quarta-feira, 5 de agosto de 2015

Tá explicado

A persistirem os sintomas, procure um médico...

A sociedade brasileira está emergindo de um longo pesadelo: o lulopetismo. Essa variante tupiniquim de um persistente mal latino-americano, a crença ingênua nas virtudes supostamente benéficas do populismo demagógico e do salvacionismo redentor – ambos irracionais, mas possuindo poderosos efeitos eleitorais –, tinha sido elevada à categoria de doutrina política por um destes gramscianos de academia. Mas revelou-se apenas uma enfermidade passageira, uma espécie de doença da pele, que coça durante certo tempo, mas que acaba sendo combatida quando aplicada a pomada correta: a consciência cidadã.

O lulopetismo foi a nossa doença de pele, que persistiu enquanto as desigualdades sociais foram falsamente identificadas a supostas “falhas de mercado” ou a maldades do “neoliberalismo”, duas “deformações do capitalismo” que poderiam ser superadas com “distribuição de renda” e políticas sociais “inclusivas”. Foi assim que mergulhamos na década e meia de medidas em prol da desconcentração de renda e da correção das tais “falhas de mercado”, pelas mãos (e pés) de um Estado comprometido com a “justiça social”. Os verdadeiros efeitos só se tornaram explícitos depois da aplicação dos exercícios de engenharia econômica, a tal de “nova matriz econômica”, com o seu séquito de consequências devastadoras.


Os historiadores podem até chamar estes anos negros do lulopetismo de A Grande Recessão, que se reflete no recuo geral dos indicadores – estagnação ou crescimento negativo, alta da inflação, do desemprego, déficits ampliados, dívida acrescida, perda da competitividade externa e interna, forte desvalorização cambial, desinvestimentos –, mas o fato é que o declínio econômico está apenas começando. Teremos pela frente anos de penoso reajuste para voltar a uma situação parecida com a que vivíamos na segunda metade dos anos 1990, ou no início dos 1980. Tais são os efeitos catastróficos dos anos equivocados do lulopetismo econômico.

Não se pode descartar uma longa fase difícil na economia, uma experiência poucas vezes registrada no País, que conheceu taxas de crescimento relativamente satisfatórias, a despeito dos anos de crise e de aceleração inflacionária, das trocas de moedas e dos “voos de galinha”, depois de tentativas mal conduzidas de estabilização. Que ocorra agora uma Grande Recessão, essa é uma marca histórica que ficará para sempre identificada com a esquizofrenia econômica do lulopetismo, um produto legítimo dos aprendizes de feiticeiros que pretendiam corrigir as falhas de mercado por meio de unguentos e poções mágicas e que só revelaram a extraordinária ingenuidade (ou seria estupidez?) destes que eu chamo de “keynesianos de botequim”.

O que ocorreu, na verdade, desde os primeiros anos, ditos gloriosos, do lulopetismo foi uma Grande Destruição, um desmantelamento geral das instituições, da organização política e da ética pública. Ela começou pelo aparelhamento das agências públicas, dos ministérios (com a possível exceção do Itamaraty), dos demais órgãos de Estado, pelos “servidores” do partido neobolchevique, não exatamente os gramscianos de academia, mas os militantes obedientes e disciplinados do partido leninista, que repetem de forma canina os ditames do comitê central e que pagam o dízimo mensal costumeiro, assim como uma boa parcela (30%?) dos subsídios associados aos cargos ganhos na máquina do Estado.

A Grande Destruição seguiu pelo ativismo das “políticas públicas”, estendendo-se em todas as dimensões da vida nacional, criando uma clientela de beneficiários planejados – o curral eleitoral do Bolsa Família – e uma outra de ricos beneficiários mais planejados ainda. Quem são os financiadores do partido hegemônico? São os industriais e banqueiros, pagadores compulsórios de “doações legais ao partido”, com parte das rendas asseguradas pela mesma máquina do Estado: empréstimos generosos do BNDES, proteção tarifária, linhas de crédito consignado, juros da dívida pública e várias prebendas setoriais.

