sexta-feira, 7 de abril de 2017

Perguntas da rua

Numa entrevista de TV com a escritora norte-americana Sarah Chayes, estudiosa da corrupção e autora do livro 'Ladrões do Estado', o repórter Luis Fernando Silva Pinto perguntou mais ou menos assim: “Uma sociedade tão atingida pela corrupção tem condições de superar isso?”. Chayes respondeu que eram muito poucos os casos de sucesso. Mencionou o Peru, que depois de Fujimori se recuperou, assim mesmo de forma modesta. De fato, houve uma recuperação no Peru, apesar de a Odebrecht ter envolvido ao menos um ex-presidente nas teias da corrupção, Alejandro Toledo. A pergunta que se faz nas ruas é mais simples, mas vai na mesma direção do repórter: o Brasil tem jeito?

Sandra Chayes enumerou uma série de qualidades do País: capital humano, criatividade, energia. E concluiu que sim, o Brasil teria condições de oferecer esse exemplo de superação ao mundo.

Embora as ruas ainda não sintam a chegada do crescimento econômico, surgem sinais positivos e hoje muitos especialistas acham que o Brasil está reencontrando o seu rumo.


Se o front econômico realmente dá sinais visíveis de melhora, as expectativas vão se concentrar nas mudanças políticas. Nesse campo o desafio é gigantesco. Será preciso acionar todas as nossas qualidades e neutralizar os principais defeitos para obter a conquista de dimensão internacional.

Uma verdadeira reforma política só é possível com presidente e Parlamentos eleitos. A legitimidade não basta, é preciso que uma transição prepare o caminho para os vencedores.

De que adianta um novo presidente não querer fazer barganhas, se terá uma miríade de partidos para negociar?

No passado, a cláusula de barreira era um obstáculo para o surgimento de novos partidos com conteúdo político. Mas eles já tiveram seu tempo de conquistar representatividade nacional. Hoje a redução do número de partidos é uma necessidade superior, pois o presidencialismo de coalizão foi para o brejo.

Com tantos marqueteiros enredados com a Justiça, já era tempo de perceber que existe algo errado com o chamado programa eleitoral gratuito. A transformação de um programa político em espetáculo de TV é muito cara. Se os partidos se contentassem com algumas vinhetas, poderiam passar suas mensagens pela TV, desenvolver o debate na internet e, ao mesmo tempo, realizar intervenções eficazes e baratas. Desde que tenham algo a dizer.

As eleições de 2018 serão um processo de depuração. Mesmo que se consiga derrubar o foro privilegiado, é muito possível que o julgamento dos eleitores chegue antes do veredicto dos juízes. Em algumas circunstâncias, os eleitores podem absolver políticos corruptos. Nesse caso, resta confiar na Justiça, pois a aprovação popular não se sobrepõe à lei.

Todas essas possibilidades serão mais bem avaliadas depois que alguns impasses forem superados. O sigilo sobre o conteúdo das delações premiadas é um deles. Enquanto não sairmos do período que se encerra com todos os dados na mesa, o debate sobre o futuro próximo é um pouco capenga.

Alguns acham que os políticos tentarão um ato defensivo para se protegerem da Lava Jato, com a lei do abuso de autoridade. Duvido que consigam emplacar punições contra a interpretação da lei. Se o Supremo aceitar uma lei assim, será difícil até de explicar suas sessões televisionadas em que vemos tantas visões diferentes num choque salutar.

Duvido que consigam a votação em lista fechada, algo que funciona em países em que os partidos ainda gozam um nível de respeito. No Brasil seria um desastre.

Não há dúvida, entretanto, de que os políticos vão fazer tudo para manter o status. Alguns analistas acham até compreensível que num ato de desespero eles tentem mesmo um golpe contra a Lava Jato.

Um Parlamento que tenta sobreviver legislando em causa própria está cavando seu túmulo. E cavará seu túmulo errando o timing.

O primeiro julgamento será dos eleitores. Não é inteligente construir um escudo contra a Lava Jato com os traseiros expostos para as flechadas populares.

Existe um potencial de renovação em 2018. As pesquisas têm indicado forte rejeição ao políticos. Alinho esses fatos para fortalecer a tese de Chayes de que o Brasil pode dar a volta por cima e iniciar uma nova fase.

