domingo, 10 de maio de 2020

Medos e esperanças

“Provisoriamente não cantaremos o amor,
que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos.
Cantaremos o medo, que esteriliza os abraços.
Não cantaremos o ódio, porque esse não existe,
existe apenas o medo, nosso pai e
nosso companheiro...”

Carlos Drummond de Andrade

Medo faz parte. Vive-se com medo tantas vezes! É parte da experiência. Vai-se superando. Afinal, notava o Rosa, o que a vida pede é coragem. Dribla aqui, supera-se ali, sabendo sempre ser melhor viver sem a sensação de nó no estômago. Medo é alerta e proteção quando ajuda na sobrevivência. É sofrimento e desagrado quando imobiliza e infelicita. Medo da morte, medos na vida. Medo do dia de amanhã. Medo de não ter amanhã. Medo de não ter o almoço amanhã. Medo de guerra. Medo de desemprego. Medo do novo emprego. Tanto medo oferecido, esgueirando-se, olhando para a gente sem... medo.

Ajeitamos modo de vida para ignorar o medo. Ser mais forte que ele. Deixá-lo de lado. Passarmos ao largo e seguirmos como seres destemidos. Não participaremos do Congresso Internacional do Medo, a que se referia Drummond.


E vem o anúncio de uma pandemia. Isolem-se! Antes, era juntem-se. Agora sussurram: escondam-se! Isolamento é forma cabulosa de esconder-se do vírus. Ou da morte.

O vírus não teme o mundo. Mas o mundo, esse morre de medo da doença. Com razão. Moléstia danada de ruim! Rápida, traiçoeira, fatal milhares de vezes.

Com o isolamento para-se o trabalho, despede-se o emprego, aumenta o medo. Dinheiro encurta, bens diminuem, que será amanhã? Nunca se soube bem, mas o amanhã virou o hoje insabido.

Junte-se a esse escuro de tempo revolto a sombra incômoda de incertezas outras, águas turbulentas a envolver-nos em raios e trovões varando noites de escuro denso.

Tempo de pensar em quem pode legitimamente mostrar-se liderança. As instituições estão trabalhando no Brasil. A bússola constitucional marca a rota democrática a seguir, com ajustes, consensos necessários a se construírem, mas sem se temer carência de valores ou desistência de rumo. Se há um ou outro oco de responsabilidade, há muitos que têm o sentido da direção a se cumprir, de mapas normativos a seguir, compromissos funcionais a honrar.

Medo de qualquer doença é grave. O medo de moléstia institucional é compreensível. Mas não é objetivo. As instituições atuam, cumprem suas atribuições, o barco Brasil não está à deriva, embora as águas estejam tormentosas e o alvorecer tenda a ser ainda turbulento. Até porque o País não é uma ou outra instituição, é o seu povo, com sua história, seus sonhos, sua vontade de construir-se.

Erguemos casas para fechar a porta às incertezas incômodas. Queremos tudo prever para sossegar. Bobagem! O imprevisível é parte do pouco previsível desta vida.

Nossas construções são ilusões de certeza no incerto da vida e o certo (malquisto) da morte. O que virá depois – e haverá, por certo, um depois – desta passagem não será a volta à mesma margem. Terá havido um atravessamento. Se realizamos a travessia ou se levados pela correnteza e chegamos à outra beirada depende de nossa capacidade de fazermos algo com o que nos foi servido à mesa da vida: repleta para alguns; de parca sobrevivência para muitos. Ser atravessado significará outros tempos de incertezas e medos. Fazer a travessia significa enfrentar o medo. Desidratá-lo pelo brilho da esperança. Ela não significa aquietar-se enquanto se espera, senão realizar no esperançar para que de nossos sonhos, agora atropelados, brotem flores brancas de paz, não amarelas e medrosas de guerras. Flores de enfeitamento, não de murchas coroas enlutadas em túmulos de ideias e ideais.

A hora é dura, é grave, é até triste. Por isso mesmo não é tempo de descuidos, de descrenças nos sonhos, de entregas a passados tétricos. O tempo é de cuidados, de fé no ser humano, de pensar no que passou e nos ensinou para experimentar o gosto do futuro, diferente e melhor, mais democrático e mais humano.

Esse futuro que sempre chega. Melhor ou pior. Depende de cada um de nós o que vai ser.

Esperança não diz viver na espera. Não é aquietar, menos ainda acomodar ou ceder. É pelejar na construção. Há que ter mãos para semear acontecências.

