sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Um precioso tempo perdido

Passado um ano da reeleição de Dilma Rousseff, o que dizer do tempo decorrido? Que foi um ano perdido, simplesmente. Nada do que se fez deixou de ser uma sucessão inacreditável de erros. Pouco se caminhou na direção do resgaste da dinâmica econômica do crescimento.

Escolhido para dar consistência à política econômica, o ministro Joaquim Levy acabou sistematicamente esvaziado, com sua agenda sabotada, seus alertas, ignorados. Suas iniciativas dormitam nos escaninhos do Planalto. Ele vaga pelo governo na esperança de estabilizar um orçamento deficitário.

Para evitar a expressão tragédia completa, deve-se reconhecer que a equipe econômica conseguiu implantar uma política cambial e uma administração de preços públicos mais realista. Os preços deixaram de ser represados artificialmente e apontam para um maior realismo, com menos populismo fiscal.

O ministro Aloizio Mercadante surgiu no segundo mandato como o homem forte, o ideólogo do Planalto. Costurou o novo ministério, dirigiu a campanha contra Eduardo Cunha, presidente da Câmara, estimulou blocos partidários contra o PMDB. Sabotou o vice-presidente, Michel Temer, como coordenador político. Nada deu certo. Mercadante, então, saiu pela porta lateral.

Na minirreforma ministerial, a presidente Dilma ficou longe de conquistar o que queria. Nem mesmo a certeza de que terá os votos necessários para barrar um eventual processo de impeachment. Terminou irritando mais os aliados do que satisfazendo seu apetite clientelístico.

O Palácio não dispõe de votos para aprovar o ajuste fiscal nem garantia para evitar as pautas-bomba que assombram as contas públicas. Tampouco tem liderança para conduzir o país para a saída do gargalo em que se encontra.

Na questão do impeachment, supera-se em incompetência ao inflar os riscos de sua ocorrência. Várias vezes Dilma e os ministros se manifestaram sobre o tema sem a mínima necessidade. Aos poucos, o governo transforma o impeachment em unanimidade nacional.

Apesar de contar com a presença de Joaquim Levy e de tentar fortalecer a coordenação política e a base no Congresso, o ajuste fiscal não está sendo implementado. Já perdemos o investment grade e caminhamos para tempos dramáticos no campo econômico.

No curto prazo, são nulas as expectativas de aprovação da DRU e da CPMF no Congresso. Nem o governo é capaz de criar uma narrativa para justificar, minimamente, um aumento de impostos. O máximo que produz é a ampliação dos números do déficit público, sem precisar de onde tirar receita para enfrentá-lo.

Além disso, não consegue encaminhar uma solução para as repercussões econômicas da Operação Lava-Jato. Deveria estar liderando um grande acordo entre a Advocacia-Geral da União, o Ministério Público, a Petrobras e as empresas envolvidas para ressarcir as perdas com a corrupção e imaginando uma fórmula para manter tais empresas operando.

Enfim, o ano que deveria ter sido de ajustes fortes e de decisões voltadas para liberar o país para crescer perdeu-se nas tentativas e recuos. Nada do que deveria ter ocorrido, de fato, aconteceu. O que foi feito, resultou incompleto, irrelevante, fracassou, exceto talvez no campo da política agrícola, uma honrosa exceção.

A inconsistência do Planalto fez de 2015 um ano perdido, transferindo para os próximos doze meses a responsabilidade de se pôr em execução um ajuste cada vez mais pesado. Sob pena de o governo não chegar ao fim.

