segunda-feira, 24 de fevereiro de 2020

Pensamento do Dia


Cabo Anselmo

É domingo de carnaval, mas vou falar de coisa séria. José Anselmo dos Santos, o Cabo Anselmo, nasceu em 13 de fevereiro de 1941, em Sergipe. Foi um dos protagonistas do golpe militar de 1964, atuando como um agente provocador. Em 1962, filiou-se à Associação dos Marinheiros e Fuzileiros Navais do Brasil (AMFNB), da qual se elegeu presidente. Em 25 de março de 1964, durante as comemorações do 2º aniversário da AMFNB no Sindicato dos Metalúrgicos do Rio de Janeiro, protestou contra a punição imposta a 12 dirigentes da associação por apoiarem as reformas de base propostas pelo então presidente da República, João Goulart.

O cenário era de radicalização política: derrotado no Congresso, e diante da forte oposição dos governadores da antiga Guanabara, Carlos Lacerda; Minas Gerais, Magalhães Pinto; e São Paulo, Adhemar de Barros, Goulart resolvera se apoiar nos sindicatos de trabalhadores e nas ligas camponesas. Os marinheiros, porém, roubaram a cena: decidiram não acatar a ordem de prisão dada aos colegas e permanecer no prédio do sindicato. No dia 26, parte dos fuzileiros navais enviados pelo ministro da Marinha, almirante Sílvio Mota, para reprimir o levante, aderiu ao movimento. Diante da recusa do comandante do Corpo de Fuzileiros Navais, almirante Cândido Aragão, em sufocar o motim, Sílvio Mota recorreu à Polícia do Exército e demitiu Aragão.

Goulart acabou se colocando ao lado dos marinheiros, gerando uma crise na Marinha, que culminou com a saída de Sílvio Mota, a nomeação do almirante Paulo Mário da Cunha Rodrigues para a pasta e a recondução de Cândido Aragão ao comando do Corpo de Fuzileiros Navais, além da libertação dos amotinados. No dia 28, José Anselmo, comemorou a vitória com uma passeata de marinheiros pelo centro do Rio, e, no dia 30, levou o presidente Goulart ao ato promovido pela Associação de Subtenentes e Sargentos da Polícia Militar, no Automóvel Clube do Rio de Janeiro. Envolver-se com os amotinados foi um erro fatal do presidente da República, era o pretexto que faltava para que os principais líderes militares da época, à frente o marechal Castelo Branco, assumissem o poder.


Cassado pelo Ato Institucional nº 1, em abril, José Anselmo asilou-se na embaixada do México. Quinze dias depois, deixou a embaixada, mas foi preso no dia seguinte. Em março de 1966, fugiu novamente, em circunstâncias estranhas; porém, era reconhecido como líder político de esquerda. No final do ano, seguiu para o Uruguai. Em 1967, ao lado do líder comunista Carlos Marighella, participou da 1ª Conferência da Organização Latino-Americana de Solidariedade, realizada em Havana, que deflagrou uma onda de guerrilhas na América Latina. Ainda em Cuba, participou da formação do primeiro núcleo de treinamento de guerrilha da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR).

Retornando ao Brasil, em 1970, foi designado para trabalhar em São Paulo. Meses depois, uma onda de prisões e mortes de militantes que tiveram contato com Anselmo levantou suspeitas de que fosse um agente policial infiltrado. Como fora detido em junho de 1971, era inexplicável sua aparição em liberdade dias depois. Anselmo negou o fato. Em janeiro de 1972, voltou a ser alvo da mesma acusação, dessa vez pela Ação Libertadora Nacional (ALN), após a apresentação de um relatório de testemunhas da sua prisão em 1971. Em fevereiro de 1973, a VPR acusou-o formalmente de ser agente da Central Intelligence Agency (CIA). Suspeita-se de que era agente do Centro de Informação da Marinha, sob a supervisão da CIA, antes mesmo de 1964.

Em 1984, a revista IstoÉ publicou uma entrevista de Anselmo, na qual se assumia um colaborador dos órgãos de repressão. Desaparecido desde então, voltou a ser localizado em 1999, pela revista Época, quando confirmou que fora o principal responsável pelo desmantelamento da VPR e da ALN. Em 1973, havia sido submetido a uma cirurgia plástica e recebera documentos falsos, fornecido pelos serviços de inteligência. Manteve-se na clandestinidade, apesar do direito à anistia.

Na quinta-feira, o Solidariedade expulsou de seus quadros o vereador Sargento Ailton, de Fortaleza, flagrado como um dos líderes do motim da Polícia Militar do Ceará, no qual foi baleado o senador Cid Gomes (PDT-CE), ao investir com uma retroescavadeira contra o portão de um quartel ocupado por grevistas encapuzados. Em outros estados, movimentos semelhantes estão sendo organizados para exigir aumentos salariais e outros benefícios.