Nas ruas percebo a sensação de que algo vai mal, não deu certo, e uma dúvida sobre a capacidade de recuperação nacional. Alinho algumas ideias para fortalecer a tese de Chayes de que há um caminho possível de recuperação, apesar de ser algo bastante singular essa volta por cima. Um pouco pelo desejo de ver começar uma etapa, um pouco com uma dose de otimismo, que, aliás, está presente na entrevista de Chayes.

A esperança sozinha, divorciada dos fatos, não resolve nada. No entanto, se as expectativas forem corretas, ela é um elemento indispensável na resposta ao problema em que estamos metidos há algum tempo: como sair dessa maré. A resposta que dou na rua continua a mesma: é difícil, mas não impossível. Mas se a economia dá sinais de retomada e o caminho da reforma política for aplanado para 2018, aí, então, poderemos dar passos mais largos para nos tornamos um país que sobreviveu a um nível devastador de corrupção.

Toda essa expectativa depende de muitos fatores imponderáveis. O PMDB do Nordeste iniciando um movimento desagregador, tendo à frente Renan Calheiros, em princípio é apensas uma reação à impopularidade das reformas. Mas é também uma aproximação com Lula, que tem votos no Nordeste.

Na verdade, é uma resistência regional que parte dos lugares onde o PT é mais forte e alguns políticos simplesmente não podem perder as eleições, porque a Lava Jato está esperando de boca aberta. Se implodirem o governo, vão se deliciar com o estardalhaço. Mas o problema nacional continua. Eles até têm uma força destrutiva. Mas faltam energia e perspectiva para construir a nova situação. Teríamos perdido tempo, mas não a esperança.

Fernando Gabeira

Quem tem medo da verdade?

Aposentadorias e “Benefícios de Prestação Continuada” (BCPs) pagos a funcionários “incapacitados” representam 54% do gasto da União. A folha do funcionalismo ativo, outros 41%. Sobram 5% para financiar todos os investimentos públicos. Nos Estados e municípios é tal a fome dos marajás que nem para pagar a parcela do funcionalismo que, bem ou mal, de fato “serve” ao público tem sobrado.

A carga de impostos é de 36% do PIB e o déficit, de pelo menos outros 10%. São 46% do PIB, mais de R$ 2,5 trilhões, apropriados anualmente pelo Estado, R$ 2 trilhões e 375 bilhões dos quais (95%) consumidos com salários, aposentadorias, pensões, bolsas e quejandos. Um oceano dentro do qual tudo quanto se roubou em todos os anos investigados pela Lava Jato e, provavelmente, nos séculos 20 e 21 somados, ou talvez, até, de 1500 até hoje, vira uma gota ou, vá lá, um balde d’água.

Não é preciso mais nada para explicar por que estamos arrebentados. Um simples olhar para as parcelas dessa conta basta, também, para tornar instantaneamente lógica a aparente confusão política em que vivemos. Quinze dias atrás Marcos Mendes e Mansueto Almeida, secretário de Acompanhamento Econômico da Fazenda, publicaram na Folha de S.Paulo extenso artigo destrinchando aspectos centrais da reforma da Previdência. Todo servidor se aposenta com 100% do que ganhava no último dia de trabalho, coisa inédita no mundo. (Na verdade, costumam ter uma ou duas “promoções” pouco antes de cruzar a linha aos 50 anos.) Com 30 anos ou mais pela frente de puro desfrute, camadas sucessivas se vêm acumulando. Todas essas aposentadorias têm sido “reajustadas” muito acima da inflação junto com os salários dos servidores ativos (estes com aumentos contratados até 2020, no meio do pânico do resto do Brasil). Já os súditos no País real “se aposentam” com 70% do último salário (que paga imposto a partir de R$ 2 mil e pouco) e continuam trabalhando até morrer, pois se já viviam no limiar da miséria com 100%, que dirá com 70%. Essa situação é tão generalizada que o governo está criando o Regime Especial para o Trabalhador Aposentado, isentando o trabalho na velhice de alguns impostos. Aposentadoria “por tempo de serviço” aos 50 anos é, portanto, um luxo exclusivo dos donos do Estado. A maioria se aposenta antes disso, aliás, graças aos “regimes especiais”, mais uma das inúmeras formas de roubo legalizadas com que nos sangram, exatamente semelhante aos “auxílios” e outros apelidos que dão a pedaços do salário para aumentá-lo além do teto e sonegar imposto, só que aplicado ao tempo contado para se aposentar.

