domingo, 13 de abril de 2025
Go home!
É estratégico. O governo (Barack) Obama tirou os olhos da bola e deixou a China tomar toda América do Sul e Central, com sua influência econômica e cultural, fazendo acordos com governos locais de infraestrutura ruim, vigilância e endividamento. O Presidente Trump disse ‘não mais’, vamos recuperar o nosso quintal.
Peter Hegseth, Secretário de defesa
Os americanos que defendem a procriação seletiva
A cidade de Austin, capital do Texas, é um oásis liberal fincado num estado sulista majoritariamente conservador. Sua respeitada universidade também — dois terços dos 52 mil alunos que ali estudam se declaram liberais, e apenas 10% conservadores. Mesmo sem dados específicos sobre o corpo docente da bicentenária instituição, pode-se supor que os mais de 3,2 mil professores de suas 19 faculdades também espelham esse perfil arejado. Daí a estranheza com a realização, num dos 50 prédios do espaçoso campus, de um simpósio bastante exógeno ao saber acadêmico.
O evento anual que atende pelo nome de Natal Conference (ou NatalCon - "Estamos vivendo a maior crise populacional da história da humanidade.
O futuro pertence àqueles que se apresentam"), agora em sua segunda edição, foi divulgado on-line até em português. Ao longo de dois dias da semana passada reuniu “pró-natalistas” dedicados, em princípio, a buscar soluções para estancar e inverter o declínio das taxas de natalidade no mundo. O tema não é novo, vem sendo debatido desde o pico dos anos 1960 por demógrafos, economistas e cientistas de várias vertentes. O “novo”, no caso da NatalCon, é a naturalidade com que organizadores e participantes convergem para promover, senão a eugenia, algo muito próximo dela.
O preço do ingresso individual neste ano foi de US$ 10 mil (quase R$ 60 mil para um fim de semana ) e, mesmo assim, “sujeito à aprovação”, conforme constava da ficha de inscrição. O site da conferência também avisava que os “debates francos e profundos” seriam a portas fechadas, com celulares proibidos, e que haveria algum tipo de filtro dos participantes. Os solteiros receberam pulseiras amarelas indicativas de que procuravam futuras esposas para formar famílias de filhos múltiplos. Graças a uma reportagem da CNN americana, que obteve acesso parcial ao evento, foi fácil constatar o óbvio: a natalidade desejada é somente para brancos. Brancos americanos. Brancos americanos aptos. Brancos americanos aptos e extremistas.
Oradores martelaram mensagens subliminares:
— Isso é uma guerra da civilização, e vamos vencê-la passo a passo.
— Precisamos de mais crianças para nosso futuro.
— Pessoas marginais devem ser mantidas à margem.
— Enquanto a esquerda se preocupa em abrigar gatos, queremos multiplicar o nascimento de bebês.
O marido de uma palestrante em trajes coloniais e touca branca de algodão, com um dos cinco filhos amarrado às costas, queria saber “por que pessoas focadas em alta fertilidade são vistas como esquisitas?”.
Segundo o discurso oficial, a meta política ou ideológica da conferência era uma só: trabalhar para “um mundo em que nossos filhos podem ter a segurança de vir a ter netos”. Faltou explicitar “netos aptos”.
— Não é eugenia, não se trata de esterilizar pessoas inadequadas — garantiu a genitora da touca de algodão alvo.
Ah, bom.
— Poder escolher o melhor entre nossos próprios embriões não é fazer seleção — acrescentou, convicta.
Uma coisa deve ter ficado clara ao final da conferência com toques de cientificismo racial: o almejado aperfeiçoamento de futuras gerações não se destinava a contemplar bem-estar ou melhorias para a população em geral. Dane-se a humanidade.
Por que desperdiçar tempo com um evento de escopo tão limitado, quando comparado ao precipício global cavado por Trump na Casa Branca? Porque a conferência em Austin e o poder em Washington têm dois cordões umbilicais de peso: um é o vice-presidente J.D.Vance, herdeiro natural do movimento Maga (se algum dia Trump sair do poder). Vance é jovem (40 anos), além de celerado e oportunista. Já abraçou publicamente o “natalismo” e nele se embrenhará com afinco se e quando necessário.
O outro é ninguém menos do que Elon Musk, defensor radical do repovoamento seletivo do mundo. A maioria dos seus 13 filhos foi gerada por fertilização in vitro por quatro mulheres (o caçula tem 7 meses de idade), buscando, talvez, o DNA da genialidade. (A exceção é a filha trans Vivian Jenna, de 21 anos, que do pai não quer sequer o sobrenome.) Musk não apenas apoiou e recomendou a realização da conferência, como tem fundos e mundos para multiplicá-la exponencialmente, onde quiser.
Caso, alguma vez, ele tenha lido algo do biólogo e paleontólogo Stephen Jay Gould, deve ter sido com a ajuda da ferramenta Blinkist, a preferida de CEOs e big techs para economizar tempo. Assim, deve ter passado batido por um dos ensinamentos mais bonitos do cientista que amava as espécies:
— Estou menos interessado no peso e nas convoluções do cérebro de Einstein que na quase certeza de que pessoas com talento igual ao dele viveram e morreram em campos de algodão e oficinas exploradoras.
O evento anual que atende pelo nome de Natal Conference (ou NatalCon - "Estamos vivendo a maior crise populacional da história da humanidade.
O futuro pertence àqueles que se apresentam"), agora em sua segunda edição, foi divulgado on-line até em português. Ao longo de dois dias da semana passada reuniu “pró-natalistas” dedicados, em princípio, a buscar soluções para estancar e inverter o declínio das taxas de natalidade no mundo. O tema não é novo, vem sendo debatido desde o pico dos anos 1960 por demógrafos, economistas e cientistas de várias vertentes. O “novo”, no caso da NatalCon, é a naturalidade com que organizadores e participantes convergem para promover, senão a eugenia, algo muito próximo dela.
