quinta-feira, 15 de janeiro de 2015
Insatisfação geral e irrestrita
A busca desesperada por algo que gere prazer e satisfação de modo rápido, intenso e constante tem sido uma das marcas de nosso tempo. A grande questão é que o envelhecimento das novidades se tornou um processo tão rápido que embriagar-se perdeu a graça, pois a ressaca invade a ilusão do falso relaxamento, que era o desejo buscado.
Somos vorazes e intensos, queremos tragar o mundo como um ébrio vira seu quarto copo de cachaça. Como se o beber social fosse perda de tempo, esquecemos que o mundo deve ser degustado, e não deglutido e devorado. Vagamos feitos zumbis afetivos, guiados pelos GPS de celulares onipresentes, gerando conteúdos tão descartáveis quanto as selfies do mês passado. Abrimos mão das lembranças, esquecidos que a cultura nada mais é que o acúmulo de vivências do passado, ensinadas por quem nos antecedeu. Sabedoria é a transmissão oral de experiências dos pais e avós, e além deles.
A mudez e inibição entre as atuais gerações, assim como a inibição afetiva entre elas, está por trás da constatação que a geração Y é a menos qualificada dos últimos dois séculos. Tirem os eletrônicos deles, impeçam que acessem ao Google ou aplicativos, desativem a internet e vamos ver a inteligência deles. Sem esquecer que o atual conceito de inteligência é a capacidade de sobreviver e adaptar ao mundo que o cerca. Para uma geração dos nem-nem, que não querem estudar nem trabalhar, é difícil imaginar que eles serão nossos futuros líderes. Mesmo porque futuro é algo que eles não projetam, afinal, no mundo das telas, não há tempo ou espaço; apenas o vício de conectar e não sentir o ciclo dia-noite, meses-ano, apenas o agora e a agonia de acessar a rede social, a escravidão do WhatsApp,de superar a fase do game atual ou o do que viralizou no YouTube.
Transtornos de ansiedade severos aparecem a cada dia para essa geração, como temor de desconectar-se mesmo à noite, abstinência de celular levando pânico quando o mesmo é roubado, perdido ou simplesmente esquecido em casa, com sensação de impotência, fraqueza, como se estivesse despido ou perdido em um mundo estranho. Sem contar o transtorno de sentir-se desatualizado quando desliga o celular, nas férias ou fins-de-semana, e mesmo para o almoço ou um lazer mínimo que seja. Quanta agonia,quanta correria e ... Todo mundo insatisfeito! E, na época do descartável, tudo perde a graça rapidamente.
Nas relações afetivas, sempre tem alguém que desejamos apenas por ser de outro, enjoa-se rápido, se quer sempre o que não se tem e desvaloriza-se o que já se conquistou, sem curtir a satisfação, a recompensa, o relaxamento e prazer pós conquista. Trabalho? A rotina, o salário, as pessoas e lá vem o desejo de trocar de emprego, que nunca foi tão frequente, mal criando vínculos afetivos ou ascensão profissional.
Estudar? As relações nas comunidades escolares tornam as escolas, berço de distúrbios comportamentais, fabricantes de transtornos psíquicos que acometem desde professores e alunos até pais e funcionários. E o que dizer das relações entre pais e filhos, das famílias conectadas e individualizadas nas suas insatisfações do dia-a-dia, incapazes de dialogar, sem tempo para trocas afetivas e sem conseguir comunicar-se?
Vale pois um princípio básico, cognitivo, comportamental: relaxamento é o passaporte para o prazer natural. Temos cinco antenas parabólicas que nos desvendam o universo: os cinco órgãos do sentidos ver, ouvir, tocar, cheirar e degustar. E o mundo é tão maior e mais satisfatório para os que têm tempo para perceber esse mundo, experimentá-lo, observá-lo e senti-lo. Mas esse milagre exige que possamos nos desconectar. Afinal, a tela não faz carinho, cafuné, nem tem ombro amigo para oferecer. Apenas o vício e ilusão de um mundo virtual inodoro, sem gosto ou sabor. A decisão é sua...