Pensões por morte são outro luxo hereditário exclusivo do marajalato. Custam 3% do PIB no Brasil, quando o padrão mundial é abaixo de 1%. 32% dessas pensões são pagas a funcionários que já recebem aposentadoria. 73% vão para apenas 30% dos domicílios, todos na categoria dos de maior renda do Brasil. O gasto com “Benefícios de Prestação Continuada” pagos a “incapacitados”, valendo em média dez Bolsas Família cada, cresceu de R$ 14 bilhões em 2003 para R$ 49 bilhões em 2016. A maior parte foi conseguida por ação judicial, dispensando, portanto, a evidência de dedos ou membros faltantes ou outras deficiências perceptíveis a olho nu. Só juízes, mais de 10 mil dos quais recebem acima do teto constitucional e, frequentemente, salários acima de seis dígitos, e “peritos judiciais” foram capazes de “enxergá-las”. 43% dos BPCs pagos vão para a faixa dos 40% mais ricos do Brasil.

Vai por aí o escárnio e, por essas e outras, a maioria dos servidores públicos federais está na faixa dos 1% mais ricos do Brasil e quase nenhum está aquém dos 5% mais ricos. Isso antes de contar as frotas de jatos, as dezenas de milhares de automóveis, os planos de saúde eternos e as mordomias mil que a favela paga para os palácios.

Uns poucos, muito poucos, entre esses abusos seriam coibidos pela reforma da Previdência proposta por Michel Temer, que, por ter ousado tanto, está, com todos os seus “negociadores” de reformas no Congresso, varejado de delações e a um passo de ser apeado da Presidência.

O problema brasileiro é “biodegradável”. Expostos os dados ao sol, a única resposta decente, a única resposta aritmeticamente possível, impõe-se por si só. A sobrevida da “privilegiatura” depende estritamente, portanto, de mantê-los escondidos sob uma barragem o mais ruidosa possível de mentiras. Não é por outra razão que a luta pelo poder se tem resumido à luta pelo controle dos meios de difusão de “narrativas”, o novo nome da mentira, seja pela martelação da discurseira sem contraditório daquela gente sinistra dos “horários gratuitos”, seja pelo “aparelhamento” de escolas e redações. Agora querem dar o golpe final fechando o último canal de expressão sem “tradução” da voz do povo com essa “lista fechada”.

Meu coração tem tentado, mas meu cérebro se recusa a se convencer de que é apenas ingênua e distraída essa Justiça sem prioridades que, sempre em perfeita afinação com a imprensa e consonância com o trâmite das reformas, arregala um olho para ladrões individuais de milhões, porém sistematicamente fecha os dois para a ladroagem coletiva de trilhões sem o fim da qual o Brasil não se salva.

O passado condena? Pode ser. Mas a verdade é que Temer não pode dizer a verdade num país onde ninguém mais diz a verdade. Como não é dele, é do Brasil que se trata, é preciso lançar uma campanha impessoal para demonstrar, sem eufemismos, a relação direta de causa e efeito entre cada marajá excluído da reforma e cada aumento de imposto, e entre cada aumento de imposto e cada emprego a menos. O Brasil precisa ser instado a fazer as escolhas que lhe restam sabendo claramente o que pode ser trocado pelo quê; quanta dor adicional e quanto alívio podem ser contratados pelo mesmo dinheiro escasso. Sem isso fica fácil demais para lobos se apresentarem como cordeiros e bandidos como mocinhos enquanto nos empurram todos juntos para o ponto de onde não há retorno.

Fernão Lara Mesquita

Alimentos adulterados matam 3 mil por ano nos EUA

Num momento em que o país se questiona sobre a qualidade dos alimentos que consome — indagação motivada pela Operação Carne Fraca da Polícia Federal — vale a pena ouvir o que têm a dizer os especialistas Jon Woody e Colin Barthel, do Food and Drug Administration (FDA), a agência norte-americana que regula os setores de alimentos e medicamentos. Eles participam, nesta sexta-feira, 07, em Taguatinga, de workshop organizado pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai).

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Woody e Barthel destacam que adulterações intencionais em alimentos ocorrem por várias razões, que vão de questões econômicas, sabotagem e falsificações até terrorismo, e todas diferem dos casos acidentais, que resultam de falhas de sistemas de controle. Pelos cálculos dos especialistas, apenas as adulterações motivadas por fraudes econômicas resultam em perdas anuais de US$ 10 bilhões a US$ 15 bilhões para as indústrias prejudicadas. Além disso, um em cada seis norte-americanos adoece por ano em decorrência de contaminação de alimentos. O problema resulta em três mil mortes anuais no país.