O presidente Jair Bolsonaro aceitou o pedido do governo cearense e decretou uma operação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO), a cargo do Ministério da Defesa, cuja missão é garantir a segurança pública, e não, reprimir os amotinados. Em 72 horas, houve mais de 80 assassinatos no Ceará. A tarefa de resolver o problema da disciplina na PM continua sendo do governador petista Camilo Santana. Bolsonaro flerta com os amotinados, que são parte importante de sua base social.

Há muitos sargentos Aíltons na política, fazendo agitação entre os policiais militares, alguns dos quais ligados às milícias, utilizando métodos que não são os da política propriamente dita. Bolsonaro tem uma militância armada e radicalizada muito numerosa, que intimida pela truculência, não apenas nas redes sociais. Aonde isso vai parar, ninguém sabe ainda. Sabe-se, porém, que nem é preciso um novo Cabo Anselmo para que a indisciplina nos quartéis das polícias militares vire uma crise institucional.

Desordem verde-oliva

Viceja no País um clima de crescente desordem. Policiais militares – encapuzados, armados e sindicalizados – mantêm governantes e cidadãos como reféns de suas vontades, tudo ao arrepio da lei que todos esses servidores, uma vez envergada a farda e armados pelo Estado, juraram respeitar e fazer valer. Não bastasse isso, e talvez seja esse o principal problema, esses policiais amotinados, em lugar de serem censurados e punidos pelo poder público, são tratados como força política legítima – a tal ponto que recebem atenção e apoio inclusive do presidente da República, Jair Bolsonaro, e de parlamentares bolsonaristas
Editorial - O Estado de S. Paulo

Bolsochavismo

A semana pré-Carnaval foi marcada pelo violento motim da Polícia Militar do Ceará, que ameaça se espalhar por outros Estados, desafia a autoridade dos governadores, conta com a simpatia e o incentivo declarados do presidente Jair Bolsonaro e de seus filhos e asseclas nas redes sociais e pode ser, caso se alastre, o embrião da criação de uma milícia paraestatal bolsonarista inspirada na criada por Hugo Chávez e inchada por Nicolás Maduro na Venezuela.

Não é de hoje que o bolsolavismo bebe na fonte da criação bolivariana, replicando seus métodos de organização e lhes dando uma roupagem ideológica de extrema direita.


A proliferação de escolas cívico-militares, impostas a partir de Brasília aos Estados, a militarização total do Palácio do Planalto, a convocação, feita por um desses militares do gabinete, o general Augusto Heleno, de manifestações de rua em apoio ao presidente e para emparedar o Congresso são todos movimentos combinados que têm clara inspiração na escalada chavista a partir de 2005.

O movimento dos policiais militares é o mais ousado e controverso desses movimentos, porque inclui o incentivo, que era tácito e vai se tornando cada vez mais implícito, a motins já classificados como inconstitucionais pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e cuja ilegalidade foi reiterada pela Justiça, no caso do Ceará.

Bolsonaro e os filhos oscilam entre a brincadeira simpática e o apoio escancarado ao movimento dos amotinados cearenses, que perpetraram na última quarta-feira a tentativa de homicídio do senador Cid Gomes – que, em outro ato tresloucado muito representativo dessa polarização patológica da política brasileira, havia investido com uma retroescavadeira contra um grupo que tomava um batalhão da PM em Sobral.

Não se ouviu do presidente da República, do ministro da Justiça, Sérgio Moro, e de nenhum dos militares do governo, que deveriam ser os primeiros a serem intransigentes na defesa da hierarquia e da disciplina militares, nenhum pio condenando o movimento ilegal dos PMs cearenses, cobrando o imediato desligamento dos amotinados nem a investigação e prisão dos autores dos disparos que alvejaram um senador da República.

No lugar disso, Bolsonaro estendeu sua fanfarronice, demonstrada dias antes na piada sexual de botequim com uma repórter, ao brincar que Cid Gomes não tinha habilitação para dirigir retroescavadeira, na sua última live. Flávio Bolsonaro foi mais explícito, ao chamar os amotinados que fazem uma greve ilegal de pessoas em busca de “melhores salários”, mais parecendo um sindicalista petista.

O movimento dos PMs não começou agora. Teve uma primeira onda em 2017, quando o levante violento no Espírito Santo teve incentivo explícito do então deputado Bolsonaro. Agora, os líderes da greve ilegal no Ceará são todos políticos com patentes militares – outra onda que veio na esteira do bolsonarismo em 2018.

A Milícia Nacional Bolivariana da Venezuela foi criada por Hugo Chávez em 2007, e hoje conta com mais de 1 milhão de cadastrados. Maduro quer chegar a 2 milhões. Seus homens e mulheres armados recebem salários de fome e uniformes cáqui para defender o governo, encher comícios, espionar a oposição e evitar a deposição do ditador.