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Joseph Goebbels, ministro da propaganda hitlerista, e família |
O preço do ingresso individual neste ano foi de US$ 10 mil (quase R$ 60 mil para um fim de semana ) e, mesmo assim, “sujeito à aprovação”, conforme constava da ficha de inscrição. O site da conferência também avisava que os “debates francos e profundos” seriam a portas fechadas, com celulares proibidos, e que haveria algum tipo de filtro dos participantes. Os solteiros receberam pulseiras amarelas indicativas de que procuravam futuras esposas para formar famílias de filhos múltiplos. Graças a uma reportagem da CNN americana, que obteve acesso parcial ao evento, foi fácil constatar o óbvio: a natalidade desejada é somente para brancos. Brancos americanos. Brancos americanos aptos. Brancos americanos aptos e extremistas.
Oradores martelaram mensagens subliminares:
— Isso é uma guerra da civilização, e vamos vencê-la passo a passo.
— Precisamos de mais crianças para nosso futuro.
— Pessoas marginais devem ser mantidas à margem.
— Enquanto a esquerda se preocupa em abrigar gatos, queremos multiplicar o nascimento de bebês.
O marido de uma palestrante em trajes coloniais e touca branca de algodão, com um dos cinco filhos amarrado às costas, queria saber “por que pessoas focadas em alta fertilidade são vistas como esquisitas?”.
Segundo o discurso oficial, a meta política ou ideológica da conferência era uma só: trabalhar para “um mundo em que nossos filhos podem ter a segurança de vir a ter netos”. Faltou explicitar “netos aptos”.
— Não é eugenia, não se trata de esterilizar pessoas inadequadas — garantiu a genitora da touca de algodão alvo.
Ah, bom.
— Poder escolher o melhor entre nossos próprios embriões não é fazer seleção — acrescentou, convicta.
Uma coisa deve ter ficado clara ao final da conferência com toques de cientificismo racial: o almejado aperfeiçoamento de futuras gerações não se destinava a contemplar bem-estar ou melhorias para a população em geral. Dane-se a humanidade.
Por que desperdiçar tempo com um evento de escopo tão limitado, quando comparado ao precipício global cavado por Trump na Casa Branca? Porque a conferência em Austin e o poder em Washington têm dois cordões umbilicais de peso: um é o vice-presidente J.D.Vance, herdeiro natural do movimento Maga (se algum dia Trump sair do poder). Vance é jovem (40 anos), além de celerado e oportunista. Já abraçou publicamente o “natalismo” e nele se embrenhará com afinco se e quando necessário.
O outro é ninguém menos do que Elon Musk, defensor radical do repovoamento seletivo do mundo. A maioria dos seus 13 filhos foi gerada por fertilização in vitro por quatro mulheres (o caçula tem 7 meses de idade), buscando, talvez, o DNA da genialidade. (A exceção é a filha trans Vivian Jenna, de 21 anos, que do pai não quer sequer o sobrenome.) Musk não apenas apoiou e recomendou a realização da conferência, como tem fundos e mundos para multiplicá-la exponencialmente, onde quiser.
Caso, alguma vez, ele tenha lido algo do biólogo e paleontólogo Stephen Jay Gould, deve ter sido com a ajuda da ferramenta Blinkist, a preferida de CEOs e big techs para economizar tempo. Assim, deve ter passado batido por um dos ensinamentos mais bonitos do cientista que amava as espécies:
— Estou menos interessado no peso e nas convoluções do cérebro de Einstein que na quase certeza de que pessoas com talento igual ao dele viveram e morreram em campos de algodão e oficinas exploradoras.
Quarenta anos de uma democracia fundada por ditadores
Planejaram febrilmente o Brasil ia mudar
Congelaram a pátria amada
Botaram as coisas no lugar
Todo mundo, o mundo inteiro
Essa farsa engoliu
O povo se fodeu e o Brasil faliu
Deu errado
Plano furado
Eles não fraquejaram
Prometeram que iam ver
Uma desculpa nova do plano refazer
Refizeram a Constituinte com um grande bacanal
Não rifaram o Brasil porque era ilegal.
“Plano furado”, Ratos de Porão
Era 2009, 24 anos depois da transição democrática, que os pesquisadores do CPDOC/FGV entrevistaram o ex-ministro das Relações Exteriores, Saraiva Guerreiro. O último chanceler do Regime, ou da “Revolução”, como muitos deles falavam em ambientes internos, mostrou seu depoimento e sua memória sobre a transição. Ele diz: “(…) eu não vejo na Nova República, como é chamada, uma quebra propriamente com o passado, mas sim uma busca de refazer tudo de acordo com o que eram ideais do passado que nunca conseguimos efetivar”.
O historiador Tiago Monteiro inicia seu artigo na saudosa Revista de História da Biblioteca Nacional, destacando um ponto central para entendermos o processo de redemocratização: “A eleição de janeiro de 1985, que muitos insistem em apresentar como uma derrota das Forças Armadas, constitui, na verdade, a própria vitória da Revolução de 1964, através da consolidação do processo político brasileiro”. O que nos faz pensar que a democracia inaugurada pela chamada “Nova República” foi fundada por ditadores. Um paradoxo curioso.
A ideia de que o povo nas ruas, que as manifestações pelas diretas já etc. levaram à redemocratização não é confirmada pelos fatos. Até porque, em 25 de abril de 1984, a emenda das Diretas foi derrotada por escassez de deputados. Deste modo, o professor Marcos Napolitano questiona: “Como milhões de pessoas nas ruas não conseguiram derrotar um regime isolado e desprestigiado, nem dobrar seus representantes no Congresso?”
