terça-feira, 10 de março de 2015

A nova era

À era da hipocrisia sucedeu-se a da indiferença, e está é pior pois corrompe, adormece, mata antes de matar. Disseram, repetimos: o oposto do amor não é o ódio, mas a indiferença 
Elie Wiesel

Branco, rico e golpista

Lula (Foto: Divulgação)
Rico não pode se manifestar. A não ser por escrito. Ou dentro de casa. Ou em pequenas reuniões com amigos. Sem fazer alarde.

Caso resolva aderir a uma manifestação de massa, saiba que a desqualificará. Seu lugar não é na rua protestando.

Se for visto na rua protestando poderá ser acusado pelo PT de ser golpista. Certamente o será.

Não há nenhum dispositivo na Constituição que proíba o rico de pensar e de dizer o que pensa, mas ele que suporte as consequências.

Da mesma forma o branco. Pior ainda se ele for branco e rico.

É fato que a elite branca e rica lucrou uma enormidade com os governos de Lula e de Dilma. E que os mais ricos e brancos da elite pressionaram Lula para que ele voltasse a ser candidato no ano passado.

Não importa. A eles deve apenas ser assegurado o direito de apoiar o PT. De preferência sem condições. E de financiar o PT tirando dinheiro do seu próprio bolso ou desviando recursos públicos.

Quantos negros e pobres você vê no comando das maiores empreiteiras envolvidas com a corrupção na Petrobras?

Só vê ricos e brancos. E todos parceiros do PT. Deram mais dinheiro para o PT ganhar as eleições do ano passado do que para outros partidos.

Bem, se além de rico e de branco o cidadão morar em São Paulo, aí qualquer margem de tolerância com ele deve ser abolida.

Dilma e o PT perderam feio em São Paulo. O candidato de Lula ao governo colheu ali uma votação humilhante.

O que venha de lá, portanto, não deve ser levado em consideração. Antigamente foi a saúva. Agora, o paulista rico e branco é a praga que mais infelicita o Brasil.

Quem sabe o Congresso não aprova alguma lei que desconsidere o voto de São Paulo na hora de se contar os votos para presidente da República?

O radicalismo da proposta talvez possa ser suavizado com a restrição ao voto apenas nos bairros povoados por uma maioria branca, rica e golpista.

Burgueses!

Há quanto tempo eu não enchia a boca para chamar de “burgueses” os adversários das mudanças sociais, que só fazem enriquecer à custa dos miseráveis.

É verdade que a maior parte dos miseráveis ascendeu socialmente e compra o que os brancos e ricos lhe oferecem. E que quanto mais ascenderem e comprarem, mais os brancos e ricos se tornarão mais ricos.

Mas esse é um dilema que a esquerda corporativa, ávida por emprego público e órfã de ideologia, não sabe ainda como resolver.

Mais lenha

Um Nero no Planalto

Roma pegava fogo e Nero, péssimo cantor, se esgoelava observando gente torrando no incêndio. Culparia depois os cristãos pelo crime, quando teria sido o próprio mentor do fogaréu. Rezam alguns por essa história. Mas está aí uma bela imagem para ilustrar a fala de Dilma.

No Dia Internacional da Mulher, a Suprema baixava o Pai Santana em plena fogueira da crise nacional. Com o país descendo a ladeira devido ao fogo que ateou por quatro anos em todos os setores, a soprano Dilma (faltou a toga) acusou a crise internacional pelos dissabores brasileiros. Era descaradamente a imagem do imperador romano, acusando os outros pelo próprio crime. Aqui no caso, apenas o Cristo é a crise internacional, da qual mal ou bem os países estão saindo e só o Brasil entrando pelo cano.

Todo mundo está careca de saber que a presidente em competência administrativa é zero à esquerda. Pior ainda em política. Enfia os pés pelas mãos porque não é apenas um poste, mas imenso absorvente para estancar a sangria do PT, que pode (deve) respingar nela e em seus "Deus".

Acreditar na enxurrada de bobagens, baixadas por Pai Santana, é assinar um atestado de idiotice mórbida. E o pior que Dilma acredita piamente que reverteu a crise e está a salvo do maremoto que provocou. Ainda falta muita água para rolar, e não é marolinha. 