Insuflar em policiais militares um sentimento de louvor político, passando por cima dos governadores e usando pressão salarial como combustível coloca o Brasil no caminho da criação de uma milícia paraestatal. Cabe ao Congresso, ao STF e aos governos estaduais cortar o mal pela raiz, punindo e reprimindo os movimentos dos PMs, sem ceder a chantagens por reajustes nem negociar anistias a criminosos.

Quem tem medo do papangu?

Hoje é segunda-feira de carnaval. Estamos em pleno reinado de Momo, quando a irreverência, o excesso e o risco tomam conta das pessoas. Como bom pernambucano, sempre levei o carnaval muito a sério. Lembro, ainda criança, brincando carnaval pelas ruas estreitas do centro do Recife e pelas ladeiras íngremes de Olinda, de várias figuras então “ameaçadoras” do carnaval de Pernambuco. Logo de manhã cedo, ouvia troças carnavalescas com suas orquestras de frevo ou simplesmente batedores de lata. À frente, alguém fantasiado de urso, vestindo um velho macacão de veludo e com uma máscara de papel marche, gritava: “a La Ursa quer dinheiro, quem não dá é pirangueiro!”.

No Pátio do Terço, à meia-noite da segunda-feira de carnaval, participava da “Noite dos Tambores Silenciosos”, cerimônia de sincretismo religioso que reúne maracatus da região. O que mais me causava espanto era o maracatu “de baque solto”, formado por canavieiros da zona da mata com sua cútis curtida pelo sol. Esses “caboclos de lança” vestem fantasias coloridas, com sinos de metal pendurados nas costas que soam de forma ritmada a cada movimento. Carregam lanças enormes e dançam como verdadeiros ninjas do canavial.


Entretanto, as figuras mais amedrontadoras do carnaval de Pernambuco eram os enigmáticos papangus, cuja definição é homem ridículo, sem compostura, tolo, mané ou otário. Se fantasiam com túnicas que os cobrem dos pés à cabeça, com abertura apenas para olhos e boca. Os mais famosos vêm de Bezerros, no agreste pernambucano. Quando se ouve de longe o barulho das castanholas que anunciam sua chegada, todas as crianças morrem de medo. Acredita-se que o papangu nasceu de uma brincadeira de dois irmãos que comiam muito angu. Resolveram cortar as pernas das calças e cobrir o rosto com capuz para não serem reconhecidos, mas o disfarce não funcionou. Terminaram descobertos pela gula.

Assim como as crianças do Recife, uma boa parte da sociedade brasileira tem temido um enfraquecimento democrático, se deixando atormentar por um papangu com jeito autoritário, que elogia torturadores, ameaça fechar o STF e decretar um novo AI-5, tenta reinterpretar a história dizendo que o regime militar de 1964 não foi uma ditadura, pois não matou o suficiente para extirpar o comunismo. Esse papangu também assusta ao perder o decoro difamando jornalistas, ao dar banana a repórteres, ultrapassando, assim, os limites da boa convivência democrática. Sem maioria legislativa estável, esse personagem é necessário para manter o apoio de seu eleitorado mais retrógrado.

Independentemente da capacidade das instituições políticas e dos sistemas de freios e contrapesos de conter os arroubos autoritários do nosso papangu, as evidências científicas disponíveis (Przeworski e Limongi 1997) mostram, de forma inequívoca, que a chance de reversão da democracia em países com a renda per capita superior à da Tailândia de 2006 (US$ 10 mil) é zero. Vale lembrar que a renda per capita no Brasil é superior a US$ 15 mil.

Outro fator crucial de estabilidade democrática é sua maturidade. Przeworski (2015) demonstra que a probabilidade de uma democracia ruir diminui drasticamente ao mesmo tempo em que o país acumula experiências de alternância de poder de forma pacífica e por meio de eleições. Entre 88 democracias consolidadas, apenas uma em cada dez entrou em colapso quando não testemunhou mais de três alternâncias, e apenas uma (Chile) caiu quando o número de alternâncias passadas chegou a quatro. O Brasil já possui seis alternâncias desde a redemocratização.

Mas, mesmo diante das evidências de que nossa democracia permanece sólida, a sociedade e suas instituições não devem baixar a guarda e diminuir a vigilância a cada afronta à democracia vinda do nosso papangu.

Nada cheira bem

Há algo estranho no ar. Um indisfarçável cheiro de perigo, perceptível até por aqueles que se inebriaram com as promessas de novos aromas. Às narinas que pretendiam enterrar a podridão do petismo, o governo do presidente Jair Bolsonaro tem ofertado outro tipo de droga, também com efeitos devastadores.

O governo derrapa, quase não anda. Não raro move-se para trás – a fila de 1,3 milhão do INSS e de 3,5 milhões à espera do Bolsa Família que o digam -, e achincalha aqueles que poderiam ajudá-lo a seguir para frente.