Os militares queriam uma democracia controlada pelas Forças Armadas. O objetivo era manter o poder militar via Estado de direito. O que vemos aqui é o que Maria Celina D’Araújo, Gláucio Soares e Celso Castro chamaram, tendo como objeto a cultura política do período ditatorial brasileiro, de “utopia militar”. Essa utopia “estava claramente fundada na ideia de que os militares eram, naquele momento, superiores aos civis em questões como patriotismo, conhecimento da realidade brasileira e retidão moral”. Para Carlos Fico, a utopia militar trata-se da “crença de que seria possível eliminar quaisquer formas de dissenso (comunismo, ‘subversão, ‘corrupção’) tendo em vista a inserção do Brasil no campo da ‘democracia ociedental cristã’”. De acordo com essa ideologia, o sistema de valores ocidentais só seria “salvo” por meio de uma utópica “democracia militar ocidental”.
No início planejava-se “a constitucionalização do regime, mas não o retorno do país à democracia liberal”. No entanto, quatro fatores prejudicaram esse projeto: a vitória do MDB nas eleições parlamentares de 1974; a crise econômica; o fato do presidente Jimmy Carter iniciar uma política de direitos humanos que não tolerava mais ditaduras no continente; e os assassinatos em quartéis, com as mortes do jornalista Vladimir Herzog e de Manuel Fiel Filho.
Contudo, o projeto militar encontrou uma solução: Tancredo Neves. O candidato civil era “diplomado na ESG e frequentador das reuniões de ex-alunos da instituição”. Tancredo se comprometeu com o projeto de Distensão – então chamado de Abertura – e de não punir nenhum militar envolvido na repressão. Escolheu para ministro generais “esguianos” – formados pela ESG – como os generais Ivan Mendes e Leônidas Gonçalves.
O que ocorreu foi uma transição pelo alto. Talvez por isso, a morte de Tancredo ganhou uma cobertura ampla, que o transformou em um verdadeiro mito pela imprensa que apoiou a ditadura militar. O Fantástico da Rede Globo dedicou quatro horas transformando o presidente eleito em mártir; “claramente representado pelo mito cristão da redenção pela morte do messias”.
Tancredo faleceu em 21 de abril de 1985 e o primeiro presidente civil acabou sendo o seu vice, José Sarney, político vindo da Arena – partido ligado ao regime militar.
Sarney assumiu a posse antes de Tancredo morrer, que só autorizou a cirurgia (que não viria a ter sucesso) ao saber que Sarney seria empossado.
O historiador Jorge Ferreira mostra um episódio emblemático: “O general João Figueiredo, desafeto político de Sarney, negou-se a passar-lhe a faixa presidencial e saiu pela porta dos fundos do Palácio do Planalto. Ninguém parecia perceber e nem se preocupar com o episódio. Os militares, que entraram no Palácio arrombando a porta da frente, saíram sem serem percebidos pela porta dos fundos”.
Desse modo, o povo mais uma vez viu os militares mexerem os pauzinhos e determinarem os rumos da República enquanto assistiam tudo bestializados. Não houve ruptura, apenas a imposição liberal do projeto militar que tem como objetivo central a não participação popular na condução do país.
A frase de Bolsonaro, pronunciada em 2021, perante os militares no Rio de Janeiro descreve o plano militar: “Quem decide se um povo vai viver na democracia ou na ditadura são as suas Forças Armadas. Não tem ditadura onde as Forças Armadas não a apoiam”. Indiretamente, essa frase pode ser interpretada exatamente da maneira pela qual os militares do período pensavam a redemocratização. Uma espécie de tutela, no qual eles decidem o momento de fazer uma intervenção ou não.
Desde 1985, os militares se retiraram da cena política com a certeza de que não iriam ser punidos pelos crimes cometidos entre 1964 e 1985. De certa forma, eles negociaram a transição com civis que fossem próximos do entorno militar ou que pelo menos tivessem um sentido mais conservador. Como bem aponta o historiador Adriano de Freixo, os militares aceitaram perder o protagonismo político, mas não ser controlados pelas forças civis.
Durante o período em que não estiveram no centro do poder político, as diversas tentativas de controle dos civis causaram crises. Por exemplo, no segundo governo FHC (1998-2002), a criação do Ministério da Defesa (MD) foi uma tentativa de fazer um maior controle das forças, algo que sofreu críticas e acabou não sendo bem aceito pelos militares. Depois, durante uma parte da gestão Lula II (2006-2010) e Dilma (2011-2014), iniciou-se as discussões sobre as reformas no ensino militar, com a possibilidade de mudar o currículo e colocar temáticas que fossem mais próximas do debate democrático. A simples menção a mudanças no currículo gerou muitas dificuldades para as gestões petistas. A última tentativa de mudar o pensamento militar autoritário foi com a Comissão da Verdade, algo que não foi aceito pelos militares que se basearam na Lei da Anistia para não mexer naquele antigo passado.
Entretanto, os militares, após um longo período na caserna, aproveitaram a oportunidade que as jornadas de 2013 trouxeram. A crise econômica e política que gerou o golpe de 2016 abriu uma oportunidade para recuperar o protagonismo político. Apesar de não aceitarem e não respeitarem uma figura do “baixo clero” e indisciplinada como Bolsonaro, eles entenderam que era uma possibilidade de ter alguém comandando a Presidência da República que poderia favorecer as suas pautas. Entre as quais estavam um constante aumento de militares nos cargos da administração federal, valorização salarial e aumento do orçamento para as Forças Armadas.