Medo é doença. E se esperança não é cura, ajuda muito na força e na saúde do corpo individual, social e institucional. O momento pede cautela e coragem. E agradece com a certeza de que sempre amanhece, mesmo quando trevas não deixam vislumbrar sóis nem antever paz. Sempre clareia na manhã seguinte. Agora, cada qual pode ser apenas uma pequena lanterna. Depois se verá que de tantos pontos clareados neste escuro mal brotado da boca de noite em breu se terá garantido a manutenção da rota e a inteireza do barco chegante com os navegadores sobreviventes. Somos todos apenas isso, sobreviventes. Mas somos os viventes construtores do próximo porto. A tarefa tende a ser árdua. Mas só haverá esse ancoradouro se não desistirmos nem ficarmos à deriva. Há que se lembrar que há sempre um pirata, corsário de desumanidades, pronto a tomar de assalto o navio de desistentes. Mas também há sempre quem prefira seguir na empreitada de descobrir a rota e seguir a trilha, porque em algum lugar há quem espere o chegante para persistir na divina travessia da aventura humana. O poeta tinha razão: navegar é preciso, viver...

Bolsonaro se acha

Apropriar-se do público como se privado fosse não é um delito exclusivo do presidente Jair Bolsonaro. Longe disso. O ex Lula era um expert, a cassada Dilma Rousseff burilou a prática. Mas, como as instituições nada fizeram para colocar freios a essas transgressões, elas ganharam ares de normalidade. Viraram um sonoríssimo “e daí?”.

Hoje, poucos questionam os sucessivos e erráticos recursos da Advocacia-Geral, que entre a União e Bolsonaro prefere defender o presidente-em-chefe, jogando no lixo a Constituição. Reincidiu na farsa do PT, que nesta e em muitas outras searas, só ajuda o bolsonarismo. Aliás, os inimigos dos palanques de 2018 são hoje os grandes aliados. O ódio a Sérgio Moro o uniu a Lula e o medo do impeachment reabriu as portas do governo à barganha do Centrão.

Contra a lei e a obrigatória representação do Estado, o então AGU José Eduardo Cardozo defendeu Dilma no processo de impeachment, abrindo o precedente em que agora Bolsonaro se lambuza. Uma visão legal torta e permissiva que perdoa ambos e esgoela a Carta de 1988.

Cardozo defendia uma causa perdida e sabia disso. A AGU de Bolsonaro, ao contrário, está perdida e não sabe nem mesmo qual é a causa que defende.


Em menos de duas semanas desistiu de recorrer e recorreu do desistido na Suprema Corte em relação à nomeação de Alexandre Ramagem, que o próprio Bolsonaro anulou. Pediu para não entregar a gravação da reunião de ministros requerida como prova no processo de interferência do presidente na Polícia Federal, denunciada por Moro. Depois ajuizou que queria entregar só parte da gravação, como se possível fosse apresentar prova editada. Mais tarde, requisitou sigilo e, sem saída, entregou o chip. Uma atrapalhação que escancara a bagunça explicita do governo.

Gastou munição a torto e a direito para acertar apenas um tiro no alvo. Na verdade, de espoleta.

Na noite de sexta-feira Bolsonaro respirou quando o STJ o desobrigou a apresentar o resultado dos testes para Covid-19 na ação do jornal O Estado de S. Paulo. Vitória estranha para uma afirmação de teste negativo. E de pirro para quem terá de mostrá-los até o final desta semana, quando vence o prazo imposto pela Câmara, com base no parágrafo 2° do Art. 50 da Constituição, sob pena de crime de responsabilidade.

Por enxergar o Estado como seu quintal, Bolsonaro usa publicidade oficial em redes sociais para bater bumbo entre apoiadores, aumentando o puxadinho sempre que sua conveniência dita. Preferencialmente, com mão de obra alheia para tal.

Na sua cruzada contra a civilidade, Bolsonaro impõe constrangimento ao presidente do Supremo em uma extravagante incursão ao STF, transmitida ao vivo em seu perfil na rede social sem autorização prévia do anfitrião, para pregar a reabertura da economia. Isso enquanto seu governo falha feio em financiar os abatidos pela crise.

Os industriais que engrossaram a invasão ao STF reclamam não da reabertura de seus negócios – boa parte deles em pleno funcionamento, visto que no estado de São Paulo, a indústria não parou -, mas da falta de financiamento oficial, do BNDES. O governo que alardeou créditos emergenciais bilionários entregou quase nada. Os bancos públicos e privados exigem tanto que só quem tem dinheiro pode pegar dinheiro. Um absurdo.

Na outra ponta, muitos dos informais com direito aos R$ 600 chegam agora à data da segunda parcela sem terem recebido a primeira. Continuam se aglomerando nas portas das agências da Caixa Econômica sem um centavo e com risco altíssimo de contaminação. Uma crueldade. Para imprimir sua rubrica no dinheiro, Bolsonaro dispensou o uso das plataformas de identificação de vulneráveis disponíveis nos estados e municípios. Se pudesse, teria feito como Donald Trump. Assinaria cada cheque, como se o dinheiro fosse dele e não dos impostos pagos pelos cidadãos.