O comportamento do presidente segue um padrão. Faz de desentendido quando convém – quem não se lembra do inocente “o que é golden shower?” depois de divulgar um vídeo da cena como se fosse prática carnavalesca. E adora a persona do “sincerão”, não raro associada a agressões à imprensa, para delírio da claque no gramado externo do Palácio do Alvorada.

Além de ultrajar a instituição da Presidência da República com sua avalanche cotidiana de impropérios, Bolsonaro autoriza e estimula a incivilidade. Algo já grave na pauta de costumes, por reforçar toda sorte de preconceitos, que se torna gravíssimo ao encorajar guerras institucionais, desobediência civil, o caos.


A tomada de partido pró-motim de parte da polícia do estado do Ceará é um exemplo dessa insanidade. Diante da ação tresloucada e criminosa do ex-governador e senador Cid Gomes, baleado ao tentar entrar com uma retroescavadeira em uma unidade tomada por PMs grevistas, Bolsonaro não condenou ambos os lados, como caberia a um presidente. Deu razão aos amotinados – posição replicada pelo filho Flávio nas redes –, acendendo o rastilho de bombas prestes a estourar em outros 11 estados nos quais as polícias reivindicam reajustes salariais.

Aplaudiu métodos que desafiam a Constituição, a hierarquia das polícias e a autoridade dos governadores, tão legitimados pelo voto quanto o presidente. Misturou-se ainda mais com as milícias ao aprovar policiais mascarados que obrigam fechamento de comércio, sequestram e incendeiam carros. Sem meias palavras, incita o caos.

Deliberadamente, Bolsonaro protagoniza um carnaval de conflitos. Tal como lança-perfume, pode até extasiar muitos, mas é incapaz de produzir fragrância duradoura.

No plano institucional, o governo asperge fedor. Faz questão de cultivar inimigos.

Captado por microfones do canal governista, o general Augusto Heleno, ministro do GSI, acusou o Congresso de fazer chantagem, disparando um “foda-se”, rapidamente transformado em mote para convocar bolsonaristas para um ato no dia 15 de março. Isso depois de a assessoria do presidente ter plantado que Bolsonaro havia demovido Heleno da ideia de chamar o povo às ruas contra o Parlamento.

Maior protagonista da aprovação da reforma da Previdência, a única que o governo conseguiu lograr a despeito do esforço zero do presidente, a Câmara é acusada de querer controlar o orçamento. Não dizem que o quinhão fora previamente acordado com o governo que, depois de negociar, voltou atrás.

Pode-se criticar os valores, mas o sistema de emendas impositivas aprovado pelos parlamentares é o mais eficaz para acabar de vez com a prática do toma lá dá cá. Com ele, nem deputados podem vender votos para liberar verbas nem o governo pode oferecer recursos em troca de votos. Em suma, reduz o poder de barganha de ambos. Mas o Executivo, acostumado a ser o dono único da bola, perde mais – e grita.

À rixa com o Congresso somam-se os disparates de Bolsonaro contra os governadores, os inimigos da vez. Primeiro, o capitão mirou nos nordestinos, os “paraíbas”, depois nos da região amazônica, excluídos do novo Conselho da Amazônia. Não satisfeito, atacou genericamente todos os governantes estaduais ao desafiá-los a reduzir impostos sobre a gasolina. Em seguida, culpou o governador da Bahia, o petista Rui Costa, pela morte do miliciano Adriano da Nóbrega, caso que parece perturbar em demasia o chefe da nação e sua prole.

Difícil crer que nada há por trás da “coincidência” de jogar governadores na fogueira ao mesmo tempo que dá incentivo incendiário a corporações armadas.

Nada cheira bem.
Mary Zaidan

Brasil reescrito


O governo Bolsonaro escolheu o isolamento

Às vezes temos a ilusão de que numa longa existência é possível ver tudo na vida. Uma das grandes lições do acúmulo dos fatos é sua incerteza e imprevisibilidade.

Vivo num país em que o presidente dá banana para a imprensa, faz piadas de teor sexual sobre uma jornalista e se envolve em polêmica sobre a morte de um miliciano acusado de dirigir o Escritório do Crime.

É uma situação inédita, parece saída de novelas. Aliás, em novelas há piores situações, como acordar transformado num inseto. Cada observador, diante do inédito inquietante, tem sua análise do que está acontecendo e como superar esses tempos sombrios.

Nesse caso, a experiência tem alguma utilidade. Bolsonaro subiu ao poder e desenvolveu seus piores defeitos. Seu movimento básico é o de isolamento, de buscar confrontos e agradar apenas aos seus eleitores mais fiéis, que relevam ou se identificam com seus preconceitos.

Historicamente, governos isolados abrem caminho para grandes frentes de oposição, com um acordo básico em torno da democracia. O discurso nazista de Roberto Alvim foi um momento especial em que essa possibilidade se mostrou.

