Pelo menos eu sou quase que diariamente surpreendida por coelhos dos mais variados tamanhos tirados das cartolas dos brasileiros em posição de destaque. Você está lendo uma entrevista, ou se debruçando sobre um tema que interessa ao Brasil, coisa séria e, de repente, pimba!, lá salta um coelho da cartola do entrevistado ou do autor do texto. Sempre levo um susto!
São hábeis ‘cartoleiros’, se assim posso me referir a esses peritos em sacar coelhos das cartolas. Resolvi listar aqui alguns desses senhores e senhoras, numa ordem sem prejuízo da importância ou do mérito de cada um.
A senadora Rose de Freitas (PMDB-ES) não gostou do que ouviu e foi tirar satisfação. “Como assim, Renan? Você está falando como líder? Você sabe o que eu penso sobre isso?”.
Foi o que bastou para um coelho saltar da cartola da senadora Kátia Abreu: “Você tem que entender o problema dele em Alagoas”.
Não é um lindo coelho? Não é o senador que tem que compreender seus eleitores e respeitar seus liderados. São eles que têm que entender que os Calheiros, aflitos, podem desabafar do modo que preferirem.
* Um ex- executivo da Odebrecht, Fernando Migliaccio da Silva, tirou de sua cartola, após confessar que era o responsável pela entrega em dinheiro vivo do Departamento de Propina da empreiteira, o recorde, imagino que imbatível, de sua atividade: em um único dia entregou R$35 milhões! Não posso jurar, mas senti certo orgulho nessa declaração.
* E o Jair Bolsonaro, essa flor de pessoa, que concluiu que nossos afrodescendentes, saídos dos quilombos, não servem nem para procriar? Onde ele disse isso? Onde? Na Hebraica, aqui no Rio. Não é um espanto?
* É um espanto, sim. Tal qual a carta aberta do ator José Mayer que resolveu se desculpar da agressão vil e muito baixa que cometeu contra uma colega de trabalho na Globo. Olhem o que ele tirou da cartola: "Tristemente, sou sim fruto de uma geração que aprendeu, erradamente, que atitudes machistas, invasivas e abusivas podem ser disfarçadas de brincadeiras ou piadas. Não podem. Não são”.
Que geração é essa, senhor Mayer? A minha é a nascida em 1937 e nós sempre preferimos homens carinhosos, amáveis, delicados, charmosos, elegantes. Fomos criadas como dependentes dos homens? É verdade. Mas de homens e não de animais. Cai na real, senhor Mayer.
* Já Dilma Rousseff, entrevistada pela Folha de S. Paulo, foi pródiga em sacar de sua cartola coelhos dos mais variados tamanhos. Chamou a delação do empresário Marcelo Odebrecht de delaçãozinha e garante que o que ele disse é fruto da coação que sofreu, e que ele jamais ousaria conversar com ela sobre doação. Não é um fenômeno? O homem que bancou as peripécias do PT não ousaria falar com a grande Dilma sobre dinheiro?
Não vi grandes novidades na entrevista, a não ser Dilma afirmar que apertada para ir ao banheiro, ao fim de uma reunião na Cidade do México, saiu da sala VIP para ir ao toalete e ao acabar de “fazer aquilo que tinha para fazer”, encontrou Marcelo Odebrecht na salinha e ele começou a falar daquele jeito meio embrulhado dele e ela não entendeu nada. Ou melhor, “Niente”, conforme disse à sua entrevistadora.
Curioso é que ela não entendeu logo a parte mais reveladora da entrevista, a de que sua campanha poderia ter sido contaminada, pois ele havia feito pagamentos no exterior ao marqueteiro dela, João Santana.
E, agora, digo eu: jeito meio embrulhado de falar, qual será o mais embrulhado, o dele ou o dela?
Páreo duro, não é não?
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