segunda-feira, 22 de setembro de 2025
Ameaça à democracia
Os EUA estão passando por um processo de putinização.
Garry Kasparov, enxadrista russo e ativista político
Terra global pela dignidade
O planeta atravessa um ponto de ruptura. Em Gaza, no Irã, no Caribe e em tantos outros territórios, o que está em jogo não é apenas geopolítica: é a sobrevivência da dignidade humana.
Em junho de 2025, os Estados Unidos atacaram diretamente as instalações nucleares iranianas em Natanz, Fordow e Isfahan. Bombardeiros B-2 e mísseis Tomahawk foram usados nos bombardeios, que causaram danos sobretudo a estruturas acima do solo. Donald Trump celebrou a operação como “muito bem-sucedida”. O Irã denunciou o ataque como violação do direito internacional, enquanto a ONU e diversos países expressaram preocupação com a escalada e pediram contenção diplomática.
Em junho de 2025, os Estados Unidos atacaram diretamente as instalações nucleares iranianas em Natanz, Fordow e Isfahan. Bombardeiros B-2 e mísseis Tomahawk foram usados nos bombardeios, que causaram danos sobretudo a estruturas acima do solo. Donald Trump celebrou a operação como “muito bem-sucedida”. O Irã denunciou o ataque como violação do direito internacional, enquanto a ONU e diversos países expressaram preocupação com a escalada e pediram contenção diplomática.
![]() |
| Firas Thabet, "Gaznica" |
Enquanto as potências disputam narrativas, Gaza se converte no epicentro da catástrofe. O Ministério da Saúde local fala em quase 63 mil mortos; outras fontes já projetam acima de 64 mil vidas perdidas, com 163 mil feridos. Os números são atualizados diariamente, mas a tragédia real está nos corpos soterrados, nos bairros inteiros apagados, nos hospitais destruídos. Hoje, 94% das unidades de saúde em Gaza estão inoperantes. A ONU confirmou oficialmente a Fome catastrófica (fase 5) no norte do território. Até o fim de setembro, milhares de pessoas podem morrer de inanição.
O Alto Comissário da ONU para Direitos Humanos, Volker Türk, já falou em “matança em massa de civis” e na obstrução deliberada de ajuda vital, apontando para crimes de guerra e possíveis atos de genocídio. A UNICEF declarou diante do Conselho da ONU: “o impensável em Gaza City já começou”. São palavras que não deixam espaço para dúvida: o que vivemos é um genocídio transmitido em tempo real.
No Caribe, outro tabuleiro se acende. Os EUA deslocaram oito navios de guerra, um submarino nuclear, caças F-35 e milhares de soldados para as proximidades da Venezuela, sob o pretexto de combater cartéis. Maduro reagiu mobilizando 15 mil tropas e convocando milícias. O presidente Lula advertiu: a movimentação norte-americana é fonte de instabilidade no continente.
E, é nesse cenário que emerge um exército inesperado: milhões de soldados desarmados. Não marcham com rifles, mas com bandeiras. Não carregam pólvora, mas remédios e pão. Eles se erguem em defesa da Sumud Global Flotilla, que atravessa mares levando esperança a Gaza. Cada barco é um ato de desobediência civil contra o extermínio. Cada rosto na flotilha é a recusa da indiferença.
A Terra Global pela Dignidade não é metáfora. É convocação. É a luta pelo direito à vida, pela proteção da infância, pelo resgate dos pactos do pós-guerra. Se o século XX nos legou o grito do “Nunca mais”, o século XXI não pode aceitar que esse grito seja enterrado sob escombros em Gaza.
O futuro nos julgará não pelo que dissemos, mas pelo que fizermos agora. A Terra Global pela Dignidade já está em marcha — e dela ninguém poderá dizer que não foi avisado.
Flaviano Corrêa
O Alto Comissário da ONU para Direitos Humanos, Volker Türk, já falou em “matança em massa de civis” e na obstrução deliberada de ajuda vital, apontando para crimes de guerra e possíveis atos de genocídio. A UNICEF declarou diante do Conselho da ONU: “o impensável em Gaza City já começou”. São palavras que não deixam espaço para dúvida: o que vivemos é um genocídio transmitido em tempo real.
No Caribe, outro tabuleiro se acende. Os EUA deslocaram oito navios de guerra, um submarino nuclear, caças F-35 e milhares de soldados para as proximidades da Venezuela, sob o pretexto de combater cartéis. Maduro reagiu mobilizando 15 mil tropas e convocando milícias. O presidente Lula advertiu: a movimentação norte-americana é fonte de instabilidade no continente.
E, é nesse cenário que emerge um exército inesperado: milhões de soldados desarmados. Não marcham com rifles, mas com bandeiras. Não carregam pólvora, mas remédios e pão. Eles se erguem em defesa da Sumud Global Flotilla, que atravessa mares levando esperança a Gaza. Cada barco é um ato de desobediência civil contra o extermínio. Cada rosto na flotilha é a recusa da indiferença.