Uma tática que me parece adequada diante de governos agressivos que tendem ao isolamento é a inspiração oriental: aproveitar o desequilíbrio de quem se lança ao ataque usando o seu próprio impulso.

Bolsonaro, ao dar banana para a imprensa, acredita que a enfraquece. O mesmo vale quando se refere grosseiramente à repórter Patrícia Campos Mello.

Na verdade, ele se isola mais. Entra aqui um outro elemento tático que é preciso discutir: os eleitores de Bolsonaro não podem ser confundidos com ele.

Os próprios evangélicos, como nos Estados Unidos, podem estar se convencendo aos poucos de que Trump não os representa.

Hoje dá bananas, amanhã põe a língua de fora, não importa, o curso geral é este: o governo escolheu o isolamento e está ensinando o caminho para combatê-lo. Só uma ampla frente social pode responder a este momento. Hoje, o governo Bolsonaro expandiu a presença dos militares no centro das decisões.

É mais um ângulo do seu isolamento. Foi incapaz de construir uma equipe na sociedade. Optou pelos seus guerreiros ideológicos, no caso de Weintraub, um guerreiro contra o português.

Restam ministros como Moro e Guedes, que são uma face do governo Bolsonaro mas não têm conseguido neutralizar o impulso para se isolar.

Guedes falou o que não devia sobre servidores, comprometeu a reforma administrativa. Referiu-se às empregadas não como um liberal o faria, mas como um aristocrata.

No caso de Moro, li uma notícia de que a mulher Rosângela escreveu que ele e Bolsonaro são uma coisa só. Não sabia. Vivendo e aprendendo.

Ainda dentro do quadro de isolamento do governo coloco a frase do general Heleno sobre a chantagem do Congresso. Não exatamente a frase, mas a última palavra gravada: foda-se.

A frase se refere a uma luta surda por um naco de R$30 bilhões do Orçamento. Na medida em que Bolsonaro se isola, o Congresso impõe uma nova divisão. O tema tem sido pouco discutido, inclusive a forma como os congressistas arrancam bilhões do Ministério do Desenvolvimento, às vezes para obras eleitoreiras.
Mas a última palavra do general Heleno revela um esgotamento nas relações com o Congresso. Mas ir para onde? Governar num regime democrático implica tarefas complexas, criar maiorias, relacionar-se de uma forma civilizada com a imprensa.

Esse não foi o caminho escolhido. Ele é impossível para Bolsonaro, que vê inimigos em toda parte. Provoca compulsivamente, como se esperasse uma punição.

Resta saber se o castigo virá antes ou nas eleições de 2022. O ideal é que viesse com elas. Processos de impeachment são traumáticos. Uma parte dos eleitores descrê da democracia. Mas há sempre uma negociação entre o trauma e o pesadelo. Às vezes, pesadelos tornam-se insuportáveis.

Bolsonaro deveria pensar nisso. Mas o que falar com uma pessoa que dá bananas? Esperar apenas que não coloque a língua de fora ou decida se expressar com outras partes do corpo. Os dedos já estão ocupados simulando uma arma de fogo.

Passividade não leva a nada

As pessoas estão meio passivas demais. Eu falei tanto nos meus shows que parecia que estavam colocando algum veneno na água do povo porque ninguém está indo às ruas protestar pelos seus direitos. Pelo visto, eu estava certa
Elza Soares

Como vai ser o Carnaval à moda de Bolsonaro

A pastora evangélica que, um dia, afirmou ter visto Jesus Cristo em cima de uma goiabeira e agora desempenha as funções de ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos do Brasil não gosta do Carnaval por se tratar de uma festa pagã. Assim, é natural que Damares Alves tenha escolhido o mês de fevereiro para iniciar uma campanha a promover a abstinência sexual entre os jovens. É nesta quadra de folia e de excessos que a maioria dos brasileiros vai para as ruas celebrar o rei Momo, e o Governo “conservador e cristão” liderado pelo Presidente Jair Messias Bolsonaro considera uma prioridade reduzir a gravidez precoce, porque o país apresenta uma das taxas mais elevadas do mundo no que toca à maternidade entre adolescentes.


Em entrevista ao jornal Correio Braziliense, no final do mês passado, a ministra explicou-se: “A gente quer mais do que uma campanha; a gente quer começar a conversar sobre isso; a gente quer que isso seja uma coisa permanente, de modo que todas as vezes que uma professora falar de preservativo ela também fale ‘olha, vamos pensar duas vezes antes de transar?’. É só uma frase! É só sentar com esse menino e conversar.” Declarações que ela tem repetido publicamente, sempre que pode. “Existe uma pressão social para as meninas iniciarem as práticas sexuais muito cedo. Existe até bullying contra as virgens”, garantiu à agência Lusa a governante, que já admitiu ter sido violada em duas ocasiões, quando era menor.