Eduardo Aquino
O novel teatro do absurdo
Venho, há algum tempo, procurando entender os acontecimentos que estamos vivendo no Brasil e imaginando o que a história dirá a nosso respeito ao final deste primeiro século dos anos 2000. Tenho receio de que passemos à história como um povo “meio doido, meio sem-vergonha, desonesto e convictamente mentiroso”. Uma pena, porque, na verdade, só merecem esses qualificativos os que compõem a minoria alimentada pelas tetas da nação, liderada por analfabetos fanáticos, que exploram a boa-fé dos menos favorecidos, retirando sua dignidade e sua necessidade de trabalho honrado em troca de bolsas e alguns trocados.
São maldosos e pilantras que alimentam a boa-fé do nosso povo com promessas vãs, tentando imprimir em suas atitudes uma espécie de espiritualidade, amparando líderes bêbados e paus-mandados de países que se dizem de esquerda apenas para serem diferentes. Vide o exemplo de Fidel Castro, que vive em sua ilha particular ao estilo Côte d’ Azur, enquanto o povo come o pão que o diabo amassou. Outro podre, com nome de Maduro, “gigola” nosso país para gáudio dessa meia dúzia de mentirosos e ladrões da pátria.
Resolvi, mesmo a contragosto, ver o surrealismo da posse daqueles que se dizem vitoriosos de uma batalha em que todos morreram. Em Minas Gerais, a inovação foi fantástica. O novo governador, não satisfeito com as 21 secretarias de Estado já existentes, nomeou mais seis ou sete secretários sem secretarias. Então, primeiro nomeiam-se os secretários e depois criam-se as secretarias. Fazem um tipo de “grilas” de ministérios ou secretarias e jogam para cima. Quem pegar é dono...
No plano federal, não podem mais nomear ministros, senão inteira 40, o número de ladrões de Ali-Babá. Nós temos um governo de duas cabeças, quatro mãos, quatro pernas e 39 dedos. Mitologicamente, qualquer coisa parecida com a Hidra.
Escutei dois discursos, ambos patéticos. O primeiro, de Dona Dilma, a assaltante, vestida com uma roupa parecida com toalha de altar: “É preciso defender a Petrobras dos inimigos externos e dos predadores internos”. Oh, meu Deus, mas não foi ela quem fez essa lambança que desmoralizou e ferrou o país, quando presidia o Conselho da Petrobras, composto por nove membros, no governo do ex-Luiz, ganhando R$ 87 mil por mês mais o salário de ministra? Dona Dilma sofre de amnésia? Não foi ela, como ministra, que criou uma “empresa de papel” para construir e operar a rede de gasodutos, conforme constatação da ANP, a Gasene, que, de acordo com o TCU, teve custos superfaturados em mais de 1.800%? Ah, me poupe ou me desminta...
Bem, outro discurso foi daquele tal de Gilberto Carvalho (ex-ministro da Secretaria Geral da Presidência), um comunista implicado na morte do prefeito Celso Daniel, de Santo André, até hoje sem solução, por conveniência. Sua Excelência me convenceu de que eu sou o culpado por toda essa desgraceira que está corroendo as entranhas do nosso país. Sendo assim, peço que me desculpem, mas eu não sabia de nada, pô...
Governo e Petrobras encenam tragédia de erros
Temos algumas opções para avaliar as reações do governo em torno dos escândalos de corrupção na Petrobras. A primeira é a de que o governo tenta empurrar o problema com a barriga, na esperança de que o tema faça parte da paisagem e todos se acostumem.
A segunda hipótese é a de que o governo não sabe o que fazer, por isso teme dar um passo adiante e piorar tudo. Além disso, teme que um simples mexer nas peças do tabuleiro possa desencadear novas investigações. Como se, ao abrirmos o armário, caíssem dezenas de esqueletos.