A Terra Global pela Dignidade não é metáfora. É convocação. É a luta pelo direito à vida, pela proteção da infância, pelo resgate dos pactos do pós-guerra. Se o século XX nos legou o grito do “Nunca mais”, o século XXI não pode aceitar que esse grito seja enterrado sob escombros em Gaza.
O futuro nos julgará não pelo que dissemos, mas pelo que fizermos agora. A Terra Global pela Dignidade já está em marcha — e dela ninguém poderá dizer que não foi avisado.
Flaviano Corrêa
Visita à trincheira tropical
O mundo vasto mundo do poeta Drummond ficou pequeno. O intenso fluxo de acontecimentos dá a sensação de que o perto e o longe, assim como o agora e o depois, tudo ocorre no reduzido espaço de tensões e ameaças.
Em poucas semanas, o Brasil testemunhou o julgamento inédito do ex-presidente da República Jair Bolsonaro e membros de suas equipes pelo STF; assistiu ao assassinato do jovem líder conservador americano Charles Kirk, crime hediondo que atenta contra convivência pacífica entre as pessoas, assegurada pelas democracias.
Sobram eventos cujos desdobramentos criam uma atmosfera pesada. Intoxicado, procurei aliviar o peso do cotidiano e, leitor fiel, decidi visitar a obra de Ruy Castro Trincheira Tropical – A Segunda Guerra Mundial no Rio (Ed. Companhia da Letras Leitor, SP – 06/6/2025). Um deleite. Ao tempo em que oferece sólidos conhecimentos, o livro profundamente humano, resulta de uma reconstituição histórica (escrito por jornalista e não, ressalva Ruy, por um historiador) o que significa ter o cenário em primeiro plano, seguido de pessoas que entram e saem, desafiando a habilidade de narrar e tecer esses movimentos. Foram seis anos de muita transpiração para agregar e digerir uma montanha de informações.
No prólogo, o autor define a configuração da “Guerra dos mundos” ao revelar o ideário político que alicerçava as estruturas do poder: “Eram três mundos: o democrático, o comunista e o fascista. Como esferas no espaço, eles se aproximavam ou se repeliam”, modelo vigente no nosso país, assim explicado: “O Brasil ainda não sabia, mas, em 1935, a luta em suas fronteiras entre as três grandes esferas – o fascismo, representado pela Ação Integralista; a democracia, brevemente pela Aliança Nacional Libertadora e o comunismo, pelo Partido Comunista do Brasil – já era a guerra. Pelos oito anos seguintes, o Rio foi o epicentro desse combate. Em 1944, a luta se transferiu para uma gelada cordilheira italiana e envolveu milhares de bravos brasileiros. Mas o epicentro continuou aqui”.
Como “a guerra tomou conta de tudo”, nada escapou à aguda percepção do autor escrita em mais de seiscentas páginas, organizadas em 21 capítulos. A metáfora da trincheira, encravada no trópico, se oferecia aos imigrantes, exilados, refugiados, perseguidos políticos, como uma alternativa para viver longe do inferno europeu, acolhidos, por uma natureza bela, acolhedora e, possivelmente, como uma promessa de renovadas esperanças.
Esta primeira sensação, nela incluída um povo alegre e afetivo, era repassada pelo Rio de Janeiro, cidade cosmopolita e sedutora, capital da República, que revelava as contradições de um país atrasado pelo analfabetismo e por uma pobreza estrutural. Algumas personalidades mundialmente consagradas, como Orson Welles e Waldo Frank (este ciceroneado, por Vinicius de Moraes) conheceram e constataram a realidade do Brasil profundo.
No entanto, a sede do poder era o palco das decisões que geravam fatos, acontecimentos, ditavam rumos e afetavam a vida das pessoas. No Rio, acontecia a segunda guerra mundial, replicando o desenho político e absorvendo os efeitos do conflito não só na política bem como na economia, na cultura e, de forma intensa, em todos os setores da sociedade. Por aqui estiveram e nos deixaram um enorme legado figuras notáveis da inteligência global, vítimas da estupidez totalitária.
No mundo, as ditaduras destruíam as democracias. O ódio organizado foi o prenúncio das ações beligerantes. O nazifascismo confrontava com o comunismo soviético por conta dos impulsos imperialistas. A radicalização era liberticida; nas democracias europeias, as feridas da Primeira Guerra Mundial ainda sangravam; nos EUA, o objetivo estratégico da democracia americana era a prosperidade econômica.
No Brasil, o Presidente Vargas, cercado de militares e civis germanófilos, simpatizava com o nazifascismo, decorrência dos seus pendores autoritários. Dissimulado, manejava as ambiguidades para delas tirar partido. Quando percebeu os claros sinais de derrota do Eixo, apoiou os países aliados sob a liderança americana.
