domingo, 4 de março de 2018

Gente fora do mapa

Crianças da Guerra

Poucos noticiam

Yemen, 2017. O flagelo da guerra abate-se sobre esta região miserável do planeta. Vamos a alguns números, levantados após cerca de um ano de conflito: 130 crianças mortas por dia, ou uma a cada 18 minutos, e 400.000 em necessidade de tratamento urgente por conta de doenças causadas pelas vicissitudes da guerra - fome, falta de medicamentos etc. Estima-se que 30% delas morrerão. Curiosamente, um quadro tão dramático recebeu da esmagadora maioria da imprensa ocidental um tratamento meramente burocrático.

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Congo, década de 1990. Inicia-se um violento conflito em torno da exploração de coltan, um minério raro sem o qual não teríamos a maioria dos aparelhos eletrônicos modernos. Nos últimos 20 anos, esta guerra já ceifou seis milhões de vidas - o mais sangrento conflito desde a Segunda Guerra Mundial. Uma investigação identificou 157 empresas ocidentais envolvidas com a exploração deste mineral - e calculou-se o custo de um telefone celular produzido com coltan extraído daquele país: a vida de duas crianças. É interessante: no mundo ocidental praticamente não se noticia este tão grave conflito!

Fallujah, 2015. Pela pena do jornalista Larry Everest, alguns poucos jornais noticiaram que "os EUA usaram bombas de fragmentação, fósforo branco e urânio empobrecido contra o povo iraquiano, todas elas consideradas armas de destruição em massa, suspeitas de induzirem câncer e deformações em fetos. Presencia-se uma taxa de deformações congênitas na cidade de Fallujah que supera até as verificadas nas cidades de Hiroshima e Nagasaki em seguida aos bombardeios nucleares".

Colômbia, 2014. Um chocante relatório da Anistia Internacional, que praticamente não encontrou repercussão, expôs que a guerra civil que assola aquele país desde 1956 já produziu nada menos que 7 milhões de mortes - a maioria delas após o ano 2000. Somente para que se tenha uma ideia, em 2002 aquele conflito ceifou a vida de 744.799 seres humanos.

É intrigante: nenhuma das informações acima recebeu ampla divulgação! Conflitos de muito menor relevância, ou mesmo divórcios escandalosos de algumas celebridades, encontraram repercussão muito maior.

É quando a humanidade deveria lançar-se ao seu talvez mais importante e premente desafio: resolver a crise do acesso à informação em plena… era da informação!

Pedro Valls Feu Rosa

Formatados pela sociedade

Idealmente, o que deveria ser dito a todas as crianças, repetidamente, ao longo da sua vida escolar, seria algo como isto: "Estás no processo de ser doutrinado. Nós ainda não fomos capazes de desenvolver um sistema de educação que não seja um processo de doutrinação. Lamentamos, mas é o melhor que podemos fazer.
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O que te estamos a ensinar é uma amálgama dos preconceitos atuais e das escolhas desta cultura em particular. Uma pequena olhada na História vai-te mostrar o quanto estes são temporários. Estás a ser ensinado por pessoas que conseguiram acomodar-se a um regime de pensamento que foi desenhado pelos seus antecessores. É um sistema de auto-perpetuação. Aqueles de vocês que forem mais robustos e individuais que os outros serão encorajados a sair e a encontrar formas de se educarem a si próprios – a educarem os seus próprios julgamentos. Aqueles que ficarem têm que se lembrar, sempre, e para sempre, que estão a ser moldados e modelados para se encaixarem nas necessidades estreitas e particulares desta sociedade"
Doris Lessing 

Paisagem brasileira

Penedo (AL)

A intervenção meia-sola

Há um recado subjacente às restrições que a esquerda e as organizações a ela ligadas emitem em relação à intervenção federal no Rio: confiam menos nos militares que nos bandidos.

Isso explica o largo espectro de entidades – nacionais e locais – que, em tom hostil, avisam que irão monitorar minuciosamente a ação das Forças Armadas no combate ao crime organizado.

Entre outras, OAB, ABI, Ministério Público, Associações de Magistrados, de Moradores das Comunidades, sem esquecer parlamentares, artistas, intelectuais, acadêmicos e sindicalistas.

Vídeos com advertências prévias, em tom intimidatório, viralizam na internet, em contraste com o clamor popular, saudando os interventores, na expectativa de um enfrentamento eficaz.

Até o Tribunal de Contas da União – já que o do Estado está na cadeia – avisou que irá designar comissão para acompanhar os gastos dos militares durante as operações.