Fogo ex-amigo


 Em meio a gritos de protestos, buzinas e panelaço, São Paulo assistiu, atônita e perplexa, o pronunciamento da Presidenta Dilma nesta noite de 8 de março. Tentando se apoiar na ultrapassada justificativa da crise internacional, Dilma negou, mais uma vez, a gravidade e dimensão da atual crise econômica, as responsabilidades de seu governo e as consequências de seus desdobramentos para o povo brasileiro. O que mais me preocupa, neste momento, é que, a cada ação de seu governo, assistimos ao aumento do grau de seu isolamento e a ampliação de seu distanciamento da sociedade. Tão séria e grave quanto os problemas econômicos é a crise política e o consequente aprofundamento da falta de confiança e credibilidade

Senadora Marta Suplicy (PT-SP), ex-ministra da Cultura de Dilma, em mais uma investida 


Liderança de Dilma Rousseff desmorona

Rejeição a seu discurso se deve ao acúmulo de dados negativos em três frentes de seu Governo: a econômica, a política e a ética
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O primeiro discurso à nação da presidenta Dilma Rousseff, aos dois meses do início de seu segundo mandato, recebido na noite de domingo em uma dúzia de cidades, entre elas as emblemáticas São Paulo e Brasília, com vaias e um panelaço, pode ter sido uma prévia das manifestações de protesto contra ela anunciadas para o próximo domingo, dia 15.

A rejeição ao discurso da presidenta foi mais significativa por ter se dado no momento de começar a falar, antes de se saber o conteúdo de suas palavras. Era um sinal de que para uma parte da população, em especial a classe média mais bem informada, sua credibilidade está seriamente comprometida.

Mais que contra sua pessoa, já que ninguém a considera uma política corrupta, a rejeição a seu discurso se deve ao acúmulo de dados negativos em três frentes de seu Governo: a econômica, a política e a ética.

Desde a redemocratização do país o Brasil não vivia um momento tão crítico. O anúncio de cortes que afetam tanto a classe média quanto os mais pobres, com o país à beira da recessão, onde só crescem a inflação, o valor do dólar, o déficit público, os juros dos bancos e até o fantasma do desemprego, junto com os escândalos de corrupção política, criou um curto-circuito entre a opinião pública e a Presidência da República.

Dilma, bode expiatório ou talvez vítima? Pouca diferença faz para uma população desencantada e irritada. A ela se atribui falta de traquejo político, dificuldade de delegar, falta de tato e de vontade de lidar com um Congresso no qual acabou perseguida e encurralada inclusive por boa parte de sua ampla maioria de dez partidos.

A isso se junta o fato de a presidenta nunca ter contado, menos ainda neste momento, com o apoio pleno de seu partido (PT), e a sua relação com seu criador e tutor, o ex-presidente Lula da Silva, ter acabado por se deteriorar.

Se um dia se falava do dilmismo como continuação gloriosa do lulismo e dos anseios não confessos da presidenta de empreender um voo político próprio, sem a muleta do carismático Lula, hoje o escândalo da Petrobras, que viveu sua maior virulência nos governos Lula-Dilma, perpetrada pelas figuras por eles colocadas na empresa, que acabou saqueada para financiar fundamentalmente os partidos governistas, isso parece ter se tornado um sonho já apagado.

As ruas pedem a saída de Dilma do governo e gritam “fora PT”. Talvez ainda não saibam o que querem em seu lugar. Não sabem o que desejam para amanhã, mas sim o que exigem para hoje
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Leia mais o artigo de Juan Arias

Cairão os mais frágeis

Embora vamos conhecendo melhor a cada dia a cor dos responsáveis pela crise, o que ainda não sabemos é a das vítimas que deixará pelo caminho. Os primeiros a cair serão certamente os que têm pés mais frágeis. Como sempre na história.
Juan Arias 

Tudo bloqueado

Quaquá vai dar porrada em burgueses. Onde vai encontrá-los? Quem é classe média?
Um amigo no exterior me perguntou se no Brasil estava tudo dominado. Referia-se ao habeas corpus dado por Teori Zavascki a Renato Duque, indicado do PT na Petrobras. Dominado não sei, respondi. Mas, naquele momento, estava tudo bloqueado: as estradas, pelos caminhoneiros, as contas bancárias, pela Justiça. Tantos bloqueios que a conta do ex-governador petista de Brasília, Agnelo Queiroz, foram bloqueadas duas vezes na mesma semana. Há bloqueio na relação Dilma- Congresso, e bloquearam o juiz que bloqueou os bens de Eike Batista.

O bloqueio se estendeu às cabeças: Washington Quaquá, um dirigente do PT fluminense, afirmou que daria porradas nos burgueses. Lula disse que chamaria o exército dos sem-terra para as ruas.

Às vezes temo que minha visão também fique bloqueada. Mas encaro esse movimento como a busca do golpe perfeito. O governo do PT arruinou a Petrobras, quer que os empreiteiros fiquem presos e que os sem-terra levem e deem porrada para defendê-lo. Em ruas indignadas com a corrupção, será difícil evitar os conflitos.