“O Brasil – assinala Ruy Castro – não precisou abrir suas portas para a guerra. Ela entrou sem bater e sem limpar os pés. O torpedeamento dos mercantes provocara mais de novecentas mortes”. De fato, o ataque aos navios da marinha mercante era motivo suficiente para a decisão do chefe da ditadura estadonovista. Não havia alternativa. Ainda assim, o sacrifício de jovens brasileiros nos campos de batalha assegurou ao arraigado pragmatismo de Getulio o financiamento dos EUA para a construção da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), projeto estratégico para o processo de industrialização do país.
Eis aí um grande paradoxo: o Presidente Vargas, chefe de uma ditadura, juntou-se aos aliados para lutar pelas democracias contra as tiranias. O Brasil pagou um preço alto. Nos quatro últimos capítulos do livro, o autor retrata, em páginas realistas e comoventes, a provação dos 25.334 pracinhas da Força Expedicionária Brasileira (FEB) desde o alistamento, treinamento e viagem, ao sangue derramado, especialmente, nas batalhas de Montese e Monte Castelo, em momentos de bravura e heroísmo dos nossos combatentes em condições dramaticamente adversas.
De outra parte, os relatos da fracassada intentona comunista (1935), assim crismada por Assis Chateaubriand, e do fiasco do putsch integralista (1938) demonstram que a violência política esteriliza a concórdia, a tolerância, colocando em campos opostos personagens que viriam a ser, tempos depois, grandes democratas identificados pela consistente pesquisa histórica.
Ao concluir a leitura do primoroso livro, senti um puxão de orelha, uma advertência em relação ao que é ou que pode parecer uma fuga da assustadora realidade com suas misérias e grandezas. Não é o caminho. Não sei se existe e desconfio de que seja possível saber.
No entanto, a história, descrita com engenho e arte pelo jornalista, ensina: a nossa trincheira continua tropical, mestiça, diversa, assim nos brindou a natureza. Nela vicejam dificuldades, oportunidades e desafios. O maior desafio é construir a trincheira democrática. Depende de nós. Em se plantando, dá.
Em poucas semanas, o Brasil testemunhou o julgamento inédito do ex-presidente da República Jair Bolsonaro e membros de suas equipes pelo STF; assistiu ao assassinato do jovem líder conservador americano Charles Kirk, crime hediondo que atenta contra convivência pacífica entre as pessoas, assegurada pelas democracias.
Sobram eventos cujos desdobramentos criam uma atmosfera pesada. Intoxicado, procurei aliviar o peso do cotidiano e, leitor fiel, decidi visitar a obra de Ruy Castro Trincheira Tropical – A Segunda Guerra Mundial no Rio (Ed. Companhia da Letras Leitor, SP – 06/6/2025). Um deleite. Ao tempo em que oferece sólidos conhecimentos, o livro profundamente humano, resulta de uma reconstituição histórica (escrito por jornalista e não, ressalva Ruy, por um historiador) o que significa ter o cenário em primeiro plano, seguido de pessoas que entram e saem, desafiando a habilidade de narrar e tecer esses movimentos. Foram seis anos de muita transpiração para agregar e digerir uma montanha de informações.
No prólogo, o autor define a configuração da “Guerra dos mundos” ao revelar o ideário político que alicerçava as estruturas do poder: “Eram três mundos: o democrático, o comunista e o fascista. Como esferas no espaço, eles se aproximavam ou se repeliam”, modelo vigente no nosso país, assim explicado: “O Brasil ainda não sabia, mas, em 1935, a luta em suas fronteiras entre as três grandes esferas – o fascismo, representado pela Ação Integralista; a democracia, brevemente pela Aliança Nacional Libertadora e o comunismo, pelo Partido Comunista do Brasil – já era a guerra. Pelos oito anos seguintes, o Rio foi o epicentro desse combate. Em 1944, a luta se transferiu para uma gelada cordilheira italiana e envolveu milhares de bravos brasileiros. Mas o epicentro continuou aqui”.
Como “a guerra tomou conta de tudo”, nada escapou à aguda percepção do autor escrita em mais de seiscentas páginas, organizadas em 21 capítulos. A metáfora da trincheira, encravada no trópico, se oferecia aos imigrantes, exilados, refugiados, perseguidos políticos, como uma alternativa para viver longe do inferno europeu, acolhidos, por uma natureza bela, acolhedora e, possivelmente, como uma promessa de renovadas esperanças.
Esta primeira sensação, nela incluída um povo alegre e afetivo, era repassada pelo Rio de Janeiro, cidade cosmopolita e sedutora, capital da República, que revelava as contradições de um país atrasado pelo analfabetismo e por uma pobreza estrutural. Algumas personalidades mundialmente consagradas, como Orson Welles e Waldo Frank (este ciceroneado, por Vinicius de Moraes) conheceram e constataram a realidade do Brasil profundo.
No entanto, a sede do poder era o palco das decisões que geravam fatos, acontecimentos, ditavam rumos e afetavam a vida das pessoas. No Rio, acontecia a segunda guerra mundial, replicando o desenho político e absorvendo os efeitos do conflito não só na política bem como na economia, na cultura e, de forma intensa, em todos os setores da sociedade. Por aqui estiveram e nos deixaram um enorme legado figuras notáveis da inteligência global, vítimas da estupidez totalitária.