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Nada contra a vigilância cívica, que deve mesmo estar presente, sempre e em horário integral. O que se questiona é onde essa vigilância estava quando o narcotráfico, ao longo das três últimas décadas (começou com Brizola, nos anos 80), se instalou nos morros e periferias da cidade, submetendo à tirania do crime a população pobre, exatamente a que a esquerda diz agora defender.

Desde que passaram o poder aos civis, há 33 anos, os militares jamais voltaram a intervir na cena política, ocupada gradualmente por ONGs, sindicatos e partidos de esquerda.

O crime organizado estabeleceu-se à sombra dessas organizações, em conluio com os sucessivos governos, estimulado por uma blindagem legal que, desde Brasília, o tornou mais seguro que qualquer outro segmento da sociedade brasileira.

Quando o general Hamilton Mourão chamou a intervenção de “meia-sola” e comparou o interventor, general Braga Neto, a “um cachorro acuado”, referia-se a esse quadro.

Quem o vê de fora imagina que o Exército invadiu a cidade, à revelia de seus habitantes – e não que está sendo chamado, mais uma vez, para gerir uma catástrofe, que não ocasionou. Foi assim em eventos de repercussão internacional, como os jogos Pan-americanos de 2007, a Copa do Mundo de 2014 e os jogos Olímpicos de 2016.

Por fim, as operações de garantia da lei e da ordem (GLO). Agora, a missão é mais espinhosa ainda: assumir a segurança pública do Estado, que é um dos fatores da insegurança.

O crime é monitorado de dentro do próprio Estado. Nas palavras do agora ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, no Rio, o Estado foi “capturado pelo crime organizado”. Como combatê-lo, pois, à sombra do governador Pezão e da Assembleia Legislativa?

Sérgio Cabral chegou ao Palácio Guanabara tendo como cabos eleitorais Lula e Dilma. Lula (e isso está no Youtube) chegou a dizer que votar em Cabral era “um dever moral do carioca”. Cabral foi eleito, reeleito e fez seu sucessor, Pezão. Ontem, recebeu mais uma condenação, inteirando mais de um século de cadeia.

Lula está prestes a segui-lo. Não se ouviu dessas organizações que dizem temer o Exército nenhuma manifestação crítica a nenhum desses personagens. O crime organizado age sem as ressalvas que se impõem à polícia: não está submetido a coisas tais como “excesso de legítima defesa” ou à audiência de custódia ou a direitos humanos.

Rouba, mata e faz da população escudo humano. Se falhar, será socorrido por diversas ONGs, que defenderão seus “direitos”.

O general Mourão foi até moderado. O general Braga Neto é um maestro algemado, chamado a reger uma orquestra cujos instrumentos estão quebrados e as partituras se misturaram.

Ruy Fabiano 

As crianças alemãs e as bicicletas

Na Alemanha, a impressão que se tem é que as crianças já nascem sabendo andar de bicicleta. Elas sempre acompanham os pais nos passeios ciclísticos pelas cidades e parques. O treinamento começa bem cedo.

Quando pequenas, as crianças começam a praticar com uma bicicleta sem pedal, impulsionando o movimento com os pés. Assim, quando passam a usar as bicicletas infantis convencionais, não precisam depender das rodinhas.

Mas aprender em casa não é suficiente. Na terceira classe do ensino fundamental (Grundschule), por volta dos sete anos de idade, as crianças passam por uma formação de ciclistas, a Radfahrausbildung.

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O tempo varia de estado para estado alemão, mas em geral dura dois anos com práticas espaçadas por um período de seis meses.

Além de receber um curso teórico, as crianças praticam com cones e figuras no chão e fazem exercícios de subida e descida, respeitando todas as leis de trânsito da Alemanha.

As crianças usam coletes fosforescentes com número de identificação e capacete. As bicicletas devem ser adequadas ao peso e altura da criança, além de equipadas com luzes dianteira e traseira e campainha.

Os pais podem participar de algumas aulas e também da visita ao departamento de trânsito, onde as crianças aprendem a dirigir de bicicleta com simuladores de trânsito, como rotatórias, preferenciais, semáforos e faixa de pedestres.

A formação termina com uma prova prática. Se aprovada, a criança recebe uma espécie “carteira de motorista”. Elas não precisam portar o documento quando circulam nas cidades, mas a carteira tem uma simbologia importante: representa a formação de futuros adultos responsáveis no trânsito.

Karina Gomes