Bloqueados os caminhos para entender o assalto à casa do procurador Janot nas vésperas de apresentar a denúncia. Ele se limitou a dizer que os assaltantes estiveram por oito minutos em sua casa. Nada levaram de valor, apenas o controle remoto do portão. Se um grupo entra na casa de um procurador e não rouba nada, está apenas querendo dizer que entra quando quiser. E se leva o controle remoto do portão é apenas para mostrar como é inútil, pois conseguiram entrar sem ele. Ou será que seriam tolos o suficiente para acreditar que o controle remoto continuaria a abrir o portão depois do assalto?

O bloqueio mental se estende a Dilma. Ela despachou o embaixador da Indonésia pela porta lateral, como se fosse o entregador de pizza. O homem estava vestido com roupas típicas de seu país e compareceu na data marcada para apresentar credenciais.

Ninguém do Itamaraty percebeu essa grosseria. Ninguém no Congresso foi à embaixada da Indonésia pedir desculpas. Apagão diplomático. A política foi conduzida, nesse caso, por reflexos de uma dona de casa estressada. E ainda temos um brasileiro no pelotão da morte na Indonésia, compras de avião da Embraer que podem ser suspensas.

O bloqueio maior é na convivência política. A filósofa Marilena Chaui disse uma vez que odiava a classe média. Quaquá vai dar porrada em burgueses. Onde vai encontrá-los? Nos restaurantes de luxo nas ilhas do litoral de Angra? Quem é classe média? Vão atacar as lojas de conveniência nas noites de sábado, as academias de pilates?

Tudo muito confuso. CGU e TCU, provavelmente mais alguma coisa terminada em u, preparam um acordo de leniência. Os empreiteiros pagam multa e voltam a realizar obras públicas.

Enquanto isso, o BNDES estuda um empréstimo de R$ 31 bilhões para as empreiteiras. Com essa grana, pagam a multa e ainda podem mandar um pouco para os partidos do governo. E essa grana vai para os marqueteiros, que inventarão outros heróis do povo brasileiro, corações valentes e outras babaquices eleitorais. É assim que a banda vai tocar? Desta vez não só há um grande volume de informações como também a reação externa.

Leia mais o artigo de Fernando Gabeira

Motivo: Dilma

Uma faixa fixada na avenida Raja Gabaglia, na altura do bairro Estoril, em Belo Horizonte, na semana passada, chamava a atenção. Um comerciante colocou à venda uma loja do bairro Buritis, na mesma área, e afirmou que o “motivo” seria a presidente Dilma Rousseff.
O anúncio oferece o espaço todo em granito, que tem 70 m², vidro blindex, painéis de madeira e duas vagas de garagem, por R$ 550 mil. A ideia do protesto é do empresário Eduardo Moura, de 44 anos, dono de uma imobiliária. “Pela alta dos preços e por tudo que o país está passando, no lugar de colocar 'urgente', preferi colocar que o motivo é a Dilma. Pra mim, ela é a culpada da situação enfrentada pelo Brasil”, disse.

Qualé, Cantalice?

Faltou falar em russo, porque a declaração de Alberto Cantalice, vice-presidente e coordenador das redes sociais do PT, fedeu como coisa velha dos tempos da extinta União Soviética. Seria glorioso, para ele, que estivesse falando para o Pravda (Verdade), jornal oficial do Partido Comunista da URSS até até 1991.

“Existe uma orquestração com viés golpista que parte principalmente dos setores da burguesia e da classe média alta”. Mas em Brazilândia, nos confins paulistanos vive a classe média criada pelo PT, serão eles também burgueses?

Qualé, Cantalice? A burguesia (êta palavra rançosa dos tempos da Guerra Fria) e a classe média alta não podem demonstrar sua insatisfação? Qual a autoridade inconteste de Cantalice para dizer a esses brasileiros que se falarem serão taxados de golpistas?

O empregado do PT, maior agência de empregos do país financiada com dinheiro público, deveria se dignar ao silêncio de sua insignificância. Não é ninguém para criticar os brasileiros que não sejam coniventes com a roubalheira sejam de que classe for. Mesmo que pertençam à burguesia ou classe média, trabalham e pagam impostos, não vivem às custas de partido político, sanguessuga dos cofres públicos ou estatais.

Como demonstrou o ex-presidente da regional fluminense do PT, manifestação só com o devido selo partidário. Caso contrário, é "reação de setores que pretendem um golpe contra a atual gestão". Cantalice, isso não é democracia é autoritarismo tão descarado como a ditadura militar. O exército de hoje, no poder, só mudou a cor da farda.