Para além dessas demandas classistas, os militares da alta cúpula que cercaram Jair Bolsonaro, eram formados pela Escola dos Agulhas Negras (Aman) e com a mentalidade autoritária militar desde 1889. Isto é, ancorada nos três pilares que aponta Carlos Fico: o desprezo pela política, a convicção da superioridade dos militares em relação aos civis e a crença de que a sociedade não está preparada para se governar. Logo, entende-se porque o alto escalão das forças estava disposto a fomentar um golpe de Estado no país. Eles são formados para acreditarem que são superiores moralmente na governança do país, e se levarmos em conta que foram eles que negociaram a transição democrática em 1985, em suas cabeças eles estavam apenas fazendo o que era correto para a sociedade, como bons tutores da nação.
Contudo, nessa democracia forjada pelas Forças Armadas, não são elas que determinam as medidas que serão adotadas pelo governo. Dentro do sistema neoliberal brasileiro, quem dita as regras são o mercado financeiro e o agronegócio. E, como nesse sistema a principal responsabilidade do Estado é a segurança, já que a meta é privatizar tudo (educação, saúde etc.), os militares (principalmente no Brasil onde não houve um acerto de contas com os crimes cometidos por eles durante a ditadura) acabam adquirindo um grande protagonismo, ganhando reconhecimento e prestígio perante a população que vê nas Forças Armadas a solução final para combater a violência. O neoliberalismo tornou-se uma espécie de antessala de uma ditadura em nome da segurança.
Uma democracia fundada por ditadores e administrada pelas elites econômicas pode ser chamada de democracia?
Nesse sentido, é importante desconstruir essa noção de que os militares são superiores em relação aos civis. E para tanto, o julgamento sobre a tentativa de golpe de Estado e destruição das instituições democráticas, é um ponto fundamental, posto que, desde 1889, não houve, em nossa história, punições para os militares que fomentaram golpes militares.
Além disso, seria imprescindível, em termos econômicos, compreender que o capitalismo limita a democracia. A cientista política, Ellen M. Wood, é enfática sobre esta questão: “Não existe um capitalismo governado pelo poder popular no qual o desejo das pessoas seja privilegiado aos dos imperativos do ganho e da acumulação e no qual os requisitos da maximização do benefício não ditem as condições mais básicas de vida. O capitalismo é estruturalmente antiético em relação à democracia, em princípio, pela razão histórica mais óbvia: não existiu nunca uma sociedade capitalista na qual não tenha sido atribuído à riqueza um acesso privilegiado ao poder”.
Congelaram a pátria amada
Botaram as coisas no lugar
Todo mundo, o mundo inteiro
Essa farsa engoliu
O povo se fodeu e o Brasil faliu
Deu errado
Plano furado
Eles não fraquejaram
Prometeram que iam ver
Uma desculpa nova do plano refazer
Refizeram a Constituinte com um grande bacanal
Não rifaram o Brasil porque era ilegal.
“Plano furado”, Ratos de Porão
Era 2009, 24 anos depois da transição democrática, que os pesquisadores do CPDOC/FGV entrevistaram o ex-ministro das Relações Exteriores, Saraiva Guerreiro. O último chanceler do Regime, ou da “Revolução”, como muitos deles falavam em ambientes internos, mostrou seu depoimento e sua memória sobre a transição. Ele diz: “(…) eu não vejo na Nova República, como é chamada, uma quebra propriamente com o passado, mas sim uma busca de refazer tudo de acordo com o que eram ideais do passado que nunca conseguimos efetivar”.
O historiador Tiago Monteiro inicia seu artigo na saudosa Revista de História da Biblioteca Nacional, destacando um ponto central para entendermos o processo de redemocratização: “A eleição de janeiro de 1985, que muitos insistem em apresentar como uma derrota das Forças Armadas, constitui, na verdade, a própria vitória da Revolução de 1964, através da consolidação do processo político brasileiro”. O que nos faz pensar que a democracia inaugurada pela chamada “Nova República” foi fundada por ditadores. Um paradoxo curioso.
A ideia de que o povo nas ruas, que as manifestações pelas diretas já etc. levaram à redemocratização não é confirmada pelos fatos. Até porque, em 25 de abril de 1984, a emenda das Diretas foi derrotada por escassez de deputados. Deste modo, o professor Marcos Napolitano questiona: “Como milhões de pessoas nas ruas não conseguiram derrotar um regime isolado e desprestigiado, nem dobrar seus representantes no Congresso?”
Os militares queriam uma democracia controlada pelas Forças Armadas. O objetivo era manter o poder militar via Estado de direito. O que vemos aqui é o que Maria Celina D’Araújo, Gláucio Soares e Celso Castro chamaram, tendo como objeto a cultura política do período ditatorial brasileiro, de “utopia militar”. Essa utopia “estava claramente fundada na ideia de que os militares eram, naquele momento, superiores aos civis em questões como patriotismo, conhecimento da realidade brasileira e retidão moral”. Para Carlos Fico, a utopia militar trata-se da “crença de que seria possível eliminar quaisquer formas de dissenso (comunismo, ‘subversão, ‘corrupção’) tendo em vista a inserção do Brasil no campo da ‘democracia ociedental cristã’”. De acordo com essa ideologia, o sistema de valores ocidentais só seria “salvo” por meio de uma utópica “democracia militar ocidental”.
No início planejava-se “a constitucionalização do regime, mas não o retorno do país à democracia liberal”. No entanto, quatro fatores prejudicaram esse projeto: a vitória do MDB nas eleições parlamentares de 1974; a crise econômica; o fato do presidente Jimmy Carter iniciar uma política de direitos humanos que não tolerava mais ditaduras no continente; e os assassinatos em quartéis, com as mortes do jornalista Vladimir Herzog e de Manuel Fiel Filho.