No mundo, as ditaduras destruíam as democracias. O ódio organizado foi o prenúncio das ações beligerantes. O nazifascismo confrontava com o comunismo soviético por conta dos impulsos imperialistas. A radicalização era liberticida; nas democracias europeias, as feridas da Primeira Guerra Mundial ainda sangravam; nos EUA, o objetivo estratégico da democracia americana era a prosperidade econômica.
No Brasil, o Presidente Vargas, cercado de militares e civis germanófilos, simpatizava com o nazifascismo, decorrência dos seus pendores autoritários. Dissimulado, manejava as ambiguidades para delas tirar partido. Quando percebeu os claros sinais de derrota do Eixo, apoiou os países aliados sob a liderança americana.
“O Brasil – assinala Ruy Castro – não precisou abrir suas portas para a guerra. Ela entrou sem bater e sem limpar os pés. O torpedeamento dos mercantes provocara mais de novecentas mortes”. De fato, o ataque aos navios da marinha mercante era motivo suficiente para a decisão do chefe da ditadura estadonovista. Não havia alternativa. Ainda assim, o sacrifício de jovens brasileiros nos campos de batalha assegurou ao arraigado pragmatismo de Getulio o financiamento dos EUA para a construção da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), projeto estratégico para o processo de industrialização do país.
Eis aí um grande paradoxo: o Presidente Vargas, chefe de uma ditadura, juntou-se aos aliados para lutar pelas democracias contra as tiranias. O Brasil pagou um preço alto. Nos quatro últimos capítulos do livro, o autor retrata, em páginas realistas e comoventes, a provação dos 25.334 pracinhas da Força Expedicionária Brasileira (FEB) desde o alistamento, treinamento e viagem, ao sangue derramado, especialmente, nas batalhas de Montese e Monte Castelo, em momentos de bravura e heroísmo dos nossos combatentes em condições dramaticamente adversas.
De outra parte, os relatos da fracassada intentona comunista (1935), assim crismada por Assis Chateaubriand, e do fiasco do putsch integralista (1938) demonstram que a violência política esteriliza a concórdia, a tolerância, colocando em campos opostos personagens que viriam a ser, tempos depois, grandes democratas identificados pela consistente pesquisa histórica.
Ao concluir a leitura do primoroso livro, senti um puxão de orelha, uma advertência em relação ao que é ou que pode parecer uma fuga da assustadora realidade com suas misérias e grandezas. Não é o caminho. Não sei se existe e desconfio de que seja possível saber.
No entanto, a história, descrita com engenho e arte pelo jornalista, ensina: a nossa trincheira continua tropical, mestiça, diversa, assim nos brindou a natureza. Nela vicejam dificuldades, oportunidades e desafios. O maior desafio é construir a trincheira democrática. Depende de nós. Em se plantando, dá.
Em ataque à liberdade de expressão, Trump mira em quem ele odeia
Enquanto o presidente dos EUA, Donald Trump, ameaça com uma repressão abrangente às principais instituições de mídia e oponentes políticos, seus assessores e aliados consideram as medidas do governo cruciais para estancar a desinformação e o discurso de ódio que podem levar à violência política. Mas o próprio Trump deixou claro repetidamente nos últimos dias que tem um objetivo diferente. Para ele, não se trata de discurso de ódio, mas de discurso que ele odeia — ou seja, discurso que o critica e ao seu governo.
Ele sugeriu que um grupo de manifestantes que gritaram com ele em um restaurante fosse processado sob as leis que visam a mafiosos. Exigiu que vários comediantes de programas noturnos que zombavam dele fossem retirados do ar. Ameaçou fechar emissoras de televisão que considerasse injustas com ele. Processou o New York Times por supostamente prejudicar sua reputação. E isso foi só na semana passada.
Ao ameaçar tomar medidas governamentais contra aqueles que o irritam, Trump consegue ser surpreendentemente transparente sobre o que o motiva. Ele fala regularmente sobre como jornalistas, comentaristas e atores políticos não deveriam ter "permissão" para serem tão duros com ele. Tendo nomeado um aliado partidário para comandar o FBI, ele reflete abertamente sobre quais críticos políticos gostaria de ver investigados.
Trump não é o único presidente a se irritar com a oposição ou com a cobertura jornalística, nem o primeiro a tentar punir aqueles que o irritaram. Mas, nos tempos modernos, nenhum presidente chegou tão longe no uso de seu poder para pressionar figuras da mídia e oponentes políticos, dizem historiadores.
Ao final de uma semana dominada por um acirrado debate nacional sobre a liberdade de expressão, após o assassinato do ativista conservador Charlie Kirk, Trump resumiu sua opinião na sexta-feira com um comentário que teria sido chocante se feito por qualquer presidente anterior.
—Eles pegam uma ótima história e a transformam em algo ruim — disse ele a repórteres no Salão Oval, referindo-se aos noticiários da rede. — Vejam, eu acho que isso é realmente ilegal.
