O que eles disserem à Justiça poderá, no extremo, virar o país pelo avesso, ou na melhor das hipóteses apenas aumentar a octanagem da crise política que se arrasta desde o final de 2014.
Em conversa na semana passada com a ministra Cármen Lúcia, presidente do Supremo Tribunal Federal, o deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara, observou com ar grave sobre o que o futuro possa reservar ao país: “Daqui para as eleições de 2018 se passarão 100 anos”.
É tempo suficiente para que aconteça tudo ou nada. Ninguém é senhor da crise.
Lula tinha um problema para ser candidato à vaga de Temer: o risco de a segunda instância da Justiça confirmar a sentença de Sérgio Moro que o condenou a nove anos e meio de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro.
Passou a ter dois problemas desde que Palocci o apontou como chefe de organização criminosa. Ao jurídico juntou-se o entrave político. Combinação indigesta.
Lula lançou-se candidato para tirar proveito político da situação e abortar o fim do PT. Uma vez confirmada a sentença de Moro, ficaria para sempre como um injustiçado aos olhos dos seus devotos incondicionais.
Mesmo encarcerado, não perderia a condição de grande eleitor do próximo presidente. O furacão Palocci acabou com os planos de Lula. A delação deverá soterrá-lo.
A segunda denúncia de Janot contra Temer terá o mesmo destino da primeira – o arquivo da Câmara. Rocha Loures, o homem da mala com R$ 500 mil, está sob controle.
O que apavora Temer é Geddel, o homem das oito malas e das seis caixas com R$ 51 milhões. Loures era um pau mandado. Geddel é parceiro de Temer há 30 anos. A palavra de Loures arranharia Temer. A de Geddel o derrubaria.
O clube mais exclusivo do Brasil está nos cascos para reafirmar uma de suas lições clássicas que parece ter escapado à atenção dos sem memória e suicidas. A lição: não mexa com nenhum dos 11 sócios do clube.
Embora, ali, poucos se amem, todos se unem quando um deles corre perigo. Comportam-se então como se a instituição sofresse uma grave ameaça. Melhor sair de perto.
A toga que afaga é a mesma que chicoteia. Os ministros do Supremo Tribunal Federal, à exceção de Gilmar, afagaram Janot às vésperas de ele deixar o cargo de procurador-geral da República. Estão prontos para fazê-lo gemer.
Não o perdoam por sugerir que as pilantragens dos irmãos Batista talvez alcançassem o tribunal. Anularão a delação dos irmãos e mandarão prender Miller.
Janot sempre poderá dizer que pediu as duas coisas. Desde, porém, que Miller, acusado de ter levado grana dos irmãos para ajudá-los a delatar enquanto ainda era procurador, não revele gracinhas que maculem a imagem do seu antigo chefe.
Como diria Lula ao se ver acuado, não basta contar, tem que provar. Janot poderá repetir Lula, o que seria hilário.
Falta alguém no jogo do conta não conta: Saud, executivo do Grupo J&F. Foi ele que gravou a conversa de bêbados onde Joesley falou à vontade. E por ter dito o que disse, Joesley passa mal na Penitenciária da Papuda, em Brasília.
Saud é sério candidato a delatar Joesley e Wesley, seus ex-patrões. O país não acabará por causa disso. Mas quanto ao grupo...