Como não pode, pratica populismo de raiz, inventando (e acirrando) um antagonismo entre CPF x CNPJ, exposto de forma agressiva e desumana. Diante da pandemia que já matou mais de 10 mil brasileiros, o CPF 435.178.287-9 1se acha o máximo. Promove ato pró-CNPJ e faz chacota do isolamento social, que neste sábado alcançou despudor incomparável com a presepada do churrasco no Palácio do Alvorada.

Pensamento do Dia

Em Auschwitz I, nazistas cremaram 70 mil pessoas

Aflições da Casa-Grande

Há 120 anos, Joaquim Nabuco profetizou: “A escravidão permanecerá por muito tempo como a característica nacional do Brasil”.

Cleonice Gonçalves, 63 anos, foi a primeira vítima do coronavírus no Estado do Rio. Empregada doméstica desde os 13, trabalhava num apartamento no Alto Leblon. A patroa voltou da Itália com sintomas da Covid-19, mas não quis dispensá-la do serviço. Ao contrair a doença, a diarista foi despachada de táxi para Miguel Pereira, a 120 quilômetros dali. Morreu no dia seguinte, num hospital municipal.


O prefeito de Belém, Zenaldo Coutinho, incluiu o trabalho das domésticas entre as “atividades essenciais”. Com isso, faxineiras, lavadeiras, cozinheiras e babás poderão ser convocadas no período de lockdown. Segundo o tucano, a medida beneficiará quem “precisa ter alguém em casa”. A capital do Pará não tem mais vaga nos hospitais, mas os ricos encontraram uma alternativa. Passaram a fretar “UTIs aéreas”, que decolam para São Paulo por até R$ 200 mil.

Há 25 anos, Darcy Ribeiro escreveu que “os brasileiros, orgulhosos de sua tão proclamada como falsa ‘democracia racial’, raramente percebem os profundos abismos que por aqui separam os estratos sociais”. “Os privilegiados simplesmente se isolam numa barreira de indiferença para com a sina dos pobres, cuja miséria repugnante procuram ignorar ou ocultar numa espécie de miopia social que perpetua a alternidade”, afirmou.

O presidente da XP Investimentos, Guilherme Benchimol, declarou que o Brasil “está bem” no combate à pandemia. “O pico da doença já passou quando a gente analisa a classe média, classe média alta. O desafio é que o Brasil é um país com muita comunidade, muita favela, o que acaba dificultando o processo todo”, disse, na terça-feira. O bilionário também se mostrou indiferente ao acirramento da crise política. “Se as reformas estiverem avançando, eu acho que não atrapalha”, resumiu. O flerte da XP com o bolsonarismo é correspondido. No último mês, cinco ministros estrelaram lives da corretora.

Na quinta-feira, o presidente da República liderou uma marcha de lobistas e empresários ao Supremo Tribunal Federal. Com permissão do ministro Dias Toffoli, a comitiva fez comício pelo relaxamento das medidas sanitárias. “A indústria está na UTI”, disse Marco Polo de Mello Lopes, com a sensibilidade de uma Regina Duarte de gravata. “Haverá morte de CNPJs”, emendou Synésio Batista da Costa, que cobra o retorno dos operários às fábricas de brinquedos. Ontem o país ultrapassou a marca de dez mil mortes de CPFs causadas pelo coronavírus.

Patroas, prefeitos, industriais e especuladores renovam traços antigos de certa elite brasileira, que agora vê no capitão um porta-voz de suas aflições. Chutado do Ministério da Saúde, Luiz Henrique Mandetta recorreu a Gilberto Freyre para explicar o barulho contra o isolamento social. “Só quem está gritando é a Casa-Grande, que vê o dinheiro do engenho cair”, disse à “Folha de S.Paulo”. “A Casa-Grande arrumou o quarto dela, a despensa está cheia. Tem o seu próprio hospital. Lamenta muito o que está acontecendo, mas quer saber quando o engenho vai voltar a funcionar”.

Dívida é a única certeza

Países vão ter que se endividar para salvar o emprego e a vida das pessoas
Luis Alberto Moreno, diz presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento

Um presidente indiferente à morte de 10 mil brasileiros

Jair Bolsonaro voltou a dizer no fim de semana que o país vive “uma neurose” com a pandemia do coronavírus e que 70% dos brasileiros serão infectados porque “não tem como”. Ora, haveria como, sim, se o governo que ele encabeça tivesse tomado providências para tal.

Mas para argumentar, digamos que não houvesse. Que fosse verdade que 70% dos povos do mundo obrigatoriamente serão contaminadas. Bolsonaro ainda não entendeu que nenhum sistema de saúde é planejado para atender 70% das pessoas em tão pouco tempo?