Esses dados foram apresentados por Woody e Barthel em palestra recente em Florianópolis, Santa Catarina, onde também listaram as ferramentas usadas pelo FDA, como softwares gratuitos disponíveis na internet, e os principais passos que as indústrias devem seguir para atender aos requisitos exigidos pela legislação norte-americana. As regras foram adotadas pelos Estados Unidos, em maio de 2016, para coibir o comércio de alimentos adulterados intencionalmente. O regulamento é o mais recente dos sete adotados desde 2011 a partir do Food Safety Modernization Act, Lei de Modernização da Segurança de Alimentos dos EUA.

As indústrias exportadores têm até julho de 2019 para adotar programas que previnam os riscos de contaminação em produtos. O setor de alimentos representa 30% das exportações industriais no Brasil. As vendas brasileiras do setor para os Estados Unidos em 2016 totalizaram US$ 1,5 bilhão (7,5% do total industrial exportado pelo Brasil).

Gente fora do mapa

France, Charente-Maritime, Saintes 1953 by Henri Cartier Bresson:
Henri Cartier Bresson (1953)

Adeus às ilusões

Preocupado com a devastação sofrida nas últimas eleições, o PT encomendou uma pesquisa entre seus ex-eleitores da periferia de São Paulo e recebeu resultados surpreendentes. Ou nem tanto. No imaginário desse eleitorado de baixa renda, a “luta de classes" agora não é entre burguesia e proletariado, mas entre o cidadão e o Estado, entre os que pagam impostos e não recebem bons serviços do Estado perdulário e corrupto. As pessoas não têm mais os patrões como inimigos, mas os políticos.

É um rude golpe nas crenças mais queridas dos companheiros marxistas. A consequência imediata é o desejo de um “liberalismo popular", com menos Estado e menos poder dos partidos e dos políticos. A grande maioria dos entrevistados quer métodos empresariais na gestão pública, como o eleitorado de João Doria. E de Trump. Como a receita ainda não foi testada nem é infalível, algumas gestões públicas “empresariais” serão bem-sucedidas e outras, fracassadas, dependendo das lideranças e da qualidade da administração.


Nas democracias de hoje prevalece o óbvio: boas administrações de esquerda, ou direita, com a economia crescendo, se mantêm no poder, administrações ruins de esquerda, ou direita, e economia ruim, são substituídas pela oposição. Cada vez se vota menos com o coração ou a cabeça, e mais com o bolso.

É hora de dar adeus às ilusões e encontrar novas formas de representação popular na estrutura de poder da nossa democracia.

Apesar de funcionar muito bem em vários países, como pensar em parlamentarismo no Brasil com os parlamentares que temos? Imaginem os Renans, Lobões, Cunhas e Jucás nos principais postos do Executivo, além de exercer o governo de fato com o primeiro-ministro e o seu gabinete, partilhado com partidos da aliança majoritária. Como cada legislatura é sempre pior do que a anterior, segundo o “Axioma de Ulysses", o parlamentarismo é inviável no Brasil.

Como os partidos não representam mais ninguém, e são vistos de forma cada vez mais negativa pelo eleitorado, seria um grande avanço discutir candidaturas individuais independentes, como em várias democracias modernas.

Nelson Motta

O diabo e a política

Naquela aldeia, todos roubavam de todos, matava-se, fornicava-se, jurava-se em falso, todos caluniavam todos. Horrorizado com os baixos costumes, o frade da aldeia resolveu dar o fora, pegou as sandálias, o bordão e se mandou.

Pouco adiante, já fora dos muros da aldeia, encontrou o Diabo encostado numa árvore, chapéu de palha cobrindo seus chifres. Tomava água de coco por um canudinho, na maior sombra e água fresca desde que se revoltara contra o Senhor, no início dos tempos.

O frade ficou admirado:

"O que está fazendo aí, nessa boa vida? Eu sempre pensei que você estaria lá na aldeia, infernizando a vida dos outros. Tudo de ruim que anda por lá era obra sua, assim eu pensava até agora. Vejo que estava enganado. Você não quer nada com o trabalho. Além de Diabo, você é um vagabundo!".

