sexta-feira, 7 de abril de 2017

Adeus às ilusões

Preocupado com a devastação sofrida nas últimas eleições, o PT encomendou uma pesquisa entre seus ex-eleitores da periferia de São Paulo e recebeu resultados surpreendentes. Ou nem tanto. No imaginário desse eleitorado de baixa renda, a “luta de classes" agora não é entre burguesia e proletariado, mas entre o cidadão e o Estado, entre os que pagam impostos e não recebem bons serviços do Estado perdulário e corrupto. As pessoas não têm mais os patrões como inimigos, mas os políticos.

É um rude golpe nas crenças mais queridas dos companheiros marxistas. A consequência imediata é o desejo de um “liberalismo popular", com menos Estado e menos poder dos partidos e dos políticos. A grande maioria dos entrevistados quer métodos empresariais na gestão pública, como o eleitorado de João Doria. E de Trump. Como a receita ainda não foi testada nem é infalível, algumas gestões públicas “empresariais” serão bem-sucedidas e outras, fracassadas, dependendo das lideranças e da qualidade da administração.


Nas democracias de hoje prevalece o óbvio: boas administrações de esquerda, ou direita, com a economia crescendo, se mantêm no poder, administrações ruins de esquerda, ou direita, e economia ruim, são substituídas pela oposição. Cada vez se vota menos com o coração ou a cabeça, e mais com o bolso.

É hora de dar adeus às ilusões e encontrar novas formas de representação popular na estrutura de poder da nossa democracia.

Apesar de funcionar muito bem em vários países, como pensar em parlamentarismo no Brasil com os parlamentares que temos? Imaginem os Renans, Lobões, Cunhas e Jucás nos principais postos do Executivo, além de exercer o governo de fato com o primeiro-ministro e o seu gabinete, partilhado com partidos da aliança majoritária. Como cada legislatura é sempre pior do que a anterior, segundo o “Axioma de Ulysses", o parlamentarismo é inviável no Brasil.

Como os partidos não representam mais ninguém, e são vistos de forma cada vez mais negativa pelo eleitorado, seria um grande avanço discutir candidaturas individuais independentes, como em várias democracias modernas.

Nelson Motta

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