Contudo, o projeto militar encontrou uma solução: Tancredo Neves. O candidato civil era “diplomado na ESG e frequentador das reuniões de ex-alunos da instituição”. Tancredo se comprometeu com o projeto de Distensão – então chamado de Abertura – e de não punir nenhum militar envolvido na repressão. Escolheu para ministro generais “esguianos” – formados pela ESG – como os generais Ivan Mendes e Leônidas Gonçalves.
O que ocorreu foi uma transição pelo alto. Talvez por isso, a morte de Tancredo ganhou uma cobertura ampla, que o transformou em um verdadeiro mito pela imprensa que apoiou a ditadura militar. O Fantástico da Rede Globo dedicou quatro horas transformando o presidente eleito em mártir; “claramente representado pelo mito cristão da redenção pela morte do messias”.
Tancredo faleceu em 21 de abril de 1985 e o primeiro presidente civil acabou sendo o seu vice, José Sarney, político vindo da Arena – partido ligado ao regime militar.
Sarney assumiu a posse antes de Tancredo morrer, que só autorizou a cirurgia (que não viria a ter sucesso) ao saber que Sarney seria empossado.
O historiador Jorge Ferreira mostra um episódio emblemático: “O general João Figueiredo, desafeto político de Sarney, negou-se a passar-lhe a faixa presidencial e saiu pela porta dos fundos do Palácio do Planalto. Ninguém parecia perceber e nem se preocupar com o episódio. Os militares, que entraram no Palácio arrombando a porta da frente, saíram sem serem percebidos pela porta dos fundos”.
Desse modo, o povo mais uma vez viu os militares mexerem os pauzinhos e determinarem os rumos da República enquanto assistiam tudo bestializados. Não houve ruptura, apenas a imposição liberal do projeto militar que tem como objetivo central a não participação popular na condução do país.
A frase de Bolsonaro, pronunciada em 2021, perante os militares no Rio de Janeiro descreve o plano militar: “Quem decide se um povo vai viver na democracia ou na ditadura são as suas Forças Armadas. Não tem ditadura onde as Forças Armadas não a apoiam”. Indiretamente, essa frase pode ser interpretada exatamente da maneira pela qual os militares do período pensavam a redemocratização. Uma espécie de tutela, no qual eles decidem o momento de fazer uma intervenção ou não.
Desde 1985, os militares se retiraram da cena política com a certeza de que não iriam ser punidos pelos crimes cometidos entre 1964 e 1985. De certa forma, eles negociaram a transição com civis que fossem próximos do entorno militar ou que pelo menos tivessem um sentido mais conservador. Como bem aponta o historiador Adriano de Freixo, os militares aceitaram perder o protagonismo político, mas não ser controlados pelas forças civis.
Durante o período em que não estiveram no centro do poder político, as diversas tentativas de controle dos civis causaram crises. Por exemplo, no segundo governo FHC (1998-2002), a criação do Ministério da Defesa (MD) foi uma tentativa de fazer um maior controle das forças, algo que sofreu críticas e acabou não sendo bem aceito pelos militares. Depois, durante uma parte da gestão Lula II (2006-2010) e Dilma (2011-2014), iniciou-se as discussões sobre as reformas no ensino militar, com a possibilidade de mudar o currículo e colocar temáticas que fossem mais próximas do debate democrático. A simples menção a mudanças no currículo gerou muitas dificuldades para as gestões petistas. A última tentativa de mudar o pensamento militar autoritário foi com a Comissão da Verdade, algo que não foi aceito pelos militares que se basearam na Lei da Anistia para não mexer naquele antigo passado.
Entretanto, os militares, após um longo período na caserna, aproveitaram a oportunidade que as jornadas de 2013 trouxeram. A crise econômica e política que gerou o golpe de 2016 abriu uma oportunidade para recuperar o protagonismo político. Apesar de não aceitarem e não respeitarem uma figura do “baixo clero” e indisciplinada como Bolsonaro, eles entenderam que era uma possibilidade de ter alguém comandando a Presidência da República que poderia favorecer as suas pautas. Entre as quais estavam um constante aumento de militares nos cargos da administração federal, valorização salarial e aumento do orçamento para as Forças Armadas.
Para além dessas demandas classistas, os militares da alta cúpula que cercaram Jair Bolsonaro, eram formados pela Escola dos Agulhas Negras (Aman) e com a mentalidade autoritária militar desde 1889. Isto é, ancorada nos três pilares que aponta Carlos Fico: o desprezo pela política, a convicção da superioridade dos militares em relação aos civis e a crença de que a sociedade não está preparada para se governar. Logo, entende-se porque o alto escalão das forças estava disposto a fomentar um golpe de Estado no país. Eles são formados para acreditarem que são superiores moralmente na governança do país, e se levarmos em conta que foram eles que negociaram a transição democrática em 1985, em suas cabeças eles estavam apenas fazendo o que era correto para a sociedade, como bons tutores da nação.
Contudo, nessa democracia forjada pelas Forças Armadas, não são elas que determinam as medidas que serão adotadas pelo governo. Dentro do sistema neoliberal brasileiro, quem dita as regras são o mercado financeiro e o agronegócio. E, como nesse sistema a principal responsabilidade do Estado é a segurança, já que a meta é privatizar tudo (educação, saúde etc.), os militares (principalmente no Brasil onde não houve um acerto de contas com os crimes cometidos por eles durante a ditadura) acabam adquirindo um grande protagonismo, ganhando reconhecimento e prestígio perante a população que vê nas Forças Armadas a solução final para combater a violência. O neoliberalismo tornou-se uma espécie de antessala de uma ditadura em nome da segurança.