Só que Damara Alves tem sido arrasada por invocar e manipular estatísticas, ao mesmo tempo que se esforça, nas entrevistas e nas redes sociais, para sublinhar que as suas intenções não passam por “impor condutas morais ou religiosas” e que pretende apenas adotar “estudos e pesquisas científicas sérios” que já deram bons resultados. Só que nenhum destes últimos exemplos por si apresentados – nomeadamente, dois relatórios sobre o Chile e o Uganda – convencem, por contrariarem as melhores recomendações académicas e terapêuticas. A Sociedade Brasileira de Pediatria, a Rede Feminista de Ginecologistas e Obstetras e ainda a Defensoria Pública da União (entidade equivalente à portuguesa Provedoria de Justiça) acusam a ministra de “pregar a abstinência e deixar de fornecer informação adequada sobre saúde reprodutiva e sexual”, algo que coincide com a agenda puritana de Bolsonaro, até em termos internacionais. Afinal, desde a tomada de posse do antigo capitão que o Brasil, na ONU e na Organização Mundial da Saúde, tem vetado tudo o que diga respeito à educação sexual, à interrupção voluntária da gravidez ou às doenças sexualmente transmissíveis, por considerar que isso são temas do “marxismo cultural” contemporâneo que é urgente combater.

O chefe de Estado, um antigo católico que em 2016 se fez batizar como evangélico em Israel, já veio defender Damares Alves e a campanha intitulada “Eu escolhi caminhar”: “Tenho uma filha de 9 anos. Você acha que eu quero a minha filha grávida no ano que vem?” Segundo o Presidente e respetivos colaboradores, é preciso acabar com a erotização dos adolescentes e com a “depravação total” que Lula da Silva, Dilma Rousseff e o Partido dos Trabalhadores supostamente promoveram desde que chegaram ao poder em 2003. Para o antigo militar, a “moral e os bons costumes” têm de ser incondicionalmente defendidos pelos pais de família, e não é admissível que haja escolas a discutir sexo para “perverter” os estudantes. A escritora e psicanalista Maria Rita Kehl, na emissora radiofónica Brasil Atual, afirmou que o puritanismo presidencial parece uma cruzada de outros tempos: “O Brasil está sendo catequizado como os índios foram no século XVI.”

No ano passado, por esta altura, Bolsonaro fez questão de instrumentalizar a quadra carnavalesca para se apresentar como um paladino dos bons costumes e sugerir que os festejos em honra do rei Momo tinham convertido o Rio de Janeiro ou Salvador da Bahia em modernas Sodomas e Gomorras: “Não me sinto confortável em mostrar, mas temos que expor a verdade para a população ter conhecimento e sempre tomar suas prioridades. É isto que tem virado muitos blocos de rua no Carnaval brasileiro. Comentem e tirem suas conclusões [sic].” Esta sua mensagem no Twitter vinha acompanhada de um vídeo que se tornaria polémico e viral, devido às imagens de um grupo de homossexuais que se acariciavam e urinavam uns sobre os outros, num palanque em São Paulo. Graças à estratégia de Bolsonaro, mais de três milhões de brasileiros passaram então dias inteiros a discutir os golden showers e a forma como deve ser celebrado o Carnaval.

Agora, a história pode vir a repetir-se. Os aliados e apoiantes do Presidente continuam a afirmar que as atividades carnavalescas não deveriam receber um único real do erário público e que esse dinheiro deveria ser aplicado na Saúde e na Educação. Uma posição claramente demagógica, se tivermos em conta que a generalidade das escolas de samba e dos organizadores dos festejos já só conta com verbas privadas ou resultantes de peditórios. O que se passa na Cidade Maravilhosa serve de exemplo.

O presidente da autarquia do Rio de Janeiro, ex-bispo da IURD, evangélico criacionista e negacionista ambiental Marcelo Crivella, eleito há três anos, tem vindo a complicar cada vez mais a vida aos foliões. Após cortes drásticos nos seus primeiros três orçamentos, este ano a prefeitura fluminense decidiu não dar rigorosamente nada para o grande festejo, que começou oficialmente a 12 de janeiro e se prolonga até 1 de março, no qual devem participar 1,9 milhões de turistas. Mas a estratégia de Crivella não passa apenas pela tentativa de estrangulamento económica da mais popular festa carioca.

Além de ignorar ou desvalorizar os ataques de milícias conservadoras a terreiros de candomblé e às instalações das escolas de samba, a autarquia aprovou, em dezembro, um conjunto de medidas para condicionar e restringir a atuação dos grupos carnavalescos – os blocos. Dos 543 que solicitaram autorização de Crivella para desfilar nas ruas, dezenas já revelaram não ter condições para cumprir as normas de higiene e segurança que lhes foram exigidas. E, pelo menos, quatro foram já multados por terem excedido a quantidade máxima de lixo que lhes era permitido fazer, tendo agora de pagar multas que podem ascender a dez mil reais (cerca de 2 100 euros).