Olimpo de safados

É espetacular que Lula, o milionário, e sua família de Lulinhas com o futuro garantido ainda sejam exibidos como exemplo de discriminação contra os coitadinhos.
Reinaldo Azevedo 

Vai terminando em crônica policial o projeto que sustou o futuro

As torpezas em série da política externa e a comparação entre o Brasil de um estadista e o de um jeca continuado na criatura sulcam a farsa doentia, fazendo penetrar os traços do explícito: lulopetistas, bolivarianos em diferentes versões e respectivos aliados e agregados por conveniência ou afinidades exercem uma delinquência sem fronteiras, na contiguidade moral do território mental que lhes é comum, onde vigora o revés da civilização; o desenho de um país decente iniciado por FHC se transformou em sonhos borrados que, se nas eleições de 2014, não sabíamos se estavam indo ou vindo, a cada dia parecem mais nítidos nos horizontes ainda tristonhos.
A nitidez depende da nação enojada, exausta e que, talvez dividida entre o receio de se iludir e o risco de ter esperança, parece fugir à obrigação e ao direito de meter os peitos democráticos e indignados nas ruas. Ora, vai terminando, em crônica policial, o projeto que sustou o futuro impondo um presente incessante de poder de um jeca seduzido por uma dilma, não pelos belos olhos que ela não tem, mas porque adivinhou no brilho imbecil deles o primitivismo que sustentaria na glória a abjeta dinastia lulopetista.

Aos 70 anos de idade, celebrados sob as ruínas de um caráter que lhe destruiu a trajetória, Lula apela ao vazamento da chantagem contra Dilma para que ela, protegendo os filhos dele, faça como o homenzinho ridículo e sórdido que impõe à Venezuela uma narcoditadura: ferir de morte as instituições. Só que a criatura não pode, ah!, mas como ela queria poder, bem mais do que querer fazê-lo. Vê o projeto cuja aspiração era a eternidade se socorrer do protagonismo de um Jean Wyllys com todos os ipisilones dele e esse fascismo-do-bem, feromônio da súcia depois da grana; de um Sibá Machado, um Chapolin (perdão, Chapolin) que trocou a graça voluntária pelo tacape truculento e inútil.

Açularam, sob a inspiração do patrono do regime que estrebucha delinquindo, a agressão aos manifestantes acampados pacificamente em frente ao Congresso que resistiram com inteligência e determinação na visão já de nitidez solar do sonho. É o fim diário do jeca cujo vasto ego não se cura da ferida acesa na psicose mal-sucedida em que fantasia vencer FHC em cada embate imaginário, na arena permanente da alma ressentida e paranoica. Dos 2.920 dias que, como FHC, ocupou a Presidência, garatujou quatro bilhetes e infelicitou um país e parte do subcontinente; FHC deixa 4.000 mil páginas essenciais com a crônica vibrante e humana dos dias em que o Brasil soube que pode ser civilizado consigo e com o mundo logo ali e além.

Coisa tão inspiradora quanto a resistência dos sonhadores lúcidos de esperança no gramado do Congresso; não à toa, Maduro autorizou o exército a atirar em manifestantes. Ora, a nitidez disso tudo ilumina aos indignados a inspiração fundamental: dentro de si. Os madrigais despertam e chamam para a rua. O maior pavor dos canalhas a bordo de um projeto moribundo.

O horror em estado bruto

Barbara Oliveira de Sousa foi presa em abril deste ano por tráfico de drogas. Detida, foi enviada para o presídio Talavera Bruce. Foi submetida a exames médicos? Houve algum exame para ver se ela era portadora de alguma doença que pudesse contaminar as outras detentas? Por ser, ao que parece, uma evidente usuária de drogas, algum psicólogo foi ouvido para ajudá-la a passar pela abstinência e verificar se ela era um perigo para si mesma e para as colegas de cela?

Não.

Como manda a Lei, ela foi ouvida por algum juiz logo após sua prisão? Sua família foi avisada de sua detenção?

Não. Logo após a prisão, não. Foi ouvida, sim, e acompanhada por um defensor público, mas somente em agosto, portanto três a quatro meses depois da prisão. Na audiência, ela não soube dizer se estava grávida ou não.

O Horror (Foto: Alex Falcò / Cartoon Movement)
Ela não soube dizer, mas seu bebê sabia que era preciso ‘saltar para a vida’, na belíssima expressão de João Cabral de Melo Neto. Ele nasceu em 11 de outubro e pelo que saiu nos jornais, dois dias depois foi enviado para um abrigo, não teve que ficar internado, o que indica que nasceu com nove meses de gestação.