Uma democracia fundada por ditadores e administrada pelas elites econômicas pode ser chamada de democracia?
Nesse sentido, é importante desconstruir essa noção de que os militares são superiores em relação aos civis. E para tanto, o julgamento sobre a tentativa de golpe de Estado e destruição das instituições democráticas, é um ponto fundamental, posto que, desde 1889, não houve, em nossa história, punições para os militares que fomentaram golpes militares.
Além disso, seria imprescindível, em termos econômicos, compreender que o capitalismo limita a democracia. A cientista política, Ellen M. Wood, é enfática sobre esta questão: “Não existe um capitalismo governado pelo poder popular no qual o desejo das pessoas seja privilegiado aos dos imperativos do ganho e da acumulação e no qual os requisitos da maximização do benefício não ditem as condições mais básicas de vida. O capitalismo é estruturalmente antiético em relação à democracia, em princípio, pela razão histórica mais óbvia: não existiu nunca uma sociedade capitalista na qual não tenha sido atribuído à riqueza um acesso privilegiado ao poder”.
Enquanto o povo morria de Covid-19, uma ditadura quase renascia
A denúncia do Procurador-Geral da República, Paulo Gonet, contra o ex-presidente Jair Bolsonaro e mais 36 pessoas envolvidas em um movimento articulado para a promoção de um golpe de Estado no país revela um plano sombrio que vai muito além da simples recusa em aceitar os resultados das eleições de 2022.
O que toda a sociedade brasileira não sabia é que em 2021, enquanto milhares de brasileiros morriam de Covid -19 sem atenção do governo, causando uma enorme dor coletiva, Bolsonaro, com a alta cúpula do governo, já traçava um plano para excluir a possibilidade de honrarmos a memória dos nossos entes queridos nas urnas no ano seguinte.
Enquanto o Brasil registrava números recordes de mortes por Covid-19, o então capitão-presidente e sua cúpula governamental articulavam um golpe para se manter no poder, independentemente da vontade popular. Era a implementação de um projeto sistemático de desestabilização da democracia para que os amantes da tortura e do autoritarismo permanecessem no poder.
Conspiravam enquanto milhares de brasileiros perdiam a vida por negligência do Estado. As famílias choravam seus mortos, Bolsonaro fazia chacotas das mortes e planejava como silenciar o povo e garantir poderes absolutos. Esses dois fatos explicitam o seu desprezo à vida e à democracia. Aliás, um dia ele disse, sem ficar ruborizado, que sua especialidade era a morte. Quanto a isso, não mentiu: mais de 700 mil pessoas morreram vítimas da doença, que se alastrou por conta do negacionismo do governo passado.
Quando Bolsonaro ridicularizou as vítimas imitando uma pessoa sufocada e muitos pensaram que se tratava de sua mera incapacidade mental e de empatia, fez isso porque, segundo a denúncia da PGR, ele e seus comparsas previam o “uso da força”, “dar soco” e “virar a mesa” antes mesmo das eleições. Isso mesmo: queriam calar a nossa voz a qualquer custo.
Enquanto o presidente Lula passou a viajar pelo país ouvindo o sofrimento da população e acreditava no caminho democrático, os golpistas bolsonaristas davam passos para a “execução do plano de permanência no poder, independente do resultado das urnas”. Eles nunca quiseram disputar as eleições constitucionalmente definidas e nem enfrentar a maior limitação para um autoritário na democracia: o poder do povo.
Ao contrário deles, nós acreditamos no poder do povo e na importância da Constituição. Pessoas como o meu pai, perseguido pela ditadura, e tantos outros que sequer tiveram a mesma sorte de estar vivos, enfrentaram o regime militar para termos uma democracia. E é essa democracia que garante aos golpistas, hoje, um devido processo legal e assistência de advogados para se defenderem perante o STF.
Em 2021, governo federal minimizava a gravidade da Covid-19, promovia tratamentos ineficazes e ridicularizava as vítimas. Bolsonaro performava cruelmente para ridicularizar as vítimas da doença. No entanto, a denúncia da PGR mostra que esse comportamento não era apenas fruto de ignorância, mas parte de uma estratégia para deslegitimar o sofrimento alheio e preparar o terreno para medidas autoritárias.
Os brasileiros que sobreviveram à pandemia – e aos anos de desgoverno – tiveram a chance de ir às urnas em 2022 para honrar a memória daqueles que foram vítimas da negligência estatal. Muitos perderam pais, filhos, companheiros e amigos. Essas mortes não foram apenas números; foram vidas interrompidas por um governo que escolheu a omissão e o negacionismo.
Agora, o julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF) não é apenas sobre Bolsonaro e seus aliados golpistas. É sobre o direito de milhares de brasileiros de serem lembrados. É sobre garantir que nenhum governante possa novamente conspirar contra a democracia enquanto o povo sofre.
A Constituição de 1988 garantiu a todos – negros, brancos, pobres, ricos, LGBTQIA+ – o direito de opinar sobre os rumos do país. Mas milhões de brasileiros foram privados desse direito não pela lei, mas pela morte precoce causada pela crueldade e incompetência do governo Bolsonaro.
Hoje, aqueles que sobreviveram têm a obrigação de lutar para que a justiça prevaleça. Não apenas pela condenação dos responsáveis pelo golpe frustrado, mas para que nenhum outro governo ouse novamente brincar com a vida do povo.
O julgamento dos golpistas pelo STF não diz respeito apenas a lados políticos e à defesa da democracia, mas também ao direito que os milhares de brasileiros mortos têm de ser lembrados. É na memória dos pais, mães, filhos, parentes. companheiros, amigos ou vizinhos que hoje dizemos: nós temos amor ao próximo e não deixaremos que ninguém nos cale. Temos a força da memória e da resistência. Ainda estamos aqui.