Foi o que aconteceu na Itália, Espanha e outros países europeus onde o sistema de saúde entrou em colapso e morreu mais gente do que deveria. É também o que está acontecendo em partes dos Estados Unidos e na maioria dos Estados do Brasil.

Por que as autoridades médicas, não só daqui, tanto falam que é preciso retardar a curva de crescimento do coronavírus? Justamente por isso. Quanto mais devagar ela suba, mais o sistema poderá atender pessoas em hospitais e outras unidades de socorro. E não é só o virus que mata.

O problema de Bolsonaro é um defeito de fabricação? Ele tem neurônios a menos que o impedem de descodificar o que escuta, uma vez que ler ele não gosta? Neurônios podem faltar, é o que se deve concluir por seus atos bizarros e comportamento em geral.

Mas, nesse caso, não se trata disso. Bolsonaro só pensa na reeleição, só se orienta por ela. Todas as suas decisões levam em conta o desejo de obter mais um mandato de quatro anos. Para seu próprio bem e o bem de sua família. E se a Economia estiver mal em 2022, adeus reeleição…

A Economia estará mal em 2022, como de resto em grande parte do mundo. Aqui estará particularmente mal porque o ralo crescimento do ano passado já foi menor do que no ano anterior. Se amasse a vida mais que o poder, Bolsonaro teria se beneficiado da pandemia.

Mesmo governantes que compreenderam com atraso o tamanho da tragédia que se anunciava, viram sua popularidade aumentar quando arregaçaram as mangas e assumiram a liderança do combate ao Covid-19. Bolsonaro, não. Assiste à mortandade de braços cruzados.

Pior: é conivente com ela. Aposta que poderá recuperar apoios que perdeu depois que morrer o último dos brasileiros vulneráveis à doença. É por isso que pergunta: “E daí”. É por isso que convida amigos para um churrasco e depois vai esquiar nas águas do Lago Paranoá.

Enquanto o Congresso e o Supremo Tribunal Federal decretavam luto em memória dos 10 mil mortos pelo Covid-19, o presidente da República divertia-se passeando de jet-ski na companhia de um agente de segurança e observado por um grupo de devotos atrás de selfies.

Não muito distante do lago, acampados nas cercanias da Esplanada dos Ministérios, bolsonaristas recém-chegados de mais uma carreata pela cidade exibiram-se em uma performance em torno de caixões de papelão. Cantaram, dançaram e simularam ressuscitamentos.

Passados 74 dias desde que o primeiro caso de coronavírus no Brasil foi confirmado, o número oficial de mortos pela doença chegou, ontem, a 10.627. Morreram, em média, 196 pessoas por dia depois que aconteceu o primeiro óbito em 16 de março último.

O número de mortos poderá dobrar nos próximos 20 dias, segundo pesquisadores da Universidade de São Paulo. E o de infectados triplicar, batendo a casa dos 400 mil. Só rigorosas e improváveis medidas de isolamento serão capazes de impedir que isso ocorra.

Improváveis porque não há, por enquanto, sinais de que serão adotadas a largo. Em sete Estados, pelo menos, não só faltam leitos para atender à procura. Faltam médicos, enfermeiras, ambulâncias e simples remédios. O confinamento social recua e o vírus avança.

Bolsonaro abusa da sorte ao brincar de beijar boca de cobra. Haverá perigo maior do que beijar a boca de uma cobra venenosa?

Babás fardadas

Era sabido que o ingresso dos militares no governo Jair Bolsonaro, com papel político central e presença em praticamente todas as áreas da administração, seria um marco histórico, para o bem ou para o mal. A narrativa de que os papéis da instituição e de seus integrantes (da ativa ou da reserva) não se confundem já era falsa em tempos de normalidade democrática e sem uma emergência de saúde pública e econômica instalada.

Na atual conjuntura, em que o presidente afronta o bom senso, as regras sanitárias, as decisões judiciais, os Poderes e a própria Constituição dia sim, outro também, sem descansar nem nos fins de semana, a presença dos generais em postos de comando apequena o papel que as Forças Armadas, disciplinadamente, vinham cumprindo desde a redemocratização: o de zelar pela ordem constitucional.

Esses generais se sentiram afrontados por terem sido arrolados como testemunhas num inquérito que investiga se Bolsonaro cometeu graves violações a essa mesma Constituição ao exigir de Sergio Moro controle da Polícia Federal com fins inconfessáveis.

Mas não demonstraram a mesma indignação com esses e outros atos do presidente que, se esperava, iriam aconselhar e guiar, mas que, hoje se vê, apenas adulam, como avôs amorosos que agem com condescendência diante das diabruras de netos levados.