Por outro lado, o Governo espera que a atual epidemia gripal com origem na China também refreie os foliões. Na última semana, o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, apelou aos seus compatriotas para que tenham “etiqueta” e um “comportamento adequado”, de modo a evitar doenças contagiosas e sexualmente transmissíveis. O Brasil já descartou quatro dezenas de casos suspeitos de coronavírus, e 58 pessoas encontram-se, neste momento, de quarentena na Base Aérea de Anápolis, no centro do país, após terem sido repatriadas da província chinesa de Wuhan. Mas esse não é o único desafio sanitário que as autoridades enfrentam. O número de infetados com a síndrome da imunodeficiência adquirida, vulgo VIH/sida, aumentou 18% nos últimos cinco anos e o país registou quase 31 mil casos de dengue entre 29 de dezembro e 18 de janeiro, com cinco mortes confirmadas. Vários comentadores brasileiros têm dito e escrito que a vaga puritana de Bolsonaro e o medo do coronavírus jamais conseguirão comprometer o espírito carnavalesco. Com maior ou menor humor, as escolas de samba prometem agora redobrar as críticas ao Presidente e à classe política. A Mangueira, vencedora do desfile de 2019, já fez saber que apresentará um programa dedicado a um Jesus Cristo de rosto negro, sangue índio e corpo de mulher, “sequestrado pelos profetas da intolerância”.

A vaca, o vampiro e o Pinóquio

No momento em que o Brasil entra na folia carnavalesca, vêm à mente três seres que resumem o repertório de conceitos, mazelas e problemas que devastam a gestão, a política e a economia: a vaca, o vampiro e o Pinóquio. A vaca é a Grande Mãe, a deusa que, para os primitivos, se repartia em rios, árvores, fenômenos naturais. Entre nós, assume também a posição de entidade que encobre, defende, aconchega. A vaca é o próprio Estado, que oferece seu leite para milhares de brasileiros. Muitos desempenham bem seu ofício. Outros, nem tanto. Bolsonaro até tenta cortar o acesso dos políticos a elas, mas a lei de São Francisco é mais forte.


O Estado brasileiro sempre foi considerado por parcela significativa dos políticos como “cosa nostra”, de domínio da Grande Família, dos donos do poder, que cultivam o filhotismo, o nepotismo e o familismo. Função pública acaba sendo patrimônio pessoal. Como se sabe, o país ainda é capenga em matéria de gestão do Estado, cujos pilares repousam em critérios de mérito, controles, transparência, qualidade e descentralização. São mais de 10 milhões de servidores públicos nas três instâncias federativas.

A mamãezada (“descaso ou conivência dos responsáveis que acobertam subordinados, em caso de imoralidade no serviço público”, segundo Antônio Houaiss) é a base da muralha que esconde desvios e ilícitos, parte dos quais emergiu na Lava Jato. Modernizar a máquina pública implica nova metodologia e é desafio permanente. Não adianta apenas enxugar estruturas sem promover profundo corte nos 10% do PIB consumidos na administração pública. A vaca precisa evitar bezerros estranhos no curral.

O segundo ente a ser eliminado é o vampiro, sugador de sangue na calada da noite. O país inteiro é povoado de vampiros. São encontros na surdina para conluios e negociatas contra o Estado. A receita para eliminar a vampiragem é única: raio de sol. Maços de alho e crucifixos não bastam. Com luz na cara, eles correm para suas tumbas e caixões. Em suma, escancarar as administrações. Dar transparência aos atos.

Por último, resta cortar dos palcos da política o enorme nariz de Pinóquio, a encarnação do Estado-Espetáculo, da autoglorificação e da mentira, que deriva do conceito de política como teatro. Remonta aos tempos antigos, mas ganhou força a partir no século passado com as campanhas políticas norte-americanas. Hitler recebia aulas de declamação. Mussolini inflava seu personagem. Considerava-se perfeito ator.

No Brasil, a oratória ensinada pelo marketing é um exercício de prestidigitação. O importante é a versão, não a verdade. E hoje as fake news invadem as redes sociais. A palavra é usada para encobrir o pensamento, driblar a intenção. Radicais pagos, incluindo empresas especializadas, se expandem. A verdade quase nunca aparece. O reino do Pinóquio ocupa todos os espaços, com arabescos, cosméticas exageradas, discursos retumbantes e mentiras repetidas. O serrote para cortar o nariz de Pinóquio é a consciência. Façamos uso dela.
Gaudêncio Torquato

Quem é mesmo o 'selvagem'?

Caros brasileiros,

Já se passou muito tempo desde que eu fui à reserva dos ianomâmis em Roraima. Mas, nos últimos meses, acompanhando os debates sobre as queimadas e desmatamentos na Amazônia, me lembrei dessa aventura e também dos questionamentos que me fiz quando tive a chance de conhecer uma parte dessa terra indígena.