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Sem pressa, acabando de tomar o seu coco pelo canudinho, o Diabo olhou para o frade com pena:

"Para quê? Eu trabalho desde o início dos tempos para desgraçar os homens e confesso que ando cansado. Mas não tinha outro jeito. Obrigação é obrigação, sempre procurei dar conta do recado. Mas agora, lá na aldeia, o pessoal resolveu se politizar. É partido pra lá, partido pra cá, todos têm razão, denúncias, inquéritos, invocam a ética, a transparência, é um pega-pra-capar generalizado. Eu estava sobrando, não precisavam mais de mim para serem o que são, viverem no inferno em que vivem".

Jogou o coco fora e botou um charuto na boca. Não precisou de fósforo, bastou dar uma baforada e de suas entranhas saiu o fogo que acendeu o charuto:

"Quando entra a política, eu dou o fora, não precisam mais de mim".
Carlos Heitor Cony

Cartolas e coelhos

Ninguém pode dizer que não somos criativos, não é mesmo? Infelizmente, não somos só criativos nas Artes, Também o somos na Política...

Pelo menos eu sou quase que diariamente surpreendida por coelhos dos mais variados tamanhos tirados das cartolas dos brasileiros em posição de destaque. Você está lendo uma entrevista, ou se debruçando sobre um tema que interessa ao Brasil, coisa séria e, de repente, pimba!, lá salta um coelho da cartola do entrevistado ou do autor do texto. Sempre levo um susto!

São hábeis ‘cartoleiros’, se assim posso me referir a esses peritos em sacar coelhos das cartolas. Resolvi listar aqui alguns desses senhores e senhoras, numa ordem sem prejuízo da importância ou do mérito de cada um.

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* Começo com uma emérita ‘cartoleira’, a senadora Kátia Abreu (PMDB/TO). Renan Calheiros, sentindo que ele e seu filho pisam em chapa quente, achou por bem culpar o presidente Michel Temer por sua situação, repetindo em plenário o que já havia dito em um jantar em casa da senadora pelo Tocantins: “a presidente Dilma não sabia para onde ir, e o presidente Temer não tem para onde ir”.

A senadora Rose de Freitas (PMDB-ES) não gostou do que ouviu e foi tirar satisfação. “Como assim, Renan? Você está falando como líder? Você sabe o que eu penso sobre isso?”.

Foi o que bastou para um coelho saltar da cartola da senadora Kátia Abreu: “Você tem que entender o problema dele em Alagoas”.

Não é um lindo coelho? Não é o senador que tem que compreender seus eleitores e respeitar seus liderados. São eles que têm que entender que os Calheiros, aflitos, podem desabafar do modo que preferirem.

* Um ex- executivo da Odebrecht, Fernando Migliaccio da Silva, tirou de sua cartola, após confessar que era o responsável pela entrega em dinheiro vivo do Departamento de Propina da empreiteira, o recorde, imagino que imbatível, de sua atividade: em um único dia entregou R$35 milhões! Não posso jurar, mas senti certo orgulho nessa declaração.

* E o Jair Bolsonaro, essa flor de pessoa, que concluiu que nossos afrodescendentes, saídos dos quilombos, não servem nem para procriar? Onde ele disse isso? Onde? Na Hebraica, aqui no Rio. Não é um espanto?

* É um espanto, sim. Tal qual a carta aberta do ator José Mayer que resolveu se desculpar da agressão vil e muito baixa que cometeu contra uma colega de trabalho na Globo. Olhem o que ele tirou da cartola: "Tristemente, sou sim fruto de uma geração que aprendeu, erradamente, que atitudes machistas, invasivas e abusivas podem ser disfarçadas de brincadeiras ou piadas. Não podem. Não são”.

Que geração é essa, senhor Mayer? A minha é a nascida em 1937 e nós sempre preferimos homens carinhosos, amáveis, delicados, charmosos, elegantes. Fomos criadas como dependentes dos homens? É verdade. Mas de homens e não de animais. Cai na real, senhor Mayer.

* Já Dilma Rousseff, entrevistada pela Folha de S. Paulo, foi pródiga em sacar de sua cartola coelhos dos mais variados tamanhos. Chamou a delação do empresário Marcelo Odebrecht de delaçãozinha e garante que o que ele disse é fruto da coação que sofreu, e que ele jamais ousaria conversar com ela sobre doação. Não é um fenômeno? O homem que bancou as peripécias do PT não ousaria falar com a grande Dilma sobre dinheiro?

Não vi grandes novidades na entrevista, a não ser Dilma afirmar que apertada para ir ao banheiro, ao fim de uma reunião na Cidade do México, saiu da sala VIP para ir ao toalete e ao acabar de “fazer aquilo que tinha para fazer”, encontrou Marcelo Odebrecht na salinha e ele começou a falar daquele jeito meio embrulhado dele e ela não entendeu nada. Ou melhor, “Niente”, conforme disse à sua entrevistadora.