As explosões do presidente minam as justificativas apresentadas por seus próprios assessores. A secretária de Justiça, Pam Bondi, que inicialmente alegou ter o direito de investigar empresas que se recusaram a imprimir cartazes em memória de Kirk, posteriormente enfatizou que o governo está focado em discursos de ódio que ultrapassam os limites das ameaças de violência. Brendan Carr, presidente da Comissão Federal de Comunicações (FCC), argumentou que muitas emissoras têm um viés progressista e não atendem aos padrões da agência para atender ao interesse público.
Na semana passada, Carr ameaçou impor consequências caso a rede ABC não tomasse medidas contra o apresentador Jimmy Kimmel, de um programa noturno, por seu comentário de que "a gangue MAGA" estava tentando caracterizar o suspeito do assassinato de Kirk "como algo diferente de um deles". O comentário era factualmente incorreto, argumentou o presidente da FCC, e parte de um "esforço conjunto para mentir para o povo americano". A Disney, dona da ABC, concordou e suspendeu o programa de Kimmel.
Mas Trump então deixou claro que tem um objetivo mais amplo e pessoal.
Em uma publicação nas redes sociais, o presidente comemorou a remoção de Kimmel e exigiu que outros dois apresentadores de programas noturnos, Jimmy Fallon e Seth Meyers, tivessem destino semelhante. "Isso deixa Jimmy e Seth, dois completos perdedores, na NBC de Fake News", escreveu o presidente. "A audiência deles também é horrível. Façam isso, NBC!!!"
Thomas Berry, diretor do Centro Robert A. Levy de Estudos Constitucionais do Instituto Cato, de cunho libertário, disse que o presidente refutou efetivamente a tentativa de Carr de sustentar que punir a ABC pela declaração de Kimmel seria uma aplicação justa e neutra das diretrizes da FCC.
"Isso dá continuidade ao padrão de Trump ser o pior inimigo de seus próprios advogados com suas declarações públicas", disse Berry. "Enquanto Carr se concentrou na suposta falsidade da declaração, Trump simplesmente admite que quer que a FCC persiga emissoras que não são amigáveis a ele."
Questionada sobre as justificativas absurdas apresentadas por Trump e funcionários do governo, Abigail Jackson, porta-voz da Casa Branca, disse:
— O presidente Trump é um forte defensor da liberdade de expressão e está certo, as emissoras licenciadas pela FCC há muito tempo são obrigadas a seguir padrões básicos.
Trump volta a ameaçar licenças de transmissão da NBC e ABC por cobertura 'injusta'.
Ela acrescentou que "o governo Biden, na verdade, atacou a liberdade de expressão ao exigir que as empresas de mídia social removessem as postagens dos americanos".
O vice-presidente JD Vance também apontou as alegações de censura apresentadas contra o presidente Joe Biden para defender as ações do governo Trump. "A reclamação da esquerda sobre a 'liberdade de expressão' após os anos Biden não engana ninguém", escreveu ele nas redes sociais na sexta-feira.
O governo Biden instou as empresas de mídia social a impedirem a proliferação do que considerou desinformação sobre a Covid-19. Os republicanos alegaram que isso equivalia a uma coerção inconstitucional para censurar opiniões impopulares, e um juiz emitiu uma liminar, mas a Suprema Corte rejeitou a contestação, alegando que os autores não tinham legitimidade para processar.
Outros presidentes buscaram pressionar as organizações de notícias de maneiras menos expansivas. O presidente Richard Nixon tentou bloquear a publicação dos Documentos do Pentágono, que detalhavam as falhas do governo americano na Guerra do Vietnã, e seus aliados contestaram as licenças das emissoras de televisão de propriedade do editor do Washington Post, cuja cobertura do caso Watergate o enfureceu.
A Casa Branca do presidente George W. Bush excluiu o Times do plano do vice-presidente Dick Cheney de dar um tempo, por desgosto com uma matéria. O governo do presidente Barack Obama conduziu mais investigações de vazamentos do que todos os seus antecessores juntos e certa vez tentou excluir a Fox News de uma entrevista conjunta para repórteres de televisão, apenas para recuar quando outras redes protestaram.
Mas a campanha de Trump contra os meios de comunicação foi muito além da de seus antecessores modernos, tomando forma muito antes do assassinato de Kirk. Mesmo antes de seu último processo contra o Times, ele processou a ABC, a CBS e o The Wall Street Journal. Cortei o financiamento federal para a PBS e a NPR. Ele agiu para desmantelar emissoras governamentais, incluindo a Voz da América, a Rádio Europa Livre/Rádio Liberdade, a Rádio Martí, a Rádio Ásia Livre e a Middle East Broadcasting Networks.
Ele expulsou a Associated Press do grupo de imprensa da Casa Branca porque ela se recusou a chamar o Golfo do México de "Golfo da América". E a Casa Branca assumiu o controle total do grupo de imprensa, determinando quais organizações de notícias teriam permissão para entrar no Salão Oval ou no Força Aérea Um para fazer perguntas, algo que nenhum outro presidente tentou.