Em plena crise, o Palácio do Planalto se transformou em creche presidencial. A AGU passou a semana dedicada a tirar da cartola toda sorte de recursos para:

1) impedir que Bolsonaro tenha de mostrar à nação seus exames para covid-19, como decidiu a Justiça;

2) impedir que o vídeo de uma reunião do presidente da República e do vice com todos os ministros em meio a uma emergência nacional fosse entregue ao Supremo, e 3) insistir com o STF pela inexplicável (pela ótica republicana) obsessão presidencial em colocar Alexandre Ramagem à frente da Polícia Federal, mesmo depois de já ter nomeado seu preposto para o cargo.

É papel subalterno, que não condiz com uma estrutura de Estado. O advogado-geral deveria ter a independência de dizer ao presidente que certas batalhas são inócuas do ponto de vista jurídico e tóxicas do político. Mas não: Bolsonaro troca as peças de modo a que os novos ocupantes de cargos entendam que ou atendem seus desejos ou estão fora.

O que nos devolve ao triste papel dos generais. Diante das decisões tomadas, eles se verão nos próximos dias em duas circunstâncias constrangedoras, que em nada condizem com os princípios rígidos da hierarquia militar, pautada pela disciplina e pela seriedade.

Além de terem de depor num inquérito e defender Bolsonaro, podem ser expostos aos olhos do País participando de uma reunião ministerial que, segundo relatos dos presentes, mais se assemelhou a um show de horrores, com o presidente vociferando seus caprichos e instando auxiliares e cometerem infrações e ministros batendo boca entre si, xingando integrantes do STF ou afrontando a China.

E o que esses supostos conselheiros fizeram diante dessa cena dantesca, ou quando seu tutelado anunciou que faria churrasco para 30 pessoas quando 10 mil já morreram numa pandemia? Baixam a cabeça, batem continência, juram lealdade a um governo que já se mostrou incapaz de conduzir o País em meio à maior crise da Humanidade em 100 anos.

Não é bonito o retrato histórico dos homens de farda que resultará da associação voluntária com um capitão reformado que, antes de ser escolhido como solução para vencer o PT, era ridicularizado nas mesmas Forças Armadas. Que os senhores generais percebam, antes tarde do que nunca, que não se espera deles que sejam babás. Mas que honrem as medalhas que ostentam no peito.

O mal avança nas sombras

Na calada desta nossa noite em que a dor da pandemia se soma às ameaças do presidente Jair Bolsonaro à democracia, outras áreas correm extremo perigo. Em abril, o desmatamento na Amazônia foi de 406 km2, 64% a mais do que no ano passado, segundo o Deter. Nos quatro primeiros meses, a alta foi de 55,5%. Portarias, MPs, instruções normativas dão forma ao projeto de perdoar grileiros e enfraquecer órgãos ambientais. Terras indígenas são ameaçadas e seus líderes correm riscos. O governo conta com as atenções do país concentradas na crise da saúde para avançar com o projeto de reduzir direitos indígenas e legitimar o ataque ao meio ambiente.

Em mais uma GLO na Amazônia, os militares estão sendo escalados para conter o que tem sido estimulado pelo próprio governo. A operação das Forças Armadas cria uma situação difícil. O Ibama, que já é cerceado, passa a ser subordinado aos militares. Seus quadros técnicos terão que seguir ordens de oficiais que não têm a mesma qualificação e experiência no combate ao desmatamento. Isso num momento em que os servidores que cumprem a lei na fiscalização são punidos. Os que destroem equipamentos, que é a arma mais poderosa para combater o crime, são exonerados.

O ministro Ricardo Salles, enfraquecido, mudou de tática. Agora, trabalha em silêncio. No dia 6 de abril, um despacho do Ministério do Meio Ambiente criou uma ameaça direta à Mata Atlântica. O ato administrativo recomenda ao Ibama e ICMBio que esqueçam a Lei da Mata Atlântica e se guiem pelo Código Florestal, que tem regras mais brandas. Isso na prática cancela multas, desobriga o proprietário de recuperar áreas de proteção permanente e reconhece as propriedades rurais instaladas em áreas de proteção ambiental antes de 2008.

A Lei da Mata Atlântica foi uma conquista de duas décadas de luta no Congresso. Nesse bioma moram 150 milhões de brasileiros e os remanescentes de mata têm sido protegidos principalmente por particulares. Quem preserva ou se esforçou nos últimos anos para cumprir a lei se sente tolo. O que dá certo no Brasil é ser ilegal e esperar pela anistia. O Ministério Público Federal, a SOS Mata Atlântica e a Associação Brasileira dos Membros do Ministério Público do Meio Ambiente entraram com uma Ação Civil Pública contra o despacho de Salles.