A terceira hipótese é a de que o governo está dividido sobre o que fazer. Caso se leve ao pé da letra o que a presidente Dilma Rousseff disse em sua posse sobre o combate à corrupção, não ficará pedra sobre pedra, e o PT, entre outros partidos, vai sangrar muito. Haverá também gente muito importante sangrando.
Considerando o governo, sua competência política e sua estratégica e, ainda, a fratura em sua base política, onde se inclui o próprio PT, a hipótese mais provável é uma quarta que junta todas as três anteriores.
Vamos à quarta: o governo espera que o tema deixe as páginas principais dos jornais ou seja relegado a espaços menos nobres. Até lá, confia em conseguir juntar sua base política para impor uma estratégia que reduza os danos causados pelos escândalos. Porém, não sabe como fazer isso e tampouco tem competência para tal.
Além do mais, está dividido sobre o que fazer. Teme que mais ex-diretores da Petrobras resolvam confessar outros crimes; assim como teme os acordos de delação premiada e os acordos de leniência que estão a caminho.
Dilma insiste em manter como presidente da empresa Graça Foster, que está completamente desmoralizada. Sobretudo após a acusação do Tribunal de Contas da União de que a estatal criou empresas de fachada com laranjas para operar a construção de gasodutos no Nordeste.
Considerando as opções mencionadas, a reação do governo é equivocada. O certo, neste momento, é demitir toda a diretoria, profissionalizar a escolha e empreender uma ampla limpeza na empresa. O governo comete um grave erro, pois demonstra ser conivente com os malfeitos que ocorreram no interior da maior empresa da América Latina. O entorno político do governo se fecha para ver se o tsunami passa. Mas não vai passar.
O potencial destruidor do caso Petrobras é monumental. E não apenas em nível nacional. Internacionalmente, o tema já está fora de controle. Existe quase uma dezena de ações contra a empresa, além das investigações que correm na Securities and Exchange Commission (SEC) e no Departamento de Justiça dos Estados Unidos.
Todos os conselheiros da Petrobras, inclusive Dilma Rousseff, podem ser investigados e, eventualmente, punidos criminalmente pelo ocorrido. Tempos atrás, quando ainda era ministra da Casa Civil, Dilma disse, em uma declaração à televisão (que circula na internet), que a empresa seguia padrões SOX de legislação anticorrupção.
Fica patente que ela tinha completa noção das consequências de eventuais malfeitos na empresa. Portanto, salvo a proteção diplomática de ser presidente da República do Brasil, tudo conspira a favor de uma punição exemplar para diretores e conselheiros. Imaginem o vexame para o país.
Sem uma reação digna e corajosa, a tragédia de erros vai continuar e pode levar o governo para um beco sem saída.
Murillo de Aragão
Lição sobre fome e dinheiro
Eu lembro quando no Congo eu recebi as diárias, o dinheiro para sobreviver naquele lugar. E eu lembro que eu estava morrendo de fome, e era de tarde já, e não tinha nada para comer na casa. Lembro que eu perguntei: “Não tem nada aí para comer? Estou com muita fome”. E a moça disse: “Teve um ataque ontem, lá no mercado, e não sobrou nada. Não tem nada”. E você se dá conta do valor do dinheiro – um pedaço de papel que é significado puro. E, naquele dia, por exemplo, ele não significava nada. Eu não podia comprar nada com o meu dinheiro. Estava lá, com o dinheiro dentro do bolso e não tinha um grão de arroz para comprar porque não havia paz naquele lugar. E aí você começa a se dar conta de qual é o valor das coisas materiais. Você não come o seu dinheiro. Você não come o seu salário. Há outras coisas ali que têm uma importância e um significado muito maior e que não são coisas físicas. As coisas materiais te dão uma sensação de paz, mas é apenas uma sensação de paz, não é a paz. Não é a saúde, não é a riqueza. É uma sensação de tudo isso. Que pode ser destruída muito rapidamente. Talvez isso tenha ficado mais evidente para mim. Já tinha um significado, mas não tinha essa força que tem hojeDebora Noal, Médicos Sem Fronteiras
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