A semana passada trouxe mais exemplos. Na segunda-feira, Trump disse que havia pedido a Bondi que considerasse "abrir processos RICO contra" os manifestantes que gritaram com ele no restaurante, referindo-se ao estatuto de extorsão usado para processar a Máfia.
Na terça-feira, Trump explodiu com Jonathan Karl, da ABC News, por perguntar sobre o plano de Bondi de combater o "discurso de ódio". Ela "provavelmente iria atrás de pessoas como você", ele retrucou, "porque você me trata tão injustamente". Quando Karl retomou o assunto no Salão Oval na sexta-feira, Trump o repreendeu novamente.
— Você é culpado, Jon — disse ele.
Durante seu voo de volta de Londres na noite de quinta-feira, Trump disse a repórteres no Air Force One que seu governo deveria restringir as emissoras que transmitissem coberturas excessivamente negativas em relação a ele.
— Eu acho que talvez a licença deles devesse ser retirada — disse ele.
Indagado se realmente achava que os manifestantes do restaurante deveriam ir para a cadeia, ele redobrou a aposta.
— Quando você observa a maneira como eles agiram, a maneira como se comportaram, sim, acho que eles eram uma ameaça — disse o presidente.
Ele sugeriu que um grupo de manifestantes que gritaram com ele em um restaurante fosse processado sob as leis que visam a mafiosos. Exigiu que vários comediantes de programas noturnos que zombavam dele fossem retirados do ar. Ameaçou fechar emissoras de televisão que considerasse injustas com ele. Processou o New York Times por supostamente prejudicar sua reputação. E isso foi só na semana passada.
Ao ameaçar tomar medidas governamentais contra aqueles que o irritam, Trump consegue ser surpreendentemente transparente sobre o que o motiva. Ele fala regularmente sobre como jornalistas, comentaristas e atores políticos não deveriam ter "permissão" para serem tão duros com ele. Tendo nomeado um aliado partidário para comandar o FBI, ele reflete abertamente sobre quais críticos políticos gostaria de ver investigados.
Trump não é o único presidente a se irritar com a oposição ou com a cobertura jornalística, nem o primeiro a tentar punir aqueles que o irritaram. Mas, nos tempos modernos, nenhum presidente chegou tão longe no uso de seu poder para pressionar figuras da mídia e oponentes políticos, dizem historiadores.
Ao final de uma semana dominada por um acirrado debate nacional sobre a liberdade de expressão, após o assassinato do ativista conservador Charlie Kirk, Trump resumiu sua opinião na sexta-feira com um comentário que teria sido chocante se feito por qualquer presidente anterior.
—Eles pegam uma ótima história e a transformam em algo ruim — disse ele a repórteres no Salão Oval, referindo-se aos noticiários da rede. — Vejam, eu acho que isso é realmente ilegal.
As explosões do presidente minam as justificativas apresentadas por seus próprios assessores. A secretária de Justiça, Pam Bondi, que inicialmente alegou ter o direito de investigar empresas que se recusaram a imprimir cartazes em memória de Kirk, posteriormente enfatizou que o governo está focado em discursos de ódio que ultrapassam os limites das ameaças de violência. Brendan Carr, presidente da Comissão Federal de Comunicações (FCC), argumentou que muitas emissoras têm um viés progressista e não atendem aos padrões da agência para atender ao interesse público.
Na semana passada, Carr ameaçou impor consequências caso a rede ABC não tomasse medidas contra o apresentador Jimmy Kimmel, de um programa noturno, por seu comentário de que "a gangue MAGA" estava tentando caracterizar o suspeito do assassinato de Kirk "como algo diferente de um deles". O comentário era factualmente incorreto, argumentou o presidente da FCC, e parte de um "esforço conjunto para mentir para o povo americano". A Disney, dona da ABC, concordou e suspendeu o programa de Kimmel.
Mas Trump então deixou claro que tem um objetivo mais amplo e pessoal.
Em uma publicação nas redes sociais, o presidente comemorou a remoção de Kimmel e exigiu que outros dois apresentadores de programas noturnos, Jimmy Fallon e Seth Meyers, tivessem destino semelhante. "Isso deixa Jimmy e Seth, dois completos perdedores, na NBC de Fake News", escreveu o presidente. "A audiência deles também é horrível. Façam isso, NBC!!!"
Thomas Berry, diretor do Centro Robert A. Levy de Estudos Constitucionais do Instituto Cato, de cunho libertário, disse que o presidente refutou efetivamente a tentativa de Carr de sustentar que punir a ABC pela declaração de Kimmel seria uma aplicação justa e neutra das diretrizes da FCC.
"Isso dá continuidade ao padrão de Trump ser o pior inimigo de seus próprios advogados com suas declarações públicas", disse Berry. "Enquanto Carr se concentrou na suposta falsidade da declaração, Trump simplesmente admite que quer que a FCC persiga emissoras que não são amigáveis a ele."