A Amazônia é ameaçada diretamente pela MP da Grilagem. A MP 910, em vigor desde dezembro, está para ser votada com várias aberrações. Na primeira versão do projeto, permitia-se regularizar terra ocupada até dezembro de 2018. Na versão mais recente, quem tiver invadido terra até 2014 pode ter título de propriedade. Áreas de até 15 módulos fiscais podem ser regularizadas sem vistoria de campo. Em alguns lugares isso significa até 2.500 hectares. A luta está sendo para reduzir o tamanho da terra que pode ser legalizada sem o poder público conferir. E por fim, a MP estabelece que multa ou qualquer irregularidade não impedem o processo de legalização. Só será impedida a emissão de título de propriedade quando o processo estiver transitado em julgado.

A questão indígena sempre foi tratada com desprezo pelo governo Bolsonaro. Na gestão Sérgio Moro, a Funai foi aparelhada com a nomeação de pessoas totalmente estrangeiras à causa indígena. Nada indica que haverá mudança agora. O Ministério devolveu à Funai 17 processos de demarcação de terras indígenas, alguns já prontos para a homologação. Uma portaria recente da Funai reduziu os poderes do próprio órgão para conter o avanço da grilagem em terras indígenas. Há lideranças sob ameaça, e os criminosos aproveitam a confusão da Covid-19 para praticar seus crimes. No dia 17 de abril foi morto um jovem líder, de 34 anos, Ari Uru-eu-wau-wau, em Rondônia. Ele passou meses sendo ameaçado por grileiros. Ari tinha como foco do seu trabalho denunciar extração ilegal de madeira, ou seja, ele protegia o patrimônio público. Seu corpo foi encontrado na beira da estrada, com sinais de que havia sido arrastado depois de morto. Tinha sangramento na boca e na nuca decorrente de pancada forte na cabeça e a causa da morte foi sangramento agudo. Era pai de dois meninos, de 10 e 14 anos. Nas sombras da pandemia e do ataque de Bolsonaro às instituições, outros perigos rondam o país.

Fábrica Brasil de Mortos


Estamos esperando o quê?

O estado do mundo parece agora constrangedoramente bíblico, de Holofernes a Herodes, do desmazelo de Jó à fuga de Ló (e suas mulheres sem nome), do dilúvio à Besta do apocalipse. E a situação do Brasil está tão louca e desgovernada que, se extraterrestres ou demônios já estiverem entre nós, não será uma notícia particularmente surpreendente. Estamos esperando o quê? Passar isentos, guardar os nossos, e amanhã o quê? Vamos caindo dos nossos sonhos, mas nunca estamos acordados o suficiente? Nego à minha filha o mundo como o louco Domenico, que trancou sua família em casa durante anos a pretexto de protegê-los do fim dos tempos. Quase agradeço à nossa distração, que há cinquenta dias fez indolor o último momento de tantas coisas que, se soubéssemos últimas, nos teria desesperado completamente. Agora vamos nos desesperando aos poucos, enlouquecendo da boa loucura de atentar para o contagioso de cada gesto antes reflexo, vamos reaprendendo com os bichos o faro e as orelhas espetadas quando começam os gritos de uma briga na avenida, e todo dia é uma briga, uma guerra contra pestes visíveis e invisíveis, e o expediente aflito do esconjuro para espantar a morte que fala em comunicados oficiais, surfando a curva sempre mais alta do número de suas vítimas. Nem é mais visto como um pendor romântico pensar em termos de despedida, nem precisamos de encenar um quadro de artista para olhar de repente com melancolia para tudo e nada, com pena dos nossos pequenos mundos temporariamente perdidos. Temporariamente? Ainda pensamos que amanhã vamos reabrir a porta pulando o vão desses dias como apenas um recesso forçado, uma falha restaurável no piso? Ou vamos nos prometer qualquer mudança que, à menor tentação de normalidade, descumpriremos? Ou já estamos trabalhando numa passagem, ainda sem bem atinar como, e o luto alheio é também o nosso, e a vida que vier, para além da nossa vontade, será depois da vida que tínhamos?
Mariana Ianelli

Silêncio de genocídio

As pessoas morrem ao som dos bate-bocas das excelências
Miro Teixeira

Desmatamento avança, enquanto Brasil enfrenta coronavírus

Imagens recentes de satélite mostram que o desmatamento na Amazônia está crescendo em 2020: cerca de 1.202 quilômetros quadrados de floresta foram destruídos entre janeiro e abril, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).

As cifras, divulgadas nesta sexta-feira, representam um acréscimo de mais de 55% em relação ao mesmo período do ano anterior, além de serem as mais altas para os quatro primeiros meses do ano, desde 2015. O fato é especialmente preocupante porque nesse período do ano, de chuvas abundantes, as perdas ambientais são normalmente menores.


A devastação é causada tanto por incêndios florestais quanto por atividades destrutivas ilegais. "Infelizmente, parece que devemos esperar para este ano mais quebras de recordes de incêndios e desflorestamento", antecipa o ativista do Greenpeace Romulo Batista.

