domingo, 18 de janeiro de 2015

O soco inoportuno do papa Francisco


Rir de nós e dos nossos deuses é a melhor forma de aceitar que não somos nem patrões nem escravos
Francisco, o papa carismático, é um amante do futebol. Tem até um time do coração. Entretanto, no momento em que a notícia do mundo estava ancorada na tragédia perpetrada contra os jornalistas do semanário humorístico francês Charlie Hebdo, ele acabou marcando um gol contra.

A cena percorreu o mundo. No avião que o conduzia às Filipinas, o terceiro país com maior número de católicos do mundo, ele comentava com os jornalistas a bordo o sangrento atentado contra a liberdade de expressão que gelou a alma de milhões de democratas do mundo, quando deu um escorregão.

É verdade que foi taxativo ao afirmar: “Matar em nome de Deus é uma aberração”. E fez bem em salientar que tanto a liberdade de expressão como a liberdade religiosa “são direitos humanos fundamentais”. Direitos que a Igreja Católica não só às vezes se esqueceu de protagonizar como também condenou a morte os que não pensavam como ela.

Francisco, um dos papas que mais recorrem aos textos do Evangelho para inspirar seu carismático pontificado em favor dos pobres e da paz, teve um lapso de memória ao comentar com um jornalista que se alguém insultar a sua mãe você “pode esperar um soco”. O Evangelho condena o antigo “olho por olho, dente por dente”.

O papa não estava falando ex-catedra, nem numa encíclica. Foi uma confidência em linguagem popular, num clima descontraído, sem maiores pretensões teológicas. Entretanto, aquele “soco” na boca de um papa, e de um papa pacifista como Francisco e naquele momento, chocou os amantes da liberdade.

Foi um gol contra inoportuno porque, ao propor a violência como resposta a uma hipotética ofensa, seja contra a sua mãe ou a sua religião, no momento de tensão e de violência terrorista que atemoriza o planeta, é impossível não interpretar suas palavras como algum tipo de justificativa para a violência perpetrada pelos terroristas islâmicos contra os jornalistas do Charlie Hebdo.

Nenhum homem religioso ou ateu que respeite o valor sagrado que é a liberdade de expressão, tanto quanto o direito à vida, pode admitir que a sátira, por mais dura que seja contra qualquer instituição de poder – e é isso que as religiões são –, seja silenciada com as armas.

Tem razão o papa quando adverte que liberdade de expressão não significa liberdade de insulto ou calúnia. Nesses casos, entretanto, devem atuar os tribunais de justiça. Ninguém tem o direito de tomar a justiça nas próprias mãos. A liberdade de expressão, como bem salientou Antonio Caño, diretor deste jornal, não aceita perguntas nem restrições, que é como dizer que é sagrada.

A única distinção possível é que uma coisa é fazer humor sobre uma religião, qualquer que seja, e outra contra as pessoas concretas. Ninguém aceitaria que se fizesse chacota dos muçulmanos, a grande maioria pacíficos, ou dos cristãos, budistas ou judeus. As pessoas são sagradas como o seu direito de viver. Os símbolos, mitos ou deuses podem ser objeto de sátira. Do contrário, teríamos que admitir que Deus não sabe rir.

Leia mais o artigo de Juan Arias

Terror na rede


A 'despalavra' do ano na Alemanha

Manifestante exibe cartaz com a palavra
 Lügenpresse, conceito já utilizado pelos nazistas 
Lügenpresse – "imprensa da mentira" – foi escolhida a "despalavra do ano" de 2014 na Alemanha, anunciou nesta terça-feira, em Darmstadt, o júri liderado pela linguista Nina Janich.

"Uma condenação generalizada como essa impede a crítica midiática fundamentada e colabora assim para pôr em risco a liberdade de imprensa, tão importante para a democracia", afirmaram os jurados.

Segundo eles, "é impossível não perceber a grave ameaça" à liberdade de imprensa apresentada pelo extremismo, "principalmente nos dias atuais". Eles lembram que esse slogan já era usado pelos nazistas para difamar de forma indiscriminada a imprensa independente.