Se foi esse o caso e deve ter sido assim, Bárbara já devia apresentar sinas evidentes de gravidez. Não foi por outro motivo que o Juiz da 25ª Vara Criminal, ao fim da audiência, encaminhou um pedido para que ela fosse submetida a um teste de gravidez. O magistrado também pediu que ela passasse por exames para detectar a dependência química e a sanidade mental.

Foi cumprida a ordem do juiz?

Não, naqueles dias não. Só esta semana, depois do parto, ela foi encaminhada ao Hospital Penitenciário Heitor Carrilho.

Casos como esse talvez sejam comuns em nosso sistema penitenciário vexaminoso, que só os italianos acreditam ser de primeira linha. No Talavera Bruce há 30 internas grávidas, sendo que apenas três estão sentenciadas: as outras 27 são presas provisórias. (Presas provisórias? Por quanto tempo estão ou ficarão nessa situação?).

A Secretaria de Estado de Administração Penitenciária - SEAP, informou que todas as gestantes que dão entrada no sistema são encaminhadas para o Talavera Bruce, onde ficam divididas em duas celas. Ainda segundo o órgão, todas são acompanhadas e fazem exame pré-natal. O Globo

Mas Barbara com certeza não fazia parte de “todas”. Não fez nem exames de rotina, que dirá o pré-natal.

Esquizofrênica recebendo remédios controlados, segundo sua família; dependente de drogas, segundo consta na ficha de entrada do SEAP, o fato é que Barbara, agressiva e incontrolável, foi enfiada numa cela solitária.

E o que aconteceu nessa cela no dia 11 de outubro, aqui na Cidade Maravilhosa, não é roteiro de filme de terror. É o relato nu e cru de como o horror anda tomando conta de nossas vidas aqui no Brasil.

Barbara, com as cruciantes dores do parto e encerrada numa cela isolada, berrava dizendo que estava tendo um filho. Segundo suas colegas de prisão, apesar dos gritos de todas pedindo socorro para a parturiente, ela, trancada no Isolamento, só foi atendida horas depois.

E saiu da prisão com o filho nos braços e o cordão umbilical ainda ligado ao seu corpo.

É um retrato hediondo do Brasil. Triste, medonho, brutal..
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O povo na rua como terrorismo

Depois de grandes manifestações contra o governo, a crise econômica e a classe política que sacudiram a Espanha nos últimos anos, os poderes instituídos resolveram enfim responder. Não, eles nada fizeram para tentar dar alguma realidade institucional a demandas de democracia direta e de autonomia do poder em relação aos interesses do sistema financeiro. A toque de caixa, o governo espanhol aprovou leis que criminalizavam, entre outras coisas, "perturbações graves" junto ao Congresso e "uso indevido" de imagens de policiais. Por exemplo, graças a essa lei, uma espanhola que fotografou um carro da polícia estacionado em área proibida foi multada. Esta é a forma que, atualmente, os "Estados democráticos" respondem quando se sentem ameaçados pela revolta popular: eles procuram todos os meios para transformar a revolta política em crime.


Como nenhuma ideia ruim vem à existência sem alguém que tenha a crença de devermos aplicá-la por nossas bandas, o Senado brasileiro acaba de aprovar uma lei que, no fundo, visa simplesmente impor medo aos cidadãos que ousem ir novamente às ruas para manifestar contra a casta política que os governa e seus interesses. Ela vem com o nome de "lei antiterrorista", mesmo que, no Brasil, até segunda ordem, ninguém tenha ouvido falar da existência de "grupos terroristas", a não ser pela boca de políticos do PSDB, que, na era de FHC, o sábio, gostavam de chamar o MST de "terrorista", ou de revistas humorísticas travestidas de semanários de notícia que chamavam manifestantes com a mesma alcunha.