Curioso é que ela não entendeu logo a parte mais reveladora da entrevista, a de que sua campanha poderia ter sido contaminada, pois ele havia feito pagamentos no exterior ao marqueteiro dela, João Santana.

E, agora, digo eu: jeito meio embrulhado de falar, qual será o mais embrulhado, o dele ou o dela?

Páreo duro, não é não?

Paisagem brasileira

Rua da Misericórdia (1948), José Maria de Almeida

O tamanho do seu buraco

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Ora, meu querido brasileiro. Você ainda não se deu conta do que significou essa roubalheira toda, não é mesmo? Seu futuro foi pro brejo, junto com a política. Você sabe o que é votar contra o Uber, lista fechada, anistia ao caixa 2? São as formas que esses cretinos – todos eles – resolveram tentar para continuar a meter a mão no seu bolso bobão. Nada de “gópi” ou de volta dos militares, meus caros. O país precisa é de democracia plena. Para isto, é necessário que você tire o seu traseirinho da cadeira e pare de votar em idiotas, que fazem suas necessidades fisiológicas no mandato que conseguiram.

Chega de vigarice. Vote direito. Aprenda a votar e encontrar o seu candidato. Aprenda a cobrar. Você não tem um tijolinho na mão, que se conecta com o mundo? Use-o para se instruir. Pra mudar de rumo. Só assim você deixará de ser enganado pelos partidos das estrelinhas na cueca. Não é simples?

Corte na carne?

Antes havia 8.099 cargos que podiam ser ocupados por pessoas não concursadas. Agora são 5.499, ou 2.600 a menos. Além disso, colocamos restrição para os DAS 5 e 6, que são os mais altos
Dyogo Oliveira, ministro do Planejamento, Orçamento e Gestão

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Os funcionários públicos continuam enriquecendo. Segundo o IBGE, no período de dezembro, janeiro e fevereiro, a renda média dos servidores públicos foi 5,1% maior que o de igual período do ano passado.

Muita sede para pouca água

A reforma da Previdência “morreu” e não faltam carpideiras de joelhos à espera do caos. Com o histerismo de sempre, a turma do reformão vai ficar com a reforminha ou minireforma como já aconteceu de outras muitas vezes. 

Desejar que num mandato tampão, em meio à instabilidade política-jurídica-econômica, se faça uma grande reforma da Previdência como nem em governos estabilizados e de amplo apoio popular se conseguiu, é querer demais ou acreditar em milagre.

Temer quer passar para a história como reformista, assim apagando o passado de conivência por 13 anos com o cataclisma petista. Como Moisés no Sinai, prenunciou a reforma ou o caos. Para um país que já vive no inferno, a ameaça de se ir para as chamas infernais caso não seguissem seus conselhos, não tem cabimento.

A explicação de que a Câmara não quer se arriscar a aprovar projeto impopular às vésperas de 2018 é mais palatável para não se ficar mal com o governo que foi com sede ao pote. Por que se apressar numa reforma indispensável, mas de imensa necessidade de debate? Por que o “autor” é um conselheiro de empresas de fundo privado? Por que uma reforma que deveria ser ampla se tornou aos poucos em privilegiada? Com muitas perguntas e poucas respostas, o grande debate ficou mais restrito à discussão das benesses futuras e não do opressivo presente, que ficaria solucionado com uma canetada presidencial.

Como anuncia a Casa Civil, a mini ficará uns 10% da ideal e não comprometerá o deixa estar mais ou menos para ver como é que fica, logicamente sem tocar em privilégios, que esses são divinos.
Luiz Gadelha

O estilo faz o homem

Nessa encenação contra o governo, o senador Renan Calheiros está apenas sendo o Renan Calheiros de sempre. Movido pelas mesmas razões escusas. Faz esse teatro desde o tempo em que transitou de líder do governo durante a República das Alagoas para a condição de oposicionista durante o processo de impeachment de Fernando Collor. Ali começou a construir uma carreira de político influente. A adulação _ da imprensa, inclusive _ durou até quando começaram a surgir as evidências de que por trás da máscara de moço bom havia um homem sem limites, disposto a qualquer coisa pelo poder. Surfou na onda daqueles que não sabiam da missa de sua vida a metade.