Nos dias atuais, Lügenpresse é usada principalmente em manifestações do grupo Pegida (sigla em alemão para "Europeus patriotas contra a islamização do Ocidente"). Por trás desse uso há motivações de extrema direita, algo de que nem todos os seguidores do Pegida estão conscientes, disse Janich. É justamente isso que torna o conceito "um meio especialmente pérfido para aqueles que o usam de forma deliberada".

Políticos e profissionais da imprensa elogiaram a escolha. "É a decisão correta, na hora certa", afirmou a deputada Tabea Rössner, do Partido Verde. Para o jornalista Heribert Prantl, do jornal Süddeutsche Zeitung, trata-se de um conceito que "não estimula ao debate nem à crítica, mas lhes dá um golpe mortal".

Leia 

O Brasil dos excessos


O que acontece com um balão de borracha se, depois de enchê-lo, a pessoa continuar soprando e soprando? Vai estourar, é claro... Pois é. Assim estamos vivendo nós, brasileiros. Sabemos que o balão vai estourar, mas continuamos soprando. Ainda assim, vamos nos assustar com o estouro desse balão, principalmente quem não está prestando atenção. Tudo tem uma medida certa – os balões, os sacos, a vida...

É sempre assim: tudo o que existe demais acaba sobrando. E nosso povo está convivendo com muitos excessos: excessos de leis, de deputados, de partidos políticos, de falta de vergonha e de respeito, de senadores, de ministérios, de juízes que não judicam ou que pouco produzem por excesso de recursos processuais, por excesso de preguiça também, leis benevolentes que condenam, mas não prendem ladrões e, principalmente, terroristas... E, continuando assim, chegaremos vivos ao inferno. Por que só agora estamos começando a notar essas coisas? Será por excesso de fé em Deus? Boa saída para os irresponsáveis ou preguiçosos de má-fé... Então: esse balão vai estourar porque o Brasil é assim, desse jeito? Não, nós não somos assim.

Estamos assim por desleixo. Precisamos de líderes do bem. Sim, porque de líderes do mal o mundo está cheio. Por aqui é Sarney, Renan, ex-Luiz, (cadê o homem, gente), Jucá, Barbalho, Vicentinho (quem? Vicentinho, pô), Berzoini, Tarso Genro, Maluf, Dirceu, Palocci. Ia me esquecendo de Genoino... muitos desses não estão presos? Estão nada. Estão mais soltos que o terrorista italiano Battisti, aquele, sabe?

Eu acho que estou ou sou pessimista. Será? Pode até ser, mas penso em achar jeito para pelo menos ajudar, sugerindo. Assim: diminuir o número de deputados federais, uns 150; estaduais, de 15 a 30, conforme o Estado. Vereadores, no máximo 15, assim mesmo só nas capitais. Construir cadeias, muitas cadeias; acabar com essa discriminação da política de cotas. Educação, saúde e segurança como políticas de Estado e de responsabilidade da União, Estados e municípios.

Proibir emancipação de distritos municipais por pelo menos dez anos. Proibir gastos com propagandas oficiais, permitidos publicação apenas de editais e avisos, justificada a necessidade. Considerar sempre o tempo de serviço do funcionalismo efetivo para efeito de remuneração.

Efetivar todos os funcionários contratados com mais de 20 anos de serviço. Proibir novas contratações. Novas nomeações só para cargos comissionados que não poderão passar do prazo do mandato do presidente da República, que deverá ser de cinco ou seis anos, sem reeleição, fonte inesgotável de corrupção. Nada mais que dois ou três mandatos no Legislativo. Reformar o Código Tributário. Transformar os Tribunais de Contas em Câmaras de Contas dos Tribunais de Justiça, providas por desembargadores. Como está é brincar de fazer de conta... E tudo isso rápido, já que o tempo urge e também ruge...

Je suis 'demagogô'


Marqueteiro do Papa deve ter feito o cálculo certeiro: nada mais progressista do que um líder católico defendendo o Islamismo
Depois que Dilma Rousseff tomou posse defendendo a Petrobras, qualquer piada está liberada — inclusive as que envolvem Maomé. Os facínoras do Estado Islâmico e da al-Qaeda não têm ideia do nível de escárnio a que os brasileiros estão submetidos cotidianamente. O PT monta o maior sistema de pilhagem já visto na República e a presidente conclama o país a um pacto contra a corrupção. Entenderam o que é achincalhe, queridos sanguinários de Alá?