Duas interpretações então se impõem. Ou a lei é um caso absolutamente único de legislação constituída antes do fato que a legitime ou ela tem um fato, mas ele não é aquele que alguns procuram nos fazer acreditar. Vejamos, por exemplo, como a lei tipifica "terrorismo": "Provocar ou infundir medo ou terror generalizado mediante ofensa ou tentativa de ofensa à vida, à integridade, à saúde ou à privação da liberdade da pessoa". Provocar terror generalizado mediante tentativa de ofensa à saúde: como todos podem perceber, trata-se de uma definição quase cômica que nem com a maior boa vontade permitiria individualizar com clareza aquelas condutas que deveriam ser tipificadas como terrorismo. Pela definição, a clássica emissão radiofônica de Orson Welles sobre um ataque de marcianos cujo realismo era tamanho que provocou pânico na população seria tipificada de terrorismo pelos parlamentares brasileiros. No entanto, por alguma razão singular, nenhum parlamentar lembrou de tipificar como terrorismo o ato de provocar terror generalizado por meio da corrupção ao bem público.

De toda forma, como nossa polícia é eivada de admiradores confessos da ditadura de 64 ou de especialistas em inteligência militar capazes de transformar embalagem de Nescau e de vinagre em artefato bélico, dá para imaginar como será interpretado o ato de "provocar terror generalizado". Afinal, sempre se é o terrorista de alguém. Neste ponto, o sempre alerta senador Aloysio Nunes conseguiu o feito inacreditável de piorar uma lei já medonha ao retirar o parágrafo que afirmava que a nova legislação não se aplica a: "conduta individual ou coletiva de pessoas em manifestações políticas, movimentos sociais, sindicais, religiosos, de classe ou categoria profissional". É que a política brasileira já dispensou a fase dos disfarces.

É claro que, ao menos neste ponto, o Brasil não inova. Faz parte da ‘novilíngua’ atual usar uma noção completamente vaga de "terrorismo" para justificar um Estado de exceção permanente no interior do qual podemos flexibilizar leis que garantem liberdade individual, fichar manifestantes de toda ordem e exigir que as pessoas não tirem fotos de carros de polícia estacionados em lugar proibido. Pois há algo que as democracias oligárquicas atuais têm mais medo do que de terroristas reais: manifestantes nas ruas.

No entanto, há um ponto no qual a lei brasileira abre novos caminhos para o mundo, a saber, na tipificação de "terrorismo contra coisas". Sim, é possível ser terrorista contra coisas, desde que tais coisas sejam "meio de transporte coletivo" de propriedade de empresas cujos donos costumam ter contas na Suíça, "instituições do sistema financeiro nacional e sua rede de atendimento", entre tantos outros. Uma lei contra depredação de patrimônio não basta. Quebrar vidraça de banco só podia mesmo ser terrorismo.

Dia de aniversário

Foi o pior aniversário de Lula desde os tempos em que, de calça curta e dedo no nariz em sua Garanhuns (PE) natal, ele torcia pelo Vasco e matava aula para caçar calango. Com um agravante: hoje, aos 70 anos, Lula deve ter menos amigos para lhe soprar velinhas do que aos 10, em 1955.

Em compensação, ninguém tem uma lista mais ilustre de ex-amigos, vivos ou mortos: Hélio Bicudo, Chico de Oliveira, Cristovam Buarque, Fernando Gabeira, Vladimir Palmeira, Plínio de Arruda Sampaio, Marina Silva, Erundina Silva, Chico Alencar, Cesar Benjamin, Francisco Weffort, Paulo de Tarso Venceslau, Beth Mendes, Airton Soares. Juntar esse time a seu favor foi uma façanha; fazê-lo desertar em massa, outra. Sem contar os que, por terem se tornado cadáveres políticos, ele abandonou, como José Dirceu.

Em lugar deles, Lula poderia ter convidado para sua festa os empreiteiros, banqueiros e pecuaristas com quem se dá tão bem. Mas boa parte estava impedida de comparecer, por cumprir temporada em Curitiba ou estar reunindo ou apagando documentos. É compreensível também que, subitamente, muitos não queiram ser vistos ao seu lado. O jeito, para fazer quorum, seria Lula convidar antigos aliados, como Sarney, Collor, Maluf –mas estes bem sabem quando e com quem devem se aliar.

