Hoje, poucos questionam os sucessivos e erráticos recursos da Advocacia-Geral, que entre a União e Bolsonaro prefere defender o presidente-em-chefe, jogando no lixo a Constituição. Reincidiu na farsa do PT, que nesta e em muitas outras searas, só ajuda o bolsonarismo. Aliás, os inimigos dos palanques de 2018 são hoje os grandes aliados. O ódio a Sérgio Moro o uniu a Lula e o medo do impeachment reabriu as portas do governo à barganha do Centrão.
Contra a lei e a obrigatória representação do Estado, o então AGU José Eduardo Cardozo defendeu Dilma no processo de impeachment, abrindo o precedente em que agora Bolsonaro se lambuza. Uma visão legal torta e permissiva que perdoa ambos e esgoela a Carta de 1988.
Cardozo defendia uma causa perdida e sabia disso. A AGU de Bolsonaro, ao contrário, está perdida e não sabe nem mesmo qual é a causa que defende.
Em menos de duas semanas desistiu de recorrer e recorreu do desistido na Suprema Corte em relação à nomeação de Alexandre Ramagem, que o próprio Bolsonaro anulou. Pediu para não entregar a gravação da reunião de ministros requerida como prova no processo de interferência do presidente na Polícia Federal, denunciada por Moro. Depois ajuizou que queria entregar só parte da gravação, como se possível fosse apresentar prova editada. Mais tarde, requisitou sigilo e, sem saída, entregou o chip. Uma atrapalhação que escancara a bagunça explicita do governo.
Gastou munição a torto e a direito para acertar apenas um tiro no alvo. Na verdade, de espoleta.
Na noite de sexta-feira Bolsonaro respirou quando o STJ o desobrigou a apresentar o resultado dos testes para Covid-19 na ação do jornal O Estado de S. Paulo. Vitória estranha para uma afirmação de teste negativo. E de pirro para quem terá de mostrá-los até o final desta semana, quando vence o prazo imposto pela Câmara, com base no parágrafo 2° do Art. 50 da Constituição, sob pena de crime de responsabilidade.
Por enxergar o Estado como seu quintal, Bolsonaro usa publicidade oficial em redes sociais para bater bumbo entre apoiadores, aumentando o puxadinho sempre que sua conveniência dita. Preferencialmente, com mão de obra alheia para tal.
Na sua cruzada contra a civilidade, Bolsonaro impõe constrangimento ao presidente do Supremo em uma extravagante incursão ao STF, transmitida ao vivo em seu perfil na rede social sem autorização prévia do anfitrião, para pregar a reabertura da economia. Isso enquanto seu governo falha feio em financiar os abatidos pela crise.
Os industriais que engrossaram a invasão ao STF reclamam não da reabertura de seus negócios – boa parte deles em pleno funcionamento, visto que no estado de São Paulo, a indústria não parou -, mas da falta de financiamento oficial, do BNDES. O governo que alardeou créditos emergenciais bilionários entregou quase nada. Os bancos públicos e privados exigem tanto que só quem tem dinheiro pode pegar dinheiro. Um absurdo.
Na outra ponta, muitos dos informais com direito aos R$ 600 chegam agora à data da segunda parcela sem terem recebido a primeira. Continuam se aglomerando nas portas das agências da Caixa Econômica sem um centavo e com risco altíssimo de contaminação. Uma crueldade. Para imprimir sua rubrica no dinheiro, Bolsonaro dispensou o uso das plataformas de identificação de vulneráveis disponíveis nos estados e municípios. Se pudesse, teria feito como Donald Trump. Assinaria cada cheque, como se o dinheiro fosse dele e não dos impostos pagos pelos cidadãos.
Como não pode, pratica populismo de raiz, inventando (e acirrando) um antagonismo entre CPF x CNPJ, exposto de forma agressiva e desumana. Diante da pandemia que já matou mais de 10 mil brasileiros, o CPF 435.178.287-9 1se acha o máximo. Promove ato pró-CNPJ e faz chacota do isolamento social, que neste sábado alcançou despudor incomparável com a presepada do churrasco no Palácio do Alvorada.
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