O estado do Amazonas tem sido um dos mais atingidos pela covid-19. Num país que se tornou o epicentro da pandemia na América do Sul, computando quase 150 mil casos e mais de 10 mil mortes, grande parte dos recursos nacionais tem ido para o combate ao vírus, o que, segundo os ativistas, implica dar-se menos atenção à desflorestação predatória.

O presidente Jair Bolsonaro tem sido alvo de críticas por seus parcos esforços em defesa de um dos ecossistemas mais diversificados do mundo. No início de maio, ele enviou o Exército para coibir a extração de madeira, agricultura e mineração ilegais, embora ambientalistas insistam que seria mais eficaz apoiar as agências ambientais brasileiras, as quais têm sofrido duros cortes desde o começo do mandato do político populista.

Em 2019, primeiro ano do negador da mudança climática na presidência, 10 mil quilômetros quadrados de mata sucumbiram a incêndios e desflorestamento ilegal, a grande maioria dos quais ocorridos entre maio e outubro. Ativistas do clima afirmam que o pior para o meio ambiente no Brasil ainda está por vir.
Deutsche Welle

O futuro do futuro

Primeiro foi Hobbes, no séc. XVII, falando em uma “assembleia de homens que reduzem suas diversas vontades, por pluralidade de votos, a uma só vontade”. Em seguida Locke, definindo a base teórica do pensamento ocidental contemporâneo, com a compreensão de que “os homens são iguais e independentes.” Depois Rousseau. Pensando a liberdade, na sociedade, inseparável da solidariedade. Com “todos se tornando iguais por convenção e direito” Depois, as ideias iluministas. Com restrição nas prerrogativas do poder. E a história recente da civilização acentuou cada vez mais, o compromisso entre igualdade e participação. Um espírito que, no Brasil, pode ser encontrado mesmo em Proclamação de D. Pedro I (junho de 1822), a favor de “uma independência moderada pela unidade nacional”.


Ocorre que passa o tempo e os problemas vão se acumulando. Com a industrialização, foram articulados em um único sistema econômico regiões que antes se vinculavam sobretudo com o exterior. E passamos a viver uma complexa transição estrutural, com a reacomodação nas relações entre os centros de poder. Tanto de natureza econômica, como política. Grave porque a mudança, naquela opção anterior, não se preocupou, verdadeiramente, com a formação de um mercado interno. Enfraquecendo, consideravelmente, os vínculos de solidariedade entre as distintas regiões do país. Pior é que o processo de modernização hoje em curso, definitivamente, não se ancora na integração das economias regionais. Agravando a concentração de riqueza e renda.


Já vivíamos o esgotamento do ciclo "nacional-desenvolvimentista". E é tempo de buscar novos caminhos. Problema, agora, é que esse mega problema do coronavirus sugere que sair da crise vai corresponder, no fundo, a encontrar uma nova identidade nacional. Primeira questão que se aponta, em um processo assim, é a oposição entre irracionalidade coletiva e racionalidade específica, que constitui a essência do "Dilema do Prisioneiro" de que falava Max Weber. Como os atores exercitam mútuas desconfianças, isso impede, ou limita severamente, a afirmação da vontade coletiva. Uma situação de intensa competição, com instituições ainda não inteiramente consolidadas e regras em constantes mudanças, que leva o país inevitavelmente para a situação de um macro-dilema do prisioneiro. Em que todos, a partir de seus próprios interesses, priorizam o comportamento individualista. Sem ser capazes de produzir estratégias de ação coletiva. O que se opera em níveis diversificados. Nas classes sociais economicamente privilegiadas, que não aceitam aumentar sua contribuição para a superação de desigualdades. Nos cartórios privados, que se esforçarão por manter suas possessões. No corporativismo dos que se preocupam, somente, com a preservação dos seus privilégios.

A Espanha saiu da crise, na morte de Franco e a volta da monarquia, com o “Pacto de Moncloa”. Em que as questões da transição foram definidas democraticamente. Perguntei ao Primeiro-Ministro Adolfo Suarez o que seria mesmo, por dentro. E a resposta dele foi exemplar: “O Pacto foi a negociação do Pacto”. O sentar, na mesma mesa, governo, empresários e trabalhadores. Para definir uma nova pauta para o país. Seria bom que algo assim pudesse acontecer, por aqui, para sairmos de vez dessa crise. Isso é possível? Fernando Pessoa disse ("Sobre Portugal") que “É difícil distinguir se o nosso passado é que é o nosso futuro, ou se o nosso futuro é que é o nosso passado”. Deus queira que seu vaticínio valha só para seu país. E que, no Brasil, ainda sobreviva um resto de esperança.

Um Nobel da Paz póstumo para os profissionais da saúde vítimas do coronavírus?

A Academia dos Prêmios Nobel os concederá este ano mesmo em plena pandemia. O Nobel da Paz já foi outorgado a políticos que nem sempre o mereciam. Por que não dar um Nobel póstumo aos profissionais de saúde que vêm sendo vítimas em todo o mundo da tragédia do coronavírus?