Diante dessa evasão humana, só restou a Lula passar o aniversário com seus filhos, noras, sobrinhos e irmãos, com a recomendação de que eles não levassem os amigos, os quais, por coincidência, têm estreitos laços comerciais entre si e com órgãos da administração pública. Devido a esse caráter de festa íntima, não fazia sentido fechar um restaurante de luxo ou mesmo uma churrascaria –o feudo do Instituto Lula era suficiente.

E quem esteve lá pode ter presenciado um fato histórico: a última vez que Dilma e Lula foram vistos juntos.

Saiba porque Lula deve se curvar à tocaia federal

Em 21 de maio passado, Fabio Porfirio Lobo prestou depoimento numa corte federal de Manhattan. A promotoria vindica que ele passe o resto da vida no xilindró, sob acusação de ter conspirado para se importar cocaína para os EUA. Seu pai não atacou o DEA, a agência anti-drogas dos EUA, ou o FBI. Apenas disse que ajudaria o filho a provar sua inocência (ele foi preso no Haiti). E que o filho, Fábio, “não é mais mais uma criança e sabe o que faz”.

Em 10 de março passado, também em Nova York, uma corte condenou Dino Bouterse a 16 anos de cadeia. Foi acusado de apoiar o Hezbollah, considerado, em território norte-americano, uma organização terrorista. Também havia sido condenado a conspirar para importar 5 quilos de cocaína do Suriname para os EUA. Seu pai se calou.

Em 15 de setembro passado Ebrahima Jawara foi preso na Gambia, acusado de crime econômico contra o estado. Seu pai lamentou o filho.

Em 12 de outubro de 2012 Maksim Bakiyev foi preso quando desembarcava em Londres, sob acusação de fraude fiscal contra seu país, o Quirguistão, país da Ásia Central e que era do guarda-chuva do URSS. Seu pai pediu apenas justiça.

Agora os detalhes que nivelam os destinos dessas 4 histórias:

Fabio Porfirio Lobo: seu pai é ninguém menos que Porfírio Lobo, presidente de Honduras de 2010 a 2014.

Dino Bouterse: seu pai é ninguém menos que Desi Bouterse, presidente que deu um golpe de estado no Suriname em 2010.

Ebrahima Jawara: é filho do ex-presidente da Gambia, Sir Dawda Jawara.

Maksim Bakiyev: filho do ex-presidente do Quirguistão, Kurmanbek Bakiyev.

Nenhum dos ex-presidentes dessas republiquetas reclamou das autoridades que atocaiaram os seus filhos…

Lemos agora na reportagem de Katia Seabra que o ex-presidente Lula passou a tarde dessa segunda-feira imprecando contra Dilma, contra seu ministro da Justiça e contra a PF: atribuindo a todos um “golpe”, pelo fato da PF ter entrado no escritório de seu filho Luis Claudio.

Até entendo que no lugar de Lula eu levaria um chazinho de maracutaia à família para acalmar os ânimos dessa segunda-feira gorda (o serviço secreto francês, chamado de DGSE, gosta também de operar às segundas-feiras gordas, a que chamam de “lundi-gras”)

Pois bem: agora ficou mais clara a bipolaridade de Lula: quem o critica é da “direita golpista” – e quem investiga o seu filho, no governo, quer destruir o seu legado genético.

Para o bom entendedor, meia palavra bos.

A hora chegou?

É certo que o PT não inventou a corrupção, mas a institucionalizou como nunca antes neste país ao tomar de assalto o Estado brasileiro. Nos tempos de Lula, os malfeitos e as malfeitorias foram elevados à máxima potência, alcançando níveis inimagináveis, como se não houvesse limite para a atuação de uma “sofisticada organização criminosa” – nas palavras do ministro Celso de Mello, decano do Supremo Tribunal Federal, durante o julgamento do mensalão. Pois agora, finalmente, parece ter chegado a hora de acertar as contas com a lei.
Roberto Freire