A sorte dos picaretas do Ocidente e do Oriente é que a opinião pública continua dormindo seu sono das mil e uma noites. Para se ter uma ideia, o mundo culto está discutindo há mais de uma semana a legitimidade de um massacre. Isto é em si uma piada — mas não ria, porque vão te acusar de sacrilégio. O pensamento morreu. Você não vale mais o quanto pensa, vale a bandeira que levanta. Então, não perca tempo: repita também, como um brado no Ipiranga, que o Islã é legal e matar os outros não é legal. Pronto, você está no altar do jardim de infância global.

Daqui para frente, o mundo terá que ser legendado, para facilitar a compreensão. Chico Caruso já deu a senha no GLOBO: uma charge de Maomé com as inscrições “este não é Maomé” e “isto é um desenho de humor”. Perde um pouco a graça, porque os heroicos defensores de Charlie, do Islamismo, do humanismo e do bom-mocismo ficam sem bateria para esgrimir seu óbvio fulgurante. Mas reduz a ameaça — dos terroristas e, principalmente, dos pernósticos.

Talvez uma das figuras mais representativas deste momento esquisito seja o Papa Francisco. Sua Santidade tem provavelmente uma espécie de João Santana ao pé do ouvido, para soprar-lhe as últimas tendências do mercado. Foi assim que o líder máximo da Igreja Católica mergulhou na causa gay. Vamos tentar legendar. A defesa dos direitos dos gays não é só importante, é urgente. Trata-se de derrubar um muro de hipocrisia que faz muita gente sofrer à toa. Mas e o Papa com isso?

Bem, Francisco também pode achar que é uma causa urgente. Só que ele lidera uma Igreja cuja doutrina não aceita o homossexualismo. Não aceita nem a camisinha! No Catolicismo, o sexo tem que ter fins reprodutivos. Quando a Igreja Católica aceitará uma família gay, com dois pais ou duas mães? Talvez semana que vem — desde que ela destrua alguns de seus pilares e erga outros em seus lugares, ou seja, que refunde a si mesma. Só que, em geral, isso não é uma questão de dias, mas de séculos. Ou seja, o Papa bonzinho está jogando para a arquibancada.

Mas a plateia ama. Lembra até um pouco Lula, o Papa brasileiro, quando assumiu o governo mantendo as diretrizes econômicas do antecessor (porque não é bobo) e gritando contra os juros altos. Inaugurou o primeiro governo de oposição da História, e não saiu mais de lá.

Depois do atentado em Paris, a reunião no departamento de marketing do Vaticano deve ter fervido. Francisco tinha ali várias causas bondosas para escolher. Demorou um pouco, mas saiu a decisão: o Papa defendeu o Islã contra as ofensas dos chargistas franceses — uma posição candidamente desastrosa. O marqueteiro de Francisco deve ter feito o cálculo certeiro: nada mais surpreendente, exótico e progressista do que um líder católico defendendo o Islamismo. E ainda soltou a pérola: “Liberdade de expressão tem limite”.

Não, Francisco. Não tem. Seria como declarar que democracia tem limite. O que deve ser limitado — e já é, pela lei — é a expressão criminosa ou lesiva, não a liberdade. Está vendo como é dura a vida do populista? Esse negócio de ficar levantando bandeiras não é fácil, a gente acaba se atrapalhando mesmo.

Nesse aspecto, o PT é muito mais profissional. Eles não inventam. São os heróis da resistência contra a ditadura e a direita, e fim de papo. Essa tecla única já lhes rendeu 12 anos de paraíso parasitário. Depois de avançar no Banco do Brasil e compor a obra-prima do mensalão (que, incrivelmente, não os tirou do poder), depenaram a Petrobras sem perder o rebolado: a culpa é da oposição neoliberal que quer privatizar o que é nosso. Contando, ninguém acredita. Nem com legenda.

Leia mais o artigo de Guilherme Fiuza