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Agora posa de opositor a Temer por dois motivos: gostaria, mas não consegue dar as cartas na alocação de aliados em postos-chave da máquina do Estado e também gostaria, mas não consegue mais exercer influência de quando era presidente do Senado. Perdeu espaço e prestígio. Da reputação dá notícia a mais de uma dezena de ações a que responde no Supremo Tribunal Federal. Busca, então, recuperar terreno no berro, intimidando e insultando. Uma espécie de precursor de Eduardo Cunha.

Outrora, nos idos da década dos 90, resolveu se opor a Collor por um motivo: na reta final da eleição para governador de Alagoas, em 1990, descobriu que Paulo César Farias, arrecadador do grupo, mandara os doadores (notadamente os mais abastados, de São Paulo) cortarem o envio de recursos à campanha dele porque Collor queria que o eleito fosse seu opositor Geraldo Bulhões. Ambos tinham o apoio do então presidente, mas a aliança com Bulhões é que era a verdadeira. Derrotado, partiu então para a denúncia de que as eleições haviam sido fraudadas. De fato, naquele ano a justiça eleitoral anulou e mandou repetir as votações em alguns municípios. Inclusive alguns controlados pela família Calheiros.

Imagem do Dia

Parque Nacional de Cotapata ( Bolivia)

O Lula sem meio-campo

Assumindo o papel de adversário da reforma previdenciária, o senador Renan Calheiros candidata-se a coveiro do governo Michel Temer, na medida em que o atual presidente da República, mesmo mantendo o mandato, nenhuma herança deixará para o sucessor. Se o próximo presidente vier a ser o Lula, hipótese ainda em suspenso, quem garante a virada na página do retrocesso econômico nacional? A pergunta será quem sucederá a Henrique Meirelles na Fazenda. Não se esperem surpresas maiores no setor. O ex-presidente não rasga dinheiro, provavelmente escreverá outra carta aos brasileiros, tentando substituir por gente nova o time dos petistas históricos, desgastados e até presos.

Essa a dúvida fundamental para o novo período, se vier liderado pelo Primeiro Companheiro: até hoje não despontaram novos contingentes no PT. Quais seriam os substitutos da turma hoje dormindo na cadeia? Não há sinal de que o Lula esteja procurando no Congresso. Nem nas universidades ou no que restou da aliança com a Igreja. Sequer nos sindicatos.

A falta de equipe não será suprida pelas “meninas” do Senado, muito menos pelos “salvados do incêndio”. Quando eleito pela primeira vez, o torneiro-mecânico encontrou uma espécie de âncora empresarial no candidato a vice presidente, logo empenhado na crítica permanente aos juros altos. Hoje, se existe, esse companheiro não apareceu. Há quem aposte em Ciro Gomes, mas ele é inconfiável.

Em suma, apesar de nítido apoio popular, o Lula carece de um time capaz de respaldá-lo. Não tem meio campo. Jamais poderá confiar em Renan Calheiros.

Carlos Chagas

La piú grande famiglia

A Justiça Eleitoral é uma grande família dedicada ao trabalho sério e constante que visa garantir a correta apuração da soberania popular
Henrique Neves, "em lágrimas", ex-ministro em sua despedida do TSE

Antes de salvar o país, os aliados da administração Temer tentam se salvar

A reforma da Previdência leva Michel Temer a experimentar desagradáveis sensações. O substituto constitucional de Dilma Rousseff acomodara-se na poltrona número um intoxicado pelo pior tipo de ilusão que pode acometer um presidente: a ilusão de que preside. Começa a se dar conta de que não há solidão mais vil do que a companhia dos áulicos palacianos e de uma numerosa base congressual.

Acossado por Renan Calheiros, que até ontem era um soldado a serviço da governabilidade, Michel Temer disse que não pode “ficar brigando com quem não é presidente da República.” Engano. Sempre que um presidente não aproveita uma oportunidade para reafirmar sua autoridade, acaba se transformando em oportunidade que gente como Renan aproveita.


Logo que foi efetivado no cargo, Temer bateu bumbo para alardear a herança maldita de Dilma. Prometeu reformas que recolocariam o país nos trilhos. Animou-se ao aprovar a emenda do teto de gastos federais. Assustou-se com as traições na votação do projeto da terceirização de mão de obra.

Com a reforma da Previdência, Temer enfrenta um tipo de adversidade que lhe sonega os papeis que desempenhou até aqui. Já não pode culpar Dilma. E não adianta apenas dizer que tem a força no Congresso. Chegou a hora de entregar a mercadoria.