Tive que esperar alguns dias em Boa Vista, até sobrar um lugar num avião da Funai, para poder entrar na reserva. Os aviões naquele tempo, em agosto de 1993, andavam cheios: transportavam óleo diesel, remédios, botijão de gás e ianomâmis doentes.

Quando finalmente consegui entrar no avião da Funai e sobrevoar a floresta por várias horas, vi uma selva com manchas claras. Eram as pistas clandestinas de areia dos garimpeiros. O piloto olhou para mim e comentou, sorrindo: "Tenho muito trabalho, pois voo para os dois: a Funai e os garimpeiros".

Quando posamos na terra dos ianomâmis, tive uma surpresa: não vi nenhuma maloca, mas aviões da FAB. Desci numa base militar. Depois estranhei novamente, pois crianças ianomâmis chegaram perto de mim e pediram biscoitos.


Depois de uma semana na terra indígena, o clichê romântico do índio verdadeiro, que vive da caça e em harmonia com a floresta, se desfez. E também o clichê da luta romântica de antropólogos, médicos, missionários e ambientalistas. Pois testemunhar a tragédia de povos indígenas e conviver com eles na floresta não têm nada de romântico, é heroico.

O que eu vi foi ianomâmis doentes e pedindo esmolas, médicos desesperados, enterros constrangedores, malocas abandonadas e rios envenenados com mercúrio.

Tomei banho de rio e, pela primeira vez na minha vida, vi uma aranha-caranguejeira. Congelei. Confesso que, depois de oito dias na floresta, senti saudade da cidade grande e até da propaganda na televisão, que antes eu tanto detestava.

Cheguei à conclusão de que a selva da Amazônia não tem nada de romântica, pelo contrário. Lá se chocam povos indígenas discriminados e negligenciados com imigrantes também discriminados e empobrecidos de todos os estados brasileiros. Todos lutando pela "sobrevivência", como dizem os defensores do garimpo e da mineração.

Parece que é uma luta sem fim. Sempre com os mesmos argumentos. Desde a época da colonização. Claro, todo mundo somente quer "sobreviver" – mas por que a sobrevivência de um significa a sentença de morte do outro?

Nos anos 1990, o então governador de Roraima, Ottomar Pinto, advertiu que, se se demarcassem as terras indígenas dos ianomâmis e dos macuxis, o estado entraria "em colapso econômico".

O governador atual, Antônio Denarium, continua no mesmo discurso. "O Brasil tem que fazer um trabalho de exploração mineral em áreas indígenas e outras áreas. Roraima pode ser o salvador da nação, desde que se faça a exploração mineral naquele estado", afirmou numa entrevista ao site Roraima em Tempo. O Estado teria sido "penalizado" nos últimos 30 anos pelas políticas ambientais e indigenistas.

Penalizado? Quem penalizou quem? Será que são os índios que invadiram as suas terras? Terras onde viviam antes da chegada dos colonizadores e antes mesmo da existência do Brasil, com seus estados e territórios? Ou são os garimpeiros que tiram minérios de terras indígenas e não pagam o imposto que o estado de Roraima tanto precisa?

A "exploração mineral" em terras indígenas no estado de Roraima, que o governador atual e o presidente Jair Bolsonaro tanto defendem, já existe há muitos anos. Mesmo assim Roraima não conseguiu virar "o salvador da nação". Pelo contrário: o estado continua com "a maior dependência de recurso federal", como constata Denarium.

A "exploração mineral" em terras indígenas de Roraima já começou nos anos 1980, com a primeira grande invasão garimpeira na terra dos ianomâmis. Naquela época, as doenças trazidos pelos garimpeiros causaram a morte de cerca de 20% da população indígena.

Hoje, conforme o Instituto Socioambiental, entre 6 mil e 7 mil garimpeiros estão retirando ouro ilegalmente na reserva ianomâmi. A invasão aumentou mais ainda depois que o Exército desativou as bases de proteção nos rios Uraricoera e Mucajaí, em janeiro de 2019.

E a exploração tende a aumentar mais ainda. Com a nova medida provisória MP 901/2019, encaminhada ao Congresso e que visa diminuir as áreas de preservação obrigatória nos estados de Roraima e Amapá, o desmatamento provavelmente vai aumentar.

De fato, nada disso é romântico, mas trágico. O sonho dos irmãos Villas-Bôas de uma convivência pacífica entre índio e "branco" está cada vez mais difícil. A atual euforia pela "exploração mineral" parece repetir a colonização de 500 anos atrás: a corrida atrás do ouro causa destruição e faz desaparecer o tesouro cultural que a sociedade brasileira tem.

Fica a pergunta: quem é mesmo o "selvagem"?