Questionada sobre as justificativas absurdas apresentadas por Trump e funcionários do governo, Abigail Jackson, porta-voz da Casa Branca, disse:
— O presidente Trump é um forte defensor da liberdade de expressão e está certo, as emissoras licenciadas pela FCC há muito tempo são obrigadas a seguir padrões básicos.
Trump volta a ameaçar licenças de transmissão da NBC e ABC por cobertura 'injusta'.
Ela acrescentou que "o governo Biden, na verdade, atacou a liberdade de expressão ao exigir que as empresas de mídia social removessem as postagens dos americanos".
O vice-presidente JD Vance também apontou as alegações de censura apresentadas contra o presidente Joe Biden para defender as ações do governo Trump. "A reclamação da esquerda sobre a 'liberdade de expressão' após os anos Biden não engana ninguém", escreveu ele nas redes sociais na sexta-feira.
O governo Biden instou as empresas de mídia social a impedirem a proliferação do que considerou desinformação sobre a Covid-19. Os republicanos alegaram que isso equivalia a uma coerção inconstitucional para censurar opiniões impopulares, e um juiz emitiu uma liminar, mas a Suprema Corte rejeitou a contestação, alegando que os autores não tinham legitimidade para processar.
Outros presidentes buscaram pressionar as organizações de notícias de maneiras menos expansivas. O presidente Richard Nixon tentou bloquear a publicação dos Documentos do Pentágono, que detalhavam as falhas do governo americano na Guerra do Vietnã, e seus aliados contestaram as licenças das emissoras de televisão de propriedade do editor do Washington Post, cuja cobertura do caso Watergate o enfureceu.
A Casa Branca do presidente George W. Bush excluiu o Times do plano do vice-presidente Dick Cheney de dar um tempo, por desgosto com uma matéria. O governo do presidente Barack Obama conduziu mais investigações de vazamentos do que todos os seus antecessores juntos e certa vez tentou excluir a Fox News de uma entrevista conjunta para repórteres de televisão, apenas para recuar quando outras redes protestaram.
Mas a campanha de Trump contra os meios de comunicação foi muito além da de seus antecessores modernos, tomando forma muito antes do assassinato de Kirk. Mesmo antes de seu último processo contra o Times, ele processou a ABC, a CBS e o The Wall Street Journal. Cortei o financiamento federal para a PBS e a NPR. Ele agiu para desmantelar emissoras governamentais, incluindo a Voz da América, a Rádio Europa Livre/Rádio Liberdade, a Rádio Martí, a Rádio Ásia Livre e a Middle East Broadcasting Networks.
Ele expulsou a Associated Press do grupo de imprensa da Casa Branca porque ela se recusou a chamar o Golfo do México de "Golfo da América". E a Casa Branca assumiu o controle total do grupo de imprensa, determinando quais organizações de notícias teriam permissão para entrar no Salão Oval ou no Força Aérea Um para fazer perguntas, algo que nenhum outro presidente tentou.
A semana passada trouxe mais exemplos. Na segunda-feira, Trump disse que havia pedido a Bondi que considerasse "abrir processos RICO contra" os manifestantes que gritaram com ele no restaurante, referindo-se ao estatuto de extorsão usado para processar a Máfia.
Na terça-feira, Trump explodiu com Jonathan Karl, da ABC News, por perguntar sobre o plano de Bondi de combater o "discurso de ódio". Ela "provavelmente iria atrás de pessoas como você", ele retrucou, "porque você me trata tão injustamente". Quando Karl retomou o assunto no Salão Oval na sexta-feira, Trump o repreendeu novamente.
— Você é culpado, Jon — disse ele.
Durante seu voo de volta de Londres na noite de quinta-feira, Trump disse a repórteres no Air Force One que seu governo deveria restringir as emissoras que transmitissem coberturas excessivamente negativas em relação a ele.
— Eu acho que talvez a licença deles devesse ser retirada — disse ele.
Indagado se realmente achava que os manifestantes do restaurante deveriam ir para a cadeia, ele redobrou a aposta.
— Quando você observa a maneira como eles agiram, a maneira como se comportaram, sim, acho que eles eram uma ameaça — disse o presidente.
Um silêncio nada inocente
"O eterno silêncio desses espaços infinitos me assusta". O enigmático fragmento dos "Pensamentos", de Pascal, é oportuno a quem queira pautar o silêncio público dos militares sobre o julgamento da trama golpista. Ainda é silente o murmúrio de "página virada". E silêncio tem voz interna. Se majoritário, é um susto com dupla face, tanto para a civilidade como para essa mesma maioria, relutante quanto a um golpe sem carimbo clássico, isto é, sem apoio americano e liderado por um clã miliciano. Foi por um triz.
Aceito esse viés atemorizante, seria também oportuno remontar a Juan Huarte de San Juan, médico e filósofo espanhol do século 16, precursor da psicologia bélica. Para ele, "os homens dotados de notáveis capacidades intelectuais não valem nada no campo militar, porque suas virtudes são perigosas na guerra: de fato, a calma, a retidão, o agir de modo claro, a simplicidade e a misericórdia, na guerra, não só não servem para nada como levam à derrota.