Ao assumir, Temer acenara com um governo de salvação nacional. Mas sua infantaria parlamentar infirma que, antes de salvar o Brasil, quer salvar a própria pele. Já que não conseguem estancar a sangria da Lava Jato, os aliados de Temer tramam o voto em lista e se esquivam de reformas que coloquem em risco a reeleição e o escudo do foro privilegiado. Num primeiro recuo, Temer jogou pelo ralo uma economia estimada R$ 115 bilhões. Talvez tenha que recuar mais um pouco.

Os trabalhadores sempre sofrem...

A classe dominante está tramando contra os direitos dos trabalhadores. Não quer ceder em mais nada. Pelo contrário, quer readquirir o que considera que foi dado em demasia. Com a retração do poder de convencimento das igrejas cristãs, fonte maior da consciência ética das sociedades, prospera sem peias a maldita ambição por mais poder e mais riqueza.

O povo está se convencendo de que a quase total amoralidade da classe dominante é a responsável pelo que está acontecendo e que a solução para a crise global passa, necessariamente, pela substituição dessa fonte de poder.

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Sebastião Salgado
Os direitos dos trabalhadores, por melhores condições de trabalho, há apenas um século começaram a ser reconhecidos e Leis foram votadas para garanti-los contra a ganância exagerada do empresariado. Certamente com o progresso da tecnologia, das novas formas de produção e de organização da sociedade, impõe-se a atualização e o aperfeiçoamento dessas Leis, mas não como artimanha para surripiar direitos duramente reconhecidos e conquistados. Esta ultima iniciativa de aprovar a terceirização generalizada é uma malandragem inaceitável. Por outro lado, a reforma da previdência é uma necessidade a ser atendida logo, por inescapáveis imposições da matemática e do comportamento demográfico, problema agravado pela incompetência dos políticos no passado. Desde 1990 sabia-se que a “bomba previdenciária” estava sendo armada.

Tendo em vista o desemprego de cerca de treze milhões e meio de brasileiros, gostaria de lembrar a proposta que desenvolvo em livro publicado em 2013 pelas Edições Loyola – “Posto de Trabalho: propriedade privada do trabalhador” – titulo que expressa o conteúdo da obra, abordando tema impossível de ser escamoteado. Qualquer empresa tem uma função social e é uma comunidade de trabalho, onde cada pessoa depende das demais para a realização do produto ou do serviço a que se dedicam. Se existe esta conjunção de esforços interdisciplinares cada trabalhador, desde o “dono”, do “acionista majoritário”, ou “preposto especializado”, até o mais simples auxiliar de escritório ou da linha de produção - com funções, responsabilidades e remuneração diferenciadas - são companheiros no trabalho comum e proprietários dos seus postos de trabalho. Isto ocorre pela simples razão de que o trabalho é mais do que uma fonte de renda para possibilitar o digno sustento do trabalhador e da sua família – é a forma mais perfeita da pessoa participar, com o Criador, da construção do Cosmo, expressando sua individualidade impar. Marx, seguindo a trilha aberta pelo cristianismo, afirma ser o trabalho a forma de a pessoa expressar sua personalidade e de participar da construção da história. Este direito da pessoa precisa ser mais percebido e respeitado.

É inaceitável que o governo do país e o poder legislativo permaneçam, por mais tempo, nas mãos de uma maioria de corruptos e incompetentes, insensíveis ao sofrimento de expressiva parcela da população, incapazes de pensarem novas alternativas democráticas para organizar e fazer funcionar a sociedade justa com que sonhamos. Eles precisam ser substituídos, imediatamente, pelo voto democrático e livre da população. Novos poucos partidos e novos rostos dignos para nos representarem são exigências que esses tempos de redefinição politica impõem. Ou se procede desta maneira ou outras ações mais radicais e inesperadas poderão vir a ser tomadas.

O Brasil, como outras nações em momentos de radical decisão histórica sobre seus destinos, precisa construir, de uma vez por todas, o seu momento mais glorioso, quando poderá inverter o sentido da desgraça da sua trajetória e começar, então, a construir seu grandioso sempre esperado futuro. Um povo desesperado, desiludido, constantemente ofendido pelo deboche e pelas mentiras da classe dominante e dos políticos é capaz de se levantar e fazer valer seus direitos exigindo respeito, dignidade e competência dos seus dirigentes.

Eurico Borba