim, considerado um símbolo de status social. “É preciso proibir também o comércio de marfim dentro dos países. Se conseguirmos que todo o comércio de marfim seja ilegal, veremos recuperações muito importantes das populações de elefantes”, declarou em Honolulu o ecologista norte-americano James Deutsch, vice-presidente da Wildlife Conservation Society.
“É preciso conseguir valorizar economicamente os elefantes vivos para que as comunidades locais ganhem dinheiro com eles e os defendam. Uma forma óbvia é o turismo, mas é preciso desenvolver outras”, afirmou Deutsch. Calcula-se que um elefante que morra de velhice gere ao longo de sua vida mais dinheiro que 76 congêneres mortos. Os caninos de cada exemplar são vendidos por cerca de 22.000 euros (cerca de 80.000 reais).
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