Quem combate não deve ter escrúpulos morais, porque o inimigo não os terá: para isso, não lhe basta a coragem, deve estar igualmente disposto à mentira e à traição" (Mário Perniola em "Disgusti").
Não era uma crítica. Juan Huarte analisava a relação entre disposição de espírito e vocação para uma tarefa específica. Aos combatentes cabia só infligir danos aos inimigos. Em tese, o influxo posterior do humanismo doutrinário nas convenções internacionais deveria matizar a crueldade das matanças.
Mas a continuidade do arcaico espírito de corpo gera um pensamento estratégico qualitativamente diferente na instituição armada.
Isso significa a persistência da ideia de guerra como um processo natural de estabilização das relações de poder, portanto, superior à instabilidade da busca sociopolítica por harmonia. Na essência da cultura militar, ela é a constante que marginaliza ou relativiza os valores de civilidade.
Guerra é, assim, injeção de ódio na veia tanto em tempo de conflito como de paz. Nela, o novo é a tecnologia da morte. Sua razão, sempre velha, repete regras e modelos que aparentam reeducar a instituição. Mas sem visar pessoas concretas, as únicas que podem ser realmente educadas.
Paz também é conceito militar. Em quase dois séculos sem guerra, caso do Exército brasileiro, a paz nacional, regida por indevida pretensão tutelar, tem sido manchada por atentados contra a civilidade: quinze em 135 anos de República.
A ideologia da "guerra sem guerra" extravasa do plano externo para o interno, fomentando o desapreço, de que falava Juan Huarte, pelos valores alheios à caserna.
Daí o golpismo, doença senil das armas, polimorfa e endêmica nas Américas, cujas sequelas aparecem na ruína da política, na deseducação democrática, no deprimente barata-voa das vivandeiras de quartel.
O silêncio militar deixa intacto o contagioso vezo incivil. Rompê-lo com uma fala antigolpista, autorreparadora, seria tão histórico quanto o processo judicial. Um "fiat lux". O princípio espiritual chamado Nação é incompatível com "o país dos trogloditas, que devoram serpentes e carecem do comércio da palavra" (Borges, "El Aleph").
Aceito esse viés atemorizante, seria também oportuno remontar a Juan Huarte de San Juan, médico e filósofo espanhol do século 16, precursor da psicologia bélica. Para ele, "os homens dotados de notáveis capacidades intelectuais não valem nada no campo militar, porque suas virtudes são perigosas na guerra: de fato, a calma, a retidão, o agir de modo claro, a simplicidade e a misericórdia, na guerra, não só não servem para nada como levam à derrota.
Quem combate não deve ter escrúpulos morais, porque o inimigo não os terá: para isso, não lhe basta a coragem, deve estar igualmente disposto à mentira e à traição" (Mário Perniola em "Disgusti").
Não era uma crítica. Juan Huarte analisava a relação entre disposição de espírito e vocação para uma tarefa específica. Aos combatentes cabia só infligir danos aos inimigos. Em tese, o influxo posterior do humanismo doutrinário nas convenções internacionais deveria matizar a crueldade das matanças.
Mas a continuidade do arcaico espírito de corpo gera um pensamento estratégico qualitativamente diferente na instituição armada.
Isso significa a persistência da ideia de guerra como um processo natural de estabilização das relações de poder, portanto, superior à instabilidade da busca sociopolítica por harmonia. Na essência da cultura militar, ela é a constante que marginaliza ou relativiza os valores de civilidade.
Guerra é, assim, injeção de ódio na veia tanto em tempo de conflito como de paz. Nela, o novo é a tecnologia da morte. Sua razão, sempre velha, repete regras e modelos que aparentam reeducar a instituição. Mas sem visar pessoas concretas, as únicas que podem ser realmente educadas.
Paz também é conceito militar. Em quase dois séculos sem guerra, caso do Exército brasileiro, a paz nacional, regida por indevida pretensão tutelar, tem sido manchada por atentados contra a civilidade: quinze em 135 anos de República.
A ideologia da "guerra sem guerra" extravasa do plano externo para o interno, fomentando o desapreço, de que falava Juan Huarte, pelos valores alheios à caserna.
Daí o golpismo, doença senil das armas, polimorfa e endêmica nas Américas, cujas sequelas aparecem na ruína da política, na deseducação democrática, no deprimente barata-voa das vivandeiras de quartel.
O silêncio militar deixa intacto o contagioso vezo incivil. Rompê-lo com uma fala antigolpista, autorreparadora, seria tão histórico quanto o processo judicial. Um "fiat lux". O princípio espiritual chamado Nação é incompatível com "o país dos trogloditas, que devoram serpentes e carecem do comércio da palavra" (Borges, "El Aleph").
Assinar:
Comentários (Atom)

%20-%20Comrade%20Donald%20Trump.jpg?itok=dqgzuvIl)