Quase o paraíso dos gatunos

Na noite de quarta-feira a Câmara evitou um dos maiores escândalos da temporada, ao adiar a votação do projeto do governo, emendado por deputados energúmenos, que autorizava a repatriação de dinheiro ilicitamente depositado por brasileiros em paraísos fiscais do mundo inteiro. O texto inicial já fazia vergonha ao permitir a legalização de bilhões de reais e de dólares remetidos ao exterior sem informações à Receita Federal, decorrentes de sonegação fiscal, evasão de divisas e lavagem de dinheiro. Bastaria aos vigaristas responsáveis pelas remessas retornadas pagar uma taxa não superior a 35% para serem anistiados e não responderem a processo.


Pois o projeto ficou mil vezes pior quando o relator da matéria acrescentou emenda autorizando a repatriação de dinheiro resultante de “caixa dois, descaminho, falsidade ideológica e formação de quadrilha”. Também determinava que as informações não poderiam ser usadas nas esferas criminal, administrativa, tributária e cambial para fins de investigação e processo. Multiplicava a anistia e premiava os ladrões, inclusive os investigados e os já presos da Operação Lava Jato.

Esse horror que o governo encampou e tentou aprovar foi rejeitado por 193 votos contra 175. Até a base aliada forneceu 76 votos para derrotar a proposta.

Não está afastada a hipótese de a lama tornar-se lei, pois voltará a ser votada na próxima semana, quando o palácio do Planalto tentará virar a opinião de seus dissidentes.

A gente fica pensando como quase transformaram a Câmara na caverna do Ali Babá. A resposta é simples: dos 175 deputados favoráveis à tramoia, quantos tem dinheiro criminoso depositado lá fora? Mais da metade?

O governo calcula que a repatriação renderá 11 bilhões de reais, quantia capaz de compensar o rombo nas contas públicas. Recorrer a esse lamentável expediente significa desespero. Daqui a pouco, para livrar-se da bancarrota, a equipe econômica colocará à venda para o exterior crianças cujos pais se encontrem desempregados. Ou criará a flagelação preventiva para quantos cidadãos não conseguem pagar impostos, cobrando entrada do espetáculo nos grandes estádios de futebol.

Em suma, ainda que por maioria limitada, a Câmara livrou-se temporariamente de transformar o Brasil no paraíso dos gatunos. Só que a possibilidade continua em aberto.

Símios aperfeiçoados

Facebook violencia 2001 uma odisseia no espaco homem das cavernas mata outro com facebook
É preciso viver em estado de prevenção. Não ir na enxurrada do colectivismo e morrer afogado num bairro económico ou numa colónia balnear, resistir às pressões políticas mirabolantes, quer sejam de uma banda ou de outra, manter a condição do homem-artista em luta com o homem-massa foi sempre o que em mim se tornou claro desde que aos poucos tomei posse da minha personalidade. É fatal que se caminhe para a sanidade de vida das classes baixas, é humano que isso se faça, no entanto também é humano, mais talvez, que se lute desesperadamente para que a condição mais sagrada do homem evolua libertando-se das massas satisfeitas com a assistência médica, televisão e funeral pago. Essa massa vai criar um novo espírito animal, vai catalogar-se em Darwin e, convencidos que essa massa está feliz, constatamos ao fim de pouco tempo que esses grandes grupos de populações standardizadas deixaram de pensar e o seu sentir é apenas tactual, sem nada de sublimação em momentos mais íntimos.

O mundo que pensa, do artista e do intelectual, tem de libertar-se do incómodo desses homens que trouxeram como contribuição para a humanidade uma ideia abstracta do colectivo em marcha, que passaram a emitir sons, como pequenas estações emissoras, que não precisam de se articular em palavras, bastando-lhes os gestos. Ao fim e ao cabo aqueles que julgaram ter contribuído para a evolução da humanidade, dessa massa informe, é com tristeza, se ainda forem vivos, que constatam o facto de terem criado mais uma categoria animal, símios aperfeiçoados, em substituição do processo normal e não aflitivo do homem que evolui gradualmente dentro da sua própria missão de homem.
Ruben A.(1920 - 1975)