O que toda a sociedade brasileira não sabia é que em 2021, enquanto milhares de brasileiros morriam de Covid -19 sem atenção do governo, causando uma enorme dor coletiva, Bolsonaro, com a alta cúpula do governo, já traçava um plano para excluir a possibilidade de honrarmos a memória dos nossos entes queridos nas urnas no ano seguinte.
Enquanto o Brasil registrava números recordes de mortes por Covid-19, o então capitão-presidente e sua cúpula governamental articulavam um golpe para se manter no poder, independentemente da vontade popular. Era a implementação de um projeto sistemático de desestabilização da democracia para que os amantes da tortura e do autoritarismo permanecessem no poder.
Conspiravam enquanto milhares de brasileiros perdiam a vida por negligência do Estado. As famílias choravam seus mortos, Bolsonaro fazia chacotas das mortes e planejava como silenciar o povo e garantir poderes absolutos. Esses dois fatos explicitam o seu desprezo à vida e à democracia. Aliás, um dia ele disse, sem ficar ruborizado, que sua especialidade era a morte. Quanto a isso, não mentiu: mais de 700 mil pessoas morreram vítimas da doença, que se alastrou por conta do negacionismo do governo passado.
Quando Bolsonaro ridicularizou as vítimas imitando uma pessoa sufocada e muitos pensaram que se tratava de sua mera incapacidade mental e de empatia, fez isso porque, segundo a denúncia da PGR, ele e seus comparsas previam o “uso da força”, “dar soco” e “virar a mesa” antes mesmo das eleições. Isso mesmo: queriam calar a nossa voz a qualquer custo.
Enquanto o presidente Lula passou a viajar pelo país ouvindo o sofrimento da população e acreditava no caminho democrático, os golpistas bolsonaristas davam passos para a “execução do plano de permanência no poder, independente do resultado das urnas”. Eles nunca quiseram disputar as eleições constitucionalmente definidas e nem enfrentar a maior limitação para um autoritário na democracia: o poder do povo.
Ao contrário deles, nós acreditamos no poder do povo e na importância da Constituição. Pessoas como o meu pai, perseguido pela ditadura, e tantos outros que sequer tiveram a mesma sorte de estar vivos, enfrentaram o regime militar para termos uma democracia. E é essa democracia que garante aos golpistas, hoje, um devido processo legal e assistência de advogados para se defenderem perante o STF.
Em 2021, governo federal minimizava a gravidade da Covid-19, promovia tratamentos ineficazes e ridicularizava as vítimas. Bolsonaro performava cruelmente para ridicularizar as vítimas da doença. No entanto, a denúncia da PGR mostra que esse comportamento não era apenas fruto de ignorância, mas parte de uma estratégia para deslegitimar o sofrimento alheio e preparar o terreno para medidas autoritárias.
Os brasileiros que sobreviveram à pandemia – e aos anos de desgoverno – tiveram a chance de ir às urnas em 2022 para honrar a memória daqueles que foram vítimas da negligência estatal. Muitos perderam pais, filhos, companheiros e amigos. Essas mortes não foram apenas números; foram vidas interrompidas por um governo que escolheu a omissão e o negacionismo.
Agora, o julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF) não é apenas sobre Bolsonaro e seus aliados golpistas. É sobre o direito de milhares de brasileiros de serem lembrados. É sobre garantir que nenhum governante possa novamente conspirar contra a democracia enquanto o povo sofre.
A Constituição de 1988 garantiu a todos – negros, brancos, pobres, ricos, LGBTQIA+ – o direito de opinar sobre os rumos do país. Mas milhões de brasileiros foram privados desse direito não pela lei, mas pela morte precoce causada pela crueldade e incompetência do governo Bolsonaro.
Hoje, aqueles que sobreviveram têm a obrigação de lutar para que a justiça prevaleça. Não apenas pela condenação dos responsáveis pelo golpe frustrado, mas para que nenhum outro governo ouse novamente brincar com a vida do povo.
O julgamento dos golpistas pelo STF não diz respeito apenas a lados políticos e à defesa da democracia, mas também ao direito que os milhares de brasileiros mortos têm de ser lembrados. É na memória dos pais, mães, filhos, parentes. companheiros, amigos ou vizinhos que hoje dizemos: nós temos amor ao próximo e não deixaremos que ninguém nos cale. Temos a força da memória e da resistência. Ainda estamos aqui.
Perto do ponto de não retorno
O Pantanal, vasta planície inundável do Brasil e a maior do mundo, é, atualmente, um dramático epicentro das adversidades climáticas exacerbadas pela ação humana. A região enfrenta secas severas e incêndios descontrolados, fenômenos que espelham não apenas uma crise ambiental local, mas, também, uma perturbação climática de escala global.
Os eventos no Pantanal não são um fenômeno isolado. O planeta testemunha um crescimento alarmante na frequência e na gravidade de eventos climáticos extremos. Tempestades devastadoras e ondas de calor sem precedentes são observadas das Américas à Europa, evidenciando uma crise que desafia fronteiras geográficas e exige atenção internacional.
Essa intensificação dos eventos extremos deve-se à interação das atividades humanas com os delicados sistemas naturais do planeta. A queima de combustíveis fósseis, práticas agrícolas insustentáveis e, crucialmente, o desmatamento e a degradação acelerada, especialmente nas regiões tropicais, contribuem significativamente para este cenário.
As florestas e savanas da Amazônia e do Cerrado são vitais para a regulação hídrica e climática. Ao serem degradadas, comprometem o regime de chuvas e afetam regiões dependentes, como o Pantanal. O desmatamento nesses biomas contribui de forma decisiva para a redução drástica na humidade, que precipita secas e incêndios.