Embora essas enfermeiras e enfermeiros peçam que não sejam vistos como heróis, pois seu trabalho seria sua obrigação, eles estão sendo vítimas em muitos casos da falta de equipamentos nos maltratados sistemas públicos de saúde, que, em muitas partes, como aqui no Brasil, foram saqueados criminalmente pela corrupção política.

Banksy
Há um clamor mundial de empatia e gratidão por esses profissionais, muitos deles já aposentados e que decidiram voltar à linha de frente desta guerra de inimigos invisíveis. As pessoas os aplaudem, cantam para eles e se comovem com suas mortes. Eles, por sua vez, demonstram felicidade toda vez que conseguem salvar uma vida, mesmo que ao custo de pôr em risco a própria.

“Estou com medo, mas estou aqui”, disse uma das enfermeiras italianas, e que acabou perdendo a vida. É como um rio de generosidade por parte desse exército de trabalhadores anônimos que estão sendo protagonistas de uma nova onda de simpatia e admiração mundial. Cenas de sua vida acabam viralizando nas redes sociais, como a de uma enfermeira adormecida na frente de seu computador depois de dias ininterruptos de trabalho. Ou a daqueles –85% mulheres– se despedindo com aplausos no hospital de uma idosa de mais de cem anos que haviam conseguido arrancar da morte.

O mundo que aplaude e ama esses profissionais de saúde descobre que o coronavírus talvez esteja revelando, paradoxalmente, o melhor de nós mesmos. Enquanto enterrarmos os mortos, desenterramos virtudes que estavam adormecidas. Descobrimos uma capacidade de amar que acreditávamos ter perdido, ao mesmo tempo que nos descobrimos mais capazes de observar e apreciar o melhor dos outros.

O vírus pode estar nos curando de nossa frieza e da ganância de possuir, e de nosso esquecimento dos que sofrem dor e solidão. Poderia estar servindo para o reinício da vida com a força e a alegria do primeiro dia da criação e a consciência de que ou se vive de mãos dadas com as outras pessoas ou seremos vítimas da solidão que nos faz viver como mortos.

Descobrimos que talvez não fôssemos tão maus e egoístas como pensávamos. Estamos desenterrando raios de humanidade em um mundo que parecia frio e sem sentimentos. A pandemia nos fez sentir mais próximos em nível mundial, e a vida nos é revelada com maior valor e dignidade.

Se antes do coronavírus dizíamos que o homem era um lobo para os outros, hoje descobrimos que também existem anjos no meio deste pedacinho do universo.

Se o mundo se descobrisse amanhã menos de pedra, menos feroz, com mais desejo de abraços do que de armas, as vidas perdidas não terão sido inúteis. E os vivos não esquecerão que as vítimas foram a semente da paz e da harmonia futura.

Sim, criem esse Nobel da Paz póstumo para os profissionais de saúde que morrem enquanto derramam amor e cuidados com os que agonizam em suas mãos. O poeta italiano Humberto Ungaretti escreveu que “os mortos não fazem barulho à medida que a grama cresce”. Os mortos do coronavírus, vítimas de sua fidelidade ao trabalho de salvar os outros, ressoarão em nossas consciências como um exemplo de vida e generosidade. O mundo não deve esquecê-los.

Seu exemplo está nos limpando do pó do desinteresse pelo que é essencial, tão emaranhados vivíamos em nossa consciência entorpecida. Estão nos ajudando a descobrir que carregávamos tantas vezes o peso de uma vida sem sentido na qual tínhamos matamos o amor.

Talvez esta tragédia que abraça o mundo no medo e na morte nos ajude a nos descobrir mais vivos do que antes diante do silêncio dos caixões enterrados na solidão, sem que ninguém possa umedecê-los com suas lágrimas de dor.

Os nomes desses profissionais, novos anjos deste calvário de dor e morte que nos servem como exemplo, deveriam um dia ser gravados em pedra para lembrar quem os seguir que não há fronteiras entre a vida e a morte quando ambas são vividas com dignidade.

Somente aqueles que caminham como vivos, mas estão mortos por dentro, são incapazes de ter sentimentos de solidariedade nestes momentos de dor e medo mundial. Como o ultra ultradireitista presidente do Brasil, que ainda não foi capaz de expressar sua compaixão pelas vítimas que o coronavírus está amontoando.

Essas pessoas assassinaram dentro delas o mínimo de compaixão que nos identifica como humanos. Delas se poderia dizer como Jesus no Evangelho: “Deixai os mortos enterrarem os seus mortos”. São cadáveres ambulantes que se arrastam fingindo estar vivos. São os adoradores da morte porque viver, no final, lhes infunde terror. A força e a beleza do amor não os alcançam mais.