Excelentíssima Presidenta Dilma. Em julho de 2011 eu lhe
enviei uma carta onde pedia para cancelar a Copa do Mundo e passasse para a
História como uma estadista e heroína do nosso povo. A diferença entre um
estadista e um político comum é que o estadista se preocupa com a próxima
geração e um político só se preocupa com a próxima eleição.
A senhora deveria ter utilizado todo dinheiro dessa Copa
para a saúde, a segurança, a educação, estradas e outras centenas de obras que
fazem falta para o nosso povo. Infelizmente, a senhora preferiu esbanjar o dinheiro de
nossos impostos em estádios e obras superfaturadas e entregar o nosso país para a FIFA.
Eu gosto de futebol, mas eu não quero essa Copa da FIFA, por
esse preço. Ela está custando vidas, pois o povo continua morrendo nos
hospitais por falta de médicos, leitos, remédios, mas os estádios estão aí,
como uma afronta ao bom senso. Na verdade, o nosso dinheiro foi para o ralo e
nós continuamos sem o essencial. Pior, também estamos perdendo a dignidade, no
meio de tanta corrupção.
Curiosamente, no auge dessa discussão, vimos o ex-presidente
Lula, um dos autores desta infame Copa do Mundo, falar que é “babaquice” de
brasileiro querer chegar de metrô até os estádios, uma vez que as linhas não ficaram
prontas. Disse ainda que nós nunca tivemos problemas de andar a pé. Que o brasileiro vai
a pé, vai descalço, vai de bicicleta, vai de jumento, vai de qualquer coisa.
Já no próprio Portal da Copa, órgão do Governo Federal, o
discurso é diferente e o governo ressalta as obras de Mobilidade Urbana, entre elas
os metrôs nas cidades-sedes.Voltando ao tema principal, eu não quero a Copa, assim como
milhares de manifestantes nas ruas também não a querem, pelo simples fato de
constatarem que faltam coisas muito mais importantes.
Perguntem para quem está morrendo numa fila de espera
aguardando uma cirurgia que nunca chega, se ele prefere a Copa. Perguntem para
um pai que vê seu filho sem escolas se ele prefere a Copa. Essa Copa seria bem
vinda se não faltasse nada para o povo, se estivesse tudo funcionando muito
bem, desde um hospital decente até uma linha de metrô que vai até os estádios,
e não precisássemos de jumentos como solução de transporte público.
No passado víamos o povo decorar as ruas com as cores da
nossa bandeira, nos dias de jogos; agora, vemos passeatas plenamente
justificáveis, querendo mais brasilidade e menos circo com nosso dinheiro.
Célio Pezza é escritor e autor de diversos livros, entre
eles: As Sete Portas, Ariane, A Palavra Perdida e o seu mais recente A Nova Terra -
Recomeço