Tudo isso se refletiu no crescimento dos gastos do Estado além e acima do crescimento do PIB e da produtividade, excedendo a capacidade contributiva do setor produtivo da economia – daí o esforço crescente de extração fiscal pela Receita Federal –, tudo em detrimento dos investimentos produtivos. Não há dúvida quanto a isto: a Grande Recessão, que está recém começando, foi precedida pela grande devastação efetuada pelo lulopetismo econômico. E não se enganem: o pior ainda está por vir.

É por isso que eu chamo o período lulopetista de A Grande Destruição, um mal de pele que se incrustou em todos os poros da sociedade brasileira. Esta se deu conta, finalmente, das fontes do mal e se prepara para expulsar pelas vias legais os sabotadores da economia e os fraudadores da moralidade. As causas do mal de pele já foram identificadas; as prescrições estão a caminho, e esperamos que rapidamente.

Mas, a persistirem os sintomas do mal, recorra-se aos cuidados de um médico. Os bons médicos, nas democracias, costumam receitar a cura constitucional: na hipótese de mal crônico, a prescrição é sempre a via eleitoral. Em caso de ataques agudos, ou de câncer ameaçando metástase – como um procurador já alertou –, a solução tem de ser mais drástica, para extirpar o mal em toda a sua extensão. Nestes casos, o Congresso e os tribunais superiores são chamados a operar o paciente. Depois, no pós-operatório, economistas sensatos costumam ser bons enfermeiros, desde que eles não tenham sido contaminados pelo keynesianismo de botequim que sempre caracterizou os economistas aloprados do lulopetismo. Adiante, minha gente, mais um pouco e acabamos com a coceira...

Nem 'ufanismo' nem catastrofismo

Quem tem acompanhado de perto como jornalista as sucessivas crises políticas no Brasil, desde o suicídio do presidente Getúlio Vargas há 60 anos, conhece bem a extraordinária capacidade brasileiras de improvisar soluções para os perigosos conflitos de poder que tumultuam a tranquilidade pública. Mas esses conflitos políticos sempre têm um fundo econômico e não há soluções reais e duradouras sem que se reconcilie o político com o econômico. É o caso da crise enfrentada pelo Governo da presidenta Dilma Rousseff, cujo entorno político (uma aliança de partidos, encabeçada pelo Partido dos Trabalhadores, PT) carece de coesão e, portanto, de poder de decisão política.


A crise atual foi crescendo rapidamente porque o Governo Rousseff não conseguiu apoios no Congresso para cortar gastos com a austeridade necessária para convencer o mundo financeiro de que o Brasil tem seu endividamento sob controle. Alguns comentaristas já consideram que o Brasil está a caminho de ser uma nova Grécia, sempre evitando as medidas necessárias para que sua dívida não cresça mais rápido do que seu produto nacional. Embora o Brasil tenha uma economia dez vezes maior do que a da Grécia, o pagamento das taxas de juros da dívida requer bilhões de dólares anuais e isso exige poupança fiscal de mais de 3% do produto para que a dívida não aumente. A redução, na semana passada, da meta de poupança fiscal do Governo federal para menos de um terço desse valor foi um sinal de alarme de que a política austera está em perigo. O motivo dado para afrouxar a meta é que a recessão econômica vivida pelo Brasil produziu um encolhimento violento nas receitas com impostos, que são a renda do Governo. “O realismo se impôs”, disse Nelson Barbosa, o ministro do Planejamento.

Como consequência, o Governo de Rousseff, já debilitado pelas revelações da justiça sobre a corrupção multimilionária no escândalo da Petrobras, que se estende do Congresso até os empresários dos contratos mais importantes do Brasil, vive de sobressalto em sobressalto sem saber com quem contar para afirmar sua governança. Faltam três anos para completar o período presidencial e o desconcerto é geral. Estende-se a todos os setores políticos. Figuras emblemáticas da esquerda, como Frei Beto (Carlos Alberto Libânio), que foi fundador do PT e assessor político do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, dizem que a única salvação do Governo de Rousseff é “regressar aos braços dos movimentos sociais”. Mas como conseguir isso com uma política econômica que exige sacrifícios e contenção de gastos? Além do mais, as pesquisas de opinião mostram que a aprovação do Governo de Rousseff baixou para menos de 10%. Essa avaliação reflete um espírito de protesto e desencanto que beira a indignação. As ruas não estão com Rousseff nem com Lula.