É alarmante constatar que, nas últimas três décadas, o Pantanal sofreu uma redução de 60% da sua superfície de água, segundo os dados do MapBiomas, iniciativa que, desde 2015, analisa o uso do solo nos diversos biomas brasileiros. É um indicativo claro do impacto que as alterações climáticas e a destruição dos ecossistemas têm sobre os ambientes aquáticos e a biodiversidade.
A interligação entre o desmatamento nos biomas vizinhos e a alteração no ciclo de água do Pantanal é um exemplo palpável de como os impactos ambientais são interconectados e amplificados pelas atividades humanas. Secas prolongadas no Pantanal não apenas reduzem a humidade do solo e da vegetação, tornando a área mais propensa a incêndios; também afetam a biodiversidade e a vida das comunidades locais.
Diante deste quadro desafiador, a mitigação emerge como uma necessidade urgente. Reduzir emissões de gases de efeito estufa, promover práticas agrícolas sustentáveis e preservar áreas florestais são medidas essenciais. A colaboração global entre sociedades, governos e organizações é fundamental para desenvolver estratégias de adaptação e mitigação que possam enfrentar uma crise tão iminente quanto escalável.
Compreender a magnitude da crise climática e o papel vital que cada um pode desempenhar na promoção de um futuro mais sustentável é crucial.
Podemos estar muito próximos de “pontos de ruptura” climáticos que, uma vez ultrapassados, podem desencadear mudanças irreversíveis e autoperpetuantes nos sistemas terrestres, tornando a vida significativamente mais difícil e imprevisível para as gerações futuras. Evitar esses pontos críticos significa manter a integridade de ecossistemas vitais, como as florestas tropicais e o gelo polar, cuja destruição poderia desestabilizar o clima global de maneiras que ainda lutamos para compreender completamente.
A adoção de medidas rigorosas de proteção ambiental e a rápida transição para uma economia de baixo carbono são essenciais para mitigar os riscos de ultrapassar esses pontos de não retorno. Agir agora não é apenas uma responsabilidade ética; é uma necessidade pragmática para garantir um futuro sustentável e habitável. A nossa geração tem o dever de reconhecer e responder a estas ameaças com a urgência e seriedade que elas exigem, para assegurar que não comprometemos a capacidade de o nosso planeta sustentar a nossa e as futuras gerações.
Os eventos no Pantanal não são um fenômeno isolado. O planeta testemunha um crescimento alarmante na frequência e na gravidade de eventos climáticos extremos. Tempestades devastadoras e ondas de calor sem precedentes são observadas das Américas à Europa, evidenciando uma crise que desafia fronteiras geográficas e exige atenção internacional.
Essa intensificação dos eventos extremos deve-se à interação das atividades humanas com os delicados sistemas naturais do planeta. A queima de combustíveis fósseis, práticas agrícolas insustentáveis e, crucialmente, o desmatamento e a degradação acelerada, especialmente nas regiões tropicais, contribuem significativamente para este cenário.
As florestas e savanas da Amazônia e do Cerrado são vitais para a regulação hídrica e climática. Ao serem degradadas, comprometem o regime de chuvas e afetam regiões dependentes, como o Pantanal. O desmatamento nesses biomas contribui de forma decisiva para a redução drástica na humidade, que precipita secas e incêndios.
É alarmante constatar que, nas últimas três décadas, o Pantanal sofreu uma redução de 60% da sua superfície de água, segundo os dados do MapBiomas, iniciativa que, desde 2015, analisa o uso do solo nos diversos biomas brasileiros. É um indicativo claro do impacto que as alterações climáticas e a destruição dos ecossistemas têm sobre os ambientes aquáticos e a biodiversidade.
A interligação entre o desmatamento nos biomas vizinhos e a alteração no ciclo de água do Pantanal é um exemplo palpável de como os impactos ambientais são interconectados e amplificados pelas atividades humanas. Secas prolongadas no Pantanal não apenas reduzem a humidade do solo e da vegetação, tornando a área mais propensa a incêndios; também afetam a biodiversidade e a vida das comunidades locais.
Diante deste quadro desafiador, a mitigação emerge como uma necessidade urgente. Reduzir emissões de gases de efeito estufa, promover práticas agrícolas sustentáveis e preservar áreas florestais são medidas essenciais. A colaboração global entre sociedades, governos e organizações é fundamental para desenvolver estratégias de adaptação e mitigação que possam enfrentar uma crise tão iminente quanto escalável.
Compreender a magnitude da crise climática e o papel vital que cada um pode desempenhar na promoção de um futuro mais sustentável é crucial.
Podemos estar muito próximos de “pontos de ruptura” climáticos que, uma vez ultrapassados, podem desencadear mudanças irreversíveis e autoperpetuantes nos sistemas terrestres, tornando a vida significativamente mais difícil e imprevisível para as gerações futuras. Evitar esses pontos críticos significa manter a integridade de ecossistemas vitais, como as florestas tropicais e o gelo polar, cuja destruição poderia desestabilizar o clima global de maneiras que ainda lutamos para compreender completamente.
A adoção de medidas rigorosas de proteção ambiental e a rápida transição para uma economia de baixo carbono são essenciais para mitigar os riscos de ultrapassar esses pontos de não retorno. Agir agora não é apenas uma responsabilidade ética; é uma necessidade pragmática para garantir um futuro sustentável e habitável. A nossa geração tem o dever de reconhecer e responder a estas ameaças com a urgência e seriedade que elas exigem, para assegurar que não comprometemos a capacidade de o nosso planeta sustentar a nossa e as futuras gerações.
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