A crise econômica não golpeia somente quem tem pouca renda. É de todo o eleitorado de 140 milhões de brasileiros, em sua maioria jovens que aspiram a oportunidades sem segmentações de classe. O desemprego é crescente, chegando a mais de 8% da força de trabalho, e a inflação corrompe todos os orçamentos familiares. A venda de automóveis e eletrodomésticos afundou, como também o valor das propriedades residenciais. Isso é bem o contrário do que o PT prometeu quando lançou seu projeto de poder com a promoção do consumo a crédito barato no Governo Lula, que aspira a ser novamente presidente em 2018, depois de Rousseff.

Quando Rousseff iniciou seu segundo mandato, depois de uma vitória apertada nas eleições presidenciais de 2014, já havia competentes analistas financeiros, como Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central, indicando que era preciso mudar a política econômica para equilibrar as contas fiscais deficitárias, reduzir pressões inflacionárias e recuperar a confiança dos investidores privados, nacionais e estrangeiros, dos quais o Brasil depende para seu desenvolvimento. Como candidata, Rousseff rejeitou esses conselhos, que qualificou de “entreguistas” e “neoliberais”, com intenções ocultas de privatizar empresas estatais como a Petrobras e reduzir benefícios sociais dos mais pobres. Foi uma boa estratégia política, pois os eleitores dos Estados mais pobres do Nordeste proporcionaram a margem de vitória com a qual Rousseff se reelegeu, apesar de perder em todos os Estados mais desenvolvidos do Sul e do Centro, menos Minas Gerais e Rio de Janeiro. Como presidenta, no entanto, Rousseff se desfez rapidamente da equipe econômica dirigida pelo ministro da Fazenda Guido Mantega (um desenvolvimentista de gastos não financiados) e mudou sua política econômica em 180 graus. Nomeou uma nova equipe encabeçada por Joaquim Levy, de tendências ortodoxas, cortando gastos e impondo certa austeridade. Essa política econômica é o que agora está à prova no mundo político, onde as duas casas legislativas estão dirigidas por líderes do Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), antes aliado do PT, mas agora exigindo sua independência. A oposição, encabeçada pelo Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), também está dividida, com alguns pedindo o impeachment de Rousseff e outros, o desgaste a fogo lento do PT pelos seus erros. O desenlace dessa crise não tem, como em tempos passados, uma intervenção das forças armadas, onde a alta oficialidade não tem interesse em ser árbitro. O mais provável é que uma coalizão de governadores dos 26 Estados (e o Distrito Federal) do Brasil organize um plano de apoio para a governança de Rousseff com garantias de continuar recebendo sua parcela de transferência de recursos do Tesouro Nacional.

O Brasil vive tradicionalmente ciclos emocionais: do ufanismo, uma autoestima fantasiosa de sua grandeza, ao (quando a realidade é adversa) catastrofismo, um pessimismo exagerado sobre os defeitos inerentes a uma sociedade em metamorfose. O que falta é racionalismo, com menos emoção e mais coerência com as possibilidades reais de ser uma grande nação. Essa novela brasileira está vivendo um novo capítulo, e como todo bom drama o desenlace só será conhecido no final.

Não faltam suspeitos

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Sem medo de ser feliz


Talvez por uma visão distorcida da lealdade ideológica, a militância petista vinha resistindo, obsessivamente, a encarar os fatos. De uma couraça impermeável, preferia acreditar nas palavras de seus dirigentes, na versão fantasiosa de que a Operação Lava-Jato era uma trama golpista impetrada por uma direita ávida em destruir as “conquistas sociais” promovidas pelos governos petistas.

Através de um mecanismo mental difícil de entender, justificava o injustificável. Fechava os olhos diante da realidade para dar sobrevida à sua utopia. Nesse contorcionismo, Delúbio Soares, João Vacari e José Dirceu foram saudados como heróis, como cumpridores de uma missão partidária.

A argamassa dessa (im)postura era a de que tudo fora feito pelo bem de uma causa nobre e generosa, como se isso representasse uma licença para roubar. Em nome do sujeito coletivo, os quadros petistas estavam previamente autorizados a praticar toda sorte de barbaridade.

Registre-se: quem, ao longo do tempo, ousou discordar desse padrão ético simplesmente foi esvurmado, pois, diziam, “não há razão contra o partido”.

Assim a base do PT aceitou pacificamente a tese fantasiosa da cúpula e dos governos petistas, segundo a qual a culpa da roubalheira, do assalto aos cofres públicos, é do modelo político, terceirizando as falcatruas praticadas. A base petista não apenas legitimou as ações de sua cúpula. Foi além. Utilizou esse truque na disputa presidencial e nas redes sociais, agora, com o objetivo de desqualificar a Polícia Federal, o juiz Sérgio Moro e o Ministério Público.

Parodiando o grande Cartola: a queda de José Dirceu, ou melhor, sua segunda prisão, simplesmente triturou, reduziu a pó as ilusões de uma militância que ajudou a cavar o próprio abismo, no qual o PT está em queda livre.

Mais precisamente, deixou o rei nu. Expôs as vísceras do PT e o odor pútrido que delas exala.  Muito provavelmente, milhares e milhares de militantes petistas caíram na catatonia, em crise ideológica e de identidade ao sentir que ruiu por terra a cantilena de que tudo foi feito em nome da causa.

Roubou-se sim para o partido e para os aliados. Mas também para os bolsos de muitos, para o enriquecimento pessoal. Certamente José Dirceu não foi o único dirigente petista a se apropriar de recursos públicos para usufruir das delícias da vida burguesa. É o caso mais emblemático, mas não é exceção.

Levará algum tempo para os que escolheram a cegueira absorvam a perda das ilusões, vislumbrem alguma luz e se incorporem ao novo clima que vai contagiando o país de ponta a ponta. Mas esses também virão. Sem medo.

Sim, a operação Lava-Jato está fazendo renascer as esperanças. Está pintando no horizonte um Estado moderno e mais republicano, sem espaço para o patrimonialismo e a impunidade.

Apesar dos pesares, há hoje um astral mais para cima do que o de 15 de março, quando havia uma sombra de incerteza sobre o desempenho das nossas instituições.

As manifestações de 16 de agosto devem ocorrer em um clima de mais confiança, de otimismo, quanto à possibilidade de o Brasil virar a triste página escrita pelo Partido dos Trabalhadores nos últimos doze anos.
Hubert Alquéres

Como as nações voltam do inferno

O diagnóstico mais elementar que se oferece a situações de múltiplas crises (econômica, política, moral) enfrentadas por nações em diferentes contextos históricos vale-se, na maioria das vezes, de um familiar – e correto– senso comum.

Com o Brasil atual não é diferente. Evitar o inferno viria de menos "politicagem" e mais "política" –bem como mais honestidade, trabalho, investimento e competitividade.

Teríamos de aprimorar a "classe política", pois está é, salvo exceções, corrupta e disfuncional.


Haveria de aumentar o grau de honestidade da relação público-privado, pois assim inviabilizaríamos, na fonte, toda uma série de falcatruas.

Caberia ao brasileiro trabalhar melhor, pois norte-americanos e alemães apresentam produtividade quatro vezes maior.
Seria função do empresariado investir mais, pois não apenas nossa taxa de investimento como percentual do PIB é das mais baixas entre países emergentes mas também a predisposição dos empreendedores brasileiros em correr mais risco na atual conjuntura encontra-se muito fragilizada.

Cumpriria ao governo mais acordos no campo do comércio e de cooperação industrial e tecnológica, pois só assim ofereceríamos novos mercados e parceiros a nossas empresas, garantindo-lhes competitividade e, portanto, longevidade.

De fato, se a política fosse menos corrompida, as relações Estado-sociedade civil seriam mais transparentes, o povo, mais trabalhador, o empresário, menos acomodado e o governo, menos protecionista.


Estaríamos mais distantes dessa armadilha infernal de apatia econômica, anomia política e espanto moral que hoje nos consome.

Ninguém aqui ousa negar a importância de políticos probos, atores públicos e privados parametrizados por instituições, prevalência da ética do trabalho, predileção por uma presença internacional mais competitiva das empresas brasileiras.

Todas essas características, no entanto, não se instalam nas nações de forma laboratorialmente sincrônica e uniforme.

Muitos países tidos como competitivos ou mesmo desenvolvidos apresentam flancos vulneráveis em todos esses quesitos.

A Itália tradicionalmente contrasta inoperante esfera governamental com imponente classe empresarial, seja nas firmas de menor porte ou nas gigantes multinacionais italianas.

As relações governo-empresas na China estão longe de serem parametrizada por noções como "compliance", "melhores práticas", "relações com investidores".

As recentes intervenções das autoridades centrais no contexto das oscilações da Bolsa de Xangai é apenas um de muitos exemplos de falta de transparência.

A geração de alemães hoje na faixa dos 70 anos reclama que seus compatriotas mais jovens só querem saber de turnos de serviço de 36 horas por semana.

Assim, o país nivelaria por baixo sua força de trabalho com a atração de mão de obra mais barata e menos qualificada do leste europeu.

Na Coreia do Sul e no Japão, é grande o temor de que os megaconglomerados multissetoriais tenham anestesiado seu apetite por risco e inovação e movimentam-se apenas pela manutenção de seu atual "market share" global.

Apesar de todo apelo conceitual à livre concorrência e a acordos de liberalização comercial, em todos os países que compõem a União Europeia se praticam abusos protecionistas, particularmente no âmbito da PAC, a Política Agrícola Comum.

Nessa linha, fica claro que, para a saída da presente crise brasileira, é impossível copiar imaginários modelos ideais.

Ainda assim, tendo experimentado o inferno, muitas nações conseguiram, chamuscadas, voltar dele por que obtiveram vitórias pontuais, mas concretas –e daí ingressaram num gradual aprimoramento.

Em todos os casos de superação, no entanto, convergiram, como precondições, alguns fatores essenciais: liderança, equipe e estratégia.

Assim foi nos milagres econômicos asiáticos, como os presididos por Lee Kuan Yew em Cingapura e por Park Chung-Hee na Coreia dos Sul.

Tal convergência também se manifestou na Espanha dos Pactos de Moncloa ou no Reino Unido de Thatcher.

Para tais vitórias, foi fundamental que lideranças públicas se associassem a elites funcionais municiadas de um mapa do caminho. Daí a gravidade da conjuntura brasileira.

As nações voltam do inferno quando respondem satisfatoriamente a três questões: quem são os líderes? Quais elites atenderão ao chamado do destino? Quem tem um bom plano?

Pelo telefone

Ze dirceu preso Lula escondido recebe telefonema empregada celular

O que eles disseram...

“Passava por uma estrada e lá encontrei uma menina, chorando sobre os escombros de sua casa. Perguntei-lhe o que acontecera. ‘É o tigre da montanha, sábio. Já devorou meus pais, meus irmãos e breve voltará para devorar a mim...’ ‘E por que você não vai para a cidade? Lá não há tigre...’ ‘Isso nunca, ó sábio! Lá vocês têm governo!’”, narrou Confúcio, numa de suas fábulas.

“O PT é uma merda, mas é meu partido”, concluiu o filósofo molusco.

Acho que está passando da hora de não só lembrarmos as ideias de Roberto Campos como também de colocarmos em prática algumas delas. “O que os brasileiros desejam é um capitalismo sem risco, um socialismo sem disciplina e investimentos sem capital estrangeiro.”

Desde que me entendo por gente ouço a voz rouca do atraso afirmando que “o petróleo é nosso”. Nosso, nada! Hoje, o Brasil controla sua maior empresa com apenas 32,53% do capital. Do capital restante, quanto estará no Brasil? Está passando da hora de o Brasil se desenvolver, e não há que se falar em desenvolvimento sem capital estrangeiro”.

A maior nação do mundo hoje, os Estados Unidos, não vive na vida dos seus cidadãos. O Estado precisa sair de nós, cidadãos. Essa roubalheira na Petrobras só acontece, e só pode acontecer, em empreendimentos estatais, onde tudo é de todo mundo e nada é de ninguém em particular... Se tenho medo de ser chamado de entreguista? Tô me lixando...

Veja como pensa e se expressa a sua presidenta (sic), falando na inauguração da unidade de produção de etanol 2G, em Piracicaba: “Aqui é muito simbólico que se encontrem a tradição e a inovação. A tradição, porque essa planta se beneficia também do fato de aqui se produzir cana-de-açúcar, etanol de primeira geração e, agora, etanol de segunda geração. Essa planta se beneficia também pelo fato de que aqui também se produz energia elétrica com base na biomassa. Essa planta, portanto, é a demonstração da capacidade de integração de várias etapas da questão energética no mesmo lugar. E, por ser uma planta de etanol de segunda geração ela é, sobretudo, uma grande conquista do Brasil”.

Assim, depois da importância da conquista da mandioca, da “mulher sapiens”, da conquista da planta de etanol de segunda geração, o Brasil, como diria Kafunga, de saudosa memória, “despingolou” no espaço sideral...

Eu acho que Dona Dilma é uma pensadora grande: “Dentre todos os processos tecnológicos que a humanidade criou, dois se destacam: uma é a imensa... o imenso poder, o (sic) imensa força, a imensa capacidade de desenvolvimento que, em qualquer atividade... humana, tem um processo chamado ‘cooperação’, e o outro foi a conquista do fogo, o que é muito importante.”

É... Mas se nós não tivéssemos descoberto essa desgraça do fogo, Nero não teria queimado Roma e, pior, não haveria os enfisemáticos, pois, sem fósforos, como acender cigarros?</CW>

P.S.: Cuidado com os juros dos cartões de crédito: 372% ao ano, um verdadeiro desvario, mesmo que seja para plantar etanol...

Sepulcros caiados

Anterior ao naufrágio do Titanic, havia um ditado repetido por toda gente: "Por fora bela viola, por dentro pão bolorento". E mais antigo ainda, o anexim pode ser uma simples metáfora, dita pelo próprio Cristo, chamando os hipócritas de "sepulcros caiados". Penso nisso sempre que vejo uma embalagem nova e geralmente inexpressiva.

As caixas de fósforos da Fiat Lux tinham aquele terrível olho inventado não sei por quem, o olho severo do Criador nos olhando e fiscalizando. Aliás, o mesmo olho comparece nas notas de dólar e acho que também nas lojas maçônicas.

Alguns times de futebol mudaram seus uniformes, o do Fluminense, por exemplo, é um horror. O Vasco e outros tantos também.

Tradicionais produtos industrializados jogaram no lixo suas antigas embalagens e adotaram outras, tão enigmáticas que confundem todo mundo.

"Saco azul e cinta encarnada" era o slogan do açúcar Pérola. O tradicional Leite de Rosas vinha num elegante frasco de vidro, hoje vem num inexpressivo plástico rosa. O Chacrinha vestido de mata-mosquito não é a mesma coisa.

Essas considerações iniciais são provocadas pela recente embalagem do PT e do próprio Lula. Surgiu embrulhado num vermelho vivo significando um fato novo e necessário. Agora, depois do mensalão e da Lava Jato, é completamente diverso da embalagem original, que representava um apelo realmente novo de um partido honesto e progressista.

Lula, com aquela barba revolta de Rasputin, era uma coisa. Hoje, com a barba civilizadamente aparada e cara de burguês bem posto na vida, já não é aquele Lula sindicalista, preso várias vezes e com discurso moralista.

O PT, repetindo o anexim inicial, também é por fora bela viola, por dentro pão bolorento.

Da mesma árvore

Palácio do Planalto, janeiro de 2003. Lula degusta a primeira semana no poder em conversa com os ministros José Dirceu (Casa Civil), Antonio Palocci (Fazenda) e Miro Teixeira (Comunicações).

Preocupa-se com o novo Congresso, que toma posse no mês seguinte. Chegou à Presidência com 52 milhões de votos, mas o PT não conseguiu ir além dos 18% das cadeiras na Câmara, com 91 deputados federais.

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Discute “como é que se organiza”, nas suas palavras, a maioria no Legislativo. Dirceu sai na frente com um enunciado sobre o “Congresso burguês”, evocação dos “300 picaretas” que Lula usara anos antes ao se referir à maioria dos parlamentares federais.

O líder escuta, sorridente, a ideia de usar cargos com fatias do orçamento do governo e das empresas estatais para compor a “maior base parlamentar do Ocidente”.

A proposta esconde e mistifica, tanto quanto revela. Palocci e Miro percebem o aval de Lula a Dirceu. Em oposição, sugerem alianças a partir de projetos específicos — a começar pelo “ajuste fiscal” —, até para atrair parte da oposição, o PSDB de Fernando Henrique Cardoso, sociólogo que exibia o orgulho de ter passado a faixa presidencial ao operário transformado em símbolo da democracia industrial brasileira. Palocci e Miro insistem. Acabam atropelados.

A partir de então, houve romaria ao quarto andar do Planalto, onde o secretário-geral do PT Silvio Pereira e o tesoureiro do partido Delúbio Soares loteavam cargos entre aliados. Dirceu homologava, auxiliado por Fernando Antônio Guimarães Hourneaux de Moura, mais conhecido como “FM”. No Congresso, provocavam-se frequentadores do Planalto: “O deputado anda ouvindo muita rádio ‘FM’”.

A mecânica das negociações havia sido testada na campanha. Numa noite de junho de 2002, Lula, o vice José Alencar, Dirceu e Delúbio foram ao apartamento do deputado Paulo Rocha (PT-PA), em Brasília. Lá estava Valdemar Costa Neto, líder do PR, que contou à revista “Época” em agosto de 2005: “O Lula e o Alencar ficaram na sala; fomos para o quarto eu, o Delúbio e o Dirceu. Comecei pedindo uns R$ 20 milhões...”

Valdemar levou metade e, mais tarde, ganhou como outros a “porteira fechada” de departamentos (Dnit), delegacias (Trabalho e Receita Federal) e diretorias (Infraero, Itaipu e Correios).

O “filé” era a Petrobras, na definição de Roberto Jefferson, líder do PTB. Foi partilhado por dois Josés: Dirceu, do PT, e Janene, do PP. Logo, somaram-se líderes do PMDB.

Havia engenho na separação entre o mensalão e a reserva de até 3% nos contratos entre a Petrobras e cartéis privados — supervisionada pelo diretor Renato Duque, recrutado por Dirceu e “FM”. O mensalão viabilizava “a maior bancada parlamentar do Ocidente”. A Petrobras financiava a máquina eleitoral necessária aos “20 anos no poder”, incluindo uma espécie de folha complementar de salários para ocupantes de cargos-chave no governo.

Mensalão e corrupção na Petrobras nasceram da mesma árvore. Depois de dez invernos, evidencia-se seu cultivo com o uso sistêmico da política para crimes. Novos detalhes devem aflorar depois de amanhã, quando se define a lista de sucessão na Procuradoria-Geral da República. Como sempre, tudo foi encoberto em nome da luta “contra a exploração dos trabalhadores” — os mesmos que, hoje, estão